quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Papa Francisco: São José, um homem que sonha

Sonhos de São José – Wikipédia, a enciclopédia livre

Na sequência da catequese sobre São José, que o Papa realiza nas audiências gerais às quartas-feiras, hoje Francisco falou das comunicações de Deus a São José em sonhos, algo que tem sido muito destacado pela iconografia cristã.

Foi lido o trecho de São Mateus em que o Anjo do Senhor diz ao Patriarca em sonho que volte do Egito para Israel com a Sagrada Família, pois aqueles que queriam matar o Menino já haviam morrido. Então eles voltaram para Nazaré.

O sonho, um símbolo da vida interior

Nas culturas dos povos antigos, “os sonhos eram considerados um meio pelo qual Deus se revelava”, disse Francisco. “O sonho simboliza a vida espiritual de cada um de nós, aquele espaço interior que cada um é chamado a cultivar e a proteger, onde Deus se manifesta e muitas vezes nos fala”.

“Mas também devemos dizer que dentro de cada um de nós não há apenas a voz de Deus: há muitas outras vozes. Por exemplo, as vozes de nossos medos, das experiências passadas, das esperanças; e há também a voz do maligno que quer nos enganar e confundir”.

“Portanto, é importante ser capaz de reconhecer a voz de Deus no meio de outras vozes”. Nesse sentido, “José demonstra que sabe cultivar o silêncio necessário e, sobretudo, tomar as decisões justas diante da Palavra que o Senhor lhe dirige interiormente”, explicou o Pontífice.

Uma escola para aprender a atender a voz de Deus

O Papa convidou a meditar nos quatro sonhos que o Evangelho mostra São José como protagonista, para entender como deve ser nossa resposta “diante da revelação de Deus”.

“Queridos irmãos e irmãs, o Senhor nunca permite um problema sem também nos dar a ajuda necessária para enfrentá-lo. Ele não nos joga ali no forno sozinhos. Ele não nos lança no meio dos animais ferozes. Não. Quando o Senhor nos mostra um problema ou nos revela um problema, Ele sempre nos dá a intuição, a ajuda, sua presença para sair dele, para resolvê-lo”.

“Na vida experimentamos perigos que ameaçam nossa existência ou a de quem amamos. Nessas situações, rezar significa escutar a voz que pode fazer nascer em nós a mesma coragem de José para enfrentar as dificuldades sem sucumbir”.

Francisco sublinhou que “o medo também faz parte da vida e também precisa da nossa oração. Deus não nos promete que nunca teremos medo, mas que, com sua ajuda, o medo não será o critério de nossas decisões. José experimenta o medo, mas Deus o guia também. O poder da oração ilumina as situações sombrias.”

O Papa convidou a rezar por aqueles que sofrem e não têm consciência do poder da esperança e da oração. Ele pediu que se invocasse São José para ajudá-los a “abrir-se ao diálogo com Deus, a redescobrir a luz, a força e a ajuda”. Exortou também a encomendarmo-nos a São José e à sua intercessão.

Com informações Vatican News

 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

O pai da mentira

Quem esmaga a cabeça da serpente em Gênesis 3,15? - Apologista Católicos 

Eis um título que ninguém parece querer assumir e que, no entanto, se ajusta perfeitamente a muitos e muitos que, nos últimos tempos, irradiam mentiras. Mais propriamente esses não são pais, e, sim, filhos do pai da mentira.

O dono do título está claramente identificado desde sempre. Não está submetido ao tempo, tampouco ao espaço. Simplesmente atua. 

O que quer, afinal, ao espalhar tanta mentira? Confundir, criar oposições, desagregar. Inaceitável para ele é a paz social; a concórdia; a harmonia. Embora esse sujeito, como dito acima, não está no tempo nem no espaço, lá onde estejam presentes esses valores ele não quer ficar. Prefere ser lançado ao abismo configurado em manada de porcos, que bem aqui representam o símbolo da impureza, da sujidade e de tudo o que repugna aos que apreciam e almejam viver em paz.

Estamos, é certo, diante de grave problema. Recebemos, cotidianamente, centenas de milhares de mentiras. Chegam, por vezes, com anônimo “encaminhado”. E, desgraçadamente, cada vez que retransmitimos essas mentiras, assumimos a filiação daquele sujeito. 

