sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

As belíssimas Antífonas do Ó


Chegamos à última etapa para a chegada do Natal. Nesta última semana, a liturgia nos brinda com as "Antífonas do Ó". Compostas entre os séculos VII e VIII, fazem parte da cristologia da antiga Igreja, são o resumo expressivo do desejo de salvação tanto do Israel antigo, quanto da Igreja do Novo Testamento. A primeira letra de cada antífona em ordem inversa no original em latim (Emmanuel, Rex, Oriens, Clavis, Radix, Adonai e Sapientia), forma a expressão latina “ERO CRAS”, isto é, “estarei amanhã”, ou “virei amanhã”. Mais uma vez, as antífonas recordam a expectativa pela iminente vinda do Senhor.

As antífonas servem como "arautos do Natal", construindo um sentimento de expectativa à medida que o Natal se aproxima. Uma antífona diferente é cantada em cada uma das sete noites que antecedem a data.

Estas antífonas são aclamações a Cristo precedidas pelo vocativo “Ó”. Constituem um resumo da teologia do Advento: expressam o desejo de salvação da humanidade e a expectativa pela vinda de Jesus Cristo, invocado com títulos messiânicos do Antigo Testamento. Atualmente, a Igreja propõe estas antífonas na Liturgia das Horas, acompanhando o Cântico Evangélico das Vésperas, o Magnificat (Lc 1, 46-55), bem como na aclamação do Evangelho da Missa.

17 de dezembro

Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo,
e atingis os confins de todo o universo
e com força e suavidade governais o mundo inteiro:
Ó vinde ensinar-nos o caminho da prudência!
 
18 de dezembro
 
Ó Adonai, guia da casa de Israel,
que aparecestes a Moisés na sarça ardente
e lhe destes vossa lei sobre o Sinai:
Vinde salvar-nos com o braço poderoso!
 
19 de dezembro
 
Ó Raiz de Jessé, ó estandarte, levantado em sinal para as nações!
Ante vós se calarão os reis da terra,
e as nações implorarão misericórdia:
Vinde salvar-nos! Libertai-nos sem demora!
 
20 de dezembro
 
Ó Chave de Davi, Cetro da casa de Israel,
que abris e ninguém fecha, que fechais e ninguém abre:
Vinde logo e libertai o homem prisioneiro,
que nas trevas e na sombra da morte está sentado.
 
21 de dezembro
 
Ó Sol nascente, justiceiro, resplendor da Luz eterna:
Ó vinde e iluminai os que jazem entre as trevas
e na sombra do pecado e da morte estão sentados!
 
22 de dezembro
 
Ó Rei das nações, Desejado dos povos;
Ó Pedra angular, que os opostos unis:
Ó vinde e salvai este homem tão frágil,
que um dia criastes do barro da terra.
 
23 de dezembro
 
Ó Emanuel, Deus-conosco, nosso Rei Legislador,
Esperança das nações e dos povos Salvador:
Vinde enfim para salvar-nos, ó Senhor e nosso Deus!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Quando Deus sai, a morte entra

A menina abraçou o pai, toda contente, e mostrou o desenho da Sagrada Família que tinha acabado de pintar. Ele pegou o papel mimeografado e perguntou, colérico, afastando a menina de seus braços: Onde você arrumou isso?

 

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o suicídio representa uma de cada cem mortes ocorridas no mundo, sendo a quarta maior causa de morte de jovens entre 15 e 29 anos.

O que a ciência diz sobre o assunto?

De acordo com a área médica, a maior parte dos suicídios está relacionada à depressão, que é definida pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) como “presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo”.

Caracterizada por tristeza profunda e persistente, a depressão pode afetar os pensamentos, comportamentos, sentimentos e o bem-estar, fazendo com que as pessoas acometidas por ela se sintam ansiosas, desesperadas, vazias, preocupadas, impotentes, inúteis, culpadas, irritadas, magoadas ou inquietas.

Nem todas as pessoas que sofrem de depressão se suicidam, mas, praticamente todas as pessoas que se suicidam, sofrem de depressão.

Origem da depressão

Embora seja considerada como o mal do século, ao contrário do que muitos imaginam, não se trata de uma doença nova. Inicialmente chamada de melancolia e, nos casos mais extremos, de loucura, a depressão é um distúrbio afetivo que acompanha a humanidade ao longo da sua história.

No início do século 19, o médico francês Philippe Pinel classificou a melancolia como doença e destacou a predisposição dos pacientes acometidos por ela a cometerem suicídio.

