sexta-feira, 27 de março de 2015

Domingo de Ramos: o portal da Semana Santa


O Domingo de Ramos é o grande portal de entrada na Semana Santa, a semana em que o Senhor Jesus caminha até ao ponto culminante da sua existência terrena. Ele sobe a Jerusalém para dar pleno cumprimento às Escrituras e ser pregado no lenho da cruz, o trono donde reinará para sempre, atraindo a Si a humanidade de todos os tempos e oferecendo a todos o dom da redenção. Sabemos, pelos Evangelhos, que Jesus Se encaminhara para Jerusalém juntamente com os Doze e que, pouco a pouco, se foi unindo a eles uma multidão cada vez maior de peregrinos. São Marcos refere que, já à saída de Jericó, havia uma «grande multidão» que seguia Jesus (cf. 10, 46).

Jesus chega a Jerusalém vindo de Betfagé e do Monte das Oliveiras, isto é, seguindo a estrada por onde deveria vir o Messias. De Betfagé, Ele envia à sua frente dois discípulos, com a ordem de Lhe trazerem um jumentinho que encontrarão no caminho. De fato encontram o jumentinho, soltam-no e levam-no a Jesus. Naquele momento, o entusiasmo apodera-se dos discípulos e também dos outros peregrinos: pegam nos seus mantos e colocam-nos uns sobre o jumentinho e outros estendidos no caminho por onde Jesus passa montado no jumento. Depois cortam ramos das árvores e começam a apregoar expressões do Salmo 118, antigas palavras de bênção dos peregrinos que, naquele contexto, se tornam uma proclamação messiânica: «Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem, o reino de nosso pai David! Hosana no mais alto dos céus!» (vv. 9-10). Esta aclamação festiva, transmitida pelos quatro evangelistas, é um brado de bênção, um hino de exultação: exprime a convicção unânime de que, em Jesus, Deus visitou o seu povo e que o Messias ansiado finalmente chegou. E todos permanecem lá, numa crescente expectativa da ação que Cristo realizará quando entrar na sua cidade.
 

Voltando à passagem do Evangelho de hoje, perguntemo-nos: Que pensavam, realmente, em seus corações aqueles que aclamam Cristo como Rei de Israel? Certamente tinham a sua idéia própria do Messias, uma idéia do modo como devia agir o Rei prometido pelos profetas e há muito esperado. Não foi por acaso que a multidão em Jerusalém, poucos dias depois, em vez de aclamar Jesus, grita para Pilatos: «Crucifica-O!», enquanto os próprios discípulos e os outros que O tinham visto e ouvido ficam mudos e confusos. Na realidade, a maioria ficara desapontada com o modo escolhido por Jesus para Se apresentar como Messias e Rei de Israel. É precisamente aqui que se situa o ponto fulcral da festa de hoje, mesmo para nós. Para nós, quem é Jesus de Nazaré? Que idéia temos do Messias, que idéia temos de Deus? Esta é uma questão crucial, que não podemos evitar, até porque, precisamente nesta semana, somos chamados a seguir o nosso Rei que escolhe a cruz como trono; somos chamados a seguir um Messias que não nos garante uma felicidade terrena fácil, mas a felicidade do céu, a bem-aventurança de Deus. Por isso devemos perguntar-nos: Quais são as nossas reais expectativas? Quais são os desejos mais profundos que nos animaram a vir aqui, hoje, celebrar o Domingo de Ramos e iniciar a Semana Santa?


Queridos irmãos e irmãs, dois sentimentos nos animem particularmente nestes dias: o louvor, como fizeram aqueles que acolheram Jesus em Jerusalém com o seu «Hosana»; e a gratidão, porque, nesta Semana Santa, o Senhor Jesus renovará o dom maior que se possa imaginar: dar-nos-á a sua vida, o seu corpo e o seu sangue, o seu amor. Mas um dom assim tão grande exige que o retribuamos adequadamente, ou seja, com o dom de nós mesmos, do nosso tempo, da nossa oração, do nosso viver em profunda comunhão de amor com Cristo que sofre, morre e ressuscita por nós. Os antigos Padres da Igreja viram um símbolo de tudo isso num gesto das pessoas que acompanhavam Jesus na sua entrada em Jerusalém: o gesto de estender os mantos diante do Senhor. O que devemos estender diante de Cristo – diziam os Padres - é a nossa vida, ou seja, a nós mesmos, em sinal de gratidão e adoração. Para concluir, escutemos o que diz um desses antigos Padres, Santo André, Bispo de Creta: «Em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de arbustos que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa perdem o seu vigor, prostremo-nos nós mesmos aos pés de Cristo, revestidos da sua graça, ou melhor, revestidos d’Ele mesmo (…); sejamos como mantos estendidos a seus pés (…), para oferecermos ao vencedor da morte não já ramos de palmeira, mas os troféus da sua vitória. Agitando os ramos espirituais da alma, aclamemo-Lo todos os dias, juntamente com as crianças, dizendo estas santas palavras: “Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel”» (PG 97, 994). Amém!

