O Domingo de Ramos é o grande portal de entrada na Semana Santa, a
semana em que o Senhor Jesus caminha até ao ponto culminante da sua
existência terrena. Ele sobe a Jerusalém para dar pleno cumprimento às
Escrituras e ser pregado no lenho da cruz, o trono donde reinará para
sempre, atraindo a Si a humanidade de todos os tempos e oferecendo a
todos o dom da redenção. Sabemos, pelos Evangelhos, que Jesus Se
encaminhara para Jerusalém juntamente com os Doze e que, pouco a pouco,
se foi unindo a eles uma multidão cada vez maior de peregrinos. São
Marcos refere que, já à saída de Jericó, havia uma «grande multidão» que
seguia Jesus (cf. 10, 46).
Jesus chega a Jerusalém vindo de
Betfagé e do Monte das Oliveiras, isto é, seguindo a estrada por onde
deveria vir o Messias. De Betfagé, Ele envia à sua frente dois
discípulos, com a ordem de Lhe trazerem um jumentinho que encontrarão no
caminho. De fato encontram o jumentinho, soltam-no e levam-no a Jesus. Naquele momento, o entusiasmo apodera-se dos discípulos e também dos
outros peregrinos: pegam nos seus mantos e colocam-nos uns sobre o
jumentinho e outros estendidos no caminho por onde Jesus passa montado
no jumento. Depois cortam ramos das árvores e começam a apregoar
expressões do Salmo 118, antigas palavras de bênção dos peregrinos que,
naquele contexto, se tornam uma proclamação messiânica: «Hosana! Bendito
o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem, o reino de
nosso pai David! Hosana no mais alto dos céus!» (vv. 9-10). Esta
aclamação festiva, transmitida pelos quatro evangelistas, é um brado de
bênção, um hino de exultação: exprime a convicção unânime de que, em
Jesus, Deus visitou o seu povo e que o Messias ansiado finalmente
chegou. E todos permanecem lá, numa crescente expectativa da ação que
Cristo realizará quando entrar na sua cidade.
Voltando à passagem do Evangelho de hoje, perguntemo-nos: Que
pensavam, realmente, em seus corações aqueles que aclamam Cristo como
Rei de Israel? Certamente tinham a sua idéia própria do Messias, uma
idéia do modo como devia agir o Rei prometido pelos profetas e há muito
esperado. Não foi por acaso que a multidão em Jerusalém, poucos dias
depois, em vez de aclamar Jesus, grita para Pilatos: «Crucifica-O!»,
enquanto os próprios discípulos e os outros que O tinham visto e ouvido
ficam mudos e confusos. Na realidade, a maioria ficara desapontada com o
modo escolhido por Jesus para Se apresentar como Messias e Rei de
Israel. É precisamente aqui que se situa o ponto fulcral da festa de
hoje, mesmo para nós. Para nós, quem é Jesus de Nazaré? Que idéia temos
do Messias, que idéia temos de Deus? Esta é uma questão crucial, que não
podemos evitar, até porque, precisamente nesta semana, somos chamados a
seguir o nosso Rei que escolhe a cruz como trono; somos chamados a
seguir um Messias que não nos garante uma felicidade terrena fácil, mas a
felicidade do céu, a bem-aventurança de Deus. Por isso devemos
perguntar-nos: Quais são as nossas reais expectativas? Quais são os
desejos mais profundos que nos animaram a vir aqui, hoje, celebrar o
Domingo de Ramos e iniciar a Semana Santa?
Queridos irmãos e irmãs, dois sentimentos nos animem particularmente
nestes dias: o louvor, como fizeram aqueles que acolheram Jesus em
Jerusalém com o seu «Hosana»; e a gratidão, porque, nesta Semana Santa, o
Senhor Jesus renovará o dom maior que se possa imaginar: dar-nos-á a
sua vida, o seu corpo e o seu sangue, o seu amor. Mas um dom assim tão
grande exige que o retribuamos adequadamente, ou seja, com o dom de nós
mesmos, do nosso tempo, da nossa oração, do nosso viver em profunda
comunhão de amor com Cristo que sofre, morre e ressuscita por nós. Os
antigos Padres da Igreja viram um símbolo de tudo isso num gesto das
pessoas que acompanhavam Jesus na sua entrada em Jerusalém: o gesto de
estender os mantos diante do Senhor. O que devemos estender diante de
Cristo – diziam os Padres - é a nossa vida, ou seja, a nós mesmos, em
sinal de gratidão e adoração. Para concluir, escutemos o que diz um
desses antigos Padres, Santo André, Bispo de Creta: «Em vez de mantos ou
ramos sem vida, em vez de arbustos que alegram o olhar por pouco tempo,
mas depressa perdem o seu vigor, prostremo-nos nós mesmos aos pés de
Cristo, revestidos da sua graça, ou melhor, revestidos d’Ele mesmo (…);
sejamos como mantos estendidos a seus pés (…), para oferecermos ao
vencedor da morte não já ramos de palmeira, mas os troféus da sua
vitória. Agitando os ramos espirituais da alma, aclamemo-Lo todos os
dias, juntamente com as crianças, dizendo estas santas palavras:
“Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel”» (PG 97, 994). Amém!
Trechos da Homilia do Papa Bento XVI, proferida na Praça de São Pedro, no Domingo de Ramos de 2012.