segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Aceitar-se


Aceitar-se é ir adiante com passo tranqüilo sobre o próprio caminho, respirando profundamente a unidade de seu ser. E caminhar sem pousar sobre a terra a sua parte mais pesada.

É acolher a sua história e suas circunstâncias mais obscuras, a água de seu rio e os meandros percorridos, seu corpo e as feridas que você esconde no íntimo. Aceitar-se é a coragem de se saber humano desde o princípio do próprio caminho.

É o testemunho mais humano de sua humanidade, a parte mais integral de sua grandeza. Aceitar-se lhe dirá como o ser grande contém sempre, em algum lugar, uma fraqueza. Dessa forma, o herói possui “um calcanhar de Aquiles”, a parte que, ao caminhar fica mais para trás, aquela que o torna vulnerável.

Aceitar-se é escancarar o próprio olhar, imóvel por alguns instantes, ao abrir a janela de manhã. É acolher aquilo que o espera, e que não é fruto de seu desejo: a azul ou o cinza do céu, a neblina, o vento, a chuva ou, apenas, um modesto raio de sol...

É levar o que existe dentro de você e que você não ama ou não consegue explicar, na sua diferença. Algo que você não pode, no fundo, desculpar ou perdoar. Alçá-lo da terra para recolhê-lo dentro de você mesmo: será a única maneira de poder doar-se ao outro inteiramente.

Como uma montanha segue com o olhar a passagem das nuvens, sem se mover um palmo para evitá-las, da mesma maneira aceitar-se nada exclui de você, para no final sentir-se em harmonia com você mesmo...

Aceitar-se é acolher a fragilidade de seu ser e as contradições que habitam nele, como a qualquer criatura humana. Mas acolher amorosamente, como se colhesse as últimas flores que restam de seu jardim, escurecidas pelas noites úmidas de outono...

Renato Zilio

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Sim, telas viciam

Resultado de imagem para o vício das telas
Este é um bom momento para falar abertamente de um assunto delicado. Eu sou viciado. Aliás, você provavelmente também o é, prezado leitor. Somos viciados em nossas telas. E o problema é grave. Uma média de todos os usuários do app Moment, que calcula o uso diário do celular nos iPhones em que está rodando, informa que passamos entre três e quatro horas interagindo com o aparelho.

Um sexto do dia ligados em apenas uma das telas. Este vício é o tema de um livro que acaba de sair nos EUA: Irresistible: The Rise of Addictive Technology, do psicólogo social Adam Alter. Ou, em português, Irresistível, a ascensão da tecnologia que vicia.

Um vício, como Alter definiu para The New York Times, é algo que fazemos e causa satisfação no momento imediato, é nocivo a longo prazo, e, no entanto, continuamos a fazer de forma compulsiva. Como sacar o celular à toa, toda hora. Ou disparar o primeiro episódio de uma série, emendar no segundo, no terceiro. Uma das pesquisas consultadas para o livro mostra que, em média, 70% dos espectadores que assistem o segundo episódio de uma temporada até o fim não largam a série antes do último episódio.

Steve Jobs, em uma de suas últimas entrevistas, disse que não deixava os filhos usar iPhones ou iPads. Chris Anderson, ex-editor da “Wired” e autor de clássicos do estudo da tecnologia como “A Cauda Longa”, também é extremamente rigoroso com as crianças da casa.

Não é que tecnologia digital seja construída para viciar. Mas o modelo de negócio que a sustenta é, quase sempre, diretamente relacionado à quantidade de tempo que gastamos interagindo. Apps, redes sociais, séries, tudo depende de muitas horas de uso num ambiente de muita competição. Então se sofisticam, e sofisticam. Ganha quem consegue o produto capaz de nos manter grudados nas telas. E grudamos. Alter cita características que produzem, em nossos cérebros, esse desejo de mais.

A primeira é o feedback. Basta pensar em como botões de elevador são irresistíveis para crianças. Um clique e a luz acende. Você faz algo, há uma resposta. É um lado primitivo do cérebro este que tem o prazer secreto de ver um resultado para cada ação. E, quando o resultado da ação é aleatório, o impulso de buscar pela resposta bate mais forte. Como máquinas caça-níqueis em que puxamos a alavanca mais e mais na esperança da consequência ideal. Apps e games são cuidadosamente desenhados para ter estas pequenas consequências para cada ação para a qual respondemos sem controle.

Metas claras são igualmente importantes. O número de pessoas que termina maratonas na marca de 3 horas e 58 ou 59 minutos é muito maior do que aqueles que chegam em 4 horas ou quatro e um. Porque a gana de cumprir uma meta – fazer em menos de quatro horas os 42 quilômetros – provoca algo em nós. Apps que impõem metas por completar são apps aos quais costumamos voltar.

Assim, como, claro, sociabilidade. Do botão curtir à existência de comentários, retornamos ao lugar que postamos a foto para ver quem gostou, quem falou, queremos este retorno dos outros. Ansiamos por ele. Para não falar da gameficação: distintivos, pontos, rankings de usuários. Quanto mais aparecemos num ambiente, maior o reconhecimento que temos, quanto mais jogamos, mais recordes batemos. É o truque das companhias aéreas que fazem uma fila especial para clientes que voam muito. É uma conveniência, mas também um status.

Do Facebook ao app de corrida, da organização do Netflix à do Linkedin, todos os ambientes digitais em nossas telas são construídos para que a gente volte. Funciona.

Pedro Doria

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Como vivenciar o dia a dia