domingo, 25 de março de 2018

É tudo pessoal, Dele para mim!


Entro na Semana Santa. Tempo de celebrar todos os acontecimentos trágicos que vão se sucedendo até culminarem na crucifixão de Jesus. 

Já ouvi antes estes mesmos relatos, já participei de outros tríduos pascais em minha vida, já senti tristeza pela traição de Judas, pelo sono dos apóstolos, pela solidão de Jesus no Horto das Oliveiras, pela sua prisão, flagelação, e por tudo o que o levou à sua morte na cruz.

É tudo tão doloroso, que seria muito bom passar bem longe das igrejas nesta semana. Porque recordar tamanha crueldade, em meio à escandalosa bondade de Jesus que se inclina para lavar os pés de seus discípulos antes de celebrarem a Última Ceia? Ou de seu olhar de compaixão para Pedro, após ter sido negado pelo apóstolo por três vezes? Ou de seus gestos de amor em meio o caminho do Calvário, e finalmente seu gesto generoso de me dar, além de sua Mãe como minha Mãe, também sua própria vida? Para que tudo isso? 

Entendi há algum tempo, que para Jesus não existe o coletivo, mas o individual. Se é assim, tudo é pessoal, tudo é Dele para mim. Então, se não me esforço para compreender que todo este percurso de dor e abandono tem um motivo -  eu - ainda não conheço o Homem Deus.

Porque a chave para um relacionamento com Ele, é tornar tudo pessoal. É saber que ao final deste caminho que se chama vida terrena, vamos olhar um no olho do Outro, e se não nos tivermos conhecido até lá, a conversa entre nós pode ser meio constrangedora para mim, claro.

Então, Semana Santa é um encontro. Um encontro com o meu Jesus. E, quem sabe, participando do memorial do seu itinerário de sofrimento novamente, eu perceba, este ano com maior profundidade, como Ele me amou, como Ele não se esquivou, nem por um instante, em beber o cálice da amargura para que eu pudesse ser livre das garras da morte eterna.

E Ele, na sua infinita paciência, espera que ano após ano, eu vá compreendendo melhor esse amor sem lacunas, sem dúvidas, que existe antes mesmo que eu existisse. Deus nos amou por primeiro. (Jo 4,19). 

Então, bendita Semana Santa, bendito Tríduo Pascal, pois eles me preparam a cada ano para aprofundar a minha fé, a minha esperança, a minha caridade. E assim, eu possa estar mais perto Dele, para que a conversa flua cada vez melhor entre nós, e tudo torne-se mais  pessoal entre eu e Ele!

Malu - ISF


segunda-feira, 19 de março de 2018

O Glorioso São José


Para esposo de Maria, para cuidador e zelador do Filho de Deus Encarnado e provedor da Sagrada Família, Deus não escolheria ninguém menos senão um homem íntegro e fiel, ou seja, um homem justo e santo: São José.

Assim como Maria, José também recebeu a visita de um anjo, que em sonho lhe disse que a obra ocorrida em sua noiva era fruto do Espírito Santo (Mt 1,20). Além de justo, José era um homem de fé. Ele confiava e esperava plenamente em Deus.

Por três vezes, Deus se manifesta a José através de sonhos, o que denota, dizem alguns estudiosos das Sagradas Escrituras, que ele era um homem profundamente contemplativo e aberto aos sinais de Deus até durante as vigílias do sono.

Engraçado observar isso, pois a figura marcante que nos chega de José é de um operário. E realmente ele era um. Um artesão que ganhava a vida por meio de seu trabalho como carpinteiro.

Em José temos a excelência do lema beneditino: “Ora et Labora”, isto é, reza e trabalha.
É das mãos de São José que nascem suas obras: um móvel, um utensílio... Como artesão, José reflete o seu Criador. Verdadeiramente ele é imagem e semelhança de Deus. E é das atitudes de São José que nasce a Sagrada Família. Deus quis contar com José para realizar sua obra de Salvação.

Talvez hoje, pelo fato de as mulheres terem entrado no mercado de trabalho e dividirem tarefas com os homens; talvez por que as famílias atualmente estejam tão desfiguradas, nós não consigamos perceber direito a importância da participação de São José.

Todos os homens recebiam uma educação básica, que incluía ler pelo menos as Escrituras. Cabia ao pai a educação dos seus filhos. Muito provavelmente as parábolas narradas por Cristo, quando adulto, devem ter sido apresentadas por José, durante sua infância e adolescência, como forma de explicar as tradições e as leis mosaicas.

“Contra toda expectativa humana, Deus escolheu o que era tido como impotente e fraco para mostrar sua fidelidade à sua promessa.” (CIC 489) Maria se destaca por sua Imaculada Conceição. Já José trazia, como nós, a marca do pecado original. Imaginemos então quão incrível não foi a vida desse homem ao lado de uma mulher predestinada desde toda a eternidade a ser plenamente cheia de graça.

Em primeiro lugar, podemos pensar quantas bênçãos recebeu por intermédio de Maria. E também quão heroica e virtuosa não foi a sua vida, para corresponder ao específico chamado.

