domingo, 27 de dezembro de 2015

Família humana, família de Deus!

Festejamos hoje a Sagrada Família. Para nós do Instituto Santa Família, Jesus, Maria e José são uma constante referência como modelo perfeito do cumprimento da vontade de Deus, bem como de unidade familiar harmônica e fecunda, porque nela habitou o próprio Deus.

Bem longe de ser uma família que caminhou sobre as nuvens, a Sagrada Família desmistifica a ideia de que numa família santa não há tristeza, dor, trabalho, angústia...

Conhecemos as dúvidas de José com relação à gravidez de Maria - que tinha com ele um pacto de castidade - bem como o nascimento de Jesus que aconteceu quase ao desabrigo. Após o nascimento da criança a Sagrada Família não pôde voltar para casa, mas deslocou-se para o Egito fugindo de Herodes que procurava matar o menino. Contemplamos ainda a perda de Jesus no templo quando tinha doze anos, deixando Maria e José em aflição por 3 dias. Sabemos também que José faleceu antes de Jesus iniciar sua vida pública, bem como, já em missão, Jesus sofria constantes ameaças feitas pelos que se sentiam ameaçados pelo anúncio de uma nova ordem de coisas, que promovia a conversão do coração e o fim da opressão e das injustiças para com os desvalidos.

Olhando hoje para a dócil Família de Nazaré, temos que retificar o rumo de nossas famílias. Temos que entender que aqueles que foram chamados à vocação do matrimônio são consagrados ao amor mútuo, e à dedicação aos frutos que Deus conceder desta união abençoada. Podemos chegar à santidade unicamente por assumirmos todos os trabalhos e agruras que acompanham um casamento.

Acima de tudo, temos que dar testemunho de família comprometida com o "até que a morte os separe", tão em contraponto com a cultura dos amores líquidos e dos relacionamentos descartáveis. É um trabalho e compromisso para a toda a vida, pois disso depende a estabilidade emocional dos filhos, seus relacionamentos futuros, a paz que temos o dever de construir no lar, e o testemunho  que somos chamados a dar em família, na igreja, e em sociedade.

A família é o lugar onde se forjam os grandes homens e mulheres que podem mudar o mundo, porque é na família que se formam o caráter, os padrões éticos e morais, o respeito à dignidade humana e à vida, a laboriosidade, o cultivo dos bens espirituais e da consciência da imortalidade da alma, e de tudo o que contribui para uma existência plena.

Rezemos pelas nossas famílias... Precisamos formar um exército de pessoas que promovem a família segundo o coração de Deus. Temos que ter a coragem de defender o namoro cristão onde se guarda a castidade, o noivado sério e consequente, a vida desde a sua concepção até o seu declínio natural, o planejamento familiar segundo as orientações da Igreja, e tudo que engrandece a família como instituição fundamental da sociedade.

Jesus, Maria e José, a nossa família vossa é!!

ISF

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

A doçura que choveu do alto


 


É Natal! O menino de Belém leva-nos a contemplar o incrível amor de um Deus que Se preocupa com a vida e a felicidade dos homens e que envia o próprio Filho ao nosso encontro para nos apresentar um projeto de salvação e libertação. Nesse menino de Belém, Deus grita-nos a radicalidade do seu amor.

O presépio apresenta-nos a lógica de Deus que não é, tantas vezes, igual à lógica dos homens: a salvação de Deus não se manifesta na força das armas, na autoridade prepotente, nos gabinetes ministeriais, nos conselhos das empresas, mas numa gruta de pastores onde brilha a fragilidade, a ternura, a simplicidade, a dependência de um bebê recém-nascido.

O mistério do Natal provoca nossa admiração, porque não somos capazes de compreender, de fato, que a força do amor transforma o mundo. Já ouvimos demasiado essa colocação, mas não conseguimos incorporar o conceito, porque ele exige conversão. E conversão pede desprendimento do "eu acho", do "eu sou", do "eu quero", do "eu posso". Na era da "faça-se" à partir do apertar de um botão, isso parece assustador. No entanto, nesse menino Deus, contemplamos que a dinâmica do amor e da paz acontece à partir do dar-se. Ele se fez pobre por nós!  
"O agir de Deus é, cada vez, um milagre que enche de admiração o céu e a terra. O mal, de fato se anula; o bem ao invés se acumula. A obra do homem é cancelável, mas a Deus não".  Isto significa que as graças que Deus oferece aos homens não se esgotam nunca, são fonte perene de renovação para a Igreja e para o mundo. Infelizmente perdemos o caminho das pedras, esquecemos de Deus, de seu amor e de sua misericórdia que são infinitos.

"A alegria bíblica é para todos indistintamente, antes de modo especial para quem não conhece muitas alegrias terrenas". Ele veio para os que estavam, e estão, perdidos... A oferta de Si mesmo é ampla, total e irrestrita!  Ninguém está excluído do seu amor, a não ser os que se excluem por opção, ou por não terem feito uma experiência de Deus...

Por fim, o maior acontecimento da história da humanidade acontece num profundo silêncio. "É como quando o rei entra na sala de audiências e todos se levantam e se calam". Precisamos retomar o silêncio interior para encontrarmos esse Deus que fala aos que se calam. "Estas pessoas não se calam para encontrar Deus, mas porque encontraram Deus". Diante Dele somos todos um nada!!!
Neste Natal, novamente, estamos diante de um mistério que nos visita e nos surpreende de um modo novo e único. No hoje da nossa história humana e pessoal, o Natal é a luz que sempre aponta o caminho para a paz, para o amor. Que a singeleza do nascimento do Redentor abra nossos olhos para a única realidade que importa: a grandeza e a santidade de Deus!

Em negrito, frases de Pe. Raniero Cantalamessa do livro " O Mistério do Natal"

sábado, 19 de dezembro de 2015

Vamos a caminho de Belém!


Nestes últimos dias antes do Natal, a mensagem fundamental da Palavra de Deus gira à volta da definição da missão de Jesus: propor um projeto de salvação e de libertação que leve os homens à descoberta da verdadeira felicidade.

A primeira leitura sugere que este mundo novo que Jesus, o descendente de David, veio propor é um dom do amor de Deus. O nome de Jesus é “a Paz”: Ele veio apresentar uma proposta de um “reino” de paz e de amor, não construído com a força das armas, mas construído e acolhido nos corações dos homens.

