segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A armadura de batalha


"O príncipe Eugênio de Savóia (1663-1736), brilhante e vitorioso general de campo das forças católicas contra os exércitos invasores muçulmanos da Europa Central, estava diante de uma batalha grande e decisiva. Devo salientar que eram homens destemidos, e não como se costuma dizer em alemão: "irmãozinhos de reza", sempre com um livro de reza debaixo do braço, mas de resto sem muita iniciativa para enfrentar a vida. Não, não eram assim os homens de guerra, homens que enfrentaram pesadas batalhas. Assim entraram na história como heróis. Não eram tipos prepotentes, tinham o costume de dirigir-se à Mãe de Deus para pedir auxílio, no silêncio e a sós, antes de se pôr na frente da linha de batalha.

O príncipe Eugênio, o nobre cavalheiro... assim se canta na conhecida canção!... A história relata: quando os soldados o viam, enrolado no manto militar, com o capuz sobre a cabeça, em silêncio andando para lá e para cá, com o terço na mão, diziam entre si: 'amanhã vai começar encrenca...amanhã certamente teremos batalha grande e decisiva!' O Príncipe Eugênio era de baixa estatura. Por isso os subordinados chamaram-no de o Pequeno - o Capuchinho, e diziam: ' de novo com o capuz sobre a cabeça, puxando o rosário do bolso... está se armando algo... amanhã vai começar a batalha.'

O que isso tudo quer dizer? O rosário é uma armadura de batalha, com todo o significado desta expressão. O Príncipe Eugênio se prepara para o grande golpe contra o inimigo. Com que se prepara? Prepara-se com a reza do terço! Sempre ganhou as batalhas. De fato foi um grande general do Rosário... O pequeno capuchinho tinha o capuz sobre a cabeça e o rosário na mão.

Conta-se também que o notável e santo sacerdote Clemente Maria Hofbauer, redentorista (1751-1820), tinha o costume de dizer, quando chamado ao leito de morte de um pecador endurecido, que não queria saber de conversão: 'se eu tiver tempo para ainda rezar o terço, ganharei qualquer batalha, levarei qualquer pecador de volta para Deus'. 

Apliquemos tudo isso para a nossa situação: agora sou eu o pequeno capuchinho... A minha esposa foi abençoada com um novo filho e espera o seu nascimento, e estou preocupado... Fazer o que agora? O general do Rosário faria o quê? Conhecemos a resposta...Ou os meus filhos estão diante dos exames e provas... Ou mesmo estou procurando um novo emprego, estou em grandes apuros financeiros... preciso construir uma casa... O que faz a essa altura o General do Rosário? Seguremos o rosário nas mãos. Ele é o nosso breviário de família e, ao mesmo tempo, a armadura de luta em todas as situações.

O rosário é de fato uma armadura de batalha. A armadura de batalha, o equipamento 'bélico-espiritual'... O que o rosário significa para nós? Eis uma grande verdade que queria dizer-lhes: para nós o rosário é uma grande armadura para as batalhas espirituais.

Vejam o valor do rosário. De fato é uma armadura! Com esta também ganharemos qualquer batalha, só é preciso rezá-lo!"

O texto acima, de autoria do Pe. José Kentenich, extraído do livro "O Rosário", é um  trecho de palestras que foram proferidas pelo sacerdote alemão para famílias norte americanas. Com muita convicção, Pe. Kentenich apresenta uma série de situações concretas, onde a oração do terço se mostra uma arma poderosa contra o mal e os perigos. Quem já fez a experiência de rezá-lo com perseverança, fé e devoção tem outras tantas histórias de prodígios alcançados pela sua recitação.

O rosário é, embora sendo tão singelo, o grande meio para fazer de nós grandes espíritos, vigorosos lutadores e destemidos vencedores.

domingo, 21 de setembro de 2014

Bíblia aberta, cartilha de oração!


A Bíblia tem autores. Ela não caiu do céu pronta e não foi um livro que o Anjo lançou do céu, como alguns dizem
Por Pe. Reginaldo Manzotti
 A Palavra de Deus é fundamental e muitas vezes a vemos como algo passivo diante de nós. Mas é o contrário. Na vida espiritual, Ela tem um movimento ativo, pois vem de Deus, é absorvida pelo nosso coração e produz a mudança. A Palavra de Deus transforma de forma ativa, renovadora e santificadora.
Conhecer a Palavra é conhecer o próprio Cristo. E é importante ressaltar que o autor da Bíblia é Deus. Através dela, Deus revela divinamente os seus pensamentos, com a assistência do Espírito Santo.

