sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

À escuta da Palavra

A Mão da Vida: 4º DOMINGO DO ADVENTO

A Palavra, evidentemente, está no centro da festa de Natal, pois “a Palavra de Deus fez-se carne e habitou entre nós”. Dizemos “Palavra do Senhor”, “Palavra da salvação”! Convite a anunciar a Palavra de Deus… 

Diz a sabedoria popular com razão: “A palavra é de prata, mas o silêncio é de ouro”. Deus, melhor do que ninguém, conhece e põe em prática este provérbio! Quando envia a Palavra aos homens, começa por um silêncio… Os anjos anunciam, José e Maria fazem silêncio… assim como menino recém-nascido, após os normais gritos do nascimento… O coração do Natal é, acima de tudo, um grande silêncio. Aparte o episódio dos 12 anos de Jesus na sua adolescência, os Evangelhos não nos transmitem qualquer palavra de Jesus durante cerca de 30 anos. E, para terminar, o silêncio de Jesus na cruz… 


E agora, hoje, muitas vezes Deus continua a calar-se… Deus quer, antes de mais, dar-nos o seu silêncio, estabelecer entre Ele e nós um espaço de silêncio… Falamos demasiado… Eis porque Deus começa por se calar, para que o seu próprio silêncio se torne mensagem, convite a nos tornarmos atentos à sua presença. Nesta noite de Natal, procuremos estar unidos ao silêncio de José, de Maria e de Jesus. Assim, talvez ouçamos, nós também, no fundo do nosso coração, uma música muito doce, como um murmúrio de Deus que vem dizer-nos que, nesta noite, é dentro de nós que Ele quer nascer!

Desde a concepção de Jesus, são duas mulheres que testemunham, antes de qualquer outro, a sua esperança enfim cumprida: Isabel e Maria. São ainda mulheres as primeiras a testemunhar o segundo nascimento de Jesus na manhã de Páscoa! Felizes aquelas que acreditaram no cumprimento das palavras que lhes foram ditas da parte do Senhor! Em vésperas de Natal, sejamos apressados, como Maria: ponhamo-nos a caminho rapidamente! E que algo faça mexer e estremecer em nós: as palavras que nos foram ditas da parte do Senhor, vamos levá-las aos irmãos que vivem sem esperança.

Dehonianos

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Convertei-vos porque o Reino de Deus está próximo

 


Quando um navio vai sair do estaleiro pela primeira vez, é costume realizar-se uma cerimônia na qual a nova embarcação recebe o nome e, como desfecho do ato, uma garrafa de champanhe é quebrada de forma espetacular no casco, escorrendo ali todo o seu precioso líquido.

Depois disso, com o costado recém pintado, liso e completamente limpo, a embarcação é lançada na água e começa a navegar pelos oceanos. Com o passar dos anos a velocidade do navio vai diminuindo, não por perda de força do motor, mas porque no casco se incrustam moluscos em grande quantidade que dificultam a navegação. Para recuperar a rapidez inicial é imperioso retornar ao estaleiro e remover essa crosta. Também os automóveis quando são novos funcionam bem, e depois de certo tempo de uso é necessário submetê-los a uma revisão, a fim de garantir o bom desempenho de seu mecanismo.

Assim também, sobretudo nós, necessitamos fazer uma revisão… da alma. Temos de analisar com frequência nossa vida espiritual, porque, apesar de sermos batizados, recebermos os Sacramentos com assiduidade e praticarmos com seriedade a Religião, é frequente passarmos por circunstâncias que nos levam a cometer certas imperfeições ou a nos apegarmos às vaidades deste mundo, e adquirirmos manias e maus hábitos.

É por isso que, na sua extraordinária sabedoria, a Igreja distribui a Liturgia ao longo do ano de maneira a nos proporcionar, em determinados momentos, a oportunidade de fazer a nossa revisão espiritual. Um desses períodos é o Advento, tempo de conversão, ou seja, tempo de exame de consciência, de penitência e de mudança de vida. A pregação de São João Batista, recolhida por São Mateus no Evangelho de hoje, nos oferece preciosos elementos para isso.

Convertei-vos!

São João vivera os anos precedentes à sua missão pública nas paragens solitárias situadas mais ao norte do Jordão, onde também, mais tarde, Nosso Senhor passaria os quarenta dias de jejum, depois de ser batizado. Agora, ele percorria toda a região do Jordão, pregando ao povo:

No Batismo, todos recebemos uma semente do Reino de Deus, que devemos fazer crescer em nós pela prática da Religião, enquanto esperamos o momento de possuí-lo em plenitude, na eternidade. Todavia, no mundo moderno essa esperança da vida eterna é substituída por outra esperança, cujo objeto não é Deus: é a técnica, são as invenções e as descobertas científicas, que tornam a existência humana mais agradável e a prolongam de modo considerável. Chega-se até mesmo a admitir a ideia de que a ciência ainda fará surgir o elixir cujas propriedades tornarão imortais os homens.

Ora, a tecnologia e a medicina podem, na verdade, aumentar o número de nossos dias, mas não eternizá-los. Chegará a hora em que elas de nada adiantarão e deixaremos este mundo. Aí termina a esperança mundana, como ensina o Livro da Sabedoria: “É como poeira levada pelo vento, e como uma leve espuma espalhada pela tempestade; ela se dissipa como o fumo ao vento, e passa como a lembrança do hóspede de um dia” (5,14). Nesse sentido, a admoestação do Precursor é muito clara e atual para nós: trata-se de fazer penitência desses desvios, pois o Reino dos Céus não é dos que põem sua segurança no progresso, na máquina ou no conforto material, e sim daqueles que confiam em Deus e têm sua esperança posta na eternidade.

Aplicada pelos quatro evangelistas à pessoa de São João Batista, esta passagem de Isaías possui um profundo simbolismo que nos lembra quão oportuna é para nós a mensagem do Precursor. Chama a atenção que o profeta localize a missão de João “no deserto”. Devemos interpretar esta menção num sentido mais metafórico que propriamente físico: João gritava e era ouvido por aqueles que estavam “no deserto”, ou seja, no inteiro desprendimento de tudo o que não conduz a Deus. Quando alguém, pelo contrário, está no bulício da “cidade”, aferrado ao que nela existe: a vaidade, as máquinas, o relacionamento humano que afasta da virtude etc., fica surdo à voz que o convida à conversão. À primeira vista, muitas dessas coisas podem parecer legítimas; no entanto, quem se apega ao que é lícito esquecendo- se de Deus, logo estará apegado também ao que é ilícito. Em nosso caso concreto, quantos afetos desordenados não estão impedindo que ouçamos o clamor de São João, dirigido a nós a todo instante, seja por moções interiores da graça em nossa alma, seja pela ação de outros?

Peçamos a Deus, que nos proporcione uma inteira fidelidade aos seus mandamentos, e uma plena lucidez sobre o que devemos nos desvencilhar, para que assim possamos receber com a alma limpa, o Divino Infante que nos aguarda de braços abertos.

Por Guilherme Motta

 

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

O Papa e o Advento: Deus se esconde nas situações mais comuns de nossa vida

Na alocução que precedeu a oração, o Pontífice recordou a "bela promessa que nos introduz no tempo do Advento: «Virá o teu Senhor».

Este é o fundamento da nossa esperança, é o que nos sustenta também nos momentos mais difíceis e dolorosos da nossa vida: Deus vem. Nunca nos esqueçamos disso! O Senhor vem sempre, nos visita, se faz próximo, e voltará no fim dos tempos para nos acolher no seu abraço.

O Senhor inspira as nossas ações

A seguir, o Papa fez as seguintes perguntas: "Como vem o Senhor? Como reconhecê-lo e acolhê-lo?" Primeira pergunta: como o Senhor vem?

Segundo Francisco, "muitas vezes ouvimos dizer que o Senhor está presente no nosso caminho, que nos acompanha e nos fala. Mas talvez, distraídos como estamos por tantas coisas, esta verdade permanece para nós apenas teórica, ou imaginamos que o Senhor vem de maneira sensacional, talvez por meio de algum sinal prodigioso. Jesus diz que acontecerá "como nos dias de Noé". E o que faziam nos dias de Noé? Simplesmente as coisas normais e cotidianas da vida: «Comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento»".

Levemos em consideração isso: Deus está escondido em nossa vida, está sempre presente, está escondido nas situações mais comuns e ordinárias de nossa vida. Não vem em eventos extraordinários, mas nas coisas do dia-a-dia. O Senhor vem nas coisas do dia-a-dia, porque Ele está ali, se manifesta nas coisas de todos os dias. Ele está ali, no nosso trabalho quotidiano, num encontro casual, no rosto de uma pessoa necessitada, mesmo quando enfrentamos dias que parecem cinzentos e monótonos, o Senhor está ali, nos chama, nos fala e inspira as nossas ações.