A mensagem deste texto faz-nos constatar, também, a presença contínua de Deus na história humana. Apesar do egoísmo e do pecado dos homens, Deus continua a preocupar-Se conosco, a querer indicar-nos que caminhos percorrer para encontrar a felicidade. A vinda de Cristo, Aquele que é “a Paz”, insere-se nesta dinâmica.

A segunda leitura sugere que a missão libertadora de Jesus visa o estabelecimento de uma relação de comunhão e de proximidade entre Deus e os homens. É necessário que os homens acolham esta proposta com disponibilidade e obediência – à imagem de Jesus Cristo – num “sim” total ao projeto de Deus.

O “estremecimento” de alegria de João Baptista no seio de Isabel, que nos é apresentado no Evangelho, é o sinal de que o mundo espera com ânsia uma proposta verdadeiramente libertadora. Nós, os cristãos, somos verdadeiramente o veículo desta mensagem?

A proposta libertadora de Deus para os homens alcança o mundo através da fragilidade de uma mulher (recordar o contexto social de uma sociedade patriarcal, onde a mulher pertence à classe dos que não gozam de todos os direitos civis e religiosos) que aceita dizer “sim” a Deus. É necessário ter consciência de que é através dos nossos limites e da nossa fragilidade que Deus alcança os homens e propõe o seu projeto ao mundo.

Maria, após ter conhecimento de que vai acolher Jesus no seu seio, parte ao encontro de Isabel e fica com ela, solidária com ela, até ao nascimento de João. Temos consciência de que acolher Jesus é estar atento às necessidades dos irmãos, partir ao seu encontro, partilhar com eles a nossa amizade e ser solidário com as suas necessidades?

A Palavra, evidentemente, está no centro da festa de Natal, pois “a Palavra de Deus fez-se carne e habitou entre nós”. Dizemos “Palavra do Senhor”, “Palavra da salvação”!  

Em vésperas de Natal, sejamos apressados, como Maria: ponhamo-nos a caminho rapidamente! E que algo faça mexer e estremecer em nós: as palavras que nos foram ditas da parte do Senhor, vamos levá-las aos irmãos que vivem sem esperança.

Portal dos Dehonianos

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O Domingo da Alegria


Este III Domingo do Advento é o domingo da alegria, alegria constitutiva da experiência cristã, que deve estar especialmente presente neste tempo de espera do Senhor. Não é uma alegria que resulta dos êxitos desportivos da nossa equipe, nem do nosso êxito profissional, nem do aumento da nossa conta bancária, mas é uma alegria pela presença iminente do Senhor nas nossas vidas, como proposta libertadora. É a certeza da presença libertadora do Senhor que a nossa alegria deve anunciar aos homens nossos irmãos.

A bondade e a indulgência com que acolhemos os que nos rodeiam têm de ser, também, distintivos de quem espera o Senhor. Será possível que Deus nasça quando o caminho do nosso coração está fechado com cadeias de intolerância, de prepotência, de incompreensão?

 A espera do Senhor faz-se, também, num diálogo contínuo com Ele. Não é possível estar disponível para O acolher, quando estamos indiferentes e não partilhamos com Ele, a cada instante, as nossas alegrias e as nossas dificuldades, os nossos sonhos e as nossas esperanças. Não é possível acolher alguém com quem não comunicamos e de quem não nos sentimos próximos.

 Na segunda leitura deste domingo, a primeira e mais importante recomendação de Paulo é um convite novamente à alegria. Trata-se de algo tão fundamental, que Paulo repete duas vezes no espaço de um versículo: “alegrai-vos”. A palavra aqui utilizada (o verbo “khairô”) leva-nos a essa “alegria” (“khara”) que os anjos anunciam aos pastores, a propósito do nascimento de Jesus em Belém. É, portanto, uma alegria que resulta da presença salvadora do Senhor Jesus no meio dos homens. Depois, Paulo acrescenta outras recomendações: a bondade, a confiança, a oração (de súplica e de ação de graças). São estas algumas das atitudes que devem acompanhar o cristão que espera a vinda próxima do Senhor: alegria, porque a sua libertação plena está a chegar; tolerância e mansidão para com os irmãos; serena confiança em Deus; diálogo com Deus, agradecendo-Lhe os dons, e apresentando-Lhe as suas dores e dificuldades.

No Evangelho de Lucas, capítulo 3, versículos de 10 a 18, João Batista é interpelado por todos os que o buscavam para serem batizados, o que deveriam fazer para serem salvos. E percebemos que Deus não pede a mesma coisa aos cobradores de impostos e aos soldados, mas pede a todos para fazerem algo que manifeste mais justiça, mais generosidade, mais paz… É no momento em que os homens se deixam batizar na água do Jordão que perguntam o que devem fazer. Se vêem encontrar João Batista, é porque procuram converter-se, procuram tornar-se homens novos. Aceitam viver outra coisa a fim de se tornarem outros. Mas vem o dia, anuncia o Precursor, em que a conversão não é apenas obra do homem, mas ação comum de Deus e dos homens: vem Aquele que batizará no Espírito Santo e no fogo para fazer surgir um mundo novo e varrer o velho mundo. A Boa Nova que João Batista anuncia ao povo é precisamente a intervenção de Deus em pessoa pela vinda do Messias que vai comprometer a humanidade nesta renovação radical, fruto da Aliança Nova selada entre Deus e a humanidade, Aliança com os dois parceiros da salvação: Deus e o homem. 

“Que devemos fazer?” Esta questão é posta três vezes a João Batista, pelas multidões, pelos publicanos, pelos soldados. João não parece ser muito exigente nas respostas. Nada de extraordinário. Não pede para saírem do real das suas vidas. Por exemplo, exorta as multidões à partilha com os mais pobres. Hoje, dir-nos-ia para transformarmos a festa comercial de Natal numa ocasião de partilha mais generosa. A atenção ao quotidiano sugerir-nos-á como partilhar! Não são necessárias coisas extraordinárias. Basta deixar iluminar pela Boa Nova de Jesus a nossa vida de todos os dias…


 Reflexão baseada no Portal dos Dehonianos

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Preparai os caminhos do Senhor

II Domingo do Advento
 
Podemos situar o tema deste domingo à volta da missão profética. Ela é um apelo à conversão, à renovação, no sentido de eliminar todos os obstáculos que impedem a chegada do Senhor ao nosso mundo e ao coração dos homens. Esta missão é uma exigência que é feita a todos os batizados, chamados – neste tempo em especial – a dar testemunho da salvação/libertação que Jesus Cristo veio trazer.

