sexta-feira, 30 de julho de 2021

As enchentes em tempo de fé

 


Como enfrentar as catástrofes naturais? Não deveriam os homens confiar muito mais em Deus do que em si mesmos?

 

Redação (29/07/2021 10:23, Gaudium Press) Conta-se que no ano de 1348, o pároco de uma vilazinha chamada de Alboraya, em Valência, Espanha, estava tranquilo olhando pela janela as violentas tormentas de julho – muito frequentes nesta época do ano –, quando alguém o chamou à porta.

Apareceu ali um homem completamente molhado e que, quase sem forças, pedia para falar com o padre, pois na aldeia vizinha um moribundo necessitava dos sacramentos. O pároco, sem hesitar, providenciou o viático e saiu rapidamente montado em sua mula, apesar da tempestade.

Depois de desempenhar piedosamente sua missão, no momento de retornar à paróquia, deparou-se com um tremendo imprevisto: chegando próximo ao rio para cruzá-lo, notou com espanto que o nível de água havia crescido desmedidamente. Todas as tentativas eram inúteis e muito arriscadas.

Decidido a enfrentar a correnteza, o padre conduziu o animal para dentro das águas turvas. Entretanto, o pior aconteceu: o sacerdote, o animal e até a própria âmbula contendo as sagradas hóstias caíram no rio. Era inevitável: o “Pão dos Anjos” começou a espalhar-se e a perder-se nas águas.

Com muita dificuldade, o ministro de Deus se pôs a procurar o Santíssimo Sacramento que estava sob sua responsabilidade, mas, percebendo que sozinho não conseguiria, correu à vila para procurar ajuda.

Os mais piedosos da aldeia acorriam até o rio, onde começavam uma atenta procura sem deixar que uma só pedra ficasse sem ser analisada. De repente, ouviu-se um grito de alegria: encontramos o cibório!

Ao se aproximarem os fiéis, a alegria rapidamente tornou-se uma decepção, porque dentro não estava o viático.

Continuou então a procura quando outro grito foi ouvido: “Santa Maria! Ninguém vai acreditar…”

O sacerdote percorrera o caminho até a paróquia para buscar um cálice e revestir-se dos paramentos litúrgicos, mas, ao voltar para o local do acidente, deparou-se com um grande milagre: na desembocadura do rio vinham em sua direção três “peixets[1] com algo peculiar na boca.

Era um grande milagre! Os três peixes nadavam ao seu encontro para depositar no sagrado cálice as hóstias que haviam sido perdidas.

Logo após levantar-se, o padre pôde constatar como as brancas hóstias não haviam sofrido nenhum dano, e, sem combinação alguma, os fiéis começaram a cantar. Iniciou-se uma procissão até à igreja, onde foram depositadas devotamente as “relíquias” que doravante fariam parte da história do povoado.

Pois bem, fatos como este, contados nos dias de hoje, facilmente podem ser desacreditados; seja pela falta de fé, seja porque há muito tempo Deus deixou de dar sinais aos homens, os quais preferem confiar em si mesmos.

Que a leitura desse singular fato sirva de estímulo para crermos que, embora atolados no lodaçal do pragmatismo hodierno, a autêntica e sincera fé nos Sacramentos faculta-nos verdadeiras maravilhas, quando não milagres.

Deus nos pede simplesmente que creiamos nessa ajuda real que Ele nos pode dar.

Por Carlos de Oñate

[1] Na língua falada nesta província, que é o Valenciano, significa: peixes

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Angelus: Papa Francisco trata sobre a necessidade do descanso


 “Estamos atarefados, corremos, pensamos que tudo depende de nós e, no final, corremos o risco de negligenciar Jesus e estarmos sempre nós no centro”, ressaltou o pontífice.

 Cidade do Vaticano (19/07/2021 12:13, Gaudium Press) No último domingo, 18 de julho, antes de recitar a oração mariana do Angelus, que voltou a ser rezado da janela do apartamento pontifício, o Papa Francisco comentou a liturgia do XVI Domingo do Tempo Comum, refletindo sobre o descanso.

O Pontífice ressaltou que Nosso Senhor Jesus Cristo também se preocupava com o cansaço físico e interior dos seus discípulos. Essa preocupação fica evidente, quando, após ouvir os relatos de seus discípulos pelos “prodígios da pregação” durante a missão, Jesus os convida para descansar um pouco.

Risco de negligenciar Jesus e se colocar sempre no centro

Segundo Francisco, Jesus alertou sobre um perigo que também nos espreita, o de nos deixarmos cair no frenesi do fazer, cairmos na armadilha do ativismo, onde o mais importante são os resultados que obtemos e nos sentirmos protagonistas absolutos.

“Estamos atarefados, corremos, pensamos que tudo depende de nós e, no final, corremos o risco de negligenciar Jesus e estarmos sempre nós no centro. Por isso, convida os seus para repousar um pouco à parte, com Ele”, advertiu.