Perceber a presença de Deus na vida cotidiana

Segunda pergunta: como reconhecer e acolher o Senhor? De acordo com Papa, "devemos estar acordados, atentos, vigilantes. Jesus nos adverte: existe o perigo de não percebermos a sua vinda e estar despreparados para a sua visita".

Francisco disse que recordou "outras vezes o que Santo Agostinho dizia: "Temo o Senhor que passa", ou seja, temo que Ele passe e eu não o reconheça! De fato, sobre aquelas pessoas do tempo de Noé, Jesus diz que elas comiam e bebiam «e nada perceberam, até que veio o dilúvio, e arrastou a todos»".

Prestemos atenção nisso: não perceberam nada! Estavam ocupadas com suas coisas e não perceberam que o dilúvio estava para vir. De fato, Jesus diz que, quando Ele vier, "dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro deixado". Qual é a diferença? Em que sentido? Simplesmente que um estava vigilante, esperava, capaz de perceber a presença de Deus na vida cotidiana; o outro, por outro lado, estava distraído, "sem compromisso", como se fosse nada, e não percebeu nada.

Deixar-se chacoalhar pelo torpor

"Neste Tempo do Advento deixemo-nos chacoalhar pelo nosso torpor e despertemo-nos do sono", disse o Papa, convidando-nos a fazer as seguintes perguntas: "Estou consciente do que vivo? Estou atento? Estou acordado? Procuro reconhecer a presença de Deus nas situações cotidianas ou estou distraído e um pouco esmagado pelas coisas?"

"Se não percebermos sua vinda hoje, também estaremos despreparados quando ele vier no fim dos tempos. Irmãos e irmãs, permaneçamos vigilantes! Esperando que o Senhor venha, se aproxime de nós, porque Ele está aqui, espera. Prestemos atenção! Que a Virgem Santa, Mulher da expectativa, que percebeu a passagem de Deus na vida humilde e escondida de Nazaré e o acolheu em seu ventre, nos ajude neste caminho de estar atentos à espera do Senhor que está no meio de nós e passa", concluiu Francisco.

Vatican News

domingo, 20 de novembro de 2022

Santíssimo Sacramento: um presente que seria tolice recusar ou negar


"Temos que tirar Jesus Eucarístico do esquecimento para recolocá-Lo no topo da sociedade cristã para que a dirija e salve". (São Pedro Julião Eymard)

No número 165 do "Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, Princípios e Orientações"  diz-se da Adoração ao Santíssimo Sacramento:

A Adoração ao Santíssimo Sacramento pode ser feita de várias maneiras.

- uma simples visita ao Santíssimo Sacramento reservado no Sacrário: um breve encontro com Cristo, motivado pela Fé na Sua Presença, e caracterizado pela oração silenciosa;

- adoração diante do Santíssimo exposto: segundo as normas litúrgicas, no ostensório ou na píxide, por tempo prolongado ou breve;

- a chamada Adoração Perpétua ou de Quarenta Horas, que envolve toda a comunidade religiosa, uma Associação Eucarística ou uma comunidade paroquial, ocasião para numerosas expressões de piedade eucarística.

Para estes momentos de adoração, os fiéis devem ser encorajados a usar a Sagrada Escritura como um incomparável livro de oração; empregar hinos e orações apropriadas; familiarizar-se com algumas estruturas simples da liturgia das Horas, seguindo o ano litúrgico; permanecer em oração silenciosa. No entanto, devido ao estreito vínculo que une Maria a Cristo, a recitação do Rosário pode dar à oração uma profunda orientação cristológica, meditando os mistérios da Encarnação e da Redenção. 

Benefícios da Adoração Eucarística

 Um exemplo dos benefícios ocorreu aqui no Brasil. A Rede Marajó, rede depostos de combustíveis, construiu sete capelas em seus postos com o Santíssimo Sacramento no Sacrário, porque "a fé é o primeiro valor da nossa empresa", segundo as palavras de Janeth Vaz, diretora da Rede Marajó.

Ela explica: "Esse oásis já salvou pelo menos dois caminhoneiros do suicídio. O primeiro caminhoneiro chegou ao posto Nova Olinda, à noite muito desesperado e com uma arma porque queria tirar a própria vida. Ao avistá-lo, o vigia noturno levou-o à capela de Nossa Senhora das Graças, e ele permaneceu um tempo ali.

Quando saiu estava completamente diferente, e não tinha mais a intenção de se suicidar, e disse que ia até se desfazer da arma", lembrou a proprietária.

O outro caso, mais recente, ocorreu em Belém, na capela de Nossa Senhora de Nazaré. "Um sacerdote da região passou pelo local e pensou que a luz do sacrário havia se apagado, então ele entrou na capela para acendê-la, e viu um homem chorando.

O padre identificou-se e perguntou se poderia ajudá-lo. O homem contou que havia entrado na capela com a ideia de tirar a própria vida, mas disse a Deus: 'Se eu encontrar aqui um padre que ouça minha confissão, mudarei de ideia'. E nesse momento, o sacerdote entrou na capela. Após uma conversa e oração, ele mudou de ideia", contou Janeth.

Diversas vezes a desculpa para não ir adorar o Santíssimo Sacramento é a falta de tempo, todavia, gastamos nosso tempo em coisas de pouca importância. Por que não empregar mais o nosso tempo com Jesus Sacramentado? Se não pudermos estar fisicamente em uma capela com o Santíssimo exposto, voemos com nossa imaginação e alma, e adoremos a Ele à distância no Seu Sacramento de amor! 

Com informações catholicsatand.com

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Todos os Santos, "Hallowen vs. Holywins" e comemoração dos fiéis defuntos

 

Rezemos por nossos defuntos, façamos também pelas almas do purgatório que estejam mais abandonadas e pelas quais ninguém reza.

Foto: Pixabay/Albrecht Fietz.

Amanhã, no dia 1º de novembro, viveremos a solenidade de Todos os Santos e no dia seguinte a Comemoração dos Fiéis Defuntos. Ambos momentos sofreram a penetração do costume anglo-saxão de celebrar, na noite do dia 31 deste mês, Halloween -“All hallow’s eve”, que significa: “Véspera de Todos os Santos”. Véspera, como veremos, não muito “santa”.

Noite de bruxas, fantasmas, terror, refletindo antigo costume pagão, que tira o sentido religioso de tão especiais circunstâncias. Introdução por trás dele, escondida, a ação preternatural do demônio.

História e origem do Halloween

Esta pseudo celebração dos antigos Celtas, que eram povoadores da Europa Central e Ocidental pelo século VI a.C., que praticavam rituais obscuros, adoravam a natureza, que lhe atribuíam qualidades sobrenaturais e exerciam a prática de sacrifícios. Não todos os celtas, ao receber a religião cristã, tiveram uma autêntica conversão, conservaram costumes, mantendo superstições. Entre elas a adoração ao “senhor da morte” ou “Samhain”, invocado para pedir prosperidade, saúde, saber do futuro. Influência que degenerou em uma celebração que mantêm a festa da morte. Os sacerdotes celtas, os “druidas”, de grande influência, eram feiticeiros, magos, videntes. O festival ao deus da morte se realizava no dia 31 de outubro, com sacrifícios de animais e, em ocasiões especiais, de humanos, para poder adivinhar o futuro. Tenebroso, como podemos ver, é a origem do Halloween.

Imigrantes irlandeses foram os que introduziram o grotesco costume nos Estados Unidos, hoje em grande dia festivo não religioso. Difundido em alguns países da América espanhola, no México chega a realizar-se um mega desfile dos mortos, com altares e comidas típicas, dia dos fiéis defuntos.

‘Aniversário’ de Satanás

Não podia deixar de estar presente o consumismo, e não poucos colégios obrigam a celebrá-lo incentivando crianças a irem de casa em casa cantando rimas, fantasiadas de diabos, mortos, monstros e vampiros dizendo “Trick or treat” (Travessuras ou gostosuras). Hollywood contribuiu muito para sua difusão, através de filmes, com violência e assassinatos, e promovendo o negócio da venda de fantasias, máscaras, maquiagens, doces, etc.

Anton LaVey, fundador da primeira igreja satânica nos EUA, disse que uma das festas mais importantes para eles é o dia 31 de outubro. Noite por excelência para o oculto, para os bruxos, o qualificam como o ‘aniversário’ de Satanás.