O Evangelho apresenta-nos o profeta João Batista, que convida os homens a uma transformação total quanto à forma de pensar e de agir, quanto aos valores e às prioridades da vida. Para que Jesus possa caminhar ao encontro de cada homem e apresentar-lhe uma proposta de salvação, é necessário que os corações estejam livres e disponíveis para acolher a Boa Nova do Reino. É esta missão profética que Deus continua, hoje, a confiar-nos.

A primeira leitura sugere que este “caminho” de conversão é um verdadeiro êxodo da terra da escravidão para a terra da felicidade e da liberdade. Durante o percurso, somos convidados a despir-nos de todas as cadeias que nos impedem de acolher a proposta libertadora que Deus nos faz. A leitura convida-nos, ainda, a viver este tempo numa serena alegria, confiantes no Deus que não desiste de nos apresentar uma proposta de salvação, apesar dos nossos erros e dificuldades.

A segunda leitura chama a atenção para o fato de a comunidade se dever preocupar com o anúncio profético e dever manifestar, em concreto, a sua solidariedade para com todos aqueles que fazem sua a causa do Evangelho. Sugere, também, que a comunidade deve dar um verdadeiro testemunho de caridade, banindo as divisões e os conflitos: só assim ela dará testemunho do Senhor que vem.

Só é possível acolher, com um coração puro e irrepreensível, o Senhor que vem se a caridade for, entre nós, uma realidade viva. Mas, frequentemente, a vida das nossas comunidades cristãs é marcada pelas divisões, pelas murmurações, pelas lutas pelo poder, pelas tentativas de manipular, pelos interesses mesquinhos e egoístas, pelas guerras de sacristia… Será possível “esperar com coração puro e irrepreensível o Senhor que vem” num contexto de divisão? Será possível à comunidade ser o espaço onde Jesus nasce se não se aceitam todas as pessoas e em especial os pequenos e os pobres?  

“Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas”. Esta voz ressoa nos nossos ouvidos, não já nos desertos de areia, mas no deserto dos nossos corações, muitas vezes demasiado desertos de esperança, de alegria, de amor. Há sempre entre os homens passagens tortuosas que tornam tão difícil a comunhão, montanhas demasiado altas que impedem de nos vermos, ravinas demasiado profundas que impedem a reconciliação e a paz. A voz de João ressoa ainda nos nossos ouvidos, para que a Palavra possa penetrar sempre nos nossos corações. João desapareceu, mas a Palavra, eterna, feita carne, está sempre presente, porque Jesus ressuscitou, está vivo para sempre. Sobre ele a morte não tem mais nenhum poder, nem qualquer outro poder, político, militar, econômico e mesmo religioso! Esta Palavra é dada a nós, hoje. Quando deixamos a Palavra iluminar o nosso caminho e comemos o Pão da Vida – as duas mesas da liturgia eucarística – é Jesus vivo que vem endireitar os nossos caminhos, preencher as nossas ravinas interiores. Então, tornamo-nos porta-vozes da Palavra. Vendo-nos, os homens podem pressentir, pelo menos, a salvação de Deus.

Portal dos Dehonianos


segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Vigiai!

I Leitura :“Dias virão, em que cumprirei a promessa que fiz à casa de Israel e à casa de Judá”. 
(Jr 33,14) 

Evangelho: “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas e, na terra, angústia entre as nações, aterradas com o rugido e a agitação do mar. Os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai suceder ao universo”.               (Lc 21,25)

Na mesma celebração, proclama-se como Palavra do Senhor duas afirmações tão afastadas uma da outra! Como resolver esta contradição? Primeiro, sendo realistas. O universo conhece transformações constantes, tremores de terra, erupções vulcânicas, tsunamis, meteoritos… A sol e as estrelas, um dia, apagar-se-ão. No fundo, Jesus, com os conhecimentos e a mentalidade da sua época, chama a nossa atenção para essa realidade: o nosso mundo, um dia, acabará. Não somente o “nosso” mundo, mas primeiro o “meu” próprio mundo, no dia da minha morte. Jesus convida-nos a não esquecer o fim de todas as coisas. Diz-nos: “Vigiai”. Vigiai para que não vos instaleis neste tempo como se ele fosse durar sempre! Mas aí, no coração da nossa condição mortal, Deus diz-nos uma palavra que não passará. Esta Palavra é o próprio Jesus.

Começamos hoje um novo ciclo litúrgico. Mas não é um ciclo fechado sobre si mesmo. Cada ano que passa aproxima-nos do nosso fim terrestre, mas é-nos dado também como o tempo durante o qual Jesus vem visitar-nos, dar-nos a sua presença de Ressuscitado. Segundo a bela palavra de Jeremias, oferece-nos a nós como “um rebento de justiça”, como a “promessa de felicidade” que se realizará em plenitude no fim dos tempos. Desde agora, está em acção no segredo dos corações, como o poder da vida que, secretamente, constrói um novo ser no seio materno. “Vigiai e orai em todo o tempo”, a fim de estardes de pé no Dia da sua Vinda na plenitude da Luz.

A realidade da história humana está marcada pelas nossas limitações, pelo nosso egoísmo, pelo destruição do planeta, pela escravidão, pela guerra e pelo ódio, pela prepotência dos senhores do mundo… Quantos milhões de homens conhecem, dia a dia, um quadro de miséria e de sofrimento que os torna escravos, roubando-lhes a vida e a dignidade… A Palavra de Deus que hoje nos é servida abre a porta à esperança e grita a todos os que vivem na escravidão: “alegrai-vos, pois a vossa libertação está próxima. Com a vinda próxima de Jesus, o projecto de salvação/libertação de Deus vai tornar-se uma realidade viva; o mundo velho vai converter-se numa nova realidade, de vida e de felicidade para todos”.

No entanto, a salvação/libertação que há de transformar as nossas existências não é uma realidade que deva ser esperada de braços cruzados. É preciso “estar atento” a essa salvação que nos é oferecida como dom, e aceitá-la. Jesus vem; mas é necessário reconhecê-lo nos sinais da história, no rosto dos irmãos, nos apelos dos que sofrem e que buscam a libertação. É preciso, também, ter a vontade e a liberdade de acolher o dom de Jesus, deixar que Ele nos transforme o coração e Se faça vida nos nossos gestos e palavras.

É preciso, ainda, ter presente, que este mundo novo – que está permanentemente a fazer-se e depende do nosso testemunho – nunca será um realidade plena nesta terra, mas sim uma realidade escatológica, cuja plenitude só acontecerá depois de Cristo, o Senhor, haver destruído definitivamente o mal que nos torna escravos. 

