quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O veneno de julgar...


"Aqui não se fofoca!". Esse aviso deveria ser colocado em muitos ambientes de convivência, segundo sugeriu na sexta-feira o padre Raniero Cantalamessa OFM cap, na meditação de Quaresma que dirigiu a Bento XVI e seus colaboradores da Cúria Romana em abril de 2011.

Ao discutir a frase da Carta de São Paulo aos Romanos, que "a caridade não seja fingida", o frade capuchinho considerou que no campo da caridade na Igreja há um aspecto que precisa de conversão: o ato de ficar julgando uns aos outros.

O fato de julgar não é em si algo mau, esclareceu, o que é verdadeiramente mau é "o veneno do nosso julgar": "o rancor, a condenação".

Perante o Papa, cardeais, bispos, sacerdotes e religiosos presentes na capela Redemptoris Mater do Palácio Apostólico, Cantalamessa explicou que, "em si, julgar é uma ação neutra"; "o juízo pode terminar tanto em condenação quanto em absolvição e justificação".

"São os juízos negativos os que a palavra de Deus reprime e elimina, aqueles que condenam o pecador junto com o pecado, aqueles que olham mais para a punição do que para a correção do irmão", disse.

"Para estimar o irmão, é preciso não estimar demais a si mesmo - prosseguiu -; é necessário ‘não ter uma visão alta demais de si próprio'". "Quem tem uma ideia muito alta de si mesmo é como um homem que, à noite, tem diante dos olhos uma fonte de luz intensa: não consegue ver nada além dela; não consegue ver a luz dos irmãos, seus dotes e seus valores."

"‘Minimizar' deve se tornar o nosso verbo preferido nas relações com os outros: minimizar os nossos destaques e minimizar os defeitos alheios. Não minimizar os nossos defeitos e os destaques alheios, como somos tantas vezes levados a fazer; é diametralmente o oposto!"

A fofoca mudou de nome, chama-se ‘gossip', afirmou Cantalamessa. "Parece ter virado coisa inocente, mas é uma das que mais poluem a vida em grupo".

"Não basta não falar mal dos outros; precisamos também impedir que os outros o façam em nossa presença; fazê-los notar, mesmo que silenciosamente, que não estamos de acordo."

"Em muitos locais públicos está escrito ‘Aqui não se fuma'. Antigamente havia até alguns avisos de ‘Aqui não se blasfema'. Não faria mal acrescentar, em alguns casos, ‘Aqui não se fofoca'".

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O retrato da família hoje


De 4 a 25 de outubro de 2015, acontece no Vaticano a  XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. Esse encontro será a etapa final do sínodo da família.O relator geral do sínodo, cardeal Peter Erdö, apresentou a “Relatio Post Disceptationem”, documento que finaliza a primeira etapa. O documento recolhe as principais reflexões dos padres sinodais nos primeiros dias do encontro.

A família vive uma crise profunda. Sua identidade como célula onde se forma o indivíduo está deteriorada. A falta de solidez das relações conjugais, a novas configurações profissionais de homens e mulheres, que exigem mais dedicação e tempo fora de casa, a rapidez das transformações tecnológicas, a influência desconstrutiva das mídias nas relações familiares, e outras tantas variáveis, afetam diretamente esta instituição milenar.

Segundo Pe. Duarte da Cunha: "Claro que esta crise também tem levado a valorizar muita coisa que não era suficientemente tida em conta, como a importância da ternura nas relações conjugais, a complementaridade homem/mulher na educação; a função social da família, para só citar alguns aspectos. Assim, não é necessário entender a palavra crise exclusivamente em sentido negativo, mas chamamos verdadeira crise porque muita coisa mudou e ainda não se sabe onde vai parar e porque muito do que sempre foi tido como imutável está sendo atacado. O problema, no entanto, não é tanto que  aconteça uma mudança das ideias sobre a sociedade. Em si mudar as ideias  não é mau, mas o que esta acontecendo é a destruição da civilização humana e, por isso, o desaparecimento da pessoa, porque se negam aspectos constitutivos da sua natureza. A crise da família está intimamente ligada, quer como causa, quer como efeito, à crise geral da sociedade, mas o que está em causa é a pessoa.

A pessoa humana, ser único e irrepetível, unidade complexa de alma e corpo, ser eminentemente social, vive, ainda, numa história e, por isso, experimenta-se a si mesmo no tempo e no espaço concretos. Todas as relações que temos com outras pessoas e até conosco mesmos são sempre, de forma absolutamente necessária, afetadas pela marca do tempo e da pátria. Mas a pessoa, mesmo contextualizada e vivendo num tempo que não pára, permanece a mesma. A pessoa humana procura sempre a unidade, não só entre alma e corpo, entre eu e tu, mas também entre permanência e mudança. Há coisas que nenhum tempo ou lugar podem mudar, sob o risco da pessoa humana deixar de ser o que é, e todos desejamos viver um dinamismo que seja não uma constante e desorientada mudança mas um crescimento do mesmo eu. 

