II Domingo do Advento
Podemos
situar o tema deste domingo à volta da missão profética. Ela é um apelo à
conversão, à renovação, no sentido de eliminar todos os obstáculos que impedem
a chegada do Senhor ao nosso mundo e ao coração dos homens. Esta missão é uma
exigência que é feita a todos os batizados, chamados – neste tempo em especial
– a dar testemunho da salvação/libertação que Jesus Cristo veio trazer.
O
Evangelho apresenta-nos o profeta João Batista, que convida os homens a uma
transformação total quanto à forma de pensar e de agir, quanto aos valores e às
prioridades da vida. Para que Jesus possa caminhar ao encontro de cada homem e
apresentar-lhe uma proposta de salvação, é necessário que os corações estejam
livres e disponíveis para acolher a Boa Nova do Reino. É esta missão profética
que Deus continua, hoje, a confiar-nos.
A
primeira leitura sugere que este “caminho” de conversão é um verdadeiro êxodo
da terra da escravidão para a terra da felicidade e da liberdade. Durante o
percurso, somos convidados a despir-nos de todas as cadeias que nos impedem de
acolher a proposta libertadora que Deus nos faz. A leitura convida-nos, ainda,
a viver este tempo numa serena alegria, confiantes no Deus que não desiste de
nos apresentar uma proposta de salvação, apesar dos nossos erros e
dificuldades.
A
segunda leitura chama a atenção para o fato de a comunidade se dever preocupar
com o anúncio profético e dever manifestar, em concreto, a sua solidariedade
para com todos aqueles que fazem sua a causa do Evangelho. Sugere, também, que
a comunidade deve dar um verdadeiro testemunho de caridade, banindo as divisões
e os conflitos: só assim ela dará testemunho do Senhor que vem.
Só é possível acolher, com um coração puro e
irrepreensível, o Senhor que vem se a caridade for, entre nós, uma realidade
viva. Mas, frequentemente, a vida das nossas comunidades cristãs é marcada
pelas divisões, pelas murmurações, pelas lutas pelo poder, pelas tentativas de
manipular, pelos interesses mesquinhos e egoístas, pelas guerras de sacristia…
Será possível “esperar com coração puro e irrepreensível o Senhor que vem” num
contexto de divisão? Será possível à comunidade ser o espaço onde Jesus nasce
se não se aceitam todas as pessoas e em especial os pequenos e os pobres?
“Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas”. Esta voz
ressoa nos nossos ouvidos, não já nos desertos de areia, mas no deserto dos
nossos corações, muitas vezes demasiado desertos de esperança, de alegria, de
amor. Há sempre entre os homens passagens tortuosas que tornam tão difícil a
comunhão, montanhas demasiado altas que impedem de nos vermos, ravinas
demasiado profundas que impedem a reconciliação e a paz. A voz de João ressoa
ainda nos nossos ouvidos, para que a Palavra possa penetrar sempre nos nossos
corações. João desapareceu, mas a Palavra, eterna, feita carne, está sempre
presente, porque Jesus ressuscitou, está vivo para sempre. Sobre ele a morte
não tem mais nenhum poder, nem qualquer outro poder, político, militar, econômico
e mesmo religioso! Esta Palavra é dada a nós, hoje. Quando deixamos a Palavra
iluminar o nosso caminho e comemos o Pão da Vida – as duas mesas da liturgia
eucarística – é Jesus vivo que vem endireitar os nossos caminhos, preencher as
nossas ravinas interiores. Então, tornamo-nos porta-vozes da Palavra.
Vendo-nos, os homens podem pressentir, pelo menos, a salvação de Deus.
Portal dos Dehonianos
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