Padres Dehonianos

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Tiago Alberione, uma luz para comunicar o Evangelho




Quando se pensa em Tiago Alberione, vem logo à mente o grande número de suas obras. Efetivamente, além de numerosas iniciativas apostólicas em todos os campos, é conhecida sua fecundidade como fundador: cinco congregações religiosas, quatro institutos de vida secular consagrada, uma associação apostólica de leigos e outras instituições.

Em contrapartida, se conhece bem a fonte dessa atividade: seu coração de apóstolo. Ele fez sua a sede do Mestre Jesus expressa nas palavras: "Vinde a mim todos...", que se converteram no ponto de partida de uma vida dedicada, no estilo de seu inspirador, o apóstolo São Paulo, elevar à luz de Cristo a todos os homens, a fazer penetrar sua palavra de salvação no coração das massas, a fazê-la chegar rápida e ao maior número  possível de pessoas, chegando até elas onde se encontram, até nos lugares mais distantes. 

Ele viu a necessidade de utilizar todos os meios "mais rápidos e eficazes", especialmente os meios de comunicação social ou de massas. E com esse objetivo fundou toda uma Família que deverá viver e agir de tal modo que chegue a "ser São Paulo vivo hoje".

Sua intensa atividade pastoral, porém, não o impedia de estar constantemente imerso em Deus, como os grandes contemplativos: e mais ainda, seu incrível dinamismo provinha de uma profunda vida interior, convencido como estava de que "as obras de Deus se fazem pelos homens de Deus".

Descobriu o tesouro precioso, e aprendeu a viver intensamente ao redor dele, em admirável intimidade, todas as dimensões de sua personalidade.

O Pe. Tiago Alberione, fundador de uma grande Família, apóstolo e profeta dos meios de  comunicação social a serviço do Evangelho, foi, antes de tudo, e sobretudo, um homem de Deus, dócil ao Espírito e fiel à missão que o Senhor havia-lhe encomendado.

Em 26 de novembro de 1971, vítima de uma broncopneumonia e um bloqueio renal, com esforço extremo, abençoou a todos seus filhos e sussurrou: "Estou morrendo... Paraíso... Rezo por todos". O Papa Paulo VI, informado da gravidade da enfermidade, foi espontaneamente visitá-lo. E ajoelhando-se junto ao leito do moribundo se recolheu em oração. Em seguida deu-lhe a última absolvição, o abençoou e, profundamente comovido deixou sua assinatura no livro de registro. Pouco depois às 18h25, o Pe. Alberione entrava definitivamente na casa do Pai. Tinha 87 anos.

Na realidade, o Pe. Alberione foi um homem que amou de verdade: amou a Deus com todas as suas forças, amou sinceramente a seus filhos e filhas como autênticos tesouros da Providência, e amou intensamente a missão que lhe fora confiada.

Hoje seus seguidores estão presentes em mais de 60 países dos cinco continentes e , em fidelidade criativa ao Fundador, adotam todos os meios modernos para a glória de Deus e a paz dos homens. 

João Paulo II  o elevou às honras dos altares após reconhecer o milagre em favor de María Librada González Rodríguez, membro do Instituto das Anunciatinas, hospitalizada em 4 de abril de 1989 em Guadalajara (México) por causa de um acidente. Em 20 de dezembro de 2002, o Papa leu o decreto da Beatificação do venerável Tiago Alberione, cuja proclamação solene teve lugar na Praça de São Pedro, em 27 de abril de 2003. A festa litúrgica celebra-se no dia 26 de novembro, aniversário de seu nascimento para o céu.

Pe. José Antonio Pérez Sánches, ssp, Postulador Geral da Família Paulina

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A modernidade líquida e a vida humana transformada em objeto de consumo





Os trechos do artigo abaixo, de autoria de Eliton F. Felczak (seminarista da Diocese de Joinville-SC), são um relato preciso do que vivemos em nossa sociedade em constante transformação. Não temos tempo nem de assimilar uma mudança e outra já se instala, sem permitir ao menos que possamos avaliar seus acertos e erros. Os valores que foram transmitidos de gerações à gerações, e que possibilitaram ao homem viver eticamente, em família e em sociedade, parecem ter evaporado... É a modernidade líquida que transforma a vida humana em objeto de consumo.
Será que esta falta de referências não estará gerando tanta violência e adesão às barbáries que vemos acontecer em nossos dias?

O filósofo polonês Zygmunt Bauman é um dos pensadores, em seu ambiente de atuação, que alimentam reflexões sobre a realidade consumista na qual o ser humano está inserido. O ser humano, ancorado no discurso consumista, vive a sua vida sem se questionar sobre o que realmente acontece à sua volta. Num ambiente incerto como atual, o consumo aparece como resposta à satisfação das ansiedades dos indivíduos.

O conceito de sociedade líquida caracteriza-se pela incapacidade de manter a forma. Nossas instituições, quadros e referência, estilos de vida, crenças e convicções mudam antes que tenham tempo de se solidificar em costumes e hábitos e verdades "autoevidentes". 

A liberdade adquirida surgiu com o derretimento dos sólidos, tirando o indivíduo da terra firme e levando-o ao oceano das incertezas. O pensamento não é mais denso e ordenado, mas leve e desordenado, para poder abarcar tudo o que a vida pode oferecer.

As comunidades existentes na modernidade sólida eram éticas. Bauman também as chamava de compreensivas e duradouras, ou seja, genuínas. Elas se baseavam em normas e objetivos, nos quais os destinos eram partilhados visando à sua permanência. Na modernidade, líquida ocorre o inverso: Bauman designa suas comunidades como estéticas. Elas se reúnem em torno do entretenimento, de celebridades e de ídolos. Essas comunidades estéticas, comunidades cabide, dificilmente oferecem laços duradouros a seus membros.

O ser humano líquido é um dos reflexos do novo jeito de pensar, no qual "virtualmente todos os aspectos da vida humana são afetados quando se vive a cada momento sem que a perspectiva de longo prazo tenha mais sentido" (Pallares_Burke, 2004, p. 322). A certeza está na constante mudança, devendo cada indivíduo buscar por si próprio uma maneira de melhor sobrevivência.

A liberdade do indivíduo ante os mecanismos da mídia de massa refere-se à escolha entre o leque de possobilidades oferecido. O indivíduo é livre, desde que seja maleável perante as investidas dos modismos criados e desmontados pelos meios de comunicação de massa.

