O desafio é a qualidade das relações
O que significa ser um pai na era digital? A resposta requer muito mais do que uma mera reflexão superficial, porque entre os chamados "nativos digitais" encontra-se a geração dos "milennials", ou seja, aqueles que nasceram entre 1980 e 2000, muitos dos quais estão começando a ter ou têm os seus primeiros filhos.
E,
precisamente, os "milennials" são aqueles que estão na capa da
revista Time de outubro de 2015 com um artigo cujo título é pouco inspirador:
“Socorro, os meus pais são milennials".
O artigo
começa mostrando os novos hábitos alimentares dessa nova geração de pais
(veganos ou vegetarianos) e descrevendo sua característica principal: são
pessoas que cresceram com smartphones e conectados nas redes sociais: sua vida
é documentada com fotos no Instagram, pensamentos em blogs e comentários no
Facebook.
Essa
mentalidade 'digital' na qual a autoridade é determinada pela popularidade
mensurável em "curtidas" ou número de "seguidores" passa
depois, também, para o ambiente familiar: os filhos podem ir aonde quiserem
porque o lar é uma mini democracia ou, o que é o mesmo, uma “autoridade consensual".
A permissividade é quase, quase, uma lei de relações intrafamiliares.
Uma
pesquisa feita pela Survey Monkey revelava que pelo menos 46% dos pais
milennials postou fotos de seus filhos, até mesmo quando estes só se
encontravam no útero materno ou antes de que o seu filho fizesse um ano. De
acordo com a mesma pesquisa, alguns pais gostam de ver outros pais milennials
cuidando dos seus filhos. “A maioria dos pais joga, consciente ou
inconscientemente, com o custo-benefício de estar nas redes sociais", diz
Sarita Schoenebeck, professora da Universidade de Michigan, que realizou um
estudo sobre o uso do Facebook por parte de mães milennials. Entre as suas
conclusões está o fato de que para a maioria das pessoas os benefícios de estar
na mídia supera qualquer crítica no campo da educação dos filhos.
Para
muitos pais milennials o modo de superar problemas sobre a sua tarefa como pais
é precisamente as redes sociais: os seus amigos são os “especialistas” e as
mães que não sabem o que fazer com os seus bebês se refugiam nos conselhos
obtidos por meio dos grupos de Facebook ou WhatsApp. De acordo com TIME, isso
acontece até com o 58% dos pais milennials. É evidente que não fazem o que o
seus pais fizeram com eles: perguntar para verdadeiros especialistas.
Mas não
é só nesse campo onde se nota a quebra da geração de pais milennials com as
gerações anteriores: na maioria dos casos os milennials já não enviam os seus
filhos para aulas de tênis, piano ou arte. A empresa Future Cast publicou em
2013 um informe sobre hábitos e atitudes de milennials: 61% deles disseram que
os filhos precisam jogar de uma forma não estruturada. Isso, na prática, se
reflete em algo tão simples como que as decisões sobre o que fazem ou não os
filhos já não vêm dos pais, mas das pesquisas que os pais fazem aos seus
filhos. TIME sugere que por trás disso é possível ter um forte individualismo e
a ideia de competitividade como um dos valores mais altos sob o slogan
"seja você mesmo".
É
verdade que também os pais milennials reconhecem que é preciso fazer
malabarismos para ter a atenção das crianças hoje. Mas pelo menos eles têm a
intenção de testar, pois os milennials são de mente aberta e pessoas que
procuram a empatia; tendem a ser excessivamente otimistas, acreditam no
progresso e, acima de tudo, confiam no Google. De fato, junto com as redes
sociais o seu principal conselheiro é o famoso motor de busca.
É, pois,
evidente que as famílias digitais são famílias conectadas e comunicadas mas, a
qualidade das relações e a facilidade das conexões não estão mudando o modo
como as relações familiares são vividas e experimentadas? A resposta a esta
pergunta, de não pouco valor, poderá vista com mais nitidez nos próximos
anos.
Jorge Enrique Mujica
Jorge Enrique Mujica
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