Como vemos, é uma festa que surge banhada de algo tenebroso, e como algo que não exalta a Deus. Dias antes se reportam em partes do mundo o desaparecimento de crianças, também gatos que são mortos nos rituais. Festa na qual, podemos dizer, se abrem as portas para a entrada do demônio.

Holywins: a santidade vence

Em sentido oposto, na Diocese de Alcalá de Henares, da Espanha -assim como em numerosos lugares- se incentiva as crianças a se vestirem de Santos, recordando suas vidas através de testemunhos e canções. É o que chamam de ‘Holywins’, jogo de palavras que significa “a santidade vence”. No dizer do comunicado da Diocese: “se pretende ajudar a festa cristã de Todos os Santos, diante do eclipse cada vez maior que está sofrendo pela potente implantação da festa pagã do Halloween”. Singular controvérsia que nos mostra o entrechoque, cada vez mais intenso, entre o Bem e o mal.

Voltemos agora nossos olhares até ‘Todos os Santos’ e nossos ‘Fiéis Defuntos’. O culto a todos os Santos abarca o culto a todas as almas que estão no Céu, mesmo as que não estão canonizadas, rezando à elas para pedir proteção, logicamente as que tenham uma relação mais especial conosco. É a oportunidade de nos encomendarmos a elas neste dia. Recordamos também aos Patriarcas, que foram semente; aos Profetas que rasgaram inspirados o véu misterioso do porvir; as Almas Inocentes, que aumentam o coro dos anjos; aos Apóstolos que lançaram os fundamentos da Santa Igreja; aos Mártires, que ganharam a palma derramando seu sangue; aos Monges que combateram em claustros silenciosos; aos Doutores cujas plumas chegaram ricos tesouros do saber; aos Soldados do Exército de Cristo; a todos os Santos e Santas. Que quantidade maravilhosa de intercessores aos quais poderemos pedir na solenidade de Todos os Santos!

Dia dos Fiéis Defuntos

No dia seguinte a Igreja comemora os Fiéis Defuntos, as Santas Almas do Purgatório, aqueles que, tendo falecido em estado de graça, tem que cumprir a pena temporal, esta purificação final que é completamente distinta do castigo dos condenados. Terrível sofrimento, com a esperança do Céu. “Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas imperfeitamente purificados, sofrem depois de sua morte uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu” (Catecismo da Igreja, 1030).

Neste dia, estas almas se beneficiam com as Santas Missas que se celebram em todo lugar, especialmente nos cemitérios, e por nossas orações. Conta Santo Agostinho que a única coisa que sua mãe, Santa Mônica, lhe pediu antes de morrer foi: “Não se esqueça de oferecer orações por minha alma”. Que agrado da parte de nossos defuntos, falecidos em graça de Deus, de receber nossas orações! Chegando ao Céu, intercederão por nós.

Rezar pelas almas do purgatório

“Se reduzirmos o homem exclusivamente à sua dimensão horizontal -nos dizia o Papa Emérito Bento XVI-, à qual se pode perceber empiricamente, a própria vida perde seu sentido profundo. O homem necessita da eternidade, e qualquer outra esperança para ele é demasiadamente breve, demasiadamente limitada. O homem pode explicar-se somente se existe um Amor que supera todo isolamento, também o da morte, em uma totalidade que transcenda também o espaço e o tempo. O homem pode se explicar, encontra seu sentido mais profundo, somente se existe Deus” (2-11-2011).

Rezemos por nossos defuntos, façamos também pelas almas do purgatório que estejam mais abandonadas e pelas quais ninguém reza.

Por Padre Fernando Gioia, E

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Seis décadas da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II

 

A bimilenar e atuante Igreja de Cristo está celebrando, em 2022, seis décadas da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, cujos trabalhos se iniciaram oficialmente em 11 de outubro de 1962. No limiar dos anos 1960, do século XX, no pontificado de São João XXIII, a Esposa de Cristo respondia às urgências do homem contemporâneo. 

Nos seus 2 mil anos de História, a Igreja de Cristo tem-se mostrado sempre presente e, coerentemente atuante, na sociedade em que está inserida. Os fatos históricos e os documentos pontifícios nos mostram o atualizar da Mãe e Mestra, em todos os tempos e em todas as circunstâncias. Nos Arquivos e nas Bibliotecas, há muito material que afirma a presença da Igreja, sobretudo quando pesquisamos e estudamos a atuação dos papas no exercício do Magistério Petrino. 

A eleição do Papa São João XXIII, em 28 de outubro de 1958, foi momento de alegria e expectativa. Qual seria o itinerário pontifício do ancião e recém-escolhido pontífice da Igreja de Cristo? Seria um papa de transição? Traria alguma novidade para a Igreja? Surpreenderia a humanidade? 

Em 25 de janeiro de 1959, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma, São João XXIII surpreendeu a Igreja e a humanidade, quando anunciou um Sínodo para a Diocese de Roma e um concílio ecumênico. Queria falar aos seus diocesanos, como Bispo de Roma. Queria falar aos homens e mulheres de seu tempo, como Sumo Pontífice da Una, Santa, Católica e Apostólica Igreja de Cristo. O que esperar de tais pronunciamentos? Qual o significado do aggiornamento falado pelo Vigário de Cristo? 

São João XXIII, desde o momento do anúncio do Concílio Ecumênico, não propôs nenhuma alteração na Doutrina Cristã. Seu desejo era apresentar Jesus Cristo ao mundo contemporâneo. A palavra aggiornamento ganhava força na voz do Pontífice Romano. O Santo Padre estava propondo uma atualização da Igreja. Nenhuma mudança na Doutrina Cristã, mas almejava a presença vivaz e comprometida dos cristãos no mundo. Para tanto, o Romano Pontífice apresentava, também, o Diálogo com os homens e as mulheres do nosso tempo. A Igreja de Cristo estava sendo atualizada na História. O Pontífice propunha o Diálogo Ecumênico, o Diálogo com os judeus e o Diálogo Inter-religioso, com todas as demais religiões.

São João XXIII, quando se dirigia aos católicos, falava com docilidade. Vislumbrava a Igreja como Mãe e Mestra, capaz de ouvir com atenção e admoestar com ternura. Expandia sua maneira de ser aos homens e mulheres de boa vontade. Exortava como um pai bondoso e com total gesto de misericórdia. 

Eram tempos difíceis para a humanidade, em 1958, quando o Papa João XXIII iniciou o seu pontificado. Quando anunciou o Concílio Ecumênico, em 1959, houve muitos questionamentos. Porém, quando o momento eclesial se iniciou, descortinavam-se alegria e confiança. Em 2022, lembrar e celebrar os 60 anos da abertura do Concílio Vaticano II se torna um alento para a Igreja de Cristo e uma esperança para a humanidade desejosa de tempos melhores. 

Padre José Ulisses Leva é professor de História da Igreja na PUC-SP.

 

terça-feira, 4 de outubro de 2022

História, Oração e Frases de São Francisco de Assis

 

Igreja Católica celebra no dia de hoje, 4 de outubro, a memória de São Francisco de Assis, fundador da Ordem dos Franciscanos e padroeiro dos animais.

Nascido na cidade italiana de Assis no ano de 1182, Francisco teve uma juventude devassa, na qual somente se importava em gozar a vida. Enviado à guerra, foi feito prisioneiro e logo após ser libertado ficou doente. Em determinada ocasião, ouviu uma voz que lhe questionava: “A quem é melhor servir, ao amo ou ao criado?”. Voltou para a casa pensativo, e com a ajuda da oração, entendeu que Deus lhe chamava para algo maior.

Foi então que começou a desenvolver seu espírito de pobreza, servindo aos pobres e doentes, oferecendo-lhes suas roupas e dinheiro. O Santo foi enviado para uma capela chamada Porciúncula, onde passou boa parte da vida. Seu exemplo atraiu muitos discípulos, o que fez com que Francisco redigisse uma breve regra no ano de 1210, tendo a mesma sido aprovada pelo Papa. A pobreza se tornou o fundamento de sua ordem e o amor à pobreza se manifestava na maneira de se vestir, nos utensílios que usavam e nos atos.

No dia 3 de outubro de 1226, entregou a alma a Deus cantando “mortem suscepit”, sendo canonizado no dia 16 de julho de 1228, pelo Papa Gregório IX. Sua admiração e relação estreita com a natureza lhe renderam o título de padroeiro dos animais. Em 1939 o Papa Pio XII o elevou a padroeiro principal da Itália.

Frases de São Francisco de Assis

01 – “Pregue o Evangelho em todo tempo. Se necessário, use palavras”.