A forma de planejar e organizar a vida na modernidade líquida é antagônica à da modernidade sólida. As relações devem ser estabelecidas a curto prazo, aproveitando as chances que a vida oferece, abandonando as anteriores como quem troza de roupa. Planejamentos para a vida toda parecem ridículos, pois sacrificam os desejos momentâneos em vista de algo posterior no futuro.

A vida interior de cada um é exposta na mídia, já não sabendo os adolescentes diferenciar o que pertence ao público e ao privado. Na busca de serem atraentes e famosos, dificilmente os jovens pensam em construir uma carreira sólida nos campos da arte, da ciência, da filosofia, da tecnologia, entre outros. Querem tornar-se celebridades e ser desejados como objetos de consumo, mesmo que por breve momento.

Na vida "agorista" dos indivíduos da modernidade líquida, o motivo da pressa é, em parte, o impulso de adquirir e juntar. Mas o motivo que torna a pressa de fato imperativa é a necessidade de descartar e substituir.

Bauman não é otimista nem pessimista na sua descrição do homem como mercadoria, mas relata a situação atual e como ela veio a tornar-se manifesta. O autor acredita que outro mundo - alternativo e, quem sabe, melhor -m seja possível e que os seres humanos sejam capazes de tornar real esta possibilidade. Mas também - infelizmente - que talvez os indivíduos prefiram ignorar os acontecimentos e continuar a viver na "menoridade".

Artigo retirado da Revista Vida Pastoral nº 56 - Publicação bimestral da Editora Paulus 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Pais digitais com filhos superconectados




O desafio é a qualidade das relações

O que significa ser um pai na era digital? A resposta requer muito mais do que uma mera reflexão superficial, porque entre os chamados "nativos digitais" encontra-se a geração dos "milennials", ou seja, aqueles que nasceram entre 1980 e 2000, muitos dos quais estão começando a ter ou têm os seus primeiros filhos.

E, precisamente, os "milennials" são aqueles que estão na capa da revista Time de outubro de 2015 com um artigo cujo título é pouco inspirador: “Socorro, os meus pais são milennials".

O artigo começa mostrando os novos hábitos alimentares dessa nova geração de pais (veganos ou vegetarianos) e descrevendo sua característica principal: são pessoas que cresceram com smartphones e conectados nas redes sociais: sua vida é documentada com fotos no Instagram, pensamentos em blogs e comentários no Facebook.

Essa mentalidade 'digital' na qual a autoridade é determinada pela popularidade mensurável em "curtidas" ou número de "seguidores" passa depois, também, para o ambiente familiar: os filhos podem ir aonde quiserem porque o lar é uma mini democracia ou, o que é o mesmo, uma “autoridade consensual". A permissividade é quase, quase, uma lei de relações intrafamiliares.

Uma pesquisa feita pela Survey Monkey revelava que pelo menos 46% dos pais milennials postou fotos de seus filhos, até mesmo quando estes só se encontravam no útero materno ou antes de que o seu filho fizesse um ano. De acordo com a mesma pesquisa, alguns pais gostam de ver outros pais milennials cuidando dos seus filhos. “A maioria dos pais joga, consciente ou inconscientemente, com o custo-benefício de estar nas redes sociais", diz Sarita Schoenebeck, professora da Universidade de Michigan, que realizou um estudo sobre o uso do Facebook por parte de mães milennials. Entre as suas conclusões está o fato de que para a maioria das pessoas os benefícios de estar na mídia supera qualquer crítica no campo da educação dos filhos.

Para muitos pais milennials o modo de superar problemas sobre a sua tarefa como pais é precisamente as redes sociais: os seus amigos são os “especialistas” e as mães que não sabem o que fazer com os seus bebês se refugiam nos conselhos obtidos por meio dos grupos de Facebook ou WhatsApp. De acordo com TIME, isso acontece até com o 58% dos pais milennials. É evidente que não fazem o que o seus pais fizeram com eles: perguntar para verdadeiros especialistas.

Mas não é só nesse campo onde se nota a quebra da geração de pais milennials com as gerações anteriores: na maioria dos casos os milennials já não enviam os seus filhos para aulas de tênis, piano ou arte. A empresa Future Cast publicou em 2013 um informe sobre hábitos e atitudes de milennials: 61% deles disseram que os filhos precisam jogar de uma forma não estruturada. Isso, na prática, se reflete em algo tão simples como que as decisões sobre o que fazem ou não os filhos já não vêm dos pais, mas das pesquisas que os pais fazem aos seus filhos. TIME sugere que por trás disso é possível ter um forte individualismo e a ideia de competitividade como um dos valores mais altos sob o slogan "seja você mesmo".

É verdade que também os pais milennials reconhecem que é preciso fazer malabarismos para ter a atenção das crianças hoje. Mas pelo menos eles têm a intenção de testar, pois os milennials são de mente aberta e pessoas que procuram a empatia; tendem a ser excessivamente otimistas, acreditam no progresso e, acima de tudo, confiam no Google. De fato, junto com as redes sociais o seu principal conselheiro é o famoso motor de busca.
É, pois, evidente que as famílias digitais são famílias conectadas e comunicadas mas, a qualidade das relações e a facilidade das conexões não estão mudando o modo como as relações familiares são vividas e experimentadas? A resposta a esta pergunta, de não pouco valor, poderá vista com mais nitidez nos próximos anos. 

Jorge Enrique Mujica


domingo, 1 de novembro de 2015

Após o Sínodo a questão dos recasados está em aberto

 Após o término do Sínodo da Família, Dom Sergio da Rocha, presidente da Conferência Episcopal do Brasil, foi arguido por Zenit se, depois do Sínodo, mudou alguma coisa sobre a disciplina dos sacramentos para as pessoas ou famílias feridas, ou se é necessário, ainda, esperar uma palavra definitiva do Papa. Seguem abaixo alguns alguns trechos desta conversa.

“O texto, na verdade - ressaltou o presidente da CNBB - é um texto que em parte, deixa em aberto a questão". Na verdade, "não há um pronunciamento sobre essa questão". Ou seja, no texto aprovado "não aparece a questão do acesso aos sacramentos por parte de pessoas nessas condições".

Porém, Dom Sergio esclareceu que no final do texto há um pedido claro que os padres sinodais fizeram ao papa. "Nós pedimos ao papa uma palavra definitiva, isto é, um documento que fosse sobre a família", recordando também que na terceira parte do relatório final do sínodo se "retoma a Familiaris Consortio, 84, que é justamente a respeito das diferentes situações que precisam ser discernidas".