O termo depressão começou a aparecer nos dicionários médicos por volta de 1860 e, desde então, ela tem sido dividida em diversas categorias, e os tratamentos têm variado bastante, sem, no entanto, encontrar-se a cura ou conter-se a sua disseminação.

A doença da alma

Quanto mais se estuda, mais aspectos se descobrem sobre a doença, que pode envolver fatores fisiológicos, como o desequilíbrio químico do cérebro, vulnerabilidade genética, eventos estressantes da vida, uso de medicamentos, dependência de álcool e drogas, variação sazonal e outros problemas de saúde.

Não existem exames para detectar a depressão e o diagnóstico é restrito à avaliação clínica e suas limitações. Os próprios médicos admitem que, mesmo que os sintomas sejam bem descritos, enfrentam dificuldades para tratar algo que não é bem compreendido.

Embora o corpo sofra as consequências da depressão, trata-se de uma doença da alma, localizada num lugar que o bisturi e os exames laboratoriais jamais alcançarão.

Fator comum

O assunto é complexo e os profissionais da área médica, embora conheçam os sintomas que permitem o diagnóstico e as drogas usadas para tentar minimizar os seus efeitos, não têm respostas à pergunta: Por que as pessoas se matam?

Considerando a questão do suicídio, além dos sintomas que, geralmente, precedem a consumação, e que variam pouco de um indivíduo a outro, existiria um fator comum entre essas ocorrências?

Sim, existe um fator comum. E, para falar sobre ele, vou narrar um pequeno episódio da vida real. Chamarei a sua protagonista de Maria.

A inocência violentada

A menina era fascinada pelo pai, que o tinha como seu herói. Ela não devia ter mais que sete anos na tarde em que o abraçou após a chegada dele do trabalho e, toda contente, mostrou o desenho da Sagrada Família que tinha acabado de pintar. O pai pegou o papel mimeografado e perguntou, colérico, afastando a menina de seus braços: “Onde você arrumou isso?”.

A menina explicou que ganhara de uma amiguinha que estava no Catequese e, antes que o pai tivesse tempo de falar qualquer coisa, ela já emendou o pedido para que ele a matriculasse na Catequese para fazer a Primeira Comunhão.

A atitude do pai, e o ódio presente no olhar que dirigiu a ela, marcaram-na como uma tatuagem de fogo. Rasgando o papel, ele primeiro gritou com a esposa, acusando-a de deixar a filha se envolver com coisas da Igreja, sabendo que ele não admitia isso na sua casa.

Depois, vendo que a menina tremia, assustada, ele a puxou para perto de si, sentou-a em seu colo e explicou longamente que Deus era uma ilusão, uma mentira criada pelos homens e, sem considerar o vocabulário limitado da criança, citou para ela um dos mais conhecidos chavões usado por seu  ídolo, Karl Marx: A religião é o ópio do povo!

Anos mais tarde

Quando conheci a Maria, na empresa em que trabalhávamos, ela já estava perto dos 40 anos, e o estrago que a atitude do seu pai provocou tinha deixado um rastro de miséria na vida dela. Posso afirmar que, poucas vezes, conheci sofrimento maior.

Nossa identificação foi imediata, por termos uma história comum, a depressão, da qual eu conseguira sair e ela ainda estava mergulhada. Ela emendava uma licença médica à outra, então, quase não nos víamos no trabalho, mas desenvolvemos uma grande amizade, fora do ambiente profissional.

Uma alma em conflito

O primeiro presente que ela me deu foi uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Explicou que queria me dar porque sabia que eu acreditava, ela não. Ganhara a imagem de um amigo que a trouxe de Aparecida. Justificava que não tinha coragem de jogar a imagem fora por consideração ao amigo. Foi nesse dia que notei o conflito daquela pobre alma…

Para resumir, em momentos de crise mais fortes, eu tentei ajudá-la com o que tenho: a fé e a religião católica. Consegui que ela aceitasse receber a visita de um sacerdote, mas, dominada pelo espírito do mal que aprisionava a sua alma, ela tentou se colocar numa discussão filosófica com ele e convencê-lo de que Marx estava certo e Jesus errado, aliás, Jesus nem existia, era uma invenção da Igreja!

Destruiu a imagem de Nossa Senhora

Outras crises se sucederam, várias tentativas de suicídio, conversas com outros padres. Foi ela mesma que me contou sobre a doutrinação feita pelo pai. Ele já estava morto quando a conheci, mas, ainda que estivesse vivo, creio que nem ele conseguiria desfazer o mal que causou à sua própria filha, persuadindo-a a se tornar ateia como ele, numa cantilena que se repetiu durante toda a sua infância e adolescência.

