quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

A busca pela verdade e a conversão


Celebramos hoje a festa da Conversão do Apóstolo São Paulo. É um dia que nos faz refletir sobre a história que se transforma graças a mudança de vida das pessoas.

A extraordinária figura de São Paulo pode ser contemplada desde diversos ângulos. Meditar sobre sua conversão nos permite descobrir como foi possível que um homem com tanto ódio ao cristianismo pudesse se transformar no maior promotor da fé cristã. Existe um segredo na conversão de São Paulo que pode iluminar nossos passos rumo a nova evangelização. Que segredo é este?

Não há dúvidas de que ele era um escolhido por Deus. Sem a intervenção de Cristo derrubando-lhe por terra não seria possível que S. Paulo se levantasse um dia como o apóstolo dos gentios. Foi Cristo a dar o primeiro passo. No entanto, Cristo não força nossa inteligência e muito menos nossa vontade. O amor sem liberdade é escravidão, domínio e manipulação.

Existia em São Paulo uma condição de possibilidade para que Cristo agisse através do amor. Era necessário um terreno onde a semente da fé pudesse fazer brotar a graça da conversão e da adesão a Cristo. Refletir sobre o aspecto humano da conversão do apóstolo é desvendar um dos elementos importantes para que a mensagem de Cristo caia em solo fértil. Sobre que bases a graça pousou?

A resposta não pode ser outra: sua alma era dominada por uma sede insaciável de verdade. São Paulo era um fariseu zeloso, conhecia de memória a lei e a palavra. Na fé judaica via a verdade que preenchia seu coração, e por ela, era capaz de tudo. No entanto, a verdade de Paulo não era plena. Antes da conversão, Saulo “respirava ameaças de morte contra os discípulos do Senhor.” (Atos 9, 1). Seu ódio nascia do fato de que seu coração ainda estava insatisfeito, era consciente de que algo faltava.

Na fé, São Paulo descobre que a verdade é uma pessoa: Cristo. É quando sua vida se transforma e ele se converte aos desígnios do Senhor.

É na verdade que o apóstolo desvenda o profundo mistério da alegria e da felicidade plena. A fé em Cristo impede que a razão se feche e se reduza apenas a realidades empíricas. A fé abre a razão, enquanto a razão purifica a nossa vivência da fé de elementos que manchem o nome de Cristo. Podemos com nossa inteligência chegar a uma definição, contudo, a verdade plena não se reduz a um conceito. Só em Cristo encontramos “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).

É justamente no caminho de Damasco que Saulo se encontra com “o Caminho”. É respirando ameaças de morte que ele descobre “a Vida”. É na cegueira da luz terrena, que seu espírito se abre a plenitude “da Verdade”.

Sem o terreno fértil da verdade, seria muito difícil que Cristo conquistasse o coração de Saulo. É vendo em Cristo, como a verdade plena, que muitos filósofos se converteram a fé cristã. É buscando a verdade que Santo Agostinho foi conquistado por Cristo. É pela verdade que tantos consagrados e leigos desgastam a própria vida pelo bem da humanidade. A evangelização pela via da verdade é um elemento essencial para a conversão.

A grande crise que sofre a humanidade é uma “crise de verdade”. O relativismo, o materialismo e o hedonismo são formas de distrair o coração humano de sua sede incansável de infinito. Não podemos permitir que estes obstáculos invadam nossas vidas. Ao mesmo tempo, devemos ser conscientes de que é nesta cultura que devemos evangelizar. E só através da verdade unida a fé e ao amor é que poderemos um dia dizer como S. Paulo: “Já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim”. (Gal. 2,20).

Por isto, não tenhamos medo de conhecer nossa fé, de interrogar sobre as razões de nossa esperança. Mas, sobretudo, não tenhamos medo de deixar que Cristo entre em nossas vidas e mude nossos esquemas. Aproximem-se Cristo, deixem que a verdade plena de seu amor invada sua casa. Com certeza, a fé sairá fortalecida, pois - repetindo as palavras de Santa Catarina de Sena - “se sois o que deveis ser, incendiareis o mundo inteiro, porque o mundo tem necessidade de testemunhas”, testemunhas da Verdade.

† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Um homem comum, com esposa, filhos e… os estigmas da Paixão de Cristo!


Alguns santos puderam sentir literalmente em carne própria o sofrimento de Cristo na Cruz, como São Francisco de Assis, Santa Catarina de Siena e, mais perto da nossa época, o santo Padre Pio. Todos eles receberam o dom misterioso, doloroso e fascinante dos estigmas da Paixão.
Essa lista, porém, também traz um homem como nós: Irving “Francis” Houle, um pai de família dos Estados Unidos.
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Irving nasceu em 1925, numa família católica de sete filhos, que rezava o terço todos os dias durante a Quaresma e fazia a Via Crúcis todos os domingos depois da Missa. À parte a devota vida espiritual, sua vida era a típica classe média do meio-oeste americano.
O jovem se formou no ensino médio em 1944, em plena fúria da Segunda Guerra Mundial, e, no dia seguinte à formatura, entrou no exército. Foi servir na Europa, na África e no Oriente Médio. Recebeu medalhas de reconhecimento e boa conduta. Retornou à sua casa em 1946, já terminada a guerra.

Seguindo o exemplo paterno de coerência e espontaneidade com a própria identidade de jovem católico, Irving se casou com Gail LaChapelle em 1948. Tiveram cinco filhos: Stephen, Peter, John e os gêmeos Matthew e Margo. Enquanto trabalhava para criar a família no norte do Michigan, Irving continuou ativo como paroquiano e membro dos Cavaleiros de Colombo.

Ele tinha 67 anos quando, na Sexta-Feira Santa de 1993, os estigmas começaram a se manifestar. Irving contou a um de seus irmãos e ao padre Robert Fox que Jesus lhe aparecera na Quarta-Feira de Cinzas daquela mesma Quaresma e dissera:
“Estou tirando as tuas mãos e te dando as minhas… Toca-as”.
Na Sexta-Feira Santa, o inchaço que tinha ficado cada vez mais notável nas suas mãos se abriu e começou a sangrar.

Walter Casey, um policial aposentado a quem o bispo pedira que acompanhasse Irving em todos os momentos, explicou que, da meia-noite às 3 da manhã, durante 365 dias por ano, o amigo sofria as chagas da Paixão de Cristo. Irving chegou a lhe dizer que Nossa Senhora o tinha visitado 19 vezes e afirmado que traria muita gente até ele e o levaria também a muita gente.

Estima-se, de fato, que Irving tenha orado individualmente por mais de 100 mil pessoas – que iam até ele e esperavam horas para, entre lágrimas e choros de emoção, vê-lo, tocá-lo e beijar as suas mãos, que ele estendia sobre as pessoas por quem rezava.

Irving “Francis” Houle nunca buscou atenção pessoal, doações ou apoio financeiro. Era inflexível em atribuir toda cura a Deus e em dizer que ninguém devia olhar para ele, mas para Cristo como a verdadeira causa de quaisquer graças, físicas ou espirituais.Ele faleceu no primeiro sábado de 2009, aos 83 anos. Fazia mais de quinze que sofria os estigmas de Cristo. Aliás, é um dos poucos leigos ao longo da história da Igreja que viveram na própria carne este fenômeno místico dolorosíssimo, impactante e inexplicável.

Dois bispos da diocese de Marquette, no Michigan, dom James H. Garland e dom Alexander K. Sample, não encontraram qualquer irregularidade na atividade de Houle e deram a ele a sua bênção. Atualmente está em curso a sua causa de beatificação. Houle escreveu a seguinte oração:
Oh, meu Jesus!
Meu coração pesa tanto!
O que Tu carregas é pesado demais para mim.
Deixa-me, Jesus meu, carregar um pouco a Tua cruz, só para saberes que eu me importo.
Olha para mim, Senhor amado, com os olhos da Tua misericórdia.
Que a Tuas mãos curadoras estejam sobre mim.
Se for a Tua vontade, dá-me saúde, força e paz.
Amém.
 Larry Peterson

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Sacerdote adverte sobre as 2 grandes seduções que distraem o homem de buscar Deus



“O grande circo midiático” que gira continuamente ao redor dos homens com imagens e sons sedutores para afastá-los de si mesmo e da realidade não deve motivar o cristão a “fechar-se em uma torre inacessível”, mas a assumir o desafio de mostrar a presença ativa de Deus também no mundo de hoje, afirmou o sacerdote jesuíta Benjamín González Buelta.