Acolhida
Portanto, segundo Dom Sergio, "a ênfase é na acolhida, isto é, na participação dessas pessoas na vida da Igreja para que elas não se sintam excluídas" 
"E não se esqueçam -disse também o arcebispo de Brasília - que o Papa já tinha, anteriormente, publicado aquele documento chamado Motu Proprio sobre os processos de nulidade matrimonial", o qual não "é para facilitar, como alguns entendem, mas para favorecer aquilo que é justo. Isto é, muitos casais que, de fato, estão numa situação de segunda união, mas que o seu primeiro casamento foi nulo, quer dizer, não houve, na verdade, propriamente o casamento". Esse tema, portanto, de acordo com o prelado, "recebeu de novo uma ênfase significativa. Ou seja, nós precisamos de atenção pastoral, acompanhamento dessas situações".

Contudo, não se altera a disciplina atual da Igreja
Dom Sergio reiterou que "pedimos ao Santo Padre para que, depois, haja uma palavra definitiva" e que o tema "apareceu mais nas discussões", disse, recebendo "na mídia uma importância muito grande, que de fato tem, mas não é objeto explícito do texto". De tal forma que - acrescenta o presidente da CNBB - "o nosso entendimento é esse" que "o texto insiste na questão da acolhida, na questão da orientação, da ajuda a estes casais, que favoreça, naquilo que for possível, sua atuação, sua participação, e o pedido ao santo padre de uma palavra mais definitiva sobre isso, a partir dessas reflexões que o sínodo traz".

O texto deixa a cada bispo o discernimento
"Nesse momento, é claro, - diz o prelado - nós não temos aqui um pronunciamento diverso, da conferência episcopal, até porque não cabe à conferência episcopal esse pronunciamento, o texto não deixa, mas, sim, deixa a cada bispo o como orientar esses casais na vida de comunidade". De tal forma que "o padre, junto com o bispo, ao atender, possa ver qual é o grau possível de participação" no concreto. 

É importante lembrar que não é um texto legislativo
Por último, o arcebispo chamou a atenção para um ponto: esse texto não tem caráter legislativo. "Na verdade, cuidado". Este Sínodo não "tem um caráter como tem outros documentos do magistério. São sugestões, são propostas, ou melhor, reflexões e propostas que os padres sinodais apresentam ao santo padre", destacou. "Então, por causa disso e da expectativa, às vezes, se dá a esse texto também um peso maior do que ele realmente tem. Ele deve ser respeitado, valorizado, acolhido... o próprio Papa autorizou a publicação dele. Agora, os pontos em aberto, estão em aberto para a reflexão continuar e também para que as medidas pastorais mais adequadas sejam tomadas", disse.

Por Zenit

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O veneno de julgar...


"Aqui não se fofoca!". Esse aviso deveria ser colocado em muitos ambientes de convivência, segundo sugeriu na sexta-feira o padre Raniero Cantalamessa OFM cap, na meditação de Quaresma que dirigiu a Bento XVI e seus colaboradores da Cúria Romana em abril de 2011.

Ao discutir a frase da Carta de São Paulo aos Romanos, que "a caridade não seja fingida", o frade capuchinho considerou que no campo da caridade na Igreja há um aspecto que precisa de conversão: o ato de ficar julgando uns aos outros.

O fato de julgar não é em si algo mau, esclareceu, o que é verdadeiramente mau é "o veneno do nosso julgar": "o rancor, a condenação".

Perante o Papa, cardeais, bispos, sacerdotes e religiosos presentes na capela Redemptoris Mater do Palácio Apostólico, Cantalamessa explicou que, "em si, julgar é uma ação neutra"; "o juízo pode terminar tanto em condenação quanto em absolvição e justificação".

"São os juízos negativos os que a palavra de Deus reprime e elimina, aqueles que condenam o pecador junto com o pecado, aqueles que olham mais para a punição do que para a correção do irmão", disse.

"Para estimar o irmão, é preciso não estimar demais a si mesmo - prosseguiu -; é necessário ‘não ter uma visão alta demais de si próprio'". "Quem tem uma ideia muito alta de si mesmo é como um homem que, à noite, tem diante dos olhos uma fonte de luz intensa: não consegue ver nada além dela; não consegue ver a luz dos irmãos, seus dotes e seus valores."

"‘Minimizar' deve se tornar o nosso verbo preferido nas relações com os outros: minimizar os nossos destaques e minimizar os defeitos alheios. Não minimizar os nossos defeitos e os destaques alheios, como somos tantas vezes levados a fazer; é diametralmente o oposto!"

A fofoca mudou de nome, chama-se ‘gossip', afirmou Cantalamessa. "Parece ter virado coisa inocente, mas é uma das que mais poluem a vida em grupo".

"Não basta não falar mal dos outros; precisamos também impedir que os outros o façam em nossa presença; fazê-los notar, mesmo que silenciosamente, que não estamos de acordo."

"Em muitos locais públicos está escrito ‘Aqui não se fuma'. Antigamente havia até alguns avisos de ‘Aqui não se blasfema'. Não faria mal acrescentar, em alguns casos, ‘Aqui não se fofoca'".

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O retrato da família hoje


De 4 a 25 de outubro de 2015, acontece no Vaticano a  XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. Esse encontro será a etapa final do sínodo da família.O relator geral do sínodo, cardeal Peter Erdö, apresentou a “Relatio Post Disceptationem”, documento que finaliza a primeira etapa. O documento recolhe as principais reflexões dos padres sinodais nos primeiros dias do encontro.

A família vive uma crise profunda. Sua identidade como célula onde se forma o indivíduo está deteriorada. A falta de solidez das relações conjugais, a novas configurações profissionais de homens e mulheres, que exigem mais dedicação e tempo fora de casa, a rapidez das transformações tecnológicas, a influência desconstrutiva das mídias nas relações familiares, e outras tantas variáveis, afetam diretamente esta instituição milenar.

