quinta-feira, 29 de novembro de 2018

I Domingo do Advento


Neste 1º Domingo do Tempo do Advento, a Palavra de Deus apresenta-nos uma primeira abordagem à “vinda” do Senhor.

Na primeira leitura, pela boca do profeta Jeremias, o Deus da aliança anuncia que é fiel às suas promessas e vai enviar ao seu Povo um “rebento” da família de David. A sua missão será concretizar esse mundo sonhado de justiça e de paz: fecundidade, bem-estar, vida em abundância, serão os frutos da acção do Messias.

O Evangelho apresenta-nos Jesus, o Messias filho de David, a anunciar a todos os que se sentem prisioneiros: “alegrai-vos, a vossa libertação está próxima. O mundo velho a que estais presos vai cair e, em seu lugar, vai nascer um mundo novo, onde conhecereis a liberdade e a vida em plenitude. Estai atentos, a fim de acolherdes o Filho do Homem que vos traz o projecto desse mundo novo”. É preciso, no entanto, reconhecê-l’O, saber identificar os seus apelos e ter a coragem de construir, com Ele, a justiça e a paz.

A segunda leitura convida-nos a não nos instalarmos na mediocridade e no comodismo, mas a esperar numa atitude activa a vinda do Senhor. É fundamental, nessa atitude, a vivência do amor: é ele o centro do nosso testemunho pessoal, comunitário, eclesial.

1ª leitura - Jer 33,14-16 

O ambiente em que estamos mergulhados potencia, tantas vezes, o medo, a frustração, o negativismo, a insegurança, o pessimismo… É possível acreditar no Deus da “justiça”, fiel à “aliança”, comprometido com os homens e continuar a olhar para o mundo nessa perspectiva negativa, como se Deus – o Deus da justiça e do amor – tivesse abandonado os homens e já não presidisse à nossa história?
 
De acordo com o Novo Testamento, esta “justiça” é comunicada pelo “Messias” a todos os membros do povo eleito (cf. Rom 1,17; 1 Cor 1,30; 2 Cor 5,21; Flp 3,9). Sentimo-nos, verdadeiramente, membros do povo messiânico, construtores desse mundo de justiça, de paz, de felicidade para todos? Qual é a atitude que define o nosso empenho: o compromisso sério com a justiça e a paz, ou o comodismo de quem prefere demitir-se das suas responsabilidades e passar ao lado da vida?
 
2ª Leitura -1 Tes 3,12–4,2  
 
A caminhada cristã nunca é um processo acabado, mas uma construção permanente, que recomeça em cada novo instante da vida. O cristão não é aquele que é perfeito; mas é aquele que, em cada dia, sente que há um caminho novo a fazer e não se conforma com o que já fez, nem se instala na mediocridade. É nesta atitude que somos chamados a viver este tempo de espera do Messias.
 
Evangelho - Lc 21,25-28.34-36

A realidade da história humana está marcada pelas nossas limitações, pelo nosso egoísmo, pelo destruição do planeta, pela escravidão, pela guerra e pelo ódio, pela prepotência dos senhores do mundo… Quantos milhões de homens conhecem, dia a
dia, um quadro de miséria e de sofrimento que os torna escravos, roubando-lhes a vida e a dignidade… A Palavra de Deus que hoje nos é servida abre a porta à esperança e grita a todos os que vivem na escravidão: “alegrai-vos, pois a vossa libertação está próxima. Com a vinda próxima de Jesus, o projecto de salvação/libertação de Deus vai tornar-se uma realidade viva; o mundo velho vai converter-se numa nova realidade, de vida e de felicidade para todos”.
 
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)

 

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Solenidade de Cristo Rei do Universo

Queridos irmãos e irmãs!
Neste último domingo do ano litúrgico celebramos a solenidade de Cristo Rei do Universo. O Evangelho de hoje repropõe-nos uma parte do dramático interrogatório ao qual Pôncio Pilatos submeteu Jesus, quando lhe foi entregue com a acusa de ter usurpado o título de «rei dos Judeus».
Às perguntas do governador romano, Jesus respondeu afirmando que era rei, mas não deste mundo (cf. Jo 18, 36). Ele não veio para dominar sobre os povos e territórios, mas para libertar os homens da escravidão do pecado e reconciliá-los com Deus. E acrescentou: «Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz» (Jo 8, 37).

