Estudos recentes da “American
Association for Marriage and Family Therapy” (EUA) revelam que cerca de 20% dos
casamentos têm algum tipo de infidelidade sexual. Outra parcela de 20% é vítima
de algum vínculo emocional com outra pessoa que não seja seu cônjuge.
No caso específico do Brasil,
segundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), o casamento continua em alta em nosso país, porém, o número de divórcios
também continua aumentando em grandes proporções.
Mas, em círculos especificamente
católicos, qual seria o panorama?
Em uma edição da revista
norte-americana Our Sunday Visitor, o Dr. Gregory K. Popcak, especialista em
aconselhamento pastoral, notadamente nas áreas de transtornos afetivos
(depressão, ansiedade) e problemas matrimoniais e familiares, afirma que até
83% dos casamentos católicos, os cônjuges cometem a denominada “infidelidade espiritual”
(cf. “Spiritual infidelity: A crisis in Catholic marriage”, 02.09. 2015).
Entende-se por “infidelidade
espiritual” um conceito muito mais amplo que o de “infidelidade sexual” ou
“infidelidade sentimental”. Considerando as mútuas promessas que ambos os
cônjuges firmaram no dia do casamento, e uma vez que este sacramento supõe para
os cônjuges que se tornem ajuda um para o outro para chegar ao céu (o que
implica viver a fé juntos: orar unidos, ir juntos à missa, educar de forma
cristã os seus filhos, etc), a violação dessas promessas de caráter espiritual
torna-se uma “traição” que, em última instância, enfraquece o casamento e
facilita outras infidelidades. Essa é a “infidelidade espiritual” definida por
Popcak.
Mas, qual é a base para se chegar
a essa elevada porcentagem de “infidelidade espiritual?
Um estudo realizado pelo “Center
for Applied Research in the Apostolate” da Universidade de Georgetown e
patrocinado pela “The Holy Croos Family Ministries” mostra que apenas 17% dos
casais católicos rezam juntos.
Isso significa que, de acordo com
o Dr. Popcak, “em termos práticos, se um casal católico não está partilhando
ativamente a sua fé, adorando a Deus juntos, orando juntos, cai-se na
infidelidade espiritual ao colocar algo diferente de Deus e da fé no centro das
suas vidas”. E acrescenta: “parece-me que, infelizmente, os católicos aceitam a
existência da infidelidade espiritual”.
Para Popcak é algo muito sério
que a maioria dos esposos católicos não assuma que deve esperar algo do seu
cônjuge relativo aos compromissos espirituais mutuamente adquiridos como orar
juntos ou compartilhar a fé.
Muitas vezes ouve muitas vezes
esposas e esposos que dizem: “Não posso obrigar meu cônjuge a orar”. E refere
que certamente não se trata de forçar ninguém a fazer nada; trata-se de
convidar permanentemente ao casal a ser fieis às promessas realizadas no altar
com a expectativa de que, pelo menos, por respeito ao seu esposo(a),
compartilhem um momento de oração significativo. Não fazê-lo seria consentir
abertamente a “infidelidade espiritual”.
Com efeito, no capítulo VI da
Exortação Apostólica Amoris Laetitia, que
sintetiza os principais desafios pastorais derivados dos debates do caminho
sinodal, dentre eles o acompanhamento dos casais nos primeiros anos de sua vida
matrimonial, Papa Francisco salienta que “É preciso sublinhar a importância da
espiritualidade familiar, da oração e da participação na Eucaristia dominical e
animar os cônjuges a reunirem-se regularmente para promoverem o crescimento da
vida espiritual e a solidariedade nas exigências concretas da vida. Liturgias,
práticas devocionais e Eucaristias celebradas para as famílias, sobretudo no
aniversário de matrimônio, foram citadas como vitais para favorecer a
evangelização através da família.”
Prossegue alertando o Santo Padre
que “quando não se sabe que fazer com o tempo compartilhado, um ou outro dos
cônjuges acabará por se refugiar na tecnologia, inventará outros compromissos,
buscará outros braços, ou escapará de uma intimidade incômoda.
Eduardo Mélega Burin
Referências:
1. “Artigo publicado por Jorge
Henrique Mujica em ZENIT - 10/09/16
2. Exortação Apostólica
Pós-Sinodal – Amoris Laetitia – Papa Francisco