Segundo Pe. Duarte da Cunha: "Claro que esta crise também tem levado a valorizar muita coisa que não era suficientemente tida em conta, como a importância da ternura nas relações conjugais, a complementaridade homem/mulher na educação; a função social da família, para só citar alguns aspectos. Assim, não é necessário entender a palavra crise exclusivamente em sentido negativo, mas chamamos verdadeira crise porque muita coisa mudou e ainda não se sabe onde vai parar e porque muito do que sempre foi tido como imutável está sendo atacado. O problema, no entanto, não é tanto que  aconteça uma mudança das ideias sobre a sociedade. Em si mudar as ideias  não é mau, mas o que esta acontecendo é a destruição da civilização humana e, por isso, o desaparecimento da pessoa, porque se negam aspectos constitutivos da sua natureza. A crise da família está intimamente ligada, quer como causa, quer como efeito, à crise geral da sociedade, mas o que está em causa é a pessoa.

A pessoa humana, ser único e irrepetível, unidade complexa de alma e corpo, ser eminentemente social, vive, ainda, numa história e, por isso, experimenta-se a si mesmo no tempo e no espaço concretos. Todas as relações que temos com outras pessoas e até conosco mesmos são sempre, de forma absolutamente necessária, afetadas pela marca do tempo e da pátria. Mas a pessoa, mesmo contextualizada e vivendo num tempo que não pára, permanece a mesma. A pessoa humana procura sempre a unidade, não só entre alma e corpo, entre eu e tu, mas também entre permanência e mudança. Há coisas que nenhum tempo ou lugar podem mudar, sob o risco da pessoa humana deixar de ser o que é, e todos desejamos viver um dinamismo que seja não uma constante e desorientada mudança mas um crescimento do mesmo eu. 

Ao longo da história, houve várias tentativas de imaginar a sociedade sem família, desde a República de Platão que isso tem tido alguns interessados, mas nunca foi possível um punhado de intelectuais desorientados afetar o rumo das pessoas reais, até chegarmos a este tempo em que o poder midiático, o poder econômico e os intelectuais relativistas se unem para tentar fazer uma coisa nova e destruir o que era estrutural. Será exagero dizer isto? Mas, se achamos que deve ser liberalizado os pais matarem os filhos recém gerados (aborto), se as relações deixam de pretender ser estáveis e capazes de progredir através dos momentos bons e dos momentos maus, para serem apenas experiências fugazes (divórcio fácil uniões passageiras) e se a relação de casamento entre pessoas deixa de ser a descoberta do eu total, corpo e alma, e, consequentemente da diferença e da complementaridade sexual, para passar a ser apenas a união de dois seres que sentem uma qualquer afeição (homossexualidade), então o futuro será uma incógnita.
Se os que acreditam que o Criador tem um projeto e experimentam no seguimento desse caminho revelado a verdadeira felicidade se juntarem e defenderem a família, a vida e as instituições que as protegem, então o futuro não será negro, mas uma nova esperança".

Acompanhe na seção Entrevistas, um casal de colombianos que participam do Sínodo das Famílias como auditores, e veja o que dizem sobre dedicar mais tempo à família para salvá-la. 

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Jesus não é um "fast food espiritual"



Evangelizar é preciso porque este foi o mandato de Nosso Senhor Jesus Cristo, que disse: “Ide por todo mundo pregai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16, 15). São João Paulo II fez ecoar essas palavras de Jesus, quando disse que muitos são batizados, mas pouquíssimos são evangelizados. Evangelizar é preciso em sintonia com a Igreja do Brasil e seu Projeto: “Queremos ver Jesus, caminho, verdade e vida”.

Nunca o nome de Jesus foi tão falado e propagado, mas, infelizmente, como um “fast food espiritual” que resolve o problema de todos principalmente daqueles que arrecadam no uso de Seu nome. A única forma de lutar contra todas essas leviandades de uma fé banalizada é levar as pessoas a uma experiência profunda com Jesus, resgatando-as para Ele.

A própria Igreja no Brasil, nos lança os desafios quando pede uma evangelização que atinja a pessoa, a comunidade e a sociedade. Desafio que se torna maior ainda quando nos questionamos se evangelizar, segundo as palavras de Jesus, “Eu vos farei pescadores de homens”, significa pescar num aquário ou reduzir nossa evangelização a sermões dados e bem preparados àqueles que frequentam a Igreja.  A Igreja nos desafia a evangelizar e a trazer de volta o católico “de ocasião”, aquele que só vem para batizados, missa de sétimo dia ou quando o desgosto da vida faz com que a pessoa busque a Igreja como um “supermercado de graças”.

O desafio da evangelização se faz maior quando somos chamados a “lançar redes em águas mais profundas”, para resgatar os jovens que, cada vez mais, estão distantes da Igreja e dos quais exigimos, quando nela estão, que se comportem como adultos e pessoas da terceira idade.

Faz-se necessário lembrar que os protagonistas da evangelização deste milênio não são, necessariamente, os sacerdotes, mas os leigos chamados a evangelizar pelo testemunho da vida, pelas obras e pela fé.

Deus não é um “supermercado de graças” e não precisamos querer arrancar algo D’Ele.

Se evangelizar é uma urgência e se somos evangelizadores, então como evangelizar? Para nós que somos evangelizadores, evangelizar é acolher cada pessoa que chega e que se sente deslocada. Evangelizar é acolher aqueles que tropeçam no decorrer de sua vida e se desviaram da graça. Evangelizar é estender o braço para aquele que está caído. Evangelizar é oferecer uma nova chance para aquele que quer se redimir. Evangelizar é acolher e trazer de volta a ovelha machucada e desgarrada que já sofreu muito no mundo e levou pancada demais, de outros e falsos pastores. Evangelizar é falar o que Jesus disse, fazer o que Jesus fez. Evangelizar é encurtar distâncias, é ser ponte onde há inimizades, é saber criar situações onde o bem comum fale mais alto e a justiça de Deus aconteça.

A humanidade está faminta de Deus e não é justo que deixemos que eles vivam de migalhas. Não podemos nos esquecer dos ensinamentos da multiplicação dos pães. A humanidade está sedenta de água viva e se envenena com a água contaminada do medo, da violência e da insegurança. Não é justo guardarmos as talhas para nós e deixarmos que a água pura e cristalina jorre somente entre os átrios de nossas Igrejas.

Creio numa evangelização feita com arte, como uma grande sinfonia, onde no todo há harmonia e cada instrumento é importante e singular.

Evangelizar é preciso porque é na Palavra de Cristo que encontraremos as ferramentas necessárias para despertar consciências adormecidas e relaxadas, que semeiam valores contrários à família, à fidelidade ao respeito e ao amor.

Pe. Reginaldo Manzotti é coordenador da Associação Evangelizar é Preciso, e pároco e reitor do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe em Curitiba (PR).