A mãe, uma senhora amargurada, ainda guardava os resquícios da fé, simbolizada por uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, trazida de Portugal, com mais de um metro de altura. O marido aceitou a imagem, desde que ela a mantivesse escondida num cantinho. Depois da morte dele, ela ousou dar um lugar de destaque para a santa, colocando-a sobre um móvel na entrada da casa, ladeada por dois vasos de flor.

A imagem de Nossa Senhora era o último bastião da resistência dentro daquela casa marcada pela angústia e pelo sofrimento. Num surto, Maria a jogou no chão, quebrando-a em vários pedaços. Depois, me ligou, chorando, desesperada, dizendo que Nossa Senhora não tinha culpa. “Bem, ela nem existe!”, foi a minha resposta, porque sempre a cutuquei com vara curta para tentar trazê-la à realidade.

A única coisa que ela me disse foi: “Por favor, não fala assim!”

O resumo desse episódio foi que ela gastou uma fortuna com uma das mais renomadas restauradoras do país para refazer a imagem.

Nesse período, entrou mais um padre no enredo, mas, ela também o repeliu. Já admitia que Deus pudesse existir, mas dizia que ele era sádico e cruel, por permitir tantas injustiças sociais. A sua guerra interior era imensa.

O que pode tirar desse abismo?

No último sábado, recebi a triste notícia: Maria se suicidou. Em meio a lágrimas e soluços, a única imagem que me veio à mente foi a da menininha, correndo ao encontro do pai, com a bonita figura da Sagrada Família que acabara de colorir…

Para fechar este relato, quero dizer que o fator comum entre todas as pessoas que cometem suicídio, sejam elas ateias ou pratiquem uma religião, é a falta de Deus. Porque, quando Deus sai, a morte entra.

Se você foi contaminado pela ideologia do ateísmo, saiba que mentiram para você. E, se tem filhos, ainda que tenha caído na desgraça de não acreditar, não cometa a violência moral de tirar isso deles.

A depressão sempre existiu e, em todas as épocas, pessoas se suicidaram, porém, depois que virou moda não dar formação religiosa aos filhos e deixar que eles decidam sobre isso quando forem adultos, muitos pais estão chorando diante de uma sepultura.

O que mais pode evitar ou tirar desse abismo se não Deus?

Afonso Pessoa

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Papa aos paulinos: a exemplo do Beato Alberione, viver e comunicar o Evangelho com paixão

Papa Francisco saúda o brasileiro Valdir José de Castro, superior dos paulinos

Uma extensa programação marca os 50 anos da morte do Bem-aventurado Tiago Alberione. Hoje, a celebração foi com o Santo Padre, no Vaticano. “Não esqueçam a oração. É o meio de comunicação mais importante."

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

A comemoração da família paulina pelos 50 anos da morte do Beato Tiago Alberione foi coroada esta quinta-feira com o encontro com o Papa Francisco, no Vaticano.

Às vésperas da memória litúrgica do bem-aventurado (26 de novembro), o Pontífice recebeu o superior-geral da Sociedade São Paulo, o padre brasileiro Valdir José de Castro, e uma delegação representando as várias Congregações religiosas, os Institutos de vida secular consagrada e agregações de leigos fundados por Alberione.

Para Francisco, este aniversário é para toda a Igreja, e especialmente para os paulinos, a ocasião propícia para fazer memória das “grandes coisas operadas pelo Espírito Santo no Beato Alberione e, através dele, para reafirmar a importância do seu carisma no contexto atual, na perspectiva da nova evangelização”.

O Papa citou seu predecessor Paulo VI, que já havia compreendido a importância da obra do Beato por ter dado à Igreja novos instrumentos para se expressar no mundo moderno com meios modernos; para, com a oração, ter a capacidade de ler os “sinais dos tempos” de modo a adequar os projetos apostólicos às situações e necessidades das pessoas de hoje.

Viver o Evangelho com paixão

Como repetia Pe. Alberione, o verdadeiro fundador da família paulina é o Apóstolo Paulo, o modelo a imitar na total doação ao Senhor Jesus Cristo e ao seu Evangelho. E “é justamente a paixão pelo Evangelho – destaco isto: porque o Evangelho sem paixão não pode ser vivido. O Evangelho só com palavras não funciona: o Evangelho vem do coração. E é justamente a paixão pelo Evangelho que brilha nas incontáveis iniciativas apostólicas” do Bem-aventurado.

