segunda-feira, 29 de março de 2021

Como me preparar para a Semana Santa

Semana Santa: símbolos e significados

A Semana Santa a época em que celebramos o mistério central da nossa fé: a Paixão, Morte e Ressurreição do Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, devemos nos preparar bem para viver esses dias de maneira intensa, com inteireza, com todo o nosso coração.

A seguir 5 dicas de como se preparar para a Semana Santa:

1 – Um bom exame de consciência, seguido de uma boa confissão

Vale a pena chegarmos a esta Semana Santa em estado de graça a fim de que as bênçãos que Deus venha derramar em nós, encontrem terreno fértil no nosso interior e gerem frutos de santidade. Por isso, façamos um bom exame de consciência e procuremos a confissão.

2 –  O cultivo do silêncio exterior 


O silêncio desde cedo foi compreendido como necessário para escutar a voz de Deus. Por isso, nos dias que antecedem o mistério pascal, convém procurar nos preservar do barulho que pode nos dispersar da contemplação do mistério. Isto diz respeito a músicas, filmes e conversas. Atenção, isso não quer dizer nos abster totalmente disso, mas de privilegiar aquilo que nos leva à oração (ex: músicas católicas, filmes de santo, escutar homilias ou pregações sobre o assunto, etc.). O silêncio exterior nos ajudará a alcançar o silêncio interior, nos permitindo pôr os nossos pensamentos, gestos, sentimentos em Deus e no mistério da Semana Santa.

3 – A meditação dos mistérios da paixão ou via-sacra 

Uma prática muito salutar para este tempo é a meditação do mistério da Paixão de Jesus através da leitura orante dos Evangelhos e da contemplação das estações da Via Sacra. Acompanhar o Senhor no caminho da oferta dolorosa de si por amor a nós é grande preparação para celebrar o mistério pascal.

4 – Contemplação dos mistérios dolorosos do Rosário

De forma similar ao ponto anterior acontece quando contemplamos os mistérios dolorosos do Santo Rosário, com a grande distinção que, quando rezamos o terço, meditamos os mistérios da Paixão e Morte de Nosso Senhor junto com a Virgem Maria, aquela que permaneceu aos pés da Cruz (cf. Jo 19,25).

5 – Veneração de um crucifixo

A redenção do gênero humano deu-se pela oferta na cruz de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Este é mistério central da nossa fé e é isso que celebramos na Semana Santa. Recordamos esta inigualável prova de amor ao olhar para uma imagem de Cristo crucificado. Com efeito, para nós cristãos, um crucifixo é sinal de alegria, esperança e salvação. Por isso, para nos preparar para a celebração do mistério pascal, recomendamos colocar um crucifixo num local destacado na nossa casa, como um altar, e olhar para ele, recordando a amorosa oferta de Cristo por nós, e sendo levados à oração.

Que Deus nos conceda uma abençoada Semana Santa!

Juan Jose Léniz Ulloa 

domingo, 21 de março de 2021

V Domingo da Quaresma



“Queremos ver Jesus”… Em resposta ao pedido dos Gregos, Jesus anuncia a sua próxima “glorificação”, isto é, a sua morte. Estranha associação esta, da morte com a glória! Mas Jesus explica: “Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto”. Sabemos que, na realidade, o grão enterrado na terra sofre uma profunda transformação. O seu invólucro exterior deve rebentar e acabar por desaparecer para que o germe, até então escondido, possa crescer e produzir novos grãos. Na morte de Jesus acontece a “explosão” da Ressurreição. Os discípulos reconhecem em Jesus a presença imediata de Deus. Então, Ele será glorificado. A “glória” é o “peso”, no sentido de “densidade”, de um ser. A verdadeira glória, a verdadeira densidade do ser de Jesus, é que a sua humanidade é o lugar da encarnação do Filho eterno do Pai. Porque estamos ainda no tempo da germinação secreta, não vemos ainda esta glória do Senhor. Mas acolhendo o testemunho dos apóstolos que “comeram e beberam com Ele depois da sua ressurreição de entre os mortos”, podemos deixar-nos atrair por Jesus, acolher e ver “já” pela fé o seu mistério de glória, e testemunhar assim, no coração do mundo, que Ele, o Filho do homem, é verdadeiramente o Filho de Deus, vencedor da morte.

PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…

Redescobrir a “caridade”… A palavra “caridade”, por vezes, parece não ter muito sentido hoje, devido a deformações e incompreensões da própria palavra. A encíclica de Bento XVI “Deus é caridade” ajuda-nos a recuperar o seu sentido genuíno. É preciso redescobrir o verdadeiro sentido evangélico e amar os nossos irmãos: pela escuta, pelo serviço, pela partilha, pela atenção aos mais pobres!

P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

quinta-feira, 11 de março de 2021

Fabricação de bebês

Sergio Ricciuto Conte

Não muito tempo atrás, o ter uma criança era algo natural na sociedade. Apesar das preocupações e durezas de gestar e acompanhar uma criança, supunha-se que o ter filhos era um papel importante para a manutenção e o reavivamento da sociedade. Ademais, a criança vinha como uma graça, uma surpresa, em geral positiva. Aceitava-se a criança assim como a natureza a fornecia.

Mas uma rebelião silenciosa se instalou entre os adultos. Ter uma criança tornou-se uma questão de escolha, inclusive quanto ao genótipo do ser em questão. Duas notícias recentes reforçam esse viés narcisista de nossa geração. A primeira diz respeito a uma startup em Israel que desenvolveu uma tecnologia que torna a fertilização in vitro mais barata, segura e eficiente. Uma consequência dessa nova facilidade é que realizar uma fertilização deixa de ser a última opção de um casal que apresenta dificuldade de ter filhos, e passa a ser mais um procedimento rotineiro para quem quiser ter um bebê sob demanda, ajustado geneticamente de acordo com a preferência. Os outros embriões são descartados por serem “menos viáveis”. É a reprodução por capricho, não só para um casal que só admite ter filhos se puder controlar a “qualidade de fábrica” deles, mas, também, mais uma possibilidade que mulheres deixem de se dar ao trabalho de se relacionar e amar um homem para ter seus próprios bebês. Além disso, como é quase senso comum hoje, ter um filho acaba se subordinando às demandas da carreira. Como diz a reportagem, como mais e mais mulheres atrasam o ter filhos devido ao estilo de vida e a busca de sucesso na carreira, a demanda pela In Vitro Fertilization (IVF) está aumentando e vai acelerar nos próximos anos. 

A outra notícia diz respeito a um holandês que já doou sêmen para mais de 200 mulheres, uma prática que levantou preocupações com casamentos consanguíneos. Entretanto, talvez a preocupação seja outra. Pessoas normais se relacionam com pessoas similares, gerando bebês normais, mas isso dá lugar agora a mulheres que procuram doadores que apresentam características ideais em uma sociedade de consumo, desacoplando as reações sexuais da procriação (como no “Admirável mundo novo”, de Aldous Huxley). Tanto na primeira matéria quanto na segunda, a palavra “casal” não surge, reforçando-se, assim, a impressão de um capricho para combater a solidão, como se fosse o mesmo que adotar um pet. 

Tanto no caso da IVF quanto no caso da doação, o que se tem efetivamente é uma forma de eugenia (ainda que todos digam que não), pura e simples.

É verdade que no passado já existiam situações diferenciadas daquilo que se considerava um padrão, mas hoje há uma recusa de qualquer padrão que seja. O bebê deixa de ser o fruto da relação de um casal e passa a ser uma entre outras comodities, passível de escolha como se faz, por exemplo, ao se mudar a decoração da casa. Não se “tem” mais crianças, agora elas são feitas. Há a urgência, portanto, de denunciar essa nova forma de eugenia, que infelizmente está se tornando o “novo normal”. 

Eduardo R. Cruz é professor titular do Departamento de Ciências da Religião da PUC-SP

quarta-feira, 3 de março de 2021