sábado, 12 de março de 2022

O sentido da crucificação na cultura atual

 


 Não nos damos conta, mas vivemos numa sociedade que reconhece a dignidade do poder e da força, mas não reconhece a dignidade da bondade e do amor gratuito 


Na Quarta-Feira Santa, mesmo nesse mundo cristão cada vez mais secular, as mídias sentiram necessidade de falar de Jesus. Um dos grandes jornais brasileiros publicou a entrevista com uma escritora que havia feito um livro recontando a crucificação – mas numa perspectiva que a própria autora considera “não-religiosa”, uma vez que ela mesma não tem fé.
 
A matéria do jornal, chama a atenção algumas frases da entrevistada: “A noção do martírio como valor é uma aberração da qual ainda hoje somos tributários” e “A crucificação de Cristo é pior que inútil – é tóxica. Um ato que deveria nos salvar, mas que não apenas não nos salvou, ainda nos condenou”. Essas frases mostram uma total incapacidade, típica da mentalidade contemporânea, de compreender e aceitar o sofrimento e o matéria do jornal, chama a atenção algumas frases da entrevistada: “A noção do martírio como valor é uma aberração da qual ainda hoje somos tributários” e “A crucificação de Cristo é pior que inútil – é tóxica. Um ato que deveria nos salvar, mas que não apenas não nos salvou, ainda nos condenou”. Essas frases mostram uma total incapacidade, típica da mentalidade contemporânea, de compreender e aceitar o sofrimento e o sacrifício.sacrifício.
 
O sofrimento, vivido na perspectiva do amor e do sacrifício, pode nos tornar mais felizes. Essa afirmação está na base da compreensão do que é o cristianismo, mas não é lógica. Não é um autoengano, mas depende de uma vivência prévia, que a torna crível e que permite depois todas as reflexões que nascem da fé ou de uma humanidade plenamente consciente de si mesma. A verdade, numa visão realista, não nasce de raciocínios abstratos, mas da reflexão sobre as vivências concretas que fazemos.
 
Infelizmente, ao longo dos séculos, o poder foi corrompendo a experiência humana da bondade, criando uma maldosa dicotomia. Quem tem o poder não precisa ser bondoso. Mesmo numa condição ideal, se espera que o poderoso seja justo, corrija os erros e até trate os demais com uma certa magnanimidade. Mas a bondade, que ultrapassa até mesmo os limites da justiça, que assume o perdão e chega ao sacrifício, parece uma virtude dos fracos. Mais uma desculpa ou uma autojustificação pela fraqueza do que um valor real.

Não nos damos conta, mas vivemos numa sociedade que reconhece a dignidade do poder e da força, mas não reconhece a dignidade da bondade e do amor gratuito.

A Quaresma e a Páscoa, tempos em que refletimos sobre o amor e o sacrifício de Jesus, são uma boa ocasião para refletirmos sobre a visão que temos da bondade e do amor, pois nós mesmos – nesses tempos de ressentimentos e de polarização política – podemos não estar sendo um testemunho adequado do que são o amor, a bondade e o sacrifício pelo irmão.

Francisco Borba Ribeiro Neto

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