Analisando o atual contexto comunicativo, o Papa afirmou que a evolução tecnológica conduziu toda a comunidade eclesial a assumir os instrumentos modernos da comunicação como elementos da pastoral ordinária. Portanto, prosseguiu, a presença dos paulinos hoje é ainda mais necessária para contribuir com a experiência que acumularam nesta área.

De modo particular, Francisco pediu à família paulina uma ajuda especial no percurso rumo ao Sínodo sobre a sinodalidade.

A exemplo e com a intercessão do Beato Alberione, “também vocês escolheram os meios de comunicação como púlpito, para que – como dizia com frequência – se possa mostrar Jesus Cristo aos homens do nosso tempo com os meios do nosso tempo”, disse ainda o Papa, agradecendo pelo empenho com o qual trabalham.

Trabalho e oração

Por fim, Francisco recomendou uma intensa vida de oração: “Não esqueçam a oração. É o meio de comunicação mais importante. Trabalho e oração”. E invocou a intercessão de Maria, Rainha dos Apóstolos, para acompanhar a família paulina pelas estradas do mundo como apóstolos e apóstolas do Evangelho, sempre abertos a aprender das pessoas comuns, como amava dizer Tiago Alberione.

Os brasileiros

Após a audiência com o Santo Padre, o superior dos paulinos fez à Rádio Vaticano/Vatican News as suas considerações:

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2021/11/25/14/136330886_F136330886.mp3

Além do pe. Valdir, havia outros brasileiros na audiência com o Papa Francisco. Um deles é o Ir. Darlei Zanon, que descreve a emoção do encontro com o Santo Padre e ressalta os principais pontos do seu discurso:

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2021/11/25/14/136330753_F136330753.mp3 

terça-feira, 16 de novembro de 2021

E não pecarás eternamente

 E não pecarás eternamente”

Liturgicamente, estamos na penúltima semana do ano, e este 33° Domingo do Tempo Comum nos transmite uma mensagem muito importante: não só os anos têm um fim, mas também a nossa vida neste mundo. Mais cedo ou mais tarde, nós compareceremos diante de Deus, seremos julgados e iremos “uns para e vida eterna, outros para o opróbrio eterno” (Dn 12, 2), como nos fala a primeira leitura. Para este encontro decisivo e crucial, devemos estar preparados.

Não sabeis nem o dia nem a hora

Em nossos dias, quantos homens se empenham em ter uma boa saúde corporal e negligenciam os cuidados de própria alma! Parecem ter esquecido que a “saúde é um estado precário que sempre termina mal” – como dizem os franceses –, pois todos sabemos que, um dia, passaremos pela morte. Mas o momento em que ela nos visitará ninguém o sabe, como diz Nosso Senhor no Evangelho de hoje:

 “Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai” (Mc 13, 32).

Tal afirmação nos leva a concluir que “é preciso vigiar e ficar de prontidão; em que dia o Senhor há de vir, não sabeis!” (Cf. Lc 21, 36), como diz a aclamação ao evangelho de hoje.

Alguém poderia pensar: “Por que Deus não nos revela o momento de nossa morte? Assim nos prepararíamos mais e com maior perfeição!” Não é verdade! Se todos os homens soubessem em que momento morreriam, no Céu, entrariam não só os santos, mas também os interesseiros. Com efeito, quantos homens não aproveitariam a vida inteira para pecar, ofendendo a Deus de um modo torpe e vil, e se “converteriam” no último instante? Quantos são os que não procederiam deste modo?…

Deus, portanto, se revela portador de uma misericórdia única ao nos ocultar a hora de nossa partida, pois, pelo menos por temor, nos estimula a praticar a virtude que , muitas vezes, não conquistamos por amor. De fato, se os homens se colocassem na perspectiva de poder morrer neste momento, quanto o mundo seria diferente! Quantos pecados escandalosos deixariam de ser praticados, quantas palavras desedificantes não mais seriam pronunciadas, quantos pensamentos opostos à virtude deixariam de existir! Sem dúvida, a consideração da morte converteria a muitos, pois, como diz o Eclesiástico: “Memorare novissima tua et in æternum nos peccabis” [1] (7, 40). Não nos esqueçamos que “Talis vita, finis ita”[2], ou seja, colheremos em nossa morte o que plantamos em nossa vida…

Desespero ou confiança?