Trechos da Homilia do Papa Bento XVI, proferida na Praça de São Pedro, no Domingo de Ramos de 2012.

segunda-feira, 23 de março de 2015

V Domingo da Quaresma: morrer para viver





Naquele tempo, alguns gregos que tinha vindo a Jerusalém para adorar nos dias da festa foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe este pedido: «Senhor, nós queríamos ver Jesus». Filipe foi dizê-lo a André; e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus. Jesus respondeu-lhes: «Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me quiser servir, que Me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. E se alguém Me servir, meu Pai o honrará. Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de dizer? Pai, salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora.Pai, glorifica o teu nome». (Jo 12,20-33)

Neste Quinto Domingo da Quaresma, a curiosidade dos gregos em conhecer Jesus marca o tom do Evangelho. Os discípulos vão até Jesus para que Ele os oriente como devem responder aos inquisitores, e aí vem-nos a essência daquilo que representa o discipulado. 

O texto abaixo é uma leitura do Pe. Carlo Battistoni   sobre esta passagem do Evangelho:

"Jesus não dá uma solução “simplória”, “barata”, fácil e idealista. Jesus fala de vida e de como viver a vida. De algum modo Ele indica o “preço” que é preciso pagar para conhecer realmente quem é Jesus e “ver” de fato, realmente o que está Nele. Ao contrário de qualquer ideologia, até ideologia religiosa, a fé em Cristo é “visível”, isto é, irradia-se por si própria e contagia as pessoas que vêem o cristão autêntico. Logo o apelo que Jesus faz aos discípulos pode-se resumir em poucas palavras: “Não digam nada sobre mim, me sigam e isso falará por si próprio”. Assim como Jesus é a glória do Pai, também na vida dos discípulos o Senhor será glorificado, isto é, manifestado em toda a sua beleza aos homens: «Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado». Glorificado pelo Pai, que reconhece o Seu amor fiel até o fim e glorificado pelos cristãos que, com as suas atitudes de fidelidade (seguir), dirão ao mundo qual é o verdadeiro rosto de Jesus, dirão “quem” Ele é. 

Seguir a Jesus é “servir a Jesus”; é com esse amor que Ele deseja ser amado, porque o amor real é fiel e irreversível; a cruz mostrará a irreversibilidade do amor o qual não volta atrás, não abandona, não desiste porque é regido por um laço que é mais que humano, é divino, já que o Amor é a essência de Deus. Mas como conhecer a Jesus se não formos capazes de seguir o caminho que Ele escolheu?

O Evangelista nos mostra um lado profundamente humano de Jesus; ele não é um exaltado estóico, que desdenha o medo e o sufoca com um alucinado fervor religioso (como acontece com aqueles que se iludem de agradar a Deus provocando a morte com o próprio suicídio...). Jesus é um homem que ama a vida. Ele mesmo é a Vida. Por isso confessa a sua apreensão diante da morte, pois nenhum homem é feito para a morte; ela é tolerada, sim, mas não consegue ser integrada com os impulsos vitais que nos movem a cada dia. Nem o homem é feito para a morte, nem a morte é para o homem. 
 
Por outro lado Jesus se compara com o grão de trigo. Isso obviamente não é para enaltecer a “morte”, mas para indicar que, muitas vezes, é quando morremos a várias coisas da nossa vida, dos nossos projetos; quando morremos ao nosso “eu” que deseja sempre triunfo e sucesso... É então que, de dentro de nós, se libera toda a potencialidade de vida, assim como acontece com a semente. Quando aprendemos a perder coisas, convicções, certezas, vêem à tona recursos que sequer imaginaríamos de ter na nossa vida. Quando deixamos “morrer” aquilo que nos deixaria “sozinhos” («resta só...» diz Jesus),  nos deixaria “apenas o que somos agora”... Pois então, será naquele mesmo momento que toda a vida que Deus colocou em nós encontrará a sua explosão.

"Onde eu estou, estareis também vós..."; o caminho da profunda comunhão com Jesus não passa pelo triunfo e sucesso, passa pela perda, perda em nome do amor, perda que se transforma em riqueza de vida para muitos, para «todos» dirá Jesus. 
 
