Generosidade, gratuidade, doação: palavras
quase desconhecidas do nosso vocabulário e em nosso contexto social. Mas
são elas que nos levam em direção aos outros, libertando-nos de nosso
pequeno eu. São elas que nos afastam da mesquinhez, da
vaidade, do egoísmo, da busca do “próprio amor, querer e interesse”. Por
serem mais afetivas, mais espontâneas, ligadas ao coração, elas
revelam-se na ação, não em função de um mandato, de uma lei, de um interesse…, mas unicamente de acordo com as exigências do amor, da solidariedade…
São elas que alargam o nosso coração até dilatar-nos às dimensões do
universo, rompendo nossos estreitos limites e lançando-nos a
compromissos mais profundos. Sentimo-nos livres para qualquer desafio e
cada nova entrega é uma libertação maior: são novas oportunidades de
serviço, de maior aproximação d’Aquele que veio, não para ser servido,
mas para servir e para dar sua vida pelo mundo.
A grandeza, a dignidade, a capacidade redentora de toda atividade em
favor dos outros provém do fato de ser vivido numa profunda união
pessoal com Cristo e com o desejo intenso de que nossa ação esteja em
sintonia com a vontade e a glória do Pai, e não com as nossas buscas de
compensações.
A atitude de gratidão (consciência viva daquilo que cada dia nos é dado gratuitamente) nos motiva a viver o trabalho como serviço, libertando-o radicalmente de suas dimensões de rotina, de carga, e esvaziando-o de toda pretensão egoísta.
Quando vivemos nosso trabalho a partir da gratidão, o
esforço que o mesmo trabalho exige brota de um modo mais natural, mais
espontâneo…; por isso, “cansa” menos, “desgasta” menos…
A verdadeira maturidade espiritual coincide com o sentido da gratuidade,
ou seja, ajustar-se ao modo de agir de Deus, superando todo
auto-centramento e todo voluntarismo; quem assim vive experimenta o
consolo de sentir-se amado, perdoado e chamado por Deus, pois “o ser humano é fundamentalmente um ser de gratuidade”.
A gratuidade só pode ser vivida equilibradamente em toda sua profundidade e intensidade por aquele que é plenamente consciente de sua pobreza e indignidade radical,
por aquele que, por ter-se sentido pecador e amado ao mesmo tempo, não
deseja ser nem melhor nem mais perfeito, senão mais filho(a) de Deus pelo compromisso e doação.
A pessoa que confia em seu próprio esforço para se projetar e brilhar,
sem abrir espaço à graça de Deus, vê-se condenada à esterilidade,
experimenta a aridez interior, a insatisfação de quem se empenha
inutilmente, a angústia de quem se esforça sem conseguir a alegria da
comunhão, e o desamparo de quem se vê triste, só e desolado.
Trechos de Pe.Adroaldo Palaoro sj