Se Maria é cheia de graça e irradia bênçãos sobre todos nós, José, como ninguém, soube ser receptor dessas graças; e também canal para Jesus, que, obediente, lhe era submisso (cf. Lc 2, 51a. 52).

O principal problema da nossa sociedade não é a falta de trabalho ou as famílias esfaceladas, mas o fato de termos criado um mundo com necessidades demais e muitas vezes vazias de sentido e sem propósito, o que nos tira o foco do que é essencial.

Muitas vezes nós suamos nossas camisas por mera aparência. Queremos ter o carro do ano, a roupa da moda ..., mas esquecemos que o que importa é de graça e está ao nosso lado: nossa vida, nossa fé, nossa família, nossa saúde e bem-estar, os momentos que passamos com os verdadeiros amigos etc.

São José é exemplo de homem que soube cumprir com a sua missão. Recebeu de Deus a vocação para ser pai adotivo do Salvador e em nenhum momento reclamou ou se negou a cumprir seu papel. Na verdade, o fez com excelência, voltando-se ao essencial.

São José não fez do seu trabalho uma desculpa para se afastar de Deus, como se não tivesse tempo. Ao contrário, dedicou seu trabalho, sua paternidade e seu casamento para proporcionar um ambiente propício para que a Sagrada Família pudesse ser verdadeiramente família.

Que São José nos abençoe a todos e nos sirva de exemplo para que tenhamos fé e confiança em Deus, sejamos justos e incansáveis em nossos trabalhos, construindo e colaborando para a criação de um mundo bom para as nossas famílias. Amém.

Aldo Marques

sexta-feira, 9 de março de 2018

Comentando o Evangelho do 4º Domingo da Quaresma


O “homem com um espírito impuro” representa todos os homens e mulheres, de todas as épocas, cujas vidas são controladas por esquemas de egoísmo, de orgulho, de autossuficiência, de medo, de exploração, de exclusão, de injustiça, de ódio, de violência, de pecado. É essa humanidade prisioneira de uma cultura de morte, que percorre um caminho à margem de Deus e das suas propostas, que aposta em valores efêmeros e escravizantes ou que procura a vida em propostas falíveis ou efêmeras. O Evangelho de hoje garante-nos, porém, que Deus não desistiu da humanidade, que Ele não Se conforma com o facto de os homens trilharem caminhos de escravidão, e que insiste em oferecer a todos a vida plena.

Para Marcos, a proposta de Deus torna-se realidade viva e atuante em Jesus. Ele é o Messias libertador que, com a sua vida, com a sua palavra, com os seus gestos, com as suas ações, vem propor aos homens um projeto de liberdade e de vida. Ao egoísmo, Ele contrapõe a doação e a partilha; ao orgulho e à autossuficiência, Ele contrapõe o serviço simples e humilde a Deus e aos irmãos; à exclusão, Ele propõe a tolerância e a misericórdia; à injustiça, ao ódio, à violência, Ele contrapõe o amor sem limites; ao medo, Ele contrapõe a liberdade; à morte, Ele contrapõe a vida. O projeto de Deus, apresentado e oferecido aos homens nas palavras e ações de Jesus, é verdadeiramente um projeto transformador, capaz de renovar o mundo e de construir, desde já, uma nova terra de felicidade e de paz. É essa a Boa Nova que deve chegar a todos os homens e mulheres da terra.

Os discípulos de Jesus são as testemunhas da sua proposta libertadora. Eles têm de continuar a missão de Jesus e de assumir a mesma luta de Jesus contra os “demônios” que roubam a vida e a liberdade do homem, que introduzem no mundo dinâmicas criadoras de sofrimento e de morte. Ser discípulo de Jesus é percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu e lutar, se necessário até ao dom total da vida, por um mundo mais humano, mais livre, mais solidário, mais justo, mais fraterno. Os seguidores de Jesus não podem ficar de braços cruzados, a olhar para o céu, enquanto o mundo é construído e dirigido por aqueles que propõem uma lógica de egoísmo e de morte; mas têm a grave responsabilidade de lutar, objetivamente, contra tudo aquilo que rouba a vida e a liberdade ao homem.

O texto refere o incomodo do “homem com um espírito impuro”, diante da presença libertadora de Jesus. O pormenor faz-nos pensar nas reações agressivas e intolerantes – por parte daqueles que pretendem perpetuar situações de injustiça e de escravidão – diante do testemunho e do anúncio dos valores do Evangelho. Apesar da incompreensão e da intolerância de que são, por vezes, vítimas, os discípulos de Jesus não devem deixar-se encerrar nas sacristias, mas devem assumir corajosamente e de forma bem visível o seu empenho na transformação das realidades políticas, econômicas, sociais, laborais, familiares.

A luta contra os “demônios” que enfeiam o mundo e que escravizam os homens nossos irmãos é sempre um processo doloroso, que gera conflitos, divisões, sofrimento; mas é, também, uma aventura que vale a pena ser vivida e uma luta que vale a pena travar. Embarcar nessa aventura é tornar-se cúmplice de Deus na construção de um mundo de homens livres.

Dehonianos