“Nosso desafio não é fugir da realidade, mas aproximarmos dela com todos os nossos sentidos bem abertos para olhar e contemplar, para dissolver as escórias das aparências sedutoras, e ver, sentir e provar a realidade, percebendo no mais profundo dela a presença ativa de Deus que nos ama com uma criatividade infinita, para que nos encontremos com ele e trabalhemos juntos por seu reino”, assinalou.

“Diante do vazio interior e da perda da dimensão transcendente da vida, que nos fazem sentir órfãos, surgiram dois grandes projetos para encantar de novo o mundo: 
1) o consumismo e 2) a diversão”, advertiu.

“O consumismo é uma formidável invenção que chega a cada parte do mundo onde há alguém com um pouco de dinheiro no bolso”, e com seus símbolos – como os centros comerciais –, parece a terra prometida e a libertação de nossas necessidades, assinalou.
“O segundo grande projeto é a diversão, o passatempo, a distração” 24 horas por dia com espetáculos e “os novos deuses da cultura atual”, como as celebridades que ocupam um espaço surpreendente nos meios de comunicação.

“Nossa cultura nos induz a viver sempre com pressa, a adiar a satisfação de nossas necessidades profundas (…), conta somente o que os sentidos percebem e, por isso, cultivam-se as aparências, antepõe-se o parecer ao ser”, expressou.

“É necessário não só afirmar vagamente que Deus ama este mundo, mas também assinalar onde e como Ele atua, reelaborando a trama da vida momento por momento. A sociedade precisa de pessoas que, com sua sensibilidade mística, possam se encontrar com Deus nas realidades mais secularizadas e mais arruinadas pela deterioração pessoal, pela injustiça e por todo tipo de exclusão”, assinalou.

O sacerdote recordou os primeiros jesuítas, que encontravam Deus “nas ruas ruidosas da cidade”; e que, em seus exercícios espirituais, Santo Inácio de Loyola propõe a contemplação para alcançar o amor e “convida a observar toda a realidade, para ver Deus que trabalhar nela por nós”.

“E este é o dom que nos é oferecido: ver o reino de Deus hoje em meio a nós”, acrescentou.

Entretanto, esclareceu que “não se trata apenas de saber que o reine de Deus se manifesta de modo concreto, às vezes em um modo muito simples”, mas que “é necessário percebê-lo e, então, a alegria do dom de Deus entra em nosso coração”.

“Para fascinar verdadeiramente o mundo, é preciso não só acolher o belo, o que está ordenado, o que brilha, mas também assumir a fragilidade humana, o realismo dos infernos pessoais e sociais, nos quais milhões de pessoas estão se dissolvendo como água no mundo líquido”, expressou.

O sacerdote advertiu que há “muitas celebrações” que fazem com que o homem se extravie, com as drogas ou até mesmo os espetáculos musicais; entretanto, “a verdadeira celebração, como faz a Eucaristia, toma a vida humana em sua cotidianidade de prazeres e erros e a conduz da aspereza da cruz à transfiguração da vida na ressurreição”.

Por isso, afirmou que, ante a cultura da sedução, “necessitamos libertar nossos sentidos do modo imposto de perceber a realidade e dos conteúdos que temos até agora percebido e interiorizado”. “Podemos estar cegos sem nos darmos conta” e não ver a realidade “como Deus a contempla”, advertiu o sacerdote.

O Pe. González afirmou que “este modo de perceber a realidade pode despertar em nós extraordinários dinamismos de vida, em vez de nos deixar imóveis e tristes pela desilusão”.

“Santo Inácio, nos exercícios espirituais, nos propõe contemplar como Jesus se aproximava da realidade com os cinco sentidos. Jesus revelou, na realidade desarticulada de seu tempo, que o reino de Deus estava em meio ao povo. Este processo que descrevemos nos permite nascer de novo para ver o reino de Deus”, assegurou.

 Trechos de texto veiculado pela ACI digital