Naquele tempo, alguns gregos que tinha vindo a Jerusalém para adorar nos dias da festa foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe este pedido: «Senhor, nós queríamos ver Jesus». Filipe foi dizê-lo a André; e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus. Jesus respondeu-lhes: «Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me quiser servir, que Me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. E se alguém Me servir, meu Pai o honrará. Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de dizer? Pai, salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora.Pai, glorifica o teu nome». (Jo 12,20-33)
Neste Quinto Domingo da Quaresma, a curiosidade dos gregos em conhecer Jesus marca o tom do Evangelho. Os discípulos vão até Jesus para que Ele os oriente como devem responder aos inquisitores, e aí vem-nos a essência daquilo que representa o discipulado.
O texto abaixo é uma leitura do Pe. Carlo Battistoni sobre esta passagem do Evangelho:
"Jesus não dá uma
solução “simplória”, “barata”, fácil e idealista. Jesus fala de vida e de como
viver a vida. De algum modo Ele indica o “preço” que é preciso pagar para
conhecer realmente quem é Jesus e “ver” de fato, realmente o que está Nele. Ao
contrário de qualquer ideologia, até ideologia religiosa, a fé em Cristo é
“visível”, isto é, irradia-se por si própria e contagia as pessoas que vêem o
cristão autêntico. Logo o apelo que Jesus faz aos discípulos pode-se resumir em
poucas palavras: “Não digam nada sobre mim, me sigam e isso falará por si
próprio”. Assim como Jesus é a glória do Pai, também na vida dos discípulos o
Senhor será glorificado, isto é, manifestado em toda a sua beleza aos homens: «Chegou a hora em
que o Filho do Homem vai ser glorificado». Glorificado pelo Pai,
que reconhece o Seu amor fiel até o fim e glorificado pelos cristãos que, com
as suas atitudes de fidelidade (seguir), dirão ao mundo qual é o verdadeiro
rosto de Jesus, dirão “quem” Ele é.
Seguir
a Jesus é “servir a Jesus”; é com esse amor que Ele deseja ser amado, porque o
amor real é fiel e irreversível; a cruz mostrará a irreversibilidade do amor o
qual não volta atrás, não abandona, não desiste porque é regido por um laço que
é mais que humano, é divino, já que o Amor é a essência de Deus. Mas como
conhecer a Jesus se não formos capazes de seguir o caminho que Ele escolheu?
Por
outro lado Jesus se compara com o grão de trigo. Isso obviamente não é para
enaltecer a “morte”, mas para indicar que, muitas vezes, é quando morremos a
várias coisas da nossa vida, dos nossos projetos; quando morremos ao nosso “eu”
que deseja sempre triunfo e sucesso... É então que, de dentro de nós, se libera
toda a potencialidade de vida, assim como acontece com a semente. Quando
aprendemos a perder coisas, convicções, certezas, vêem à tona recursos que
sequer imaginaríamos de ter na nossa vida. Quando deixamos “morrer” aquilo que
nos deixaria “sozinhos” («resta só...»
diz Jesus), nos deixaria “apenas o que
somos agora”... Pois então, será naquele mesmo momento que toda a vida que Deus
colocou em nós encontrará a sua explosão.
"Onde eu estou, estareis também vós...";
o caminho da profunda comunhão com Jesus não passa pelo triunfo e sucesso,
passa pela perda, perda em nome do amor, perda que se transforma em riqueza de
vida para muitos, para «todos»
dirá Jesus.
Será
ainda necessário nos perguntar: “onde está Jesus?”. Ainda que fosse necessário,
a resposta que pode convencer “gregos” que buscam a verdade definitiva, é
apenas uma: onde se ama sem condições, de modo visível e objetivo. O discípulo
poderá “servir” a Jesus oferecendo a si mesmo como o “lugar” onde poderá
tornar-se visível a qualidade do amor do Filho do homem".
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