segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Como receber Indulgência Plenária durante a Quaresma?

 

O tempo da Quaresma, que começou com a Quarta-Feira de Cinzas, é tempo de conversão e um chamado a incrementar a prática da oração, o jejum e a esmola; mas também é ocasião propícia para receber a Indulgência Plenária.

A Indulgência pode ser parcial ou plenária, quer dizer, livra em parte ou em todo a pena temporal dos pecados; e se pode aplicar para si mesmo ou para os fiéis defuntos, não para outras pessoas que ainda estão vivas.

A Indulgência plenária pode ser ganha somente uma vez por dia e é necessário que o fiel exclua todo afeto ao pecado, inclusive venial, e o cumprimento de três condições: aproximar-se do Sacramento da Reconciliação, a comunhão eucarística e orar pelas intenções do Santo Padre. Com uma só confissão sacramental se podem ganhar várias indulgências plenárias.

A prática da Via Sacra a cada sexta-feira da Quaresma

Através da Via Sacra se faz presente e se atualizam os sofrimentos que viveu Jesus no caminho desde o pretório de Pilatos, onde foi condenado à morte, até o Monte Calvário, lugar no qual deu a vida pela salvação dos homens.

Para receber a Indulgência é necessário que a oração piedosa da Via Sacra se realize diante das estações legitimamente estabelecidas, quer dizer, se requerem 14 cruzes às quais normalmente se acrescentam imagens que representam as estações de Jerusalém, às quais lhes incluem meditações piedosas e orações vocais.

Se a meditação da Via Sacra é feita de maneira pública, se requer a passagem de uma estação para outra. Ainda que o deslocamento não possa ser feito por todos, somente basta que quem dirige o exercício se translade de estação em estação.

Adoração do Santíssimo Sacramento por meia hora

O fiel cristão também pode ganhar a Indulgência Plenária se faz adoração diante o Santíssimo Sacramento durante ao menos meia hora. A Indulgência é parcial se a visita é menor a esse tempo, e sempre e quando se aproxime a Jesus sacramentado com a intenção de adorá-lo.

Rezar o Rosário em família ou em comunidade

Outra das maneiras de obter Indulgência Plenária durante a Quaresma, e também em outros tempos litúrgicos, é recitando o Santo Rosário. De acordo com o Manual de Indulgências, os fiéis podem ganhar a Indulgência Plenária se recitam o Rosário em uma igreja ou oratório, em família, ou em comunidade religiosa, assim como em uma associação de fiéis. A Indulgência será parcial se a oração mariana se faz fora destas circunstâncias.

Leitura das Sagradas Escrituras por meia hora

Os fiéis, igualmente, podem receber a Indulgência Plenária se lêem e meditam as Sagradas Escrituras pelo menos por espaço de meia hora. A Indulgência será parcial se o fiel cristão lê a Sagrada Escritura com a veneração devida à Palavra de Deus e como fonte de leitura espiritual em menos tempo.

A Adoração da Santa Cruz

Ainda que faça parte da Sexta-Feira Santa, além disso se concede Indulgência Plenária ao fiel cristão que neste dia medite a Paixão e Morte de Nosso Senhor adorando piedosamente a Cruz na solene ação litúrgica.

Orar diante da Cruz: “Olha-me, ó bom e dulcíssimo Jesus”

Além disso há Indulgência Plenária para os fiéis que rezem piedosamente a oração “Olha-me, ó bom e dulcíssimo Jesus” diante da imagem de Jesus Crucificado após a comunhão em qualquer sexta-feira da Quaresma. A Indulgência é parcial se se reza nos demais dias do ano.

“Olha-me, ó bom e dulcíssimo Jesus: em tua presença me coloco de joelhos, e com maior fervor de minha alma te peço e suplico que imprimas em meu coração vivos sentimentos de Fé, esperança e caridade, verdadeira dor de meus pecados e propósito firmíssimo de emendar-me; enquanto com grande afeto e dor considero e contemplo em minha alma tuas cinco chagas, tendo diante dos meus olhos aquele que já o profeta Davi colocava em teus lábios acerca de ti: “Traspassaram minhas mãos e meus pés, poderia contar todos os meus ossos” (Sal 21 (22), 17-18). (EPC)

Gaudium Press

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Bento XVI, o Magno


Joseph Ratzinger foi, disso não há dúvidas, um dos grandes teólogos do nosso tempo e uma das mentes mais brilhantes da história da Igreja. Papa, teólogo, intelectual, bom pastor, foi, gosto de pensar, alguém que conseguiu unir harmoniosa e paradoxalmente ortodoxia e vanguarda. Eu o vi de perto algumas abençoadas vezes e me emociono ao lembrar. Seu carisma não era vulgar, marcado pelo sentimentalismo, e, sim, da autoridade de seu saber e do seu zelo pela sã doutrina. Sua morte me deixou bastante comovido e em oração confiante. Firmeza não significa agressividade, nem convicção inabalável quer dizer verborragia belicosa. A humildade de Bento XVI, um dos maiores intelectuais da Igreja de todos os tempos, é um exemplo para todos nós, algo a ser refletido e imitado.