Sim, a Bíblia tem autores. Ela não “caiu do céu pronta” e não foi um livro que o Anjo lançou do céu, como alguns dizem. Pessoas inspiradas pelo Espírito Santo escreveram-na.
O Espírito Santo inspirou a redação, dando aos escritores faculdades e capacidades para que pudessem transcrever aquilo que era da vontade de Deus. Assim, os livros inspirados por Ele, escritos por homens, numa linguagem humana, trazem a Verdade.

A Palavra de Deus é viva e, por isso, Ela age como fermento. Ela não é estática. Sempre que lemos descobrimos novos significados, embora o conteúdo seja sempre o mesmo.
A Palavra de Deus é também dinâmica. Quando comparada à realidade, faz emergir alguns pontos que talvez não tenham sido lembrados anteriormente. Por exemplo, em tempos de guerra, quando a Palavra fala de paz, ela tem um diferente significado. Na atualidade, diante de tantos casos de corrupção, quando a Palavra que fala de solidariedade, igualdade e honestidade tem um peso muito maior. Por isso mesmo, a leitura da Bíblia precisa ser estudada, meditada e entendida.

É importante entender a Palavra de Deus partindo do princípio que aquilo que estamos lendo é o Pai falando aos homens, com uma linguagem própria para eles. Lembre-se: a Bíblia não é um romance, uma novela ou uma notícia de jornal. É importante saber de alguns aspectos para entendê-la melhor. Estudar sobre quando e onde aconteceu aquela passagem; quem são os personagens narrados; qual deles é o principal e quais são os secundários. Essa é uma forma de nos debruçarmos sobre a Palavra de Deus numa atitude de entendimento e oração.

São Jerônimo, o grande tradutor da Bíblia do grego para o latim, afirmou: “Desconhecer a Sagrada Escritura é ignorar o próprio Cristo”. Madre Teresa de Calcutá também disse: “A Palavra de Deus é Deus que nos fala, para que nós calemos a nossa voz e escutemos a sua lei”. E São Francisco nos ensinou: “Pregue sempre o Evangelho e quando for necessário use palavras”.

Um dos trechos que revela o quanto a Palavra de Deus é importante para a nossa vida está na Segunda Carta a Timóteo: “Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, preparado para toda boa obra”. (2Tm 3, 16-17)
Termino este artigo lembrando as palavras de Santo Isidoro: “Quando rezamos falamos com Deus, quando lemos a Sagrada Escritura, Deus fala conosco”. Por isso, lembre-se sempre: Bíblia aberta, cartilha de oração! Evangelizar é preciso!

Padre Reginaldo Manzotti é coordenador da Associação Evangelizar é Preciso – Obra sem fins lucrativos, benfeitora nacional, que utiliza dos meios de comunicação para evangelização – e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba (PR). Apresenta diariamente programas de rádio e TV que são retransmitidos e exibidos em parceria com milhares de emissoras no país e algumas no exterior.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

"Padre, o que você acha da comunhão aos divorciados que voltaram a casar?"


Um sacerdote responde às dúvidas e perguntas de alguns paroquianos sobre o tema de grande atualidade, à luz do Magistério da Igreja
Por Pe. Antonio Grappone
ROMA, 11 de Setembro de 2014 (Zenit.org)

O divorciados recasados não podem receber a comunhão porque são mais pecadores do que os outros?
Não, o problema é a dimensão pública: o divorciado recasado vive publicamente em contradição com o sacramento do matrimônio. Todos os sacramentos, e a Comunhão em especial, manifestam (tornam pública) a plena adesão à Cristo e à Igreja; o divorciado recasado de fato nega publicamente esta comunhão, independentemente das intenções subjetivas que tenha, porque vive em contradição com o sacramento que ele mesmo, livremente, celebrou: esta contradição depende exclusivamente dos seus comportamentos e não de qualquer ação disciplinar da Igreja. Conceder os sacramentos nestas condições resultaria uma negação da missão salvífica da Igreja, que é necessariamente pública, que é necessariamente pública. Porém, isso não exclui de nenhuma forma os divorciados recasados de todos aqueles atos que não envolvam um compromisso público na comunidade cristã, nem constitui um juízo sobre o estado de sua alma.