02 – “Onde o silêncio e a meditação reinam, não há lugar para preocupação”.

03 – “A oração nos aproxima de Deus, embora ele esteja sempre perto de nós”.

04 – “Sem oração ninguém pode progredir no serviço divino”.

05 – “Todo o bem que fazemos deve ser feito pelo amor de Deus, e o mal que evitamos deve ser evitado pelo amor de Deus”.

06 – “Santifique-se e você santificará a sociedade”.

07 – “Orar diariamente nos torna gentis”.

08 – “O verdadeiro ensinamento que transmitimos é o que vivemos e somos bons pregadores quando colocamos em prática o que dizemos”.

09 – “Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado. Resignação para aceitar o que não pode ser mudado. E sabedoria para distinguir uma coisa da outra”.

10 – “O que temer? Nada. A quem temer? Ninguém. Por quê? Porque aqueles que se unem a Deus obtêm três grandes privilégios: onipotência sem poder; embriaguez, sem vinho; e vida sem morte”.

Oração de São Francisco de Assis

Senhor,
Fazei de mim um instrumento de vossa Paz.
Onde houver Ódio, que eu leve o Amor,
Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão.
Onde houver Discórdia, que eu leve a União.
Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé.
Onde houver Erro, que eu leve a Verdade.
Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança.
Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria.
Onde houver Trevas, que eu leve a Luz!

Ó Mestre, fazei que eu procure mais: consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois é dando, que se recebe. Perdoando, que se é perdoado e é morrendo, que se vive para a vida eterna! Amém. (EPC)

 

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

As 15 frases mais emblemáticas do padre Pio

 

REDAÇÃO CENTRAL, 22 Set. 22 / 08:00 am (ACI).- Padre Pio será lembrado durante muito tempo por seus inúmeros ensinamentos espirituais, que foram materializados em dezenas de frases emblemáticas ao longo de sua vida. A seguir, apresentamos 15 delas graças à seleção do National Catholic Register.

1. A sociedade de hoje não reza, por isso está desmoronando.

2. A oração é a melhor arma que possuímos, a chave que abre o coração de Deus.

3. Ore, espere e não se preocupe. A preocupação é inútil. Nosso Senhor misericordioso escutará a sua oração.

4. Seria mais fácil para o mundo existir sem o sol do que sem a Santa Missa.

5. Mil anos de desfrutar da glória humana não valem nem uma hora na doce comunhão com Jesus no Santíssimo Sacramento.

6. Na vida espiritual, quem não avança retrocede. Acontece como um barco que sempre deve seguir adiante. Se parar, o vento o fará voltar.

7. Você deve falar a Jesus também com o coração, além dos lábios; na verdade, em certos casos, deve falar com Ele apenas com o coração.

8. Sempre devemos ter coragem, e se nos chega alguma apatia espiritual, corramos aos pés de Jesus no Santíssimo Sacramento e coloquemo-nos no meio dos perfumes celestiais, e sem dúvida recuperaremos nossa força.

9. Faz algum tempo que você não ama o Senhor? Não o ama agora? Não anseia amá-lo para sempre? Portanto, não temas! Ainda admitindo que cometeu todos os pecados deste mundo, Jesus repete: “Muitos pecados lhe são perdoados porque muito amou”.

10. Não se preocupe com as coisas que causam preocupação, desordem e ansiedade. Apenas uma coisa é necessária: Elevar seu espírito e amar a Deus.

11. Onde não há obediência, não há virtude; não há bondade nem amor. E onde não há amor, não há Deus. Sem Deus, não podemos alcançar o Céu. Essas virtudes formam uma escada; se falta um passo, caímos.

12. Os melhores meios para se proteger da tentação são os seguintes: cuidar dos seus sentidos para salvá-los da tentação perigosa, evitar a vaidade, não deixar seu coração se exaltar, convencer-se do mal da complacência, fugir do ódio, rezar sempre que possível. Se a alma soubesse o mérito que se adquire nas tentações sofridas com paciência e vencidas, seria tentada a dizer: Senhor, envia-me as tentações.

13. É necessário proteger todos os seus sentidos, especialmente seus olhos: são os meios pelos quais toda a fascinação e o encanto da beleza e da voluptuosidade entram no coração. Quando a moda, como em nossa época, é voltada para a provocação e expõe o que antes era incorreto pensar, é preciso ter precaução e autocontrole. Sempre que necessário, deve olhar sem ver e ver sem pensar.

14. Deve lembrar que tem no céu não apenas um pai, mas também uma mãe. Portanto, vamos recorrer a Maria. Ela é toda doçura, misericórdia, bondade e amor para nós porque é nossa mãe.

15. O amor e o medo devem ir unidos, o medo sem amor converte-se em covardia. O amor sem medo converte-se em presunção. Quando há amor sem medo, o amor corre sem prudência e sem restrições, sem se preocupar para onde vai.

 

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Por que celebrar o mês da Bíblia?


Durante o mês de setembro a Igreja Católica no Brasil celebra o mês da Bíblia. Ao longo deste período a Igreja nos convida a conhecer mais a fundo a Palavra de Deus, através de uma leitura meditada e rezada, aplicando-a em nossa vida cotidiana

A origem do mês da Bíblia no Brasil

O mês da Bíblia é um evento específico da Igreja no Brasil. Seu início tem origem com o Domingo da Bíblia, que se deu a partir da 1ª Semana Bíblica Nacional, em 1947. Já no ano de 1971, a Arquidiocese de Belo Horizonte (MG), por ocasião dos cinquenta anos, passou a celebrar o Mês da Bíblia. Cinco anos depois, em 1976, a celebração foi assumida pela Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB), que a estendeu em âmbito nacional.

Por que celebramos o mês da Bíblia em setembro?

Setembro foi escolhido como o mês da Bíblia pelo fato de que em 30 de setembro a Igreja Católica celebra a festa de São Jerônimo, conhecido por ter traduzido a Bíblia para o latim, a famosa ‘Vulgata’ (que significa ‘popular’). Seu trabalho se tornou referência nas traduções da Bíblia até os dias de hoje. Os originais das Sagradas Escrituras estão em três idiomas hebraico, grego e aramaico.

Qual o objetivo do mês da Bíblia?

Dentre os objetivos em dedicar o mês de setembro à Bíblia estão: o de contribuir para o desenvolvimento das diversas formas de presença das Sagradas Escrituras na ação evangelizadora da Igreja, no Brasil; criar subsídios bíblicos em diversas formas de comunicação; além de facilitar o diálogo criativo e transformador entre a Palavra, a pessoa e as comunidades.

O Papa Francisco e a Bíblia

Em diversas ocasiões o Papa Francisco aconselhou os fiéis a levarem consigo o Evangelho de bolso, e lê-lo sempre que possível. “Hoje se pode ler o Evangelho também com muitos instrumentos tecnológicos. Pode-se trazer consigo toda a Bíblia num telefone celular, num tablet. O importante é ler a Palavra de Deus, com todos os meios, e acolhê-la com o coração aberto. E então a boa semente dá fruto!”, explicou o Santo Padre.

O papel da Bíblia na vida de todo católico

Ressaltando o papel da Bíblia na vida de todo católico, o Pontífice afirmou que “a Bíblia não é para ser colocada em um suporte, mas para estar à mão, para lê-la frequentemente, cada dia, seja individualmente ou juntos, marido e mulher, pais e filhos, talvez de noite, especialmente no domingo”. (EPC)

Gaudium Press


quinta-feira, 18 de agosto de 2022

A oração do ateu

Ateu americano cria polêmica ao acusar o novo ateísmo de elitista

Orare, no latim, originalmente significa “pronunciar uma fórmula ritual, um pedido”. Dada a influência do latim na Igreja, enfatizou-se o sentido de suplicar a Deus, rezar. No grego, atheos significa “sem Deus, que nega e abandona os deuses”. Quem não crê em Deus ou em qualquer “ser superior” é ateu. De alguma forma, todos, incluindo os ateus, temos sempre ligação com a raiz do nosso ser, que nada mais é do que a ligação com o Criador. 

“Sou ateu, graças a Deus” é uma expressão do cineasta Luis Buñuel, criada para criticar a religiosidade. Uma espécie de questionamento da possibilidade do contato (re-ligar) com o Criador sem uma profissão de fé e fora do ambiente religioso. Uma provocação irônica, que nega e, ao mesmo tempo, coloca Deus em relevo. Nela, coexistem o esforço de negar e o imperativo impulso de aceitar, pela força da própria existência de Deus e da nossa relação intrínseca com o Criador. 

