quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Escutar João Batista no Advento

 

O Advento é o tempo propício para colocarmos a "casa" em ordem aguardando o nascimento de Jesus em Belém. São quatro semanas em que a liturgia prepara o nosso interior, a fim de recebermos o recém nascido envolto em paninhos, e depositado numa manjedoura de uma noite fria de inverno.

São João Batista, aquele que prepara os caminhos do Senhor, nos exorta a uma mudança de atitude. "Preparai os caminhos do Senhor, e endireitai suas veredas". (Is 40,3)

Este tempo que antecede o Natal nos oferece a oportunidade de avaliarmos como anda a nossa relação com o Senhor. Temos sido zelosos em nosso relacionamento com Ele? Estamos próximos de seu Coração, a ponto de nos sentirmos à vontade em sua presença, ou estar perto Dele nos inquieta?

Para os amigos íntimos, um olhar basta para expressar o que se traz no peito. Mas para os estranhos, às vezes, nem as palavras conseguem quebrar o gelo. O contato torna-se desconfortável, não há liga.

Se olharmos para João veremos um homem rude, sem uma formação esmerada, sem palavras com aquele impacto da oratória. Mas ele arde em zelo anunciando o reino que se aproxima, e atrai, com seu amor e convicção, uma multidão ao deserto. Todos querem ser batizados, todos querem saber como agir para alcançar a salvação de suas almas. E João lhes aponta: Ei-lo, eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

O Batista é o único dos profetas que aponta para o Salvador, e por isso é o último deles. Ele o reconhece, e admite, também, sua pequenez diante do Senhor da História. Ele afirma não ser digno nem de desamarrar suas sandálias... 

E eu e você? Estamos conscientes da grandeza deste mistério de luz? Temos algo para oferecer ao Rei que nasce pobrezinho e desalojado? Quem sabe a contrição de nossos pecados, ou umas mortificações e sacrifícios para nos assemelharmos um pouquinho a Ele?

Advento é tempo de preparação, de interiorização, de oração. Façamos companhia ao Mestre Menino, que veio para estar conosco e nos mostrar o caminho para estarmos com Ele para sempre! Para isso, preparemos os caminhos do Senhor e endireitemos suas veredas.

Malu Burin  

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Somos hipócritas? Existem hipócritas em nosso ambiente?

L'hypocrisie, personne ne l'apprécie et pourtant ! – Pépites

Hipócrita: expressão que qualifica a conduta pessoal manifestada entre homens e mulheres de todas as épocas, como consequência do pecado original. Surge nas relações humanas e persiste até nos círculos familiares mais íntimos. Desenvolve-se de modo contrário ao que se pensa ou se prega, com o intuito de enganar ou aparentar ser o que não se é. Ecoam aos nossos ouvidos, com veemência, as palavras enérgicas de Nosso Senhor Jesus Cristo ao increpar os fariseus: “hipócritas”, “raça de víboras”, “sepulcros caiados”. Por essa razão, qualifica-se analogamente a pessoa hipócrita de fariseu.

Todavia, a descrição dos seus traços característicos foi o próprio Jesus quem a fez, denunciando-os num longo oráculo que expõe à luz do dia a insinceridade dos chefes do povo e do próprio povo: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, quando disse: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mt 15, 8). Perante as variadas acusações, os fariseus — movidos por uma ânsia doentia de vaidade e soberba, desejosos de atrair sobre si as atenções e ostentar superioridade — calavam-se, reservando a vingança para momento mais oportuno. 

Entre as invectivas mais fortes que Nosso Senhor proferiu contra eles, destaca-se a comparação com os sepulcros caiados: “por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão” (Mt 23, 27). Terrível comparação, entre outras, que se iniciam com a repreensão: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas”. Interiormente praticavam o que era contrário à Lei, mas exteriormente exibiam-se como seus exímios observantes; revestiam-se da Lei para encobrir o seu incumprimento. Por isso, Nosso Senhor afirmava: “Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem” (Mt 23, 3).

Perguntemo-nos agora: existe, atualmente, um fermento farisaico — hipócrita? Haverá pessoas, inclusive entre os católicos, que manifestam propósitos em certos aspectos cotidianos, mas, por outro lado, vivem um relativismo moral em matérias mais graves? Passados mais de dois mil anos, esse fermento ainda se faz presente e perdurará até o fim do mundo. Oculta-se com extremo cuidado, pois, se não fosse dissimulado, deixaria de sê-lo. Corrompe como o fermento à massa, engana e ensina a enganar.

Dessa “lepra” — pois não merece outro qualificativo — não se pode afirmar que todo mundo aja assim, mas é certo que grande número de pessoas pode exibir fisionomias “mascaradas” (hypo, em grego, significa máscara): alegres, sorridentes, aparentando normalidade, mas, por dentro, cheios de podridão. 

Encontramos hipócritas em toda parte; por vezes, nós mesmos, em diversas circunstâncias, agimos hipocritamente para nos adaptar ao ambiente ou para não ferir os sentimentos alheios.

É duro dizê-lo, mas a hipocrisia — mentira e vazio unidos — poderia ser considerada a soma de todos os pecados. Ao contrário, a santidade, além de ser a verdade, contém todas as virtudes: “ser santos e irrepreensíveis”, nas palavras de São Paulo (cf. 1Ts 5, 23). Por isso, Jesus descreve suas características, exorta a não imitá-las, convidando a fazer o contrário dessa conduta sinistra.

Por Pe. Fernando Gioia, EP