Será ainda necessário nos perguntar: “onde está Jesus?”. Ainda que fosse necessário, a resposta que pode convencer “gregos” que buscam a verdade definitiva, é apenas uma: onde se ama sem condições, de modo visível e objetivo. O discípulo poderá “servir” a Jesus oferecendo a si mesmo como o “lugar” onde poderá tornar-se visível a qualidade do amor do Filho do homem".

segunda-feira, 16 de março de 2015

IV Domingo da Quaresma: luz ou trevas?



“O julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. Quem pratica o mal, tem ódio da luz, e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam desmascaradas. Mas, quem age conforme a verdade se aproxima da luz, para que suas ações sejam vistas, porque são feitas como Deus quer”.
(Jo 3,19-21)

O juízo particular e o juízo universal são questões espinhosas e desconfortáveis para todo ser humano. Sabemos que após a morte seremos confrontados com Cristo (juízo particular), e nossa vida passará pelo crivo do padrão da vida humana de Jesus. Ele é o modelo perfeito de santidade que é proposto pela Igreja, e através do qual nosso futuro eterno é definido.

Já no juízo universal todas as ações de todos os seres humanos nascidos e conscientes de seus atos serão reveladas. Não haverá uma boa ação desconhecida, nem maldade ou má intenção que passe despercebida por todos os seres humanos de todos os tempos, ali presentes diante de Deus. Tudo virá à tona, tudo!

No Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 678, lê-se: “Jesus anunciou em sua pregação o Juízo do Último Dia. Então será revelada a conduta de cada um e o segredo dos corações. Será também condenada a incredulidade culpada que fez pouco caso da graça oferecida por Deus. A atitude em relação ao próximo revelará o acolhimento ou a recusa da graça e do amor divino”. Contudo, ainda no Catecismo no parágrafo 1023, “os que morrem na graça e na amizade de Deus, e que estão totalmente purificados, vivem para sempre com Cristo...o céu é a comunidade bem aventurada de todos os que estão perfeitamente incorporados a Ele".

Este quarto domingo da quaresma confronta luz e trevas, o bem e o mal. Segundo o evangelho de São João, capítulo 14, versículo 6, Jesus afirma: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Quem não se aproxima da luz - Cristo - corre o risco de se condenar e de passar a eternidade na escuridão, na completa ausência do amor, a mesma escolha de satanás, o príncipe das trevas. Mas, para aqueles que agem segundo a verdade, que é Cristo, a  esperança de uma eternidade de luz e de amor é fonte de renovação que norteia os passos de cada dia.

Portanto, este julgamento já está acontecendo. Ele está se realizando agora, no instante em que me decido acolher ou não a proposta de vida de Cristo, que diz a Felipe “...quem me vê a mim, vê o Pai” (Jo 14,9).

A caminhada de todo homem é mesclada de luz e trevas. Somos fracos e insuficientes, e precisamos da luz de Cristo para não nos perdermos no caminho. Ele, porém está conosco, caminha ao nosso lado. Ele está na Igreja, nos sacramentos, no tempo privilegiado que nos proporciona a oração, no amor e na bondade que se recebe e que se dá na vida. Ele é a origem e a fonte de todo o bem. O que Ele nos propõe, Ele mesmo se encarrega de nos dar as graças para que o realizemos, conforme nossos esforços pessoais que não são facultativos. O que nos impede de segui-Lo? O que realmente nos atrasa no caminho?

Luz ou trevas, benção ou maldição? A decisão está em suas mãos!

ISF
   

segunda-feira, 9 de março de 2015

III Domingo da Quaresma : o lucro vazio


Na primeira leitura da missa deste III Domingo da Quaresma ( Êxodo, 20, 1-17), Deus se manifesta como o único Deus e Senhor do universo, um Deus ciumento que procura, através de seus mandamentos, nortear para o bem e para a felicidade a vida de suas criaturas. Não se tratam de restrições, mas de um plano de proteção e de vida para o homem.

Quando adquirimos qualquer eletrodoméstico, junto com o produto embalado recebemos um manual de instruções, onde teremos orientação para usá-lo adequadamente, porque se não o fizermos perdemos a garantia do produto. Assim Deus também se dirige ao seu povo, com diretrizes que têm o objetivo de permitir ao homem passar por esta vida sem grandes arrependimentos por não ter dado crédito ao nosso Criador.