Na relação de amor, na busca da origem, ainda que apenas no intelecto, nos aproximamos do divino, e este é um modo de tocar o eterno, a raiz da nossa criação. Os poetas, escritores, artistas plásticos, muitas vezes revelam verdades profundas em suas obras, acerca de realidades que eles mesmos desconhecem. 

A arte pode expor a Deus até mesmo sem a consciência do autor. 

Oração é também silêncio e introspecção no nosso mundo barulhento e superficial, e assim propõe Gilberto Gil: “Se eu quiser falar com Deus/Tenho que ficar a sós/Tenho que apagar a luz/Tenho que calar a voz”. 

Ernst Bloch é outro que invoca concepções de ateísmo e religiosidade, como filósofo das utopias e esperanças, para provocar uma libertação do crente diante de certas correntes de formalidade, e afirma: “Só um ateu pode ser um bom cristão”. 

Na minha juventude, fiquei profundamente impressionado com a conversão de André Frossard (filho de um dos fundadores do Partido Comunista da França), a partir de um contato casual com a oração de piedosas senhoras, enquanto rezavam o Terço diante do Sacrário. Entrara naquela igreja apenas para mostrar a beleza do templo ao seu amigo arquiteto. Ateu até aquele momento, relata sua adesão à fé no livro: “Deus existe – eu O encontrei” (Editora Record, 1969). 

Nas várias circunstâncias da vida, diante das inúmeras possibilidades que podem emoldurar o nascimento de uma pessoa neste ou naquele ambiente cultural e religioso, sempre imaginei um Deus Amor, que salva justamente pelo amor que podemos colocar em nossas atitudes, muito mais do que pela formalidade delas. 

A inserção na Igreja, a partir da fé, é uma graça incomensurável, mas que pode, por variados motivos, não se dar da mesma maneira para todos. Mas o amor intrínseco de Deus que existe na natureza das pessoas, pois inerente ao Criador e parte das criaturas, este é universal. E o amor tudo pode. 

O Catecismo da Igreja Católica (No 1023) diz que “os que morrerem na graça e na amizade de Deus e estiverem perfeitamente purificados, viverão para sempre com Cristo”. Quem ama vive na amizade com Deus, pois pratica o mandamento maior: “Amar uns aos outros como Eu vos amei”. O amor purifica. Deus é o único que sabe os caminhos de cada um de nós. 

Como canta Renato Teixeira: 

“Me disseram, porém, que eu viesse aqui 
Pra pedir de romaria e prece 
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar, só queria mostrar 
Meu olhar, meu olhar, meu olhar”. 

Luiz Antonio Araujo Pierre, membro do Movimento dos Focolares. Professor e advogado. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.

 

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Bomba atômica, holocausto de 1945: hoje, uma terrível ameaça

Há 77 anos, de 6 a 9 de agosto de 1945, duas cidades japonesas foram destruídas por uma arma devastadora: a bomba atômica. O Secretário-geral da ONU, António Guterres, declara: "A humanidade está brincando com uma arma carregada"

 

As cidades de Verona na Itália, Popayán na Colômbia, Kehancha no Quênia, Tambov na Rússia e Kherson na Ucrânia, tão distantes e diferentes entre si, têm algo em comum: seu número de habitantes é, mais ou menos, o mesmo da população de Hiroshima, em 1945.

Quase 255 mil pessoas viviam nesta capital portuária do Japão, quando, em 6 de agosto de 1945, uma tempestade tórrida ocorreu pelo lançamento de uma bomba atômica de urânio pela Aeronáutica Militar dos EUA. Uma tragédia, gravada na memória mundial, um testemunho também para o nosso tempo, não imune do risco de uma nova catástrofe, de outro holocausto.

Hiroshima e depois Nagasaki, outra metrópole japonesa, que experimentou o horror do poder militar atômico, não devem ser um capítulo dramático passado. Trata-se de um alerta constante, para que outras cidades não sejam alvo de uma das mais de 12.700 ogivas nucleares, espalhadas em várias regiões do mundo.

A maioria das bombas atômicas, atualmente disponíveis, são bem mais poderosas do que as utilizadas na II Guerra Mundial: podem semear morte e destruição, em poucos instantes, com consequências potenciais, bem mais impressionantes e dramáticas ao longo das décadas, comprometendo a vida de várias gerações.

A humanidade está brincando com uma arma carregada

Por ocasião da cerimônia de comemoração do 77º aniversário da bomba atômica, em Hiroshima, o Secretário da ONU, António Guterres, fez um apelo, pedindo a suspensão do aumento dos estoques de armas nucleares, alertando que, várias crises com "perigosas nuanças nucleares" estão se espalhando rapidamente pelo mundo.

Falando no Parque “Memorial da Paz de Hiroshima”, o Secretário-geral da ONU disse: "As armas nucleares não têm sentido. Após três quartos de século, devemos nos perguntar: o que aprendemos com a nuvem de cogumelo que se levantou sobre esta cidade, em 1945? Crises, com graves implicações nucleares, estão se espalhando rapidamente, do Oriente Médio à Península Coreana e à invasão russa da Ucrânia. A humanidade está brincando com uma arma carregada".

Papa: “Não se pode obter a paz com o equilíbrio do terror”

Durante seu Pontificado, o Papa Francisco recordou várias vezes: “As armas nucleares são arsenais que ameaçam a humanidade, a nossa Casa comum; não são baluartes da lógica da dissuasão, mas possíveis 'portas de um abismo’, no qual toda a família humana pode se precipitar, improvisamente”.

Francisco reiterou isso, recentemente, também em um Twitter, por ocasião da Conferência da ONU sobre a “Revisão do Tratado de não Proliferação das Armas Nucleares” (TNP), em andamento em Nova Iorque até o próximo dia 26 de agosto: “O uso de armas nucleares, bem como a sua posse, é imoral. Tentar assegurar a estabilidade e a paz, através de um falso senso de segurança e de um ‘equilíbrio do terror’, pode, inevitavelmente, causar relações nocivas entre os povos e impedir o verdadeiro diálogo".

Uma ameaça real

Maurizio Simoncelli, vice-presidente e co-fundador do “Instituto de Pesquisas Internacionais, Arquivo Desarmamento” (IRIAD), disse à Rádio Vaticano - Vatican News: "Vemos, infelizmente, que o possível uso das armas atômicas está sendo contemplado nas doutrinas estratégicas dos países que possuem armas atômicas".

Dia 6 de agosto de 1945, foi lançada uma bomba atômica sobre a cidade de Hiroshima, no Japão. Três dias depois, outra bomba atômica também caiu sobre Nagasaki. O que estes acontecimentos, que, aparentemente, parecem distantes de nossas vidas, podem nos dizem hoje?

“Recordam-nos que as armas nucleares não são apenas uma ameaça hipotética, mas um fato que ocorreu historicamente. Hoje, o conflito na Ucrânia é um sinal de que a bomba atômica é uma ameaça real. Vemos, infelizmente, que o possível uso das armas atômicas está sendo contemplado nas doutrinas estratégicas dos países que possuem armas atômicas. Uma eventual autodestruição da nossa civilização está sempre à espreita para nos atacar”.

A Conferência da ONU sobre a “Revisão do Tratado de não Proliferação das Amas Nucleares”, em andamento em Nova York, realiza-se em um momento crítico. O cenário mais alarmante, mas não único, diz respeito, precisamente, à guerra na Ucrânia. O conflito neste país do Leste Europeu, portanto, não é o único que causa de risco?

“Absolutamente não. Na Conferência de “Revisão de não Proliferação Nuclear”, de 2015, que ocorreu em um clima completamente diferente do atual, também não se chegou a uma decisão positiva no âmbito de um processo de desarmamento. Após 50 anos da entrada em vigor do “Tratado de não Proliferação Nuclear”, 12.700 ogivas nucleares ainda existem no mundo. Estas armas ameaçam, realmente, a vida em nosso planeta. Notamos também a uma modernização dos porta-aviões, com aeronaves cada vez mais sofisticadas, mísseis hipersônicos e a aplicação da inteligência artificial até no setor militar nuclear. É difícil imaginar que esta Conferência da ONU sobre a “Revisão de não Proliferação Nuclear” possa chegar a algum resultado positivo”.

Neste clima de tensão, a invasão russa, que começou em fevereiro, poderia levar alguns países a rever sua decisão de renunciar às armas nucleares...?

