sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Papa aos paulinos: a exemplo do Beato Alberione, viver e comunicar o Evangelho com paixão

Papa Francisco saúda o brasileiro Valdir José de Castro, superior dos paulinos

Uma extensa programação marca os 50 anos da morte do Bem-aventurado Tiago Alberione. Hoje, a celebração foi com o Santo Padre, no Vaticano. “Não esqueçam a oração. É o meio de comunicação mais importante."

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

A comemoração da família paulina pelos 50 anos da morte do Beato Tiago Alberione foi coroada esta quinta-feira com o encontro com o Papa Francisco, no Vaticano.

Às vésperas da memória litúrgica do bem-aventurado (26 de novembro), o Pontífice recebeu o superior-geral da Sociedade São Paulo, o padre brasileiro Valdir José de Castro, e uma delegação representando as várias Congregações religiosas, os Institutos de vida secular consagrada e agregações de leigos fundados por Alberione.

Para Francisco, este aniversário é para toda a Igreja, e especialmente para os paulinos, a ocasião propícia para fazer memória das “grandes coisas operadas pelo Espírito Santo no Beato Alberione e, através dele, para reafirmar a importância do seu carisma no contexto atual, na perspectiva da nova evangelização”.

O Papa citou seu predecessor Paulo VI, que já havia compreendido a importância da obra do Beato por ter dado à Igreja novos instrumentos para se expressar no mundo moderno com meios modernos; para, com a oração, ter a capacidade de ler os “sinais dos tempos” de modo a adequar os projetos apostólicos às situações e necessidades das pessoas de hoje.

Viver o Evangelho com paixão

Como repetia Pe. Alberione, o verdadeiro fundador da família paulina é o Apóstolo Paulo, o modelo a imitar na total doação ao Senhor Jesus Cristo e ao seu Evangelho. E “é justamente a paixão pelo Evangelho – destaco isto: porque o Evangelho sem paixão não pode ser vivido. O Evangelho só com palavras não funciona: o Evangelho vem do coração. E é justamente a paixão pelo Evangelho que brilha nas incontáveis iniciativas apostólicas” do Bem-aventurado.

Analisando o atual contexto comunicativo, o Papa afirmou que a evolução tecnológica conduziu toda a comunidade eclesial a assumir os instrumentos modernos da comunicação como elementos da pastoral ordinária. Portanto, prosseguiu, a presença dos paulinos hoje é ainda mais necessária para contribuir com a experiência que acumularam nesta área.

De modo particular, Francisco pediu à família paulina uma ajuda especial no percurso rumo ao Sínodo sobre a sinodalidade.

A exemplo e com a intercessão do Beato Alberione, “também vocês escolheram os meios de comunicação como púlpito, para que – como dizia com frequência – se possa mostrar Jesus Cristo aos homens do nosso tempo com os meios do nosso tempo”, disse ainda o Papa, agradecendo pelo empenho com o qual trabalham.

Trabalho e oração

Por fim, Francisco recomendou uma intensa vida de oração: “Não esqueçam a oração. É o meio de comunicação mais importante. Trabalho e oração”. E invocou a intercessão de Maria, Rainha dos Apóstolos, para acompanhar a família paulina pelas estradas do mundo como apóstolos e apóstolas do Evangelho, sempre abertos a aprender das pessoas comuns, como amava dizer Tiago Alberione.

Os brasileiros

Após a audiência com o Santo Padre, o superior dos paulinos fez à Rádio Vaticano/Vatican News as suas considerações:

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2021/11/25/14/136330886_F136330886.mp3

Além do pe. Valdir, havia outros brasileiros na audiência com o Papa Francisco. Um deles é o Ir. Darlei Zanon, que descreve a emoção do encontro com o Santo Padre e ressalta os principais pontos do seu discurso:

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2021/11/25/14/136330753_F136330753.mp3 

terça-feira, 16 de novembro de 2021

E não pecarás eternamente

 E não pecarás eternamente”

Liturgicamente, estamos na penúltima semana do ano, e este 33° Domingo do Tempo Comum nos transmite uma mensagem muito importante: não só os anos têm um fim, mas também a nossa vida neste mundo. Mais cedo ou mais tarde, nós compareceremos diante de Deus, seremos julgados e iremos “uns para e vida eterna, outros para o opróbrio eterno” (Dn 12, 2), como nos fala a primeira leitura. Para este encontro decisivo e crucial, devemos estar preparados.

Não sabeis nem o dia nem a hora

Em nossos dias, quantos homens se empenham em ter uma boa saúde corporal e negligenciam os cuidados de própria alma! Parecem ter esquecido que a “saúde é um estado precário que sempre termina mal” – como dizem os franceses –, pois todos sabemos que, um dia, passaremos pela morte. Mas o momento em que ela nos visitará ninguém o sabe, como diz Nosso Senhor no Evangelho de hoje:

 “Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai” (Mc 13, 32).

Tal afirmação nos leva a concluir que “é preciso vigiar e ficar de prontidão; em que dia o Senhor há de vir, não sabeis!” (Cf. Lc 21, 36), como diz a aclamação ao evangelho de hoje.