Perante esta realidade, dura e incoercível, da morte, devemos nos portar com seriedade, mas, sobretudo, com confiança. Se percebermos que, no caso de morremos agora, compareceríamos diante de Deus com as mãos vazias ou sujas, não nos desesperemos, mas coloquemo-nos de joelhos e peçamos perdão com fé e confiança, sabendo que alcançaremos a misericórdia de Deus. Nunca nos esqueçamos de pedir a Nossa Senhora que rogue por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Seremos, por ventura, abandonados por Ela? Até hoje, isso não aconteceu com ninguém. Não seremos os primeiros…

Por Lucas Rezende

[1]Do latim: pensa nos teus novíssimos e não pecarás eternamente.

[2]Do latim: tal como foi a vida, do mesmo modo será a morte.

 

 

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Status

Arquivo de status social - VER

Alguns poucos mantêm uma disputa acirrada para constar da lista das pessoas mais ricas do mundo. Nessa corrida, os dois primeiros lugares são de Jeff Bezos, da Amazon, e Elon Musk, da Tesla. A revista Forbes traz que atualmente Musk está liderando com um total de 200,8 bilhões de dólares, enquanto Bezos vem atrás com 189,9 bilhões de dólares. 

No lado oposto estão 9,2% da população global que vive em extrema pobreza, contando com menos do que 1,90 dólares por dia para sobreviver, segundo dados do Banco Mundial. Fazendo uma conta simples, para alimentar essa população de 689 milhões de pessoas, seria necessário algo como 1,3 bilhão de dólares por dia. Assim, somente a fortuna dos dois daria para alimentar todas os famintos do mundo por quase um ano. É uma constatação vergonhosa. 

Isso nos faz pensar por que alguns buscam tanta riqueza, num mundo de tanta pobreza. Obviamente, a resposta é mais complexa. Embora não seja intenção fazer aqui uma tese completa sobre o tema, vale refletirmos sobre algumas motivações dessas pessoas. Logicamente, ter toda essa riqueza só para viver bem não é resposta. Obviamente, para viver bem, com alto grau de bem-estar, não é necessário tanto dinheiro como os mais ricos acumulam. Estudos recentes trazem que o salário médio anual necessário para viver bem nos Estados Unidos é de 67.690 dólares. Algo muito acima do que seria necessário para viver com alto grau de bem-estar aqui no Brasil.

Entre as várias causas que motivam as pessoas a buscarem tanta riqueza, uma pode ser reconhecida facilmente: a busca por status. Termo que vem do latim, statum, conceito que diz sobre a posição social do indivíduo na sociedade. Recorrendo a Alain de Botton, em sentido estrito se refere ao estado civil ou à situação profissional de uma pessoa. Mas, em sentido mais amplo, refere-se ao valor e à importância de uma pessoa aos olhos do mundo. Nesse sentido, quanto maior a ascensão social da pessoa, maior é seu “status social”; assim, mais poder, posição e prestígio possui. 

Botton traça uma tese interessante. Diz que “o desejo de status tem uma capacidade excepcional de inspirar sofrimento”. Para ele, a fome de status, como todos os apetites, tem utilidades, como incentivar a excelência. Mas, como todos os apetites, em excesso pode matar. Cita, entre as suposições sobre os motivos que levam a procurar status elevado, a ânsia por dinheiro, fama e influência. Mas, como alternativa e como resumo das motivações está algo raramente utilizado em teoria política: o amor. Ser objeto de amor é sentir-se objeto de preocupação. Assim, ser notado, ter o nome registrado, nossas opiniões serem ouvidas, fracassos serem tratados com indulgência e as nossas necessidades serem atendidas.

Admitindo-se essa tese de que a motivação por busca de status é o amor, devemos recorrer a Agostinho, que nos diz que existem dois e apenas dois tipos de pessoas no mundo: aqueles que pertencem à “Cidade de Deus” e os que pertencem à “Cidade dos Homens”. Esses dois tipos se distinguem por seus amores. Os cidadãos da Cidade de Deus amam a Deus acima de todas as coisas. Os cidadãos da Cidade dos Homens se amam acima de tudo. Ele diferencia os dois amores: “o primeiro é sagrado, o segundo é imundo; o primeiro é social, o segundo, egoísta; o primeiro consulta o bem comum para o bem de uma sociedade celestial; o segundo se agarra a um controle egoísta dos assuntos para o bem da dominação arrogante. O fracasso em se orientar para Deus resulta em um senso inflado de autoimportância e autossuficiência que, no fim, nega a realidade de nossa existência dependente”.