“Este poderia ser um dos efeitos desta crise. Não devemos esquecer que, no período da Guerra Fria e do desarmamento, ocorrido no início da década de 1990, a Ucrânia e outros países renunciaram às armas atômicas, que faziam parte do antigo arsenal soviético. A decisão foi tomada para que as armas atômicas não fossem usadas e que esses países não seriam ameaçados por terem aderido a um processo de desarmamento. Hoje, porém, vemos, como lição histórica, que aqueles que mantiveram suas armas nucleares o fizeram por "segurança".”

O Papa Francisco afirmou várias vezes, em seu Pontificado, que “o uso de armas nucleares, bem como a sua posse, é imoral... e o equilíbrio do terror não pode ser a garantia de um mundo pacífico...”.

“O Papa Francisco levantou, muitas vezes, sua voz contra as armas nucleares e contra as guerras. É evidente que a busca da supremacia militar, mesmo no setor nuclear, não pode ser a que trará a paz ao mundo. Quando um país ou uma coalizão de Estados tenta afirmar a supremacia militar, prepara o cenário de um mecanismo, pelo qual outros países se sentem ameaçados e, por isso, não há mais uma segurança compartilhada. Pelo contrário, há uma insegurança compartilhada, uma nova corrida aos armamentos, como, infelizmente, notamos há vários anos”.

Amedeo Lomonaco - Cidade do Vaticano

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Regular a vontade é regular o homem todo (Pe. Alberione)

 


A nossa vontade é a faculdade soberana, rainha de todas as faculdades, sentidos internos e externos, potências e paixões. 

(Pe. Alberione _ Fundador da Família Paulina) 

Antes do pecado original, a vontade humana estava em perfeita harmonia com a do Criador.  Quando o homem caiu pelo pecado original, envolvido pela mentira da serpente - o diabo - a vontade rebelou-se contra Deus e os sentidos desordenaram-se tornando-se indóceis. 

"O homem conserva o desejo do bem, mas a sua natureza está ferida pelo pecado original. O homem ficou com a inclinação para o mal e sujeito ao erro (CIC 1707):

"O homem encontra-se, pois, dividido em si mesmo. E assim, toda a vida humana, quer singular quer coletiva, apresenta-se como uma luta, e quão dramática, entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas ". (II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et spes, 13: AAS 58 (1966) 1035)

Esta vontade está sujeita aos apetites dos sentidos, e direciona-se para onde estes os conduzem. Fazer a vontade de Deus, agora, nesta nova condição, é difícil, requer sacrifícios, e com frequência se dá um passo para trás.

Só com muita firmeza, exercitando a vontade a aceitar o querer divino é que se pode avançar  no crescimento interior pelo auto domínio e determinação, que vem da obediência.

Mas para se chegar a este estado de domínio de si é necessário tempo, treino, e muita oração, porque os sentidos estão sempre sendo colocados à prova. E dominar a vontade é ter o corpo todo sob controle. 

"Todos nós, sem dúvida, queremos viver felizes, e não há entre os homens quem não dê o seu assentimento a esta afirmação, mesmo antes de ela ser plenamente enunciada". (Santo Agostinho, De moribus Ecclesiae catholicae 1. 3, 4: CSEL 90, 6 PL 32, 1312)

Deus chama-nos à sua própria felicidade. Esta vocação dirige-se a cada um, pessoalmente, mas também ao conjunto da Igreja, povo novo constituído por aqueles que acolheram a promessa e dela vivem na fé. (CIC 1719)

Só exercitando a liberdade - que foi conferida ao homem por Deus - no sentido de querer o bem e praticá-lo, é que podemos colocar a vontade na sua melhor posição: a de ouvir a voz de Deus, acolhê-la e transformá-la em decisão, em realidade de ação. 

Os padres do deserto se isolavam consigo mesmos no sentido de conhecer-se para vencer em si toda desordem, todo movimento passional que os desviava do bem, do amor, da compaixão. Nem sempre temos esta oportunidade. Por isso a importância da oração repetida e confiante, que se alicerça no poder de Deus, e Nele espera toda transformação, conversão.

Conhece-te a ti mesmo, dizia Sócrates, para que cientes das fragilidades pessoais, seja possível entender e superar tudo aquilo que nos afasta deste controle da vontade, que regula o homem todo. Na introspecção da oração pode acontecer este passeio pelo interior do homem em busca de Deus e de si mesmo. 

Vigiai e orai...( Mt 26,41) pedindo ao Senhor que nos torne homens e mulheres que tem auto controle.

Malu e Eduardo Burin - Instituto Santa Família

quarta-feira, 13 de julho de 2022

São João Paulo II às famílias

Livro com cartas de João Paulo II | MAISFUTEBOL 

"É necessário proclamar alto a santidade do matrimônio, o valor da família e a intangibilidade da vida humana. Não me cansarei nunca de cumprir esta que julgo missão inadiável". São João Paulo II

Participamos de uma cerimônia de casamento há poucos dias, e ficamos encantados com o sacerdote que a conduziu. Ele foi muito claro quanto à importância e a sacralidade que o vínculo matrimonial tem, e como é fundamental que o casal tome consciência desta realidade a fim de preservar todos os valores cristãos inerentes à esta vocação.

Em primeiro lugar, o padre falou que o matrimônio santifica os cônjuges na medida em que  eles aceitam as dificuldades da vida sempre confiando na presença de Deus no meio deles, como o regente desta obra que é fruto do seu querer. Depois, que devem esforçar-se no sentido de buscar a felicidade do outro, colaborar para que o esposo(a) seja amado e cuidado com muito carinho e respeito. Apontou as três promessas que são feitas por eles diante de Deus, do sacerdote, da família e amigos, como uma responsabilidade séria e determinante do sucesso da vocação: a fidelidade de um para com o outro, o livre arbítrio que os levou à decisão de se unirem em matrimônio, e a aceitação os filhos que Deus lhes conceder.

Numa época em que as famílias vivem uma crise de sentido de sua existência, em que surgem novas modalidades de união que contrariam, no cerne, a criação do homem e da mulher como complementares na reprodução humana, esta cerimônia foi um bálsamo para nós que nos consagramos no Instituto Santa Família para proclamar que acreditamos no sacramento do matrimônio, e queremos permanecer fiéis a Deus vivendo nele. 

É na família que encontramos as virtudes da doação, do serviço à vida, do cuidado mútuo entre seus membros, da gratuidade do amor dos pais pelos filhos, da generosidade que brota para além das paredes de um lar, quando esta família divide seus dons com os mais necessitados, e do exemplo das gerações que a precederam.

Hoje a banalização da vida que é descartada no aborto e na eutanásia (ou nos métodos contraceptivos), já legalizados em vários países, o divórcio que torna-se uma opção tão banal para questões que poderiam ser resolvidas com um pouco de maturidade e espírito de sacrifício - no sentido de buscar saídas para as discrepâncias que são normais na vida dos casais - são chagas que sangram e tornam a humanidade órfã do esteio que a família dá ao ser humano.

Não nascemos para ser avulsos, para ficar trocando de parceiro como se troca de roupa. Isso machuca, desconstrói nossas estruturas afetivas mais profundas e deixa rastros de sofrimento na vida daqueles com que nos "relacionamos".

É preciso ter a coragem de São João Paulo II, e proclamar com os lábios e o exemplo que optar pelos valores cristãos da família é um grande serviço - e talvez o mais urgente para a sociedade atual -  que podemos prestar.

Se você busca a santidade no seu matrimônio, conheça o Instituto Santa Família. É preciso formar-se melhor para tornar-se um esposo(a) e um cristão melhor, e uma família que seja fermento na massa e no mundo.

Informe-se: institutospaulinos@paulinos.org.br

Malu e Eduardo Burin

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Papa: o caminho da fé passa por momentos de provação

 

"O caminho da fé não é um passeio, para ninguém, nem para Pedro nem para Paulo, para nenhum cristão. É exigente, às vezes árduo: mesmo Paulo, tendo se tornado cristão, teve que aprender pouco a pouco, especialmente através de momentos de provação". Palavras do Papa Francisco no Angelus desta quarta-feira, 29 de junho, Solenidade dos Santos Pedro e Paulo Padroeiros de Roma

Nesta quarta-feira, 29 de junho, Solenidade dos Santos Pedro e Paulo Padroeiros de Roma, o Papa Francisco falou no Angelus sobre as palavras que Pedro dirige a Jesus na sua profissão de fé.

"Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16,16). Francisco afirma que “é uma profissão de fé, que Pedro pronuncia não com base na sua compreensão humana, mas porque Deus Pai a inspirou nele. E que para que estas palavras entrem profundamente na sua vida, há antes um período de “aprendizado” da fé, que afetou os apóstolos Pedro e Paulo, assim como acontece com cada um de nós. Explicando:

“Nós também acreditamos que Jesus é o Messias, o Filho do Deus vivo, mas é preciso tempo, paciência e muita humildade para que nossa maneira de pensar e agir adira plenamente ao Evangelho”

Pedro repreende o Mestre

O Papa afirma que Pedro logo sentiu isso porque após Jesus ter anunciado que iria sofrer e ser condenado à morte Pedro rejeita esta perspectiva, que considera incompatível com o Messias. Ele até se sente obrigado a repreender o Mestre, que por sua vez o apostrofa: "Afasta-te de mim, Satanás! Tu me serves de pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas as dos homens!".

“Pensemos nisso: não nos acontece a mesma coisa? Repetimos o Credo, o rezamos com fé; mas diante das duras provações da vida, tudo parece vacilar. Estamos inclinados a protestar contra o Senhor, dizendo-lhe que não está certo, que deve haver outros caminhos mais retos e menos cansativos”

Paulo, caminho com incertezas e dúvidas

“O Apóstolo Paulo – continuou Francisco - também passou por um lento amadurecimento da fé, experimentando momentos de incerteza e de dúvida. A aparição do Ressuscitado no caminho de Damasco, que o transformou de perseguidor em cristão, deve ser vista como o início de um percurso durante o qual o Apóstolo se reconciliou com as crises, fracassos e os constantes tormentos”.

“O caminho da fé não é um passeio, nem para Pedro nem para Paulo, para nenhum cristão. É exigente, às vezes árduo: mesmo Paulo, tendo se tornado cristão, teve que aprender pouco a pouco, especialmente através de momentos de provação”

Concluindo o Papa pede que pensemos em nosso caminho da fé: “quando eu professo a minha fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, o faço com a consciência de que sempre devo aprender, ou presumo que ‘já entendi tudo’?” E concluiu com uma frase de Paulo a Timóteo “Ele nos libertará de toda a obra maligna e nos levará a salvo para o seu Reino Celeste (cf. 2 Tim 4,18). Que a Virgem Maria, Rainha dos Apóstolos, nos ensine a imitá-los, avançando todos os dias no caminho da fé”.

Jane Nogara

 

terça-feira, 21 de junho de 2022

Pai e mãe, não meros amigos.

segunda-feira, 6 de junho de 2022

terça-feira, 31 de maio de 2022

Que maior presente podemos dar a alguém? Escutá-lo


ESCUTAR O OUTRO É ESCUTAR A SI MESMO

“Escutar” é um verbo central na Bíblia, em hebraico se diz shemá e está presente mais de mil vezes no Antigo Testamento. No Novo Testamento, o verbo grego akòuo, “escuto, compreendo”, é usado mais de 400 vezes. A profissão de fé que está diariamente nos lábios de todo israelita fiel se inicia com shemá: “Escute!”, e é baseada em um texto bíblico cuja abertura soa assim: “Escute, Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é um. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças” (Dt 6,4-5).

No final do rito da aliança entre Deus e Israel, Moisés toma o livro da Aliança e o lê na presença do povo que diz: Faremos o que o Senhor disse e o escutaremos (cf. Ex 24,7). “Escutar” implica obediência, acolhida atenta, disponível e aberta. Quando Moisés relata os mandamentos do Senhor, todo o povo responde: O que o Senhor disse faremos! (cf. Ex 19,8). A Bíblia propõe uma religião de escuta que tem como meta o encontro com Deus em um abraço de amor. Por isso, o imperativo que segue o “escutar” é: “Amarás o Senhor”.

Isaías escreve: Como são belos os pés do mensageiro que faz escutar (shemá) a paz, do mensageiro das boas-novas que faz ouvir (shemá) a salvação (cf. Is 52,7). Jesus diz, justamente, nas bem-aventuranças: Bem-aventurados os vossos ouvidos porque ouvem (cf. Mt 13,16). Shemá possui um significado muito rico: escutar, prestar atenção e obedecer. A raiz hebraica sh-ma significa também “compreender”, como na história da torre de Babel, quando Deus diz: Venham, vamos descer e confundir a língua deles para que eles não se compreendam, yishme’u (cf. Gn 11,7).

É interessante que não existe o verbo “obedecer” no Antigo Testamento e sim o “escutar”, pois Deus pede ao povo de Israel que O escute, ou seja, reflita, tente entender, internalize, e só então responda ao que Deus pede. Ele quer que o povo seja um povo da “escuta”. Escutar é, portanto, a virtude-chave da vida religiosa.

Podemos fazer muitas coisas por uma pessoa, uma mãe pelos filhos, um marido pela esposa e vice-versa, um pároco pelos seus paroquianos, um membro de uma comunidade pelos seus irmãos; mas nada é maior e faz mais bem do que a disponibilidade para os escutar. Mas como escutar?

Na exortação apostólica Christus vivit, Papa Francisco apresenta-nos uma esplêndida catequese sobre como se pode escutar verdadeiramente o outro. Antes de tudo, é estar atento ao outro, enquanto ele se entrega a nós em suas palavras. O sinal dessa escuta é o tempo que dedico a ele. Não é uma questão de quantidade, mas que o outro sinta que o meu tempo é dele: o tempo que ele precisa para expressar o que deseja. Deve sentir que o escuto incondicionalmente, sem me ofender, sem me escandalizar, sem me irritar, sem me cansar.

Mas tudo isso é muito difícil às vezes: que tal rezar interiormente pelo outro enquanto o escuto? Escutar é um gesto supremo de amor e o maior presente que posso dar a uma outra pessoa.

terça-feira, 24 de maio de 2022

A Igreja e a escravidão

 A Igreja e a escravidão

Neste mês, o dia 13 de maio recordou-nos os 134 anos da abolição jurídica da escravidão no Brasil. Mais de um século nos separam desse acontecimento. Suas consequências, em alguns aspectos, no entanto, ainda hoje são sentidas, ora em episódios explícitos de racismo, ora em regimes de trabalho similares à servidão ou na negação de políticas públicas reparadoras de injustiças passadas. 

A relação entre Igreja e Escravidão, embora hoje seja uma postura clara e bastante definida, já foi complexa e, não raro, obtusa. Até meados do século XV a posição oficial da Igreja era de certa leniência e até cooperação com o processo escravocrata. Papas como Gregório I e Nicolau V, para citar exemplos, eram cônscios dos meandros da escravidão e em certa medida rechaçavam posturas abolicionistas ou libertárias de escravos. Com o Papa Eugênio IV, mormente na bula Sicut dudum, essa postura foi alterada. O Pontífice pedia explicitamente a restituição de liberdade aos escravos nas ilhas canárias. Na esteira desse papa, outros foram se manifestando e delineando a profunda aversão da Igreja ao processo escravocrata e reafirmando a defesa de liberdade de todos os povos, raças e culturas.

No caso do Brasil, desde os tempos coloniais, foi introduzido o processo de escravidão. Em certa medida, a Igreja colaborou nesse percurso. Há registros de que ordens e congregações religiosas possuíam escravos. Mesmo que se afirme que  recebessem um tratamento diferenciado, eram pessoas em situação de privação de liberdade e sujeitos à condição servil. No processo abolicionista, mesmo que no entardecer desse movimento, muitos bispos e padres apoiaram o fim da escravidão, dentre eles, Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, ordinário local, da época, da diocese de São Paulo. A carta In plurimis, de Leão XIII, dirigida ao episcopado brasileiro, fazia decisiva condenação da escravidão e pedia aos bispos que defendessem o fim dessa situação. Ela só foi conhecida no Brasil após a proclamação da libertação dos escravos, contudo foi a retificação da posição da Igreja acerca da situação de um dos últimos países a acabar com a escravidão.

Mais de um século após a abolição da escravidão, reminiscências da cultura escravocrata ainda são sentidas. Trabalhos análogos a escravidão e racismo estrutural  ainda não foram abolidos do nosso horizonte. Trata-se de um choque para a civilização ocidental, uma contradição insolúvel que ainda salta aos olhos nos nossos tempos. A Igreja, sem negar sua história e seu passado, na atualidade defende a liberdade de todos e condena, como fez recentemente o Papa Francisco na sua última encíclica chamada Fratelli tutti, o trabalho escravo (Ft 118,248) e, mais ainda, convida a humanidade a uma fraternidade universal e amizade social. Urge, pois, que esse discurso penetre agudamente até a mais profunda epiderme da estrutura eclesia.
 

 

terça-feira, 17 de maio de 2022

10 ensinamentos do papa Francisco para as famílias

 Crédito: News.va/Facebook

Este artigo relembra as várias ocasiões em que o Papa Francisco dirigiu-se à família. 