Temos, pois, dois deveres graves. O primeiro é o de nos recusarmos cabalmente a atuar como correias de transmissão de mentiras. Vai dar trabalho, pois só poderemos reenviar matérias que tenham sido submetidas ao crivo elementar da verdade. E se não for possível a verificação? Há um clique rápido a ser utilizado. O ícone o define com propriedade: é a lata de lixo. O segundo dever grave e esse, seguramente, é de maior gravidade do que o primeiro, consiste no dever de alertarmos a quem nos enviou a mentira, vale dizer, se fez portador do lixo. Praticaremos, nada mais nada menos, do que a obra de misericórdia da correção fraterna.    

Não será tarefa fácil essa. Deveremos exercê-la, porém, com o destemor assinalado por Santa Teresa de Jesus: “Custe o que custar, murmure quem murmurar, quer chegue ao fim quer morra no caminho…”

Por que esse encargo será tão custoso? É que o pai do mentiroso o fará se convencer que nós não somos amigos dele. Quem somos nós para corrigi-lo? E acabará caindo na artimanha de considerar que não somos pessoas de bem. 

Mas, fique bem claro: não podemos servir a dois senhores. O Senhor a quem queremos servir se define com precisão: Eu sou a verdade!

Neste momento, força reconhecer, o pai da mentira e seus sequazes atuam em diversos lugares e em diversos momentos. Seu nome? Legião. 

Para vencermos a hoste mentirosa, só contamos com a Verdade, que opera como instância libertadora e que tem um Nome. Entretanto, a inscrição nas suas fileiras exige que deixemos de lado os respeitos humanos. 

Não fiquemos de fora desse combate; o bom combate! Não nos quedemos à beira do caminho, enquanto assistimos o derruir de pessoas e de instituições!

Não tenhamos medo, disse São João Paulo II aos 22 de outubro de 1978, bem no início de seu pontificado. A Verdade e seu Senhor estão do nosso lado. 

Wagner Balera é professor titular de Direitos Humanos na Faculdade de Direito da PUC-SP e conselheiro do Núcleo Fé e Cultura mesma instituição.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Amizade Social

Vós sois todos irmãos - A12.com

“Todos irmãos”, diz o Papa Francisco e anuncia no subtítulo que abordará um tema sobre relacionamento universal: amizade social. Como fez na Laudato si’, novamente cita São Francisco de Assis e seu convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço: “Feliz quem ama o outro”. Daí, amizade social, já que sem-fronteiras, que vai além de um relacionamento fechado em grupo, clã ou pessoas da mesma origem ou classe, como ficou marcado na cultura do pensamento positivista.

Francisco exemplifica o que entende por amizade social: livres relações internacionais, unidade das nações, necessidade de agir e sonhar coletivamente, com visão solidária e abertura aos interesses de todos, e que os poderes econômicos estejam voltados ao interesse do bem comum. Enfatiza que não devemos aceitar convites para ignorar a história ou deixar de lado a experiência dos mais velhos, pois estas “são as novas formas de colonização cultural” (cf. FT, 13-14).

Fundamental a descrição que faz o documento ao retratar algumas formas de dominação, tais como: “semear o desânimo”, “despertar desconfiança constante, mesmo disfarçada por detrás da defesa de alguns valores”, “a polarização”, “recorrer à estratégia de ridicularizar”, “insinuar suspeitas”. Francisco considera isso um jogo mesquinho, que não acolhe a verdade e empobrece a sociedade, ficando-se à mercê da “prepotência do mais forte”. Lembra que a política deve ser um “debate saudável sobre projetos a longo prazo para o desenvolvimento de todos e o bem comum” (FT, 15). Jogar todos contra todos e contra tudo é uma maneira de dominação, pois deixa a população confusa e sem condições de avaliar os valores que estãos sendo colocados em prática por quem governa (cf. FT, 16).

Para Francisco, a amizade social deve incluir os mais frágeis, os mais pobres e respeitar as diferenças culturais, aproximando, ouvindo, no esforço de procurar pontos de unidade, para dialogar e aprender a ouvir: “Para nos encontrar e ajudar mutuamente, precisamos dialogar” (cf. FT, 198).

Neste momento de pandemia, isto deveria refletir principalmente na disponibilização de vacina para todos os povos, sem deixar de lado as nações pobres e sem recursos. Amar a todos, amar o irmão sem excluir ninguém; agir coletivamente com ações de solidariedade em busca do bem comum e considerar que a unidade não é utopia, mas realidade a ser alcançada.

Esta é a proposta de amizade social do Papa Francisco: “Para atingir uma unidade multiforme que gera nova vida”, sendo este “um princípio que é indispensável para construir a amizade social: a unidade é superior ao conflito” (cf. FT, 245).

Luiz Antonio Araujo Pierre é membro do Movimento dos Focolares, professor e advogado. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pós-graduado em Gestão de Pessoas e especialista em Direito do Trabalho