Fabio Gallo é professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP); foi professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

 

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Diocese espanhola promove o Holywins para ressaltar a santidade

A iniciativa tem por objetivo impregnar um autêntico sabor cristão ao Halloween e promovê-lo com máscaras temáticas de santos, concertos, vigílias e adorações eucarísticas.

 

Seguindo a tradição de mais de uma década, a Diocese de Alcalá de Henares, em Madri (Espanha), promoverá novamente o ‘Holywins’.

A atividade, que acontece no mesmo dia do Halloween, incentiva crianças e jovens a se vestirem de Santos, recordando suas vidas exemplares através de brincadeiras, testemunhos e canções.

O que significa ‘Holywins’?

A Diocese espanhola explicou que o nome ‘Holywins’ é um trocadilho feito com a palavra Halloween e que significa ‘a santidade vence’ ou ‘a vitória da santidade’. Essa proximidade fonética de ambas as palavras pretende ajudar a reforçar a festa cristã de Todos os Santos, diante do eclipse cada vez maior que está sofrendo pela potente implantação da festa pagã de Halloween.

O festival de ‘Holywins’ surgiu originalmente na França no ano de 2002. A iniciativa tem por objetivo impregnar um autêntico sabor cristão ao Halloween e promovê-lo com máscaras temáticas de santos, concertos, vigílias e adorações eucarísticas. A Diocese de Alcalá de Henares, foi a primeira na Espanha a sediar o festival.

Recuperar o verdadeiro sentido da Véspera de Todos os Santos

A Diocese ressalta que apesar do ‘Halloween’ significar em inglês ‘Véspera de Todos os Santos’, esta celebração atualmente não possui nenhum tipo de relação com a Fé Católica, tendo se tornado uma festa completamente pagã.

“Queremos devolver a este dia seu verdadeiro sentido e celebrar todos aqueles que seguiram heroicamente a Jesus Cristo, com uma festa luminosa de Todos os Santos que transborde alegria e esperança”, diz a Diocese em um comunicado.

Celebrarem o triunfo da vida e promover a beleza e o bem

A iniciativa pretende ainda incentivar o rompimento do culto à morte e a exaltação do monstruoso e do feio, por meio da celebração do Halloween, que ganhou popularidade em todo o mundo.

É próprio dos cristãos celebrarem o triunfo da vida e promover a beleza e o bem. “A vida é bela e nossa meta é o Céu, são muitos os que chegaram e todos somos chamados a compartilhar sua felicidade, pois todos podemos ser santos”, conclui o comunicado da Diocese. (EPC)

Gaudium Press

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Na terra do descarte e da morte

Che diritti ha il bambino non ancora nato?

São João Paulo II, na encíclica Evangelium vitae (EV, 21), mostrou que o problema do aborto residia não apenas num ato isolado, realizado num momento de desespero, mas numa visão de mundo que abarcava todas as relações sociais: a cultura da morte.

Em nossa sociedade, analisava o Papa, quando o sentido de Deus foi perdido, também a percepção da dignidade da pessoa humana se viu obliterada. Em tese, nunca se valorizou tanto a dignidade e a universalidade da pessoa como em nossos tempos, mas a compreensão do que é ser pessoa foi reduzida. Só os que têm força para produzir, defender-se ou gozar a vida têm sua dignidade reconhecida. A criança ainda não nascida, o ancião no fim da vida, o paciente terminal, destituídos dessas capacidades, não têm a dignidade reconhecida.

Com os avanços da biologia, não pode haver objeção ao fato de que, na concepção, quando os gametas masculino e feminino se unem, forma-se um novo ser humano, uma nova vida, inclusive com um código genético diferente daquele de seus pais.

O verdadeiro debate é sobre a dignidade daquele ser humano recém-formado. Os defensores “da vida” reconhecem já ali uma pessoa humana com plenos direitos. Os defensores “do direito de escolha” querem que aquele ser humano seja entendido apenas como um amontoado de novas células humanas, sem dignidade ou direitos, sujeito à escolha de outros.

A cultura da morte é uma negação do princípio da dignidade universal e inviolável da pessoa humana. Só aqueles que são produtivos ou desejados têm sua dignidade reconhecida. Os frágeis e indesejados podem, segundo essa lógica, ser eliminados.

Longe de qualquer discussão confessional, a constatação da universalidade dos direitos humanos exige que se reconheça que aquele nascituro já tem direito à vida.                 

Uma plena compreensão do amor se torna impossível na cultura da morte. O amor atinge sua plenitude na doação gratuita de si a outro, algo que nunca poderá ser alcançado numa relação na qual se sujeita a vida do outro à sua vontade. Assim, a cultura da morte vai determinando um modo de se relacionar com toda a realidade.