Portanto, o sacerdote não pode absolver um divorciado recasado que se confessa?
Com certeza deve absolve-lo se o penitente decidiu viver com o novo “cônjuge” como irmão e irmã, não mais como marido e mulher, e isso também com eventuais quedas por fraqueza, porque é a intenção que conta. Além do mais deve ser absolvido também se manifesta sinais de autêntico arrependimento com relação ao segundo casamento, embora ainda não se sinta capaz de tomar a decisão acima, porque está abrindo-se à graça e, portanto, deve ser apoiado. O papel do confessor é importante: por um lado deve avaliar a força do arrependimento, por outro, com sua caridade e uma palavra esclarecedora, pode levar o pecador ao arrependimento. Os santos confessores são capazes de absolver quase sempre, não porque sejam “laxistas”, mas porque sabem suscitar a dor pelos pecados.

Os divorciados que voltaram a casar nunca mais poderão receber a comunhão?
Podem recebe-la se receberam a absolvição sacramental, como nos casos mencionados anteriormente, especialmente quando decidiram viver como irmão e irmã, por amor a Cristo, o que é desejável e totalmente possível com a ajuda da graça. Neste caso, longe de ser raro ou impossível, a sua própria relação se tranquiliza e se tornam um exemplo edificante para os próprios filhos. Para evitar criar confusão entre o povo de Deus, é importante que eles frequentem os sacramentos nas
comunidades onde a situação de divorciados recasados não seja conhecida.

O sacerdote pode negar a Comunhão a quem se apresenta publicamente para recebê-la?
Não. Só se nega a Comunhão quando haja um julgamento público que exclui a possibilidade de receber os sacramentos (excomunhão, interdito), e o sacerdote tem certeza de que não tenha sido revogada, ou também quando aquele que se apresenta para receber o faz abertamente para ridicularizar ou como desafio da comunidade cristã. Aproximar-se ou não da Eucaristia, na verdade, depende da consciência de quem comunga: um divorciado casado de novo que não se arrependeu deveria avaliar por ele mesmo a inadequação de receber os sacramentos. O sacerdote não deveria tomar o lugar da consciência dos fieis; não sabe se houve um arrependimento sério (contrição) e de qualquer forma deve evitar ferir publicamente um pessoa, uma vez que resultaria em um dano espiritual maior.

Então, o que pode fazer um sacerdote para evitar que um divorciado recasado não arrependido receba a comunhão?
De momento, nada. Se conhece a pessoa pode, na forma adequada e oportuna, instruí-lo sobre a disciplina da Igreja, que é exercício de misericórdia também quando tem que dizer não.

Que sentido faz a comunhão de um divorciado recasado não arrependido?
Não faz sentido, e é espiritualmente prejudicial. Recebemos os sacramentos para viver como filhos de Deus, na santidade, ou, pelo menos, para irmos naquela direção; não se trata de um direito subjetivo, nem serve para nos confirmar em nossas escolhas, como uma espécie de atestado de boa conduta ("o que faço de errado?"), e muito menos para atender às necessidades "místicas." Tal atitude desvaloriza os sacramentos, reduzindo a vida cristã à dimensão das misérias humanas e nada mais, e os sacramentos a um "consolo" só psicológico que cobre as feridas sem curá-las: um pietismo ilusório que termina roubando a esperança de uma vida nova.

