segunda-feira, 23 de agosto de 2021

E Maria guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração (Lc 2,19)

  

Sergio Ricciuto Conte

Em abril, o Papa Francisco, em uma das catequeses semanais, refletiu sobre o lugar da Meditação no caminho cristão. Começou apontando que meditar – em sentido amplo – se encontra, em maior ou menor medida, em todas as religiões; que desde os primórdios a tradição monástica cristã e a dos “santos do deserto”, por exemplo, valorizam práticas contemplativas e meditativas de oração. Nas últimas décadas, além disso, meditar tem sido reconhecido como atividade significativa, mesmo por não religiosos (mindfulness). Isso, em si, é um bem. A prática laica da meditação nasce do reconhecimento de que a agitação, frenesi e barulho do dia a dia prejudicam nossa capacidade cognitiva, afetiva e mental, exigindo “voltarmo-nos para o silêncio”. Assim, meditar tornou-se sinônimo de autocuidado.

O Santo Padre nos alerta, contudo, para o fato de nós, cristãos, não confundirmos essa prática – tão acessível e difundida atualmente – com o meditar cristão. Se na primeira – meditação laica – o método (técnicas e posturas) torna-se mais do que um caminho, mas o próprio fim; na meditação cristã, por outro lado, o método é sobretudo um meio para se chegar a Cristo, para crescer no reconhecimento de sua Presença.

Nesse sentido, mais uma vez nos voltamos para Maria, com ensinamentos a registrar e seguir.

Diz-se que São José é o Santo do silêncio, mas não se deve esquecer que também Maria falava com ponderação e “tudo guardava e meditava em seu coração” (Lc 2,19). A jovem judia meditava as Escrituras no silêncio e orava quando fora visitada pelo Arcanjo Gabriel. Deixou-se iluminar pelo Espírito Santo quando recitou o Magnificat. Abriu os olhos e admirou-se (interessante que, em italiano, o verbo guardar significa “olhar”) das maravilhas que pastores e Reis Magos diziam sobre o recém-nascido. Foi transparente, como cabe às mães zelosas, ao menino Jesus no Templo sobre o que ela e José sentiram em Sua procura. Pediu um milagre e o obteve na festa de casamento em Caná; estava de pé, em sua última dor, observando o filho pendendo sobre a Cruz.

O silêncio em Maria é aquela atitude corporal e existencial de abertura e expectativa para com a realidade em sua totalidade, entendida como Mistério – porque Deus não se resume jamais a uma única palavra ou sentença. Ela “guardava tudo”, quer dizer, tudo é sinal e manifestação de Deus, portanto, tudo deve ser levado em consideração. Trata-se de um silêncio ativo, engajado, que não é sinônimo de “ausência de barulho”.

O Papa nos exorta a não adentrarmos nas práticas meditativas apenas com o objetivo de desenvolver nosso “eu”. O cristão sabe-se fruto de um “relacionamento”. Na meditação cristã – no guardar tudo e acolher com simplicidade a presença desse Outro (Espírito Santo) que nos comunica de modos inesperados –, entregamos o nosso nada e recebemos nosso “eu” transformado, enraizado em Cristo. E isso, aprendemos com Maria.

Dener Luiz da Silva é professor de Psicologia da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

 

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

O que é a vida consagrada?

O que é a Vida Religiosa Consagrada? « Padres e Irmãos Paulinos

O consagrado é alguém que abdicou de sua vida, de sua vontade própria, para entregar-se totalmente a Deus

“Veio o Senhor pôs-se junto dele e chamou-o como das outras vezes: Samuel! Samuel! Falai, respondeu o menino; vosso servo escuta!” (1 Samuel 3,10).

A Igreja viu nesta passagem bíblica, em que Deus chama por três vezes o menino Samuel, e faz dele um profeta, a imagem do chamado de uma pessoa à vida consagrada. Aquele que deve servir a Deus radicalmente, apartado do meio do povo, sem viver uma profissão secular, mas inteiro dedicado ao Reino de Deus. É Deus mesmo quem chama o consagrado, pondo no coração dele esse desejo, e dotando-o de dons adequados, como o celibato, no caso dos sacerdotes, freiras, monges e monjas.

O nosso Catecismo afirma que: “A vida religiosa faz parte do mistério da Igreja. É um dom que a Igreja recebe de seu Senhor e que oferece como um estado de vida permanente ao fiel chamado por Deus na profissão dos conselhos” (n.926).

São chamados a viver os conselhos evangélicos (pobreza, obediência e castidade). A profissão desses conselhos em um estado de vida estável reconhecido pela Igreja caracteriza a “vida consagrada” a Deus (Cat. n.915). Esses são chamados, sob a moção do Espírito Santo, a seguir a Cristo mais de perto, doar-se a Deus amado acima de tudo e, procurando alcançar a perfeição da caridade a serviço do Reino, anunciando a glória do mundo futuro.

A vida consagrada acontece desde os primórdios da Igreja. Muitos, por inspiração do Espírito Santo, passaram a vida na solidão ou fundaram famílias religiosas, que a Igreja, de boa vontade, recebeu e aprovou. Embora nem sempre professem publicamente os três conselhos evangélicos, os eremitas, vivem o silêncio da solidão, em constante oração e penitência, consagrando a vida ao louvor de Deus e à salvação do mundo. É uma vida de intimidade com Cristo.

Desde os tempos dos Apóstolos virgens e viúvas cristãs tomaram a decisão de viver no estado de virgindade ou de castidade perpétua “por causa do Reino dos Céus”. São aqueles que Jesus disse que se fizeram eunucos por amor do Reino (Mt 19,12).

O “Instituto secular” é um instituto de vida consagrada no qual os fiéis, vivendo no mundo, tendem à perfeição da caridade e procuram cooperar para a santificação do mundo.

As “Sociedades de vida apostólica, cujos membros, sem os votos religiosos, buscam a finalidade apostólica própria de sua sociedade e, levando vida fraterna em comum, segundo o próprio modo de vida, tendem à perfeição da caridade pela observância das constituições. Entre elas há sociedades cujos membros assumem os conselhos evangélicos”.

Os que professam os conselhos evangélicos têm por missão viver sua consagração e se entregar, de maneira especial, à ação missionária no modo próprio de seu instituto.

A vida consagrada é um sinal especial do mistério da redenção; uma vida seguindo e imitando a Cristo mais de perto, manifestando claramente seu aniquilamento, e estando mais presente às pessoas. O consagrado é alguém que dá testemunho de que o mundo pode ser transfigurado e oferecido a Deus com o espírito das bem-aventuranças.

O consagrado a Deus precisa, sobretudo, de viver intensamente uma vida de oração, rezando a Liturgia das Horas, participando dos Sacramentos, meditando diariamente a Palavra de Deus e bons livros, vivendo as virtudes opostas aos pecados capitais. Além disso, deve obediência a Igreja e a seus superiores.

O consagrado é alguém que abdicou de sua vida, de sua vontade própria, para entregar-se totalmente a Deus. É alguém que, mais que os leigos, aceitou “perder a vida para ganhá-la”. Aceitou “renunciar-se a si mesmo e tomar a cruz a cada dia e seguir ao Senhor” (Lc 9,16). Não se pode ser “meio consagrado”; ou se entrega a Deus totalmente, ou então se cansará de sua opção. É melhor viver como leigo do que ser mal consagrado. Além do que, o contra testemunho de um consagrado pesa muito mais que de um leigo, embora ambos sejam muito negativos.

Prof. Felipe Aquino

 

sábado, 7 de agosto de 2021