Mesmo que usando uma palavra aparentemente menos forte, o Papa Francisco amplia nossa percepção da cultura da morte ao chamá-la de cultura do descarte, acenada na exortação apostólica Evangelli gaudium (EG, 53 e 195), explicadas nas encíclicas Laudato si’ (LS, 20-22 e 123) e Fratelli tutti (FT, 18-24). Numa época em que a sociedade se preocupa com o meio ambiente, quer evitar o desperdício e a geração de resíduos, o próprio ser humano passa a ser visto como um produto descartável, condenado ao esquecimento, à exclusão e à morte quando não interessa (LS, 120).

o Papa Francisco mostra como a cultura da morte se torna mentalidade cotidiana, atitude frente a coisas e pessoas. Sem o reconhecimento da dignidade original à qual todo ser humano tem direito, não há limite claro entre o lícito e o ilícito. Nosso voluntarismo passa a ser o critério último para todas as coisas. A mesma sociedade que defende o meio ambiente é aquela que mais polui. A mesma sociedade que exalta os direitos humanos é aquela que deixa refugiados morrerem, crianças famintas, velhos solitários à mingua.

Como enfrentar tal situação? Denunciar o erro e defender uma legislação que proteja a vida são passos irrenunciáveis nesse enfrentamento (EV, 68). Contudo, é necessário mais. Já na Evangelium vitae (EV, 88-90), São João Paulo II exorta-nos a realizar obras de acolhida a grávidas em dificuldades, casais que necessitam de orientação, idosos etc.

Bento XVI falava em superar o medo, com o reconhecimento da beleza da vida e a força da esperança.

Francisco exorta a “cuidar da fragilidade dos povos e das pessoas [… com] força e ternura, luta e fecundidade, no meio de um modelo funcionalista e individualista que conduz inexoravelmente à cultura do descarte” (FT, 188). Lembra, ainda, que “para muitos cristãos, este caminho de fraternidade tem também uma Mãe, chamada Maria. Ela recebeu junto à Cruz esta maternidade universal (cf. Jo 19,26) e cuida não só de Jesus, mas também do resto da sua descendência (cf. Ap 12,17). Com o poder do Ressuscitado, Ela quer dar à luz um mundo novo, onde todos sejamos irmãos, onde haja lugar para cada descartado das nossas sociedades, onde resplandeçam a justiça e a paz” (FT, 278).

Francisco Borba Ribeira Neto

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

No silêncio, Deus fala


Transformou a procela (tempestade) em leve brisa, e as ondas do mar silenciaram. 
Is 106,29 

Eis uma arte necessária, difícil e até mesmo temida. Silenciar, muitas vezes, é considerado fraqueza, desistência ou até mesmo admissão de algo que na realidade não é verdade total. Mas muitas vezes precisamos silenciar, mesmo que tenhamos que pagar alto preço. O silêncio inquieta e torna-se uma resposta que confunde.

Nosso tempo nos pede insistentemente um "toma lá, da cá" de perguntas e respostas, justificativas e acusações, mas não devemos ceder a isso, não devemos entrar nesse jogo. Isso seria comungar com aquilo em que não acreditamos.  

Nesse turbilhão, a Palavra de Deus nos chama ao silêncio, à reflexão. Quem não silencia, comumente age no ímpeto de seus impulsos e acaba misturando tantas emoções e tantos descontentamentos, que vocifera contra alguém o tumultuado turbilhão de insatisfações interiores. Se gritamos, vociferamos com as pessoas, é porque trazemos isso dentro de nós.

O silêncio não é fraqueza, mas atitude privilegiada daqueles que desejam entrar em contemplação do mais belo dos mistérios: o amor imutável.   

Deus transforma tudo em brisa. É curioso que nós percebemos rapidamente as tempestades, as ventanias, mas muito lentamente percebemos o sereno silencioso que simplesmente toca carinhosamente a nossa face sem fazer nenhum barulho, nenhum ruído. Silenciar é acolher e filtrar na fé.

 Pe. Fábio Gleiser Vieira Silva

 

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Como ser feliz no Matrimônio?

 Sacramento do Matrimônio- você sabe o real significado? Descubra! -  WeMystic Brasil

Depois de restituir ao matrimônio a sua original pureza, Nosso Senhor Jesus Cristo ensina que a inocência deve reger o ser humano em qualquer estado de vida.