Então, por que se criou o debate sobre a comunhão para os divorciados recasados?
Porque existem problemas reais. A causa principal deve ser reconhecida no fato incontestável de que estamos celebrando muitos matrimônio nulos: “cerimônias” na igreja, não um verdadeiro sacramento, porque os esposos, que são os celebrantes, muitas vezes, no atual contexto cultural, não amadureceram a consciência mínima do que seja o matrimônio. Bento XVI, em 2011,  apontou este problema, mas até agora foi ignorado. Assim, muitas vezes, tem-se a situação paradoxal de quem se casou na Igreja de forma só aparente e, em seguida, realizou um matrimônio civil, dessa vez sim com as intenções certas, mas, obviamente, sem a forma canônica, portanto, permanecendo excluído dos sacramentos. O recurso aos tribunais eclesiásticos hoje é a única solução, mas não deveria ser o caminho normal, o caminho da maioria! De fato, nesse caso só a lei eclesiástica impede de receber os sacramentos. A forma canônica é uma obrigação introduzida pelo Concílio de Trento para evitar os abusos de então, hoje, porém, não raro, a lei acaba estando em desacordo com a realidade. Por isso é urgente repensar toda a questão.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O sim de Deus é irrevogável


"Queridos irmãos e irmãs, a nossa vida e o nosso caminho cristão são marcados muitas vezes pela dificuldade, incompreensão e sofrimento. Todos nós sabemos. No relacionamento fiel com o Senhor, em nossa oração constante, cotidiana, podemos também nós, concretamente, sentir a consolação que vem de Deus. E isso reforça a nossa fé, pois nos faz experimentar de modo concreto o “sim” de Deus ao homem, a nós, a mim, em Cristo; faz sentir a fidelidade do Seu amor, que chega até a doação de Seu Filho sobre a Cruz. Afirma São Paulo: “O Filho de Deus, Jesus Cristo, que nós, Silvano, Timóteo e eu, vos temos anunciado não foi ‘sim’ e depois ‘não’, mas sempre foi ‘sim’. Porque todas as promessas de Deus são ‘sim’ em Jesus. Por isso, é por ele que nós dizemos ‘Amém’ à glória de Deus” (2Cor 1,19-20). O “sim” de Deus não é reduzido pela metade, não está entre o “sim” e o “não”, mas é um simples e seguro “sim”. E a este “sim” nós respondemos com o nosso “sim”, com o nosso “amém” e, assim, estamos seguros no “sim” de Deus.

A fé não é primariamente uma ação humana, mas dom gratuito de Deus, que se enraíza na sua fidelidade, no seu “sim”, que nos faz compreender como viver a nossa existência amando-O, e os irmãos. Toda a história de salvação é um progressivo revelar-se desta fidelidade de Deus, apesar das nossas infidelidades e nossas negações, na certeza de que “os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis”, como declara o Apóstolo na Carta aos Romanos (11,29).

Sobre o “sim” fiel de Deus, é unido o “amém” da Igreja que ressoa em cada ação da liturgia: “Amém” é a resposta da fé que conclui sempre a nossa oração pessoal e comunitária. E que expressa o nosso “sim” à iniciativa de Deus. Geralmente, respondemos por hábito com o nosso “Amém” na oração, sem compreender seu significado profundo. Este termo deriva do ‘aman’ que, em hebraico e em aramaico, significa “estabilizar”, “consolidar” e, consequentemente, “estar certo”, “dizer a verdade”. Se olharmos na Sagrada Escritura, vemos que este “amém” é dito no fim dos Salmos de benção e louvor, como por exemplo, no Salmo 41: “Vós, porém, me conservareis incólume, e na vossa presença me poreis para sempre. Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, de eternidade em eternidade! Assim seja! Amém!” (vv. 13-14). Ou expressa adesão a Deus, no momento em que o povo de Israel retorna cheio de alegria do exílio babilônico e diz o seu “sim”, o seu “amém” a Deus e a sua Lei. No Livro de Neemias se narra que, depois deste retorno, “Esdras abriu o livro (da Lei) à vista do povo todo; ele estava, com efeito, elevado acima da multidão. Quando o escriba abriu o livro, todo povo levantou-se. Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus; ao que todo o povo respondeu levantando as mãos: ‘Amém! Amém!’”(Nee 8,5-6).

Queridos amigos, a oração é o encontro com uma Pessoa viva a se escutar e com quem dialogar; é o encontro com Deus que renova sua fidelidade inabalável, o seu “sim” ao homem, a cada um de nós, para doar-nos a sua consolação em meio às tempestades da vida e nos fazer viver, unidos a Ele, uma existência plena de alegria e de bem, que encontrará o seu cumprimento na vida eterna".

Palavras do Papa Emérito Bento XVI em maio de 2012 por Zenit