I Leitura :“Dias virão, em que cumprirei a promessa
que fiz à casa de Israel e à casa de Judá”.
(Jr 33,14)
Evangelho: “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas e, na
terra, angústia entre as nações, aterradas com o rugido e a agitação do
mar. Os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai suceder ao
universo”. (Lc 21,25)
Na mesma celebração, proclama-se como Palavra do Senhor duas afirmações tão afastadas uma da outra! Como resolver esta contradição? Primeiro, sendo realistas. O universo conhece transformações constantes, tremores de terra, erupções vulcânicas, tsunamis, meteoritos… A sol e as estrelas, um dia, apagar-se-ão. No fundo, Jesus, com os conhecimentos e a mentalidade da sua época, chama a nossa atenção para essa realidade: o nosso mundo, um dia, acabará. Não somente o “nosso” mundo, mas primeiro o “meu” próprio mundo, no dia da minha morte. Jesus convida-nos a não esquecer o fim de todas as coisas. Diz-nos: “Vigiai”. Vigiai para que não vos instaleis neste tempo como se ele fosse durar sempre! Mas aí, no coração da nossa condição mortal, Deus diz-nos uma palavra que não passará. Esta Palavra é o próprio Jesus.
Começamos hoje um novo ciclo litúrgico. Mas não é um ciclo fechado sobre si mesmo. Cada ano que passa aproxima-nos do nosso fim terrestre, mas é-nos dado também como o tempo durante o qual Jesus vem visitar-nos, dar-nos a sua presença de Ressuscitado. Segundo a bela palavra de Jeremias, oferece-nos a nós como “um rebento de justiça”, como a “promessa de felicidade” que se realizará em plenitude no fim dos tempos. Desde agora, está em acção no segredo dos corações, como o poder da vida que, secretamente, constrói um novo ser no seio materno. “Vigiai e orai em todo o tempo”, a fim de estardes de pé no Dia da sua Vinda na plenitude da Luz.
A realidade da história humana está marcada pelas nossas limitações,
pelo nosso egoísmo, pelo destruição do planeta, pela escravidão, pela
guerra e pelo ódio, pela prepotência dos senhores do mundo… Quantos
milhões de homens conhecem, dia a dia, um quadro de miséria e de
sofrimento que os torna escravos, roubando-lhes a vida e a dignidade… A
Palavra de Deus que hoje nos é servida abre a porta à esperança e grita a
todos os que vivem na escravidão: “alegrai-vos, pois a vossa libertação
está próxima. Com a vinda próxima de Jesus, o projecto de
salvação/libertação de Deus vai tornar-se uma realidade viva; o mundo
velho vai converter-se numa nova realidade, de vida e de felicidade para
todos”.
No entanto, a salvação/libertação que há de transformar as nossas
existências não é uma realidade que deva ser esperada de braços
cruzados. É preciso “estar atento” a essa salvação que nos é oferecida
como dom, e aceitá-la. Jesus vem; mas é necessário reconhecê-lo nos
sinais da história, no rosto dos irmãos, nos apelos dos que sofrem e que
buscam a libertação. É preciso, também, ter a vontade e a liberdade de
acolher o dom de Jesus, deixar que Ele nos transforme o coração e Se
faça vida nos nossos gestos e palavras.
É preciso, ainda, ter presente, que este mundo novo – que está
permanentemente a fazer-se e depende do nosso testemunho – nunca será um
realidade plena nesta terra, mas sim uma realidade escatológica, cuja
plenitude só acontecerá depois de Cristo, o Senhor, haver destruído
definitivamente o mal que nos torna escravos.
Padres Dehonianos
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