Alguém poderia pensar: “Por que Deus não nos revela o momento de nossa morte? Assim nos prepararíamos mais e com maior perfeição!” Não é verdade! Se todos os homens soubessem em que momento morreriam, no Céu, entrariam não só os santos, mas também os interesseiros. Com efeito, quantos homens não aproveitariam a vida inteira para pecar, ofendendo a Deus de um modo torpe e vil, e se “converteriam” no último instante? Quantos são os que não procederiam deste modo?…

Deus, portanto, se revela portador de uma misericórdia única ao nos ocultar a hora de nossa partida, pois, pelo menos por temor, nos estimula a praticar a virtude que , muitas vezes, não conquistamos por amor. De fato, se os homens se colocassem na perspectiva de poder morrer neste momento, quanto o mundo seria diferente! Quantos pecados escandalosos deixariam de ser praticados, quantas palavras desedificantes não mais seriam pronunciadas, quantos pensamentos opostos à virtude deixariam de existir! Sem dúvida, a consideração da morte converteria a muitos, pois, como diz o Eclesiástico: “Memorare novissima tua et in æternum nos peccabis” [1] (7, 40). Não nos esqueçamos que “Talis vita, finis ita”[2], ou seja, colheremos em nossa morte o que plantamos em nossa vida…

Desespero ou confiança?

Perante esta realidade, dura e incoercível, da morte, devemos nos portar com seriedade, mas, sobretudo, com confiança. Se percebermos que, no caso de morremos agora, compareceríamos diante de Deus com as mãos vazias ou sujas, não nos desesperemos, mas coloquemo-nos de joelhos e peçamos perdão com fé e confiança, sabendo que alcançaremos a misericórdia de Deus. Nunca nos esqueçamos de pedir a Nossa Senhora que rogue por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Seremos, por ventura, abandonados por Ela? Até hoje, isso não aconteceu com ninguém. Não seremos os primeiros…

Por Lucas Rezende

[1]Do latim: pensa nos teus novíssimos e não pecarás eternamente.

[2]Do latim: tal como foi a vida, do mesmo modo será a morte.

 

 

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Status

Arquivo de status social - VER

Alguns poucos mantêm uma disputa acirrada para constar da lista das pessoas mais ricas do mundo. Nessa corrida, os dois primeiros lugares são de Jeff Bezos, da Amazon, e Elon Musk, da Tesla. A revista Forbes traz que atualmente Musk está liderando com um total de 200,8 bilhões de dólares, enquanto Bezos vem atrás com 189,9 bilhões de dólares. 

No lado oposto estão 9,2% da população global que vive em extrema pobreza, contando com menos do que 1,90 dólares por dia para sobreviver, segundo dados do Banco Mundial. Fazendo uma conta simples, para alimentar essa população de 689 milhões de pessoas, seria necessário algo como 1,3 bilhão de dólares por dia. Assim, somente a fortuna dos dois daria para alimentar todas os famintos do mundo por quase um ano. É uma constatação vergonhosa. 

Isso nos faz pensar por que alguns buscam tanta riqueza, num mundo de tanta pobreza. Obviamente, a resposta é mais complexa. Embora não seja intenção fazer aqui uma tese completa sobre o tema, vale refletirmos sobre algumas motivações dessas pessoas. Logicamente, ter toda essa riqueza só para viver bem não é resposta. Obviamente, para viver bem, com alto grau de bem-estar, não é necessário tanto dinheiro como os mais ricos acumulam. Estudos recentes trazem que o salário médio anual necessário para viver bem nos Estados Unidos é de 67.690 dólares. Algo muito acima do que seria necessário para viver com alto grau de bem-estar aqui no Brasil.

Entre as várias causas que motivam as pessoas a buscarem tanta riqueza, uma pode ser reconhecida facilmente: a busca por status. Termo que vem do latim, statum, conceito que diz sobre a posição social do indivíduo na sociedade. Recorrendo a Alain de Botton, em sentido estrito se refere ao estado civil ou à situação profissional de uma pessoa. Mas, em sentido mais amplo, refere-se ao valor e à importância de uma pessoa aos olhos do mundo. Nesse sentido, quanto maior a ascensão social da pessoa, maior é seu “status social”; assim, mais poder, posição e prestígio possui. 

Botton traça uma tese interessante. Diz que “o desejo de status tem uma capacidade excepcional de inspirar sofrimento”. Para ele, a fome de status, como todos os apetites, tem utilidades, como incentivar a excelência. Mas, como todos os apetites, em excesso pode matar. Cita, entre as suposições sobre os motivos que levam a procurar status elevado, a ânsia por dinheiro, fama e influência. Mas, como alternativa e como resumo das motivações está algo raramente utilizado em teoria política: o amor. Ser objeto de amor é sentir-se objeto de preocupação. Assim, ser notado, ter o nome registrado, nossas opiniões serem ouvidas, fracassos serem tratados com indulgência e as nossas necessidades serem atendidas.

Admitindo-se essa tese de que a motivação por busca de status é o amor, devemos recorrer a Agostinho, que nos diz que existem dois e apenas dois tipos de pessoas no mundo: aqueles que pertencem à “Cidade de Deus” e os que pertencem à “Cidade dos Homens”. Esses dois tipos se distinguem por seus amores. Os cidadãos da Cidade de Deus amam a Deus acima de todas as coisas. Os cidadãos da Cidade dos Homens se amam acima de tudo. Ele diferencia os dois amores: “o primeiro é sagrado, o segundo é imundo; o primeiro é social, o segundo, egoísta; o primeiro consulta o bem comum para o bem de uma sociedade celestial; o segundo se agarra a um controle egoísta dos assuntos para o bem da dominação arrogante. O fracasso em se orientar para Deus resulta em um senso inflado de autoimportância e autossuficiência que, no fim, nega a realidade de nossa existência dependente”.

Fabio Gallo é professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP); foi professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).