quinta-feira, 11 de julho de 2013

Expulsando demônios...





Hoje, fazendo memória de São Bento, selecionei um texto que aponta de forma lúdica, ou talvez bem real, para a questão da influência do mal, tão bem enfrentada pela oração dos beneditinos.

Malu


                    Demônios, como nos livramos deles...


Jesus passou boa parte de seu ministério público expulsando demônios. Parece que naquela época havia uma praga deles, que não poupavam a ninguém: crianças e anciãos, homens e mulheres, judeus e pagãos, todos estavam de alguma maneira expostos à incursão demoníaca. Para os evangelistas, a expulsão dos demônios exprime claramente o senhorio de Jesus e a chegada do reino dos céus. Como Ele mesmo diz aos fariseus: “Se é pelo dedo de Deus que eu expulso demônios, então o reino de Deus já chegou a vós” (Lc 11,20). Hoje, ele comunica este poder aos seus discípulos.


Como vamos interpretar esta atividade de Jesus, nós que não acreditamos muito na existência de demônios e muito menos na sua atuação, nós que transferimos tudo para o campo psicológico?

Antes de darmos nossa interpretação, seria bom assistirmos a uma reunião do P.P.A. Não sabem o que é P.P.A.? Ora gostamos muito de acrósticos, de abreviações como Telemar, Ibama, Ovni, onde cada letra representa uma palavra.
Então quero acrescentar mais uma abreviação _ P.P.A., isto é, Parcialmente Possessos Anônimos.

Nesta reunião (viajamos com o tapete mágico e já estamos dentro da sala) a gente encontra três velhos amigos, Fulano, Beltrano e Sicrano. "Opa, vocês por aqui? Será que são membros do P.P.A.?" – “Somos sim e hoje vamos falar de nossa luta. Aliás, vocês também são sócios?”

“Não estamos apenas observando”, dizemos, ficando um pouco vermelhos. “Então, tá bom. Vão ouvir algo interessante”, dizem.

É Fulano quem começa: “Olha pessoal, ainda estou tendo dificuldades com o meu nervosismo. Trabalho duro o dia inteiro, trabalho bom, mas trabalho pesado e passo o dia pensando em minha família, e como vale a pena sacrificar-me por esposa e filhos. Fico animado com o pensamento. Só que, quando volto para casa e a mulher reclama do dinheiro, e os filhos brigam entre si e não me mostram o devido respeito, este sonho de dar tudo pela família se evapora e parece que estou lutando com uma turma de ingratos. Surgem, contra a minha vontade, palavras grosseiras e, às vezes, até quebro alguma coisa, tipo desabafo; outras vezes chego a bater em alguém. Depois disso a única voz que se ouve toda a noite é a voz da televisão... e também a da minha consciência pesada”.

Beltrano continua: “Comigo as coisas estão melhorando um pouco. Vocês  se lembram que o meu problema é com as revistas, quero dizer, com as fotos. Passei anos gastando dinheiro, gastando tempo, gastando minha vida afinal, com essas imagens de mulheres. Não tinha namorada, nem amigos, quase nem tinha colegas. Porque estas pessoas realmente existem, e eu preferia viver em minha imaginação, onde podia sentir satisfação sem qualquer compromisso. Hoje, sinto uma verdadeira sede de conhecer outras pessoas, para ter uma relação que vai além de “tudo bem?”, e começo agora acreditar que é possível, que o homem não foi feito – ou condenado – a ficar só. E isto me dá força para largar as revistas cada vez mais”.

A aparência de Sicrano chama um pouco a nossa atenção. Parece que está vestido de monge. A gente se informa e, de fato, é monge, liberado por seu abade para assistir a esta reunião. Irmão Sicrano toma o microfone e diz: “Tenho que confessar que ainda não estou livre do meu minisadismo. Não sei por quê, mas cada vez que algo dá errado com um outro membro de minha comunidade, me sinto realizado. É como se o sol, estivesse saindo das nuvens. Amo meus irmãos, pelo menos acho que os amo, mas mesmo assim, qualquer tragédia pela qual passam, por menor que seja, dá brilho ao meu dia. Nunca faria nada pessoalmente contra eles, mas quando o golpe vem , lá estou eu torcendo: Mais um! Curioso, não é?”

Nós os ouvintes, de boa índole e coração terno, nos apressamos a consolá-los: Fulano, Beltrano, Irmão Sicrano! Todo mundo faz estas coisas. Não é culpa sua. É absolutamente normal. E se vocês se sentem tristes, falem com o psicólogo ou, se preferirem, vão à praia.”

Surpreendentemente, os três fazem pé firme  e não cedem: “Amigos, a gente passou muitos anos nos enrolando com frases como estas – “não é culpa sua; todo mundo faz! Muitos anos. Mas, na verdade, sempre soubemos que não passavam de desculpas e mentiras. Temos estes nossos problemas. Não são grandes, mas são graves e atrapalham a nossa vida. O nervoso nunca é uma pessoa feliz, nem o viciado em pornografia, nem o ser humano que se realiza com a miséria dos demais. Estávamos lentamente destruindo nossas vidas. Agora proclamamos a verdade – somos parcialmente possessos. Somos loucos, mas não malucos. Graças a Deus, levamos uma vida basicamente responsável e humana, mas há aspectos de nossos comportamentos onde o maligno entrou, fez seu ninho a até hoje não saiu. Não vamos negar isso nunca mais.”

“Mas vocês fazem alguma coisa além de se reunir e chorar seus sofrimentos?”

“Fazemos sim. Aceitamos e pomos em prática a orientação de Jesus, que estes demônios não podem ser expulsos a não ser por oração e jejum. Oração porque ela abre a nossa alma à graça e ao poder de Jesus; jejum, porque abre nosso corpo à mesma influência salvífica. Além do mais, aproveitamos o máximo possível as visitas dos discípulos de Jesus que têm o poder de expulsar os demônios, embora, nem sempre imediatamente.”

“Então, vocês querem dizer que os discípulos de Jesus ainda andam por estas passagens terrenas expulsando demônios?”

“Andam sim. E quando vêm, hospedam-se num pequeno cubículo, uma pequena sala que chamam de confessionário. É lá que fazem este trabalho de cura. Quem sabe se não tem um destes confessionários perto de vocês?”.

Na verdade, quem sabe? Pode ser que alguém hoje lendo estas linhas, tenha descoberto que é um P.P.A.! Até agora talvez, fosse anônimo até para si mesmo. Agora já sabem. E sabem a quem recorrer – a Jesus que expulsava demônios, e que comunica este poder a seus discípulos.

Dom Bernardo Bonowitz, ocso
 

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