Na homilia da missa que marcou o início do seu pontificado, seis dias depois da sua eleição, Francisco falava do cuidado e da ternura. Referindo-se à vocação de guardião a que Deus tinha chamado São José, celebrado naquele dia, ele dizia: “É cuidar uns dos outros na família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões dos pais.”

Era a primeira vez que o papa latino-americano falava da família, um tema que se tornou recorrente no seu pontificado. De fato, ele convocou dois sínodos de bispos para tratar da “vocação e missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo” e dos “desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização”, em 2014 e 2015. Além disso, celebrou o casamento de vinte casais na Basílica de S. Pedro, em 2014, e dedicou as suas catequeses semanais ao tema da família durante um ano inteiro.

Uma interpretação distorcida de palavras e gestos de Francisco fez com que muitos duvidassem do comprometimento do papa com a valorização do matrimônio e da família. Um olhar mais atento, porém, não deixa dúvidas que essa é uma preocupação que está no coração do Papa. 


A importância de sonhar

Não é possível uma família sem o sonho. Numa família, quando se perde a capacidade de sonhar, os filhos não crescem, o amor não cresce; a vida debilita-se e apaga-se. Por isso, recomendo-vos que à noite, ao fazer o exame de consciência, vos ponhais também esta pergunta: Hoje sonhei com o futuro dos meus filhos? Hoje sonhei com o amor do meu esposo, da minha esposa? Hoje sonhei com os meus pais, os meus avós que fizeram a vida avançar até mim? […] Não percais esta capacidade de sonhar. E, na vida dos cônjuges, quantas dificuldades se resolvem, se conservarmos um espaço para o sonho, se nos detivermos a pensar no cônjuge e sonharmos com a bondade, com as coisas boas que tem. Por isso, é muito importante recuperar o amor através do sonho de cada dia. Nunca deixeis de ser namorados!                                                                                                            (Encontro das Famílias, Manila, Filipinas, 15 de janeiro de 2015)


 A família nos ensina a abertura ao outro

As relações baseadas no amor fiel, até à morte, como o matrimônio, a paternidade, o ser filho ou irmão, aprendem-se e vivem-se no núcleo familiar. Quando estas relações formam o tecido básico de uma sociedade humana, conferem-lhe coesão e consistência. Portanto, não é possível fazer parte de um povo, sentir-se próximo, cuidar de quem está mais distante e infeliz, se no coração do homem estiverem fragmentadas estas relações fundamentais, que lhe dão segurança na abertura ao outro. […] Perante uma visão materialista do mundo, a família não reduz o homem ao estéril utilitarismo, mas oferece-lhe um canal para a realização dos seus desejos mais profundos.
(Mensagem por ocasião do I Congresso Latino-Americano de Pastoral Familiar, 5 de agosto de 2014)

Sem família não há humanidade

A família é importante, é necessária para a sobrevivência da humanidade. Se não existe a família, a sobrevivência cultural da humanidade corre perigo. É a base, nos apeteça ou não: a família.                                                                                                                       (Entrevista na Rádio Catedral, Rio de Janeiro, 27 de julho de 2013) 

Ideologias que destroem a família

Existem colonizações ideológicas que procuram destruir a família. Não nascem do sonho, da oração, do encontro com Deus, da missão que Deus nos dá. Provêm de fora; por isso, digo que são colonizações. […] E assim como os nossos povos, num determinado momento da sua história, chegaram à maturidade de dizer não a qualquer colonização política, assim também como família devemos ser muito sagazes, muito hábeis, muito fortes, para dizer não a qualquer tentativa de colonização ideológica da família. […] A família está ameaçada também pelos crescentes esforços de alguns em redefinir a própria instituição do matrimônio mediante o relativismo, a cultura do efêmero, a falta de abertura à vida.                     (Encontro das Famílias, Manila, Filipinas, 15 de janeiro de 2015)

A crise da família

A família atravessa uma crise cultural profunda, como todas as comunidades e vínculos sociais. No caso da família, a fragilidade dos vínculos reveste-se de especial gravidade, porque se trata da célula básica da sociedade, o espaço onde se aprende a conviver na diferença e a pertencer aos outros e onde os pais transmitem a fé aos seus filhos. O matrimônio tende a ser visto como mera forma de gratificação afetiva, que se pode constituir e qualquer maneira e modificar-se de acordo com a sensibilidade de cada um. Mas a contribuição indispensável do matrimônio à sociedade supera o nível da afetividade e o das necessidades ocasionais do casal.                                                                                 (Exortação apostólica Evangelii Gaudium, n. 66, 24 de novembro de 2013) 

Cada filho é um milagre

Um filho muda a vida! Todos nós vimos — homens, mulheres, que quando chega um filho a vida muda, é outra coisa. Um filho é um milagre que muda a vida. Vós, meninas e meninos, sois precisamente isto: cada um de vós é fruto único do amor, vindes do amor e cresceis no amor. Sois únicos, mas não sozinhos! E o fato de terdes irmãos e irmãs vos faz bem: os filhos e as filhas de uma família numerosa são mais capazes de comunhão fraterna desde a primeira infância. Num mundo muitas vezes marcado pelo egoísmo, a família numerosa é uma escola de solidariedade e de partilha; e destas atitudes beneficia toda a sociedade.(Discurso à Associação Nacional das Famílias Numerosas, Vaticano, 28 de dezembro de 2014) 

“Perder tempo” com os filhos

Quando confesso um homem ou uma mulher casados, jovens, e da confissão sobressai algo em relação ao filho ou à filha, eu pergunto: […] diga-me, o senhor brinca com os seus filhos? — Como, Padre? — o senhor perde tempo com os seus filhos? Brinca com os seus filhos? — Mas não, pois quando saio de casa de manhã cedo — diz-me o homem — eles ainda dormem, e quando volto, já estão na cama. Também a gratuidade, aquela gratuidade do pai e mãe em relação aos filhos, é muito importante: “perder tempo” com os filhos, brincar com os filhos. Uma sociedade que abandona as crianças e marginaliza os idosos corta as suas raízes e ofusca o seu porvir.                                                                                                      (Discurso aos participantes na Plenária do Pontifício Conselho para a Família, Vaticano, 25 de outubro de 2013) 

O amor supera a dificuldade

Os filhos dão trabalho. Nós, como filhos, demos trabalho. Às vezes, em casa, vejo alguns dos meus colaboradores que vêm trabalhar com olheiras. Eles têm um bebê de um mês, dois meses. Eu lhes pergunto: “Não dormiste?” Respondem: “Não, chorou a noite toda”. Na família há dificuldades, mas essas dificuldades são superadas com amor. O ódio não supera nenhuma dificuldade. A divisão dos corações não supera nenhuma dificuldade. Só o amor é capaz de superar a dificuldade. Amor é festa, o amor é a alegria, o amor é seguir em frente.
(Vigília de oração com as famílias, Filadélfia, Estados Unidos, 26 de setembro de 2015)


Nunca deixar as pazes para depois

O matrimônio é o caminho conjunto de um homem e de uma mulher, no qual o homem tem o dever de ajudar a esposa a ser mais mulher, e a mulher tem o dever de ajudar o marido a ser mais homem. Este é o dever que tendes entre vós: “Amo-te e por isso faço-te mais mulher” – “Amo-te e por isso faço-te mais homem”. É a reciprocidade das diferenças. Não é um caminho suave, sem conflitos, não! Não seria humano. É uma viagem laboriosa, por vezes difícil, chegando mesmo a ser conflituosa, mas isto é a vida! […] É normal que os esposos briguem: é normal! Acontece sempre. Mas dou-vos um conselho: nunca deixeis terminar o dia sem fazer a paz. Nunca.
(Homilia em missa com o rito do matrimônio, Vaticano, 14 de setembro de 2014)

A harmonia que vem de Deus

   

Queridas famílias, como bem sabeis, a verdadeira alegria que se experimenta na família não é algo superficial, não vem das coisas, das circunstâncias favoráveis… […] Na base deste sentimento de alegria profunda está a presença de Deus, a presença de Deus na família, está o seu amor acolhedor, misericordioso, cheio de respeito por todos. […] Só Deus sabe criar a harmonia a partir das diferenças. Se falta o amor de Deus, a família também perde a harmonia, prevalecem os individualismos, se apaga a alegria. Pelo contrário, a família que vive a alegria da fé, comunica-a espontaneamente, é sal da terra e luz do mundo, é fermento para toda a sociedade.
(Homilia na Jornada da Família por ocasião do Ano da Fé, Vaticano, 27 de outubro de 2013)

Gazeta do Povo 17/05/2022