Certamente já experimentamos o gosto amargo do rompimento com Deus pelo pecado, seja pelo venial ou pelo mortal. Através de um ato livre de nossa vontade resolvemos saber qual o gosto do fruto da árvore proibida... Ele parecia tão bom e apetitoso...  Mas em um determinado momento aquela aparência irresistível do fruto proibido se desfez, e restou apenas uma enorme sensação de se ter sido ludibriado, enganado.

Em contra partida, com quanta paz e serenidade caminham por esta vida aqueles que se colocam a ouvir continuamente a voz da consciência, e buscam tudo o que é verdadeiro, santo e justo. Ainda existe o pecado neles, porque esta é a nossa condição nesta vida. Mas contam com a Palavra de Deus para orientá-los, com os sacramentos para purificá-los e sustentá-los, e com a tranquilidade de saber que nestes casos a queda é por fraqueza, não por “surdez da alma”.

No Evangelho, Jesus expulsa os vendilhões do templo. Ele faz uso de chicotes, e aos brados coloca todos para fora exclamando: “Não façais da casa de meu pai, uma casa de comércio”. O que Jesus quer nos ensinar com sua atitude? Que não se pode desvirtuar o sentido do sagrado.

A casa de Deus é lugar de oração, de encontro com Deus. Ali é o lugar privilegiado onde Deus habita, onde se faz pão para os famintos e água para os sedentos. Ali recebemos os Sacramentos que nos acompanham pela vida.

A ira de Jesus acontece, porque o povo que ali fazia comércio se desviara do verdadeiro motivo que os deviria manter lá: Deus. Assim, confrontando as duas leituras, a primeira e o Evangelho, é possível compreender o que acontece quando não colocamos em prática aquilo a que Deus nos exorta: nós O perdemos de vista, e corremos o risco de ver a nossa vida ameaçada em sua primordial finalidade, que é a salvação eterna. Passamos a pensar só naquilo que nos proporciona uma satisfação imediata, e nos tornamos incapazes de considerar o bem comum, o que agrega valor também ao outro. E falando sério, não é possível ser feliz assim.

Seria bom se fizéssemos um exame de consciência que tornasse claro para nós, onde estamos desvirtuando a vontade de Deus em nossa vida. Onde trocamos a vontade de Deus por uma barraca de comércio, onde o que conta é só o que vamos lucrar.

ISF

quarta-feira, 4 de março de 2015

Onde não se honra os idosos, não há futuro para os jovens, exorta o Papa




Seguindo a catequese sobre a família, o Papa Francisco fala sobre o abandono, a dor e a cultura do desprezo e da indiferença contra os idosos.

Hoje, quarta-feira, 4, na cidade do Vaticano, como de costume, o Papa Francisco saudou o milhares de fiéis que compareceram à praça de São Pedro para a catequese. Conforme havia proposto, o Sumo Pontífice prosseguiu a sua catequese sobre a família. Desta vez dirigindo a sua reflexão a idade mais avançada, aos avós. Nisto, o Papa reforçou o convite ao cuidado com os idosos. O Papa destacou os problemas sociais que os idosos enfrentam no cotidiano de nossa sociedade. Recordou que com o avanço da medicina, a vida tornou-se mais longa. Contudo, a sociedade não se preparou para acolher esta longevidade. “A vida se alongou, mas o mesmo não aconteceu com a sociedade, que não se ‘alargou’ à vida e não se organizou de maneira suficiente para acolhê-los. Eles são uma riqueza, não podem ser ignorados”, exortou o Santo Padre.

E, citanto o seu antecessor, o Papa Bento XVI, afirmou que é possível julgar uma sociedade pela valorização oferecida aos seus idosos, como eles são tratados. “De fato, a atenção aos anciãos faz a diferença de uma civilização. Uma sociedade que os descarta, carrega consigo o vírus da morte”, disse.

O Papa fez menção aos estudiosos que consideram este século como o século do envelhecimento, onde os filhos diminuem e os idosos aumentam. Para Francisco, este desequilíbrio é o motor de um desafio, já que a cultura do lucro apresenta os idosos como um peso. É um pecado descartar o ser humano, mesmo em sua idade senil.

“Não se ousa dizer abertamente, mas os idosos são descartados! Isso é pecado! Há algo de vil nesta dependência à cultura do descartável. Com a intenção de remover o medo que sentimos da fraqueza e da vulnerabilidade, aumentamos nos anciãos a angústia de ser mal suportados e abandonados”, acrescentou.