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Outubro e seus santos

 Estamos em outubro, Mês das Missões, e também Mês do Rosário.

Mês das missões porque neste mês celebramos Santa Teresinha (1 de outubro), monja carmelita, enclausurada, que tanto rezou e se ofereceu pelas missões. Notemos que ela jamais saiu do Carmelo, e no entanto sua oração abraçou o mundo.

Também este é o Mês do Rosário, porque celebramos dia 13 a última aparição de Nossa Senhora em Fátima, no ano de 1917, onde a Mãe de Deus falou aos três pastorinhos transmitindo a eles um convite e uma escola de salvação.O cerne das aparições é:
- a conversão permanente;
- a oração e nomeadamente o rosário,
- o sentido da responsabilidade coletiva e a prática da reparação.

Na segunda metade de outubro de 1717, por conta da visita de Dom Pedro de Almeida, governante da Capitania de São Paulo e de Minas de Ouro, o povo de Guaratinguetá decidiu fazer uma festa em homenagem à presença de Dom Pedro e, apesar de não ser temporada de pesca, os pescadores lançaram seus barcos no Rio Paraíba com a intenção de oferecerem peixes ao conde. Os pescadores Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso rezaram para a Virgem Maria e pediram a ajuda de Deus. Após várias tentativas infrutíferas, desceram o curso do rio até chegarem ao Porto Itaguaçu. Eles já estavam a desistir da pescaria quando João Alves jogou sua rede novamente, em vez de peixes, apanhou o corpo de uma imagem da Virgem Maria, sem a cabeça. Ao lançar a rede novamente, apanhou a cabeça da imagem, que foi envolvida em um lenço. Após terem recuperado as duas partes da imagem, a figura da Virgem Aparecida teria ficado tão pesada que eles não conseguiam mais movê-la. A partir daquele momento, os três pescadores apanharam tantos peixes que se viram forçados a retornar ao porto, uma vez que o volume da pesca ameaçava afundar as embarcações. Esta foi a primeira intercessão atribuída à santa.
 
Dia 22, celebramos São João Paulo II, nosso inesquecível Karol Wojtyla, que foi papa por quase 27 anos. João Paulo II foi aclamado como um dos líderes mais influentes do século XX. Teve um papel fundamental para o fim do comunismo na Polônia, e talvez em toda a Europa, bem como significante na melhora das relações da Igreja Católica com o judaísmo, Islã, Igreja Ortodoxa, religiões orientais e a Comunhão Anglicana. Foi um dos líderes que mais viajaram na história, tendo visitado 129 países durante o seu pontificado.

É um mês cheio de santos que nos inspiram e mostram que a santidade é possível para todos, não porque sejamos bons, mas porque Deus é bom e nos dá as graças necessárias para que sejamos santos. Que cada um de nós se comprometa, de verdade, com o ideal da santidade, pois todos são convidados a isso.

ISF 

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Como fazer para salvar os filhos das armadilhas da Rede?



 
É correto proibir totalmente o uso da rede, ou seria sensato definir uma fronteira de fruição?
 
Por Osvaldo Rinaldi

A rede hoje é algo "natural" para as novas gerações. Há um número crescente de nativos digitais e, consequentemente, torna-se cada vez maior o número de crianças e adolescentes que utilizam os novos meios de comunicação. Então, um dever colocar certas perguntas: é correto proibir totalmente o uso da rede, ou seria sensato definir uma fronteira de fruição?

É óbvio que não é possível, e não seria nem sequer correto proibir totalmente o uso da rede, mas é necessário colocar alguns limites, para evitar expor as novas gerações a perigos e armadilhas que constituem uma séria ameaça para as suas vidas.

Por esta razão, um dos deveres de um pai com os filhos é a educação na utilização da rede. A primeira forma de educação é a do exemplo e testemunho pessoal. Como um pai pode dizer ao seu filho para não usar muito as redes sociais, quando ele, em vez de ficar perto de seu filho para ajudá-lo com a lição de casa, está no sofá lendo informações de seu interesse em algum site?  

Dados estatísticos mostram que os pais, mesmo que não pertençam à geração de nativos digitais, estão cada vez mais atraídos pelas seduções da rede. Em média, um pai e uma mãe consideram tablets e smartphones ferramentas indispensáveis ​​para a vida, a tal ponto de considerá-las essenciais também para os seus filhos. 

Os tablets, os smartphones são considerados meios primários de comunicação, quase que comparados aos nossos órgãos sensitivos e comunicativos. Estamos testemunhando o fenômeno da conaturalidade do meio, considerado quase como um "órgão biônico" integrado na nossa pessoa, com a função específica de anexar o mundo exterior virtual com a realidade biológica. 

Esta tese se demonstra quando se permanece por alguns dias sem um aparelho que me conecte a internet, ou quando a conexão à rede não está disponível por várias razões, surge um sentimento de mutilação, que falta algo de importante e vital. 

A rede deveria ser usada para comunicações curtas, que excluem a esfera privada e afetiva, porque o coração da comunicação não é só a mensagem, mas o sentimento, o transporte e a modalidade de como se expressam os próprios pensamentos.

O acompanhamento na utilização da rede é a forma dos pais permanecerem próximos do seu filho. Dado que a rede é algo virtual, o acompanhamento deve se traduzir em permanecer, por breves, mas frequentes, momentos do dia, fisicamente ao lado do filho para verificar, sem ser muito invasivo, se ele está seguindo as sugestões dadas.

Precisamente por este motivo, os pais, que se preocupam com o destino de seus filhos, não têm vergonha e deixam de usar os "parent control” (controle dos pais), tanto para bloquear o acesso a certos tipos de sites, quanto para receber diariamente os informes diários sobre o uso dos aplicativos utilizados e por quanto tempo.

Quando a tecnologia coloca um limite e controle na sua utilização, repara todas as vezes que responsabiliza muito o usuário da rede, que, se for menor de idade, é provável que seja imaturo e despreparado para entender as consequências de suas ações.

Mesmo que as escolhas sejam feitas virtualmente, através de uma tela, as consequências têm impactos sobre a alma de quem as faz. E, infelizmente, vemos que o meio virtual é muitas vezes o princípio da fraude, do engano, e permite entrar em contato com pessoas indesejadas. 

Livrar as crianças das armadilhas insidiosas da rede é parte integrante da missão educativa dos pais. Este é um dos temas que deveria ser incluído nos cursos de preparação ao sacramento do matrimônio e deveria se tornar frequentes argumentos de congressos nas paróquias.