Certa vez, um amigo sacerdote e que trabalhava em Roma foi a Munique para uma atividade religiosa quando, coincidentemente, o então Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina e Fé, visitou sua terra natal para resolver problemas da Igreja na Alemanha. Numa entrevista coletiva para a imprensa alemã e de outros países, um repórter fez uma longa introdução à sua pergunta, capciosa, venenosa, falando muito mal da Igreja. Disse que a Igreja agonizava na Alemanha, que os fiéis já não eram tão fiéis assim, que havia escândalos, e mais uma porção de afirmações infundadas ou pouco verídicas. Todos esperavam que o Cardeal fosse responder algo duro. Ratzinger, com olhar paradoxalmente firme e doce, voz calma, serena e elegante, própria de quem fala com autêntica autoridade, agradeceu a pergunta e se limitou a responder “mas é exatamente para ajudar a resolver esses problemas que estou aqui”. Simples, direto, o Cardeal desarmou o jornalista e o calou de forma absolutamente cristã. Com sabedoria, impediu o alongamento da maldade em curso e a discussão estéril, improdutiva. Espero sempre me lembrar desse gesto de caridade do eterno Papa e, com isso, ser a cada dia um homem melhor.


Sua postura sempre foi a de quem tem conteúdo cultural e muita oração, de quem vive com o livro na mão e o joelho no chão. A sabedoria exige esforço contínuo e um coração aberto à Verdade, como foi, é e será eternamente o do magno Cardeal, o querido Papa Emérito Bento XVI. Sacerdote, autoridade eclesial, teólogo, Papa, um homem justo, quem sabe… santo! Nunca me esquecerei de seu pontificado. Sou-lhe profundamente grato. Em um tempo de liquefação de valores, de esvaziamento cultural, de incensamento da emotividade excessiva, de vulgarização da fé e da razão, de desprezo por protocolos e tradições, ele foi a doce contradição, aquele que dava esperança de ser possível não se deixar arrastar pelos gostos muito duvidosos do mundo.


Grande estudioso da fé, homem justo, cooperador da Verdade, defensor da ortodoxia e um fiel trabalhador da vinha do Senhor. Sua envergadura intelectual era (e é) tanta, que certa vez ouvi de um professor de teologia, simpatizante de corrente doutrinária não exatamente admiradora do Papa Emérito, que o “problema de Bento XVI é que ele escreve bem demais, inegavelmente profundo”. Evidentemente que coloco muito entre aspas a palavra “problema” e ressalto com entusiasmo a afirmação “inegavelmente profundo”. Ele foi e sempre será o Papa da minha vida.


Reverenciar a memória do Papa Emérito é abraçar a catolicidade e se sentir seguro de pertencer à Igreja que o Senhor fundou e que sempre presenteou com pastores zelosos, dedicados, enamorados da Verdade e, não poucos, com reluzente brilho intelectual. Descanse em paz, Sumo Pontífice. Seu nome para sempre será anelado ao da Eterna Roma. Que Nosso Senhor o receba de braços abertos na Jerusalém Celeste e lhe dê o descanso eterno e a luz que não se apaga. 

Paulo Henrique Cremoneze 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

O muro poroso

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É nas fronteiras porosas que acontecem as guerras mais sangrentas.

Uma peculiar parábola, decerto conhecida por alguns de nossos leitores, nos esclarece a respeito do momento presente para os católicos que desejam verdadeiramente abraçar o caminho do bem.

Certa vez, um jovem passeava sobre um muro. Do lado direito, encontravam-se Deus e seus filhos; do esquerdo, Satanás e seus asseclas. O rapaz, formado em lar católico, hesitava entre seguir o partido do Senhor ou o do demônio e suas atrações, isto é, o mundo e a carne.

Mais tarde, ainda indeciso, percebeu uma diferença essencial entre os dois grupos. Enquanto os amigos do Altíssimo bradavam com insistência “Desça logo para cá!”, os sequazes do diabo permaneciam calados. Então, o jovem indagou a Satanás: “Por que os seguidores de Deus me chamam, enquanto o seu bando não diz nada?” Para sua surpresa, o anjo maldito respondeu: “Porque o muro é meu!” De fato, não há meio-termo: o muro já tem dono…

Essa história ilustra a eterna irreconciliabilidade entre a luz e as trevas (cf. II Cor 6, 14), entre os filhos de Deus e os servos de Satanás, enfim, entre a raça da Virgem e a raça da Serpente (cf. Gn 3, 15).

Tal inconformidade foi ressaltada por Jesus por meio de metáforas tiradas do reino animal. Os filhos da luz são como ovelhas que seguem a voz do Bom Pastor (cf. Jo 10, 27). Este as envia no meio dos lobos (cf. Mt 10, 16), ou seja, para o outro lado do “muro”; porém, com a recomendação de nunca a ele se amoldar: “Seja o vosso ‘sim’, ‘sim’, e o vosso ‘não’, ‘não’. O que passa disso vem do maligno” (Mt 5, 37).

Já nos primórdios do Cristianismo, os discípulos de Jesus eram reconhecidos por suas boas ações, em oposição aos costumes depravados dos gentios que os cercavam. Assim testemunha a Carta a Diogneto a respeito deles: “São de carne, porém, não vivem segundo a carne. Moram na terra, mas sua cidade é no Céu. Obedecem às leis estabelecidas, mas com seu gênero de vida superam as leis. […] Numa palavra: os cristãos são no mundo o que a alma é no corpo. A alma está em todos os membros do corpo; e os cristãos em todas as cidades do mundo. A alma habita no corpo, mas não provém do corpo; os cristãos estão no mundo, mas não são do mundo”.

Retornemos ao exemplo inicial. Como na metáfora inaciana dos Exercícios Espirituaisde um lado se encontram os seguidores do estandarte de Cristo; de outro, os de Lúcifer. O jovem, lá no alto do muro, julga que está imune às investidas de ambos. Todavia, é nas fronteiras porosas que acontecem as guerras mais sangrentas. Por isso, quem não seguiu nenhum lado nesta vida será destinado a perseguir, por toda a eternidade, um estandarte em branco: o daqueles que, negando os altos ideais da Fé, abraçaram o consenso do mundo. Neles não estará o amor do Pai (cf. I Jo 2, 15).

Gaudium Press