Como exemplo, o Pontífice contou um pouco da sua experiência em Buenos Aires, quando teve a oportunidade de ver a realidade em que os idosos não são apenas abandonados na precariedade material, mas, também, na egoísta incapacidade que muitos têm de aceitar os limites do outro que refletem os nossos próprios limites. É uma analogia, feita por Francisco, para dizer que nós também chegaremos a isto. Ele ainda citou o caso de uma idosa, que conheceu num asilo, e que não recebia a visita do filho há oito meses. “Isso é pecado mortal!”, repreendeu.

A Igreja, em sua tradição, sempre teve o cuidado com os idosos e não pode se conformar com a mentalidade desprezo e com a indiferença direcionadas a eles.

O Papa afirma que os anciãos são homens e mulheres, pais e mães que percorreram antes de nós a mesma estrada. O idoso não é um alienígena. Nós também o somos, já que um dia envelherceremos e inevitavelmente estaremos na mesma condição. Por isso, diante dos idosos mais frágeis, marcados pela solidão e pela doença, o Papa questiona: “Daremos um passo atrás, os abandonaremos a seu destino?”. E conclui:

“Uma sociedade, onde a gratuidade e o afeto desinteressado vão desaparecendo, mesmo para com os de fora da família, é uma sociedade perversa. A Igreja, fiel à Palavra de Deus, não pode tolerar tais degenerações. Onde não se honra os idosos, não há futuro para os jovens”.

Esta foi uma das duas catequeses sobre os idosos oferecida por Francisco aos fiéis na praça de São Pedro, a segunda catequese será na próxima semana, na qual o Papa refletirá sobre a vocação dos idosos.

Fonte Zenit

domingo, 1 de março de 2015

II Domingo da Quaresma: a Transfiguração



 A Transfiguração de Jesus é uma luz que ilumina os três discípulos convidados pelo Mestre a rezarem com Ele no Monte Tabor.

Jesus sabia o que o aguardava: a dolorosíssima paixão e morte de cruz. Também sabia da fragilidade que permeava a alma de seus discípulos, ainda tão incipientes na fé. Por isso os fez presenciar um momento de sua glória.

Ali, no Tabor, segundo o Evangelho de São Lucas, Moisés e Elias conversam com Jesus sobre o êxodo pelo qual Jesus passaria em Jerusalém , ou seja, toda a dor e sofrimento que marcariam sua volta para o Pai.

Esta visão testemunha aos discípulos que tanto Moisés quanto Elias estão vivos. Torna evidente também que Jesus tem acesso ao lugar ao qual pertencem os profetas: a eternidade. Isso fica claro, também, pela a voz de Deus que surge de uma nuvem luminosa, de onde O declara seu Filho amado, que deve ser ouvido. Jesus, portanto, à partir da Transfiguração, pode ser identificado como o Messias, o Salvador esperado por Israel.

Moisés e Elias, os grandes profetas do Antigo Testamento, representam ali toda a espera que antecedeu a Encarnação de Jesus. A Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, completam o plano salvífico de Deus para a humanidade. 

Com que gratidão devemos olhar para a Transfiguração do Senhor percebendo toda a preocupação do Mestre em não deixar seus discípulos sem esta experiência mística do  Seu poder e da majestade.

Hoje, usamos muitas vezes a expressão "estar no Tabor", para designar aquele tempo de paz e reparação das forças e da fé, onde Deus nos acolhe e nos abraça dando-nos a certeza de que não estamos sós.

"É bom estarmos aqui", diz Pedro a Jesus no episódio da Transfiguração... Esta experiência, contudo, não é privilégio dos três discípulos, Pedro, Tiago e João. Todos nós podemos vivê-la de uma certa forma. Quando visitamos o Santíssimo Sacramento encerrado numa igreja ou capela, podemos viver a experiência deste tempo privilegiado.
Lá o Senhor nos espera dia e noite para poder "transfigurar" nossos sofrimentos, angústias e aflições em confiança, entrega e serenidade diante daquilo que nos faz sofrer. Lá Ele nos aguarda também, para receber a nossa gratidão por tudo de bom que Ele fez, e faz em nosso favor. Aliás, é esta atitude que mais nos falta : a ação de graças.

A oração tem este poder de nos colocar em sintonia direta com a Santíssima Trindade, com o ceú. Por isso, viver a experiência do "Tabor" é uma escolha. Posso continuar minha vida culpando os governantes, o sistema econômico do país, a falta de chuva, ou o seu excesso, e outras tantas situações que complicam minha vida, ou posso partilhá-las com Jesus, que dará sentido sobrenatural a tudo aquilo que me acontece. Aí sim, repetirei com Pedro: "Senhor é bom estar aqui!".

ISF