Esse descanso não é apenas físico, mas também do coração, pois não basta desligar, é necessário repousar de verdade. Para isso, é preciso voltar ao cerne das coisas: parar, ficar em silêncio, rezar, para não passar da correria do trabalho para a correria das férias.

A compaixão nasce da contemplação

O Papa explica ainda que, o fato de Jesus se retirar para a oração e o silêncio na intimidade com o Pai não o impede de estar atento às necessidades da multidão, e o convite dirigido aos seus discípulos, deveria acompanhar também a nós. “Aprendamos a parar, a desligar o celular, a contemplar a natureza, a regenerar-nos no diálogo com Deus”, aconselhou.

Em seguida, o Pontífice assegurou que só o coração que não se deixa levar pela pressa é capaz de se comover, isto é, de não se deixar levar por si mesmo e pelas coisas a fazer e de perceber os outros, suas feridas, suas necessidades. A compaixão nasce da contemplação.

Descanso, contemplação e compaixão

O Santo Padre ensinou ainda que, se cultivarmos o olhar contemplativo, levaremos em frente as nossas atividades sem a atitude voraz de quem quer possuir e consumir tudo; se permanecermos em contato com o Senhor e não anestesiarmos a parte mais profunda de nós, as coisas a fazer não terão o poder de nos tirar o fôlego e nos devorar.

Concluindo, Francisco exortou que “temos necessidade de uma ‘ecologia do coração’ que inclui descanso, contemplação e compaixão”. E convidou à todos para que aproveitem o tempo de verão para isso e também para que dirijam-se a Nossa Senhora, “que cultivou o silêncio, a oração e a contemplação, e sempre se move em terna compaixão por nós, seus filhos”. (EPC)

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Adaptar ou desviar?

A fé dos primeiros cristãos para os nossos dias « Diocese de Guaxupé 

 

Vivemos em um mundo pervadido de mudanças e inovações que são tanto mais bem aceitas quanto mais cômodas a nós. A liturgia deste XV Domingo do Tempo Comum, entretanto, nos adverte: há coisas que não podem mudar.  

“Jesus chamou os doze e começou a enviá-los” (Mc 6, 7). Tendo recebido tal encargo, os Apóstolos deveriam desempenhar de forma exemplar a missão própria da Igreja docente, a qual consiste em ensinar, santificar e governar (cf. CCE 872). Mas, como e o quê ensinar? De que forma auxiliariam na santificação das almas? E como governariam, depois de fundadas, as comunidades? Sem dúvida, aqueles que, “de antemão colocaram sua esperança em Cristo, nele ouviram a Palavra da verdade, o Evangelho que nos salva”, (cf. Ef 1, 12-13), desenvolveriam seu apostolado e pregação segundo esta verdade. Assim, somente pela proclamação da verdade é que os Apóstolos estariam realmente propagando o reino de Deus; sem ela, espalhariam o erro, conduziriam os homens ao vício e ao pecado, e, ainda que não o percebessem, governariam em benefício do demônio e de seus planos de perdição.

E que lições podemos tirar, para nossos dias, da liturgia deste XV Domingo do Tempo Comum?

A verdade, imutável

Ora, a Igreja Católica deve santificar, ensinar e governar, através da verdade, o povo de Deus disperso por um mundo que não está em posse da verdade. Assim, se a Igreja deseja salvar as almas, instruindo-as nas verdades da Religião, não deve adaptar-se aos erros do mundo, mas sim esforçar-se por reconduzi-lo à verdade uma vez que qualquer adaptação ao espírito do mundo facilmente resulta em desvios.

Um exemplo disso temos na primeira leitura: o que aconteceria se Amós se adaptasse à vontade da Amasias – sacerdote já entregue aos princípios errôneos que regiam a sociedade de então – e deixasse de profetizar para não entrar em conflito com o rei e a corte? (II Leitura) Não seria isso uma rejeição à missão que Deus lhe confiara? Bem sabia Amós que mais vale seguir a verdade do chamado Divino do que os conselhos cômodos deste mundo.

E, no Evangelho, o Divino Mestre – prevendo a rejeição de que seriam vítimas seus apóstolos – não lhes disse que: Se em algum lugar não vos receberem nem quiserem vos escutar, tentai adaptar um pouco vossas palavras para assim obterdes a aceitação. Mas sim: “Sacudi a poeira dos pés como testemunho contra eles” (Mc 6, 11).

Uma dupla lição

Assim, a liturgia nos apresenta duas lições, uma para os ouvintes, outra para os pregadores. A estes, adverte que não lhes é permitido modificar e adaptar a Palavra de Deus ao espírito do mundo com vistas a evitar o choque com este. Àqueles, exorta a serem dóceis às palavras da verdade e nunca lhe fazerem ouvidos moucos.

Porém, a ambos manifesta a bondade de Deus, que não é de forma alguma antagônica às duras verdades da Religião que, por vezes, contradizem nossas comodidades. Por isso, ela propõe que hoje cantemos: “Mostrai-nos ó senhor vossa bondade e a vossa salvação nos concedei”.

Por Afonso Costa

 

terça-feira, 6 de julho de 2021