No texto do Gênesis, encontra-se o princípio da criação, ou seja, o relacionamento que existia entre homem e mulher antes do pecado: união santa, monogâmica e indissolúvel, em total conformidade com a natureza de ambos.

Se esta situação foi alterada, deveu-se à dureza de coração das gerações posteriores, consequência da queda original. A mulher foi sendo paulatinamente relegada da consideração do homem e a poligamia — que teve sua origem na linhagem de Caim (cf. Gn 4, 19) — tornou-se um hábito generalizado em muitas civilizações pagãs da Antiguidade, e era tolerada, inclusive, entre os hebreus.

Mesmo sob o regime da Lei de Moisés, o trato dispensado ao elemento feminino estava marcado pelo desprezo. Nosso Senhor Jesus Cristo veio restabelecer a primitiva pureza da instituição do matrimônio.

O contrato natural elevado a Sacramento

Se o casamento é indissolúvel, o marido que se separa da mulher, ou vice-versa, e contrai uma nova união, comete adultério. Então, como é possível ser fiel no matrimônio? Seria suficiente restaurar o matrimônio em sua primitiva pureza ou haveria algo a acrescentar a esta visão essencial?

Só quando ambos se determinam a abraçar a cruz e carregá-la juntos, o matrimônio atinge sua plenitude e seu esplendor.

Não nos iludamos! Em qualquer estado de vida, o verdadeiro caminho a ser trilhado é o da cruz! Depois do pecado original, ela sempre estará presente no convívio social, havendo desavenças e desencaixes inclusive entre esposos.

Falsa seria a afirmação de que é possível existir um casal tão inteiramente harmônico, que cada um dos consortes nunca tenha de fazer esforço para adaptar-se ao outro.

Daí a importância do Sacramento, que “purifica os olhos da natureza, faz suportáveis as desgraças, enternecedoras as enfermidades, amáveis a velhice e os cabelos brancos. A graça torna o amor paciente. Ela o fortifica face ao choque dos defeitos com que ele se deparou”.

União de dois que resolveram abraçar juntos a cruz

Isto quebra a ideia romântica ― tão difundida pelas produções cinematográficas de Hollywood e pelas novelas televisivas ― de que a vida matrimonial é uma realidade feita de rosas…

Sim, há rosas perfumadas, de pétalas muito bonitas, mas com caules crivados de espinhos terríveis… Porque não existem dois temperamentos iguais! Se não há dois grãos de areia ou duas folhas de árvore idênticas, menos ainda duas criaturas humanas, pois quanto mais se sobe na escala dos seres, maior é a diferença entre eles.

A utopia da igualdade absoluta dos homens é uma loucura! Costumava dizer o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira que Deus não é tartamudo e, portanto, não repete suas obras: “Cada ser é uma sílaba única e perfeita da ação criadora de Deus naquela gama, o que é verdadeiramente uma maravilha”.

Às vezes há processos de separação por causa de bagatelas.

Qual a raiz de tais desentendimentos? A dificuldade em aceitar a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Para nos redimir, bastaria que Jesus oferecesse ao Pai um gesto — pois todos os seus atos têm mérito infinito —, mas Ele preferiu padecer os tormentos da Crucifixão, o suplício mais ignominioso daqueles tempos, dando-nos assim o exemplo de como devemos abraçar a nossa própria cruz.

Age com grande insensatez quem se baseia na estrita beleza física ao contrair matrimônio, esquecendo-se de que, com o correr dos anos, a fisionomia e a pele vão adquirindo outra aparência…

Pior ainda é o erro no qual incorre quem se casa por sensualidade, acreditando na mentira de que a felicidade está em dar vazão a paixões voluptuosas no relacionamento matrimonial.

Neste não pode haver libertinagem; cada um deve respeitar a si mesmo e o outro, tendo como objetivo a prole. O que se fizer sem esta intenção é pura e simplesmente pecaminoso, como ensina Santo Agostinho:

“tudo quanto os esposos realizem contra a moderação, a castidade e o pudor é um vício e um abuso, que não provém do autêntico matrimônio, mas sim de homens mal refreados”.

Soltar as rédeas das paixões é inconcebível em qualquer circunstância, pois o combate a elas é o cerne de nossa luta e de nossa cruz.

Peçamos o indispensável amparo da graça para conservarmos intacta a inocência, ou para reconquistá-la, e sejamos arautos da Inocência Eterna, Nosso Senhor Jesus Cristo, e da Inocente por excelência, Maria Santíssima.

Mons João Clá Dias