Mas qual é a «verdade» que Cristo veio testemunhar no mundo? Toda a sua existência revela que Deus é amor: portanto, é esta a verdade da qual Ele deu testemunho pleno com o sacrifício da sua própria vida no Calvário. A Cruz é o «trono» do qual manifestou a sublime realeza de Deus-Amor: oferecendo-se em expiação pelos pecados do mundo, Ele derrotou o domínio do «príncipe deste mundo» (Jo 12, 31) e instaurou definitivamente o Reino de Deus. Reino que se manifestará em plenitude no fim dos tempos, quando todos os inimigos, e por fim a morte, tiverem sido submetidos (cf. 1 Cor 15, 25-26). Então o Filho entregará o Reino ao Pai e finalmente Deus será «tudo em todos» (1 Cor 15, 28). O caminho para chegar a esta meta é longo e não admite atalhos: de facto, é necessário que cada pessoa acolha livremente a verdade do amor de Deus. Ele é Amor e Verdade, e quer o amor quer a verdade nunca se impõem: batem à porta do coração e da mente e, onde podem entrar, trazem paz e alegria. É este o modo de reinar de Deus; este é o seu projeto de salvação, um «mistério» no sentido bíblico da palavra, isto é, um desígnio que se revela pouco a pouco na história.

Com a realeza de Cristo foi associada de maneira muito singular a Virgem Maria. A ela, humilde jovem de Nazaré, Deus pediu que fosse a Mãe do Messias, e Maria correspondeu totalmente a esta chamada unindo o seu «sim» incondicionado ao do Filho Jesus e tornando-se obediente com Ele até ao sacrifício. Por isto Deus a exaltou acima de cada criatura e Cristo coroou-a Rainha do Céu e da Terra. Confiamos à sua intercessão a Igreja e a humanidade inteira, para que o amor de Deus possa reinar em todos os corações e se cumpra o seu desígnio de justiça e de paz".

Bento XVI, Angelus, 26 de Novembro de 2006

domingo, 11 de novembro de 2018

Inteligência Emocional

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

O meu jugo é suave


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Senhor, no dia em que pronunciastes estas palavras, muitos de vossos ouvintes as julgaram bem temerárias, para não dizer absurdas. O vosso jugo é suave!

Mas...e os mandamentos todos, os deveres de estado, as múltiplas e perpétuas obrigações? O vosso jugo é suave!... E o perdão das ofensas, a guerra ao egoísmo?

Olho em torno a mim. Parece que tudo conspira para contradizer vossa tranquila afirmação. Numerosos cristãos não levam mais que a metade ou a terça parte de vosso fardo, e não obstante já se creem sobrecarregados. Uns não observam mais que dois ou três dos dez mandamentos, outros vos concedem apenas algumas horas por ano: mas isso quando lhes sobra tempo... E dizeis suave o vosso jugo!

O segredo está em aceitar a ordem divina, pois só nesta atitude os fardos equilibram-se. Quando se leva generosamente o jugo da lei de Deus, tomando até mesmo os conselhos com os preceitos, o conjunto torna-se mais leve, assim como o melhor meio de se tornar corajoso é imprimir coragem nos outros, e o método mais eficaz de aliviar o próprio sofrimento é o diminuir o de alguém.

Gostamos de ragatear; dizemos: conservarei as aparências de honestidade, garantirei o aspecto exterior da virtude, mas não posso além disso vigiar o meu interior e regular os meus desejos secretos. Tarefa impossível.

Diz-se: não irei até a falta grave, mas não posso evitar as pequenas leviandades e as complacências mínimas; não posso renunciar aos sonhos sentimentais, e gosto por demais do que Deus proíbe, para poder desprender-me de tudo. Tarefa impossível, querer conservar meia castidade, passar pelo fogo sem ficar com o cheiro e a marca da queimadura. 

Pergunte às pessoas sinceras, àquelas que se entregaram a Deus num gesto irrevogável, se o sacrifício lhes é doloroso, e eles lhes responderão convictos, que lhes parece jamais ter feito sacrifício algum, e que nada é mais fácil que não calcular. Aquele que só conhece estas duas palavras: nada e tudo, não se embaraça com a busca de cocientes, não perde tempo com multiplicações. O jugo do Senhor não afeta o ombro desses fiéis.

Fardos sobre fardos tornam mais pesados os corpos, mas fazem mais leves as almas, como as asas que pesam sobre o pássaro, mas lhes servem ao mesmo tempo de apoio para subir.

Pierre Charles S.J.