Ao longo da história, houve várias tentativas de imaginar a sociedade sem família, desde a República de Platão que isso tem tido alguns interessados, mas nunca foi possível um punhado de intelectuais desorientados afetar o rumo das pessoas reais, até chegarmos a este tempo em que o poder midiático, o poder econômico e os intelectuais relativistas se unem para tentar fazer uma coisa nova e destruir o que era estrutural. Será exagero dizer isto? Mas, se achamos que deve ser liberalizado os pais matarem os filhos recém gerados (aborto), se as relações deixam de pretender ser estáveis e capazes de progredir através dos momentos bons e dos momentos maus, para serem apenas experiências fugazes (divórcio fácil uniões passageiras) e se a relação de casamento entre pessoas deixa de ser a descoberta do eu total, corpo e alma, e, consequentemente da diferença e da complementaridade sexual, para passar a ser apenas a união de dois seres que sentem uma qualquer afeição (homossexualidade), então o futuro será uma incógnita.
Se os que acreditam que o Criador tem um projeto e experimentam no seguimento desse caminho revelado a verdadeira felicidade se juntarem e defenderem a família, a vida e as instituições que as protegem, então o futuro não será negro, mas uma nova esperança".

Acompanhe na seção Entrevistas, um casal de colombianos que participam do Sínodo das Famílias como auditores, e veja o que dizem sobre dedicar mais tempo à família para salvá-la. 

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Jesus não é um "fast food espiritual"



Evangelizar é preciso porque este foi o mandato de Nosso Senhor Jesus Cristo, que disse: “Ide por todo mundo pregai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16, 15). São João Paulo II fez ecoar essas palavras de Jesus, quando disse que muitos são batizados, mas pouquíssimos são evangelizados. Evangelizar é preciso em sintonia com a Igreja do Brasil e seu Projeto: “Queremos ver Jesus, caminho, verdade e vida”.

Nunca o nome de Jesus foi tão falado e propagado, mas, infelizmente, como um “fast food espiritual” que resolve o problema de todos principalmente daqueles que arrecadam no uso de Seu nome. A única forma de lutar contra todas essas leviandades de uma fé banalizada é levar as pessoas a uma experiência profunda com Jesus, resgatando-as para Ele.

A própria Igreja no Brasil, nos lança os desafios quando pede uma evangelização que atinja a pessoa, a comunidade e a sociedade. Desafio que se torna maior ainda quando nos questionamos se evangelizar, segundo as palavras de Jesus, “Eu vos farei pescadores de homens”, significa pescar num aquário ou reduzir nossa evangelização a sermões dados e bem preparados àqueles que frequentam a Igreja.  A Igreja nos desafia a evangelizar e a trazer de volta o católico “de ocasião”, aquele que só vem para batizados, missa de sétimo dia ou quando o desgosto da vida faz com que a pessoa busque a Igreja como um “supermercado de graças”.

O desafio da evangelização se faz maior quando somos chamados a “lançar redes em águas mais profundas”, para resgatar os jovens que, cada vez mais, estão distantes da Igreja e dos quais exigimos, quando nela estão, que se comportem como adultos e pessoas da terceira idade.

Faz-se necessário lembrar que os protagonistas da evangelização deste milênio não são, necessariamente, os sacerdotes, mas os leigos chamados a evangelizar pelo testemunho da vida, pelas obras e pela fé.

Deus não é um “supermercado de graças” e não precisamos querer arrancar algo D’Ele.

Se evangelizar é uma urgência e se somos evangelizadores, então como evangelizar? Para nós que somos evangelizadores, evangelizar é acolher cada pessoa que chega e que se sente deslocada. Evangelizar é acolher aqueles que tropeçam no decorrer de sua vida e se desviaram da graça. Evangelizar é estender o braço para aquele que está caído. Evangelizar é oferecer uma nova chance para aquele que quer se redimir. Evangelizar é acolher e trazer de volta a ovelha machucada e desgarrada que já sofreu muito no mundo e levou pancada demais, de outros e falsos pastores. Evangelizar é falar o que Jesus disse, fazer o que Jesus fez. Evangelizar é encurtar distâncias, é ser ponte onde há inimizades, é saber criar situações onde o bem comum fale mais alto e a justiça de Deus aconteça.

A humanidade está faminta de Deus e não é justo que deixemos que eles vivam de migalhas. Não podemos nos esquecer dos ensinamentos da multiplicação dos pães. A humanidade está sedenta de água viva e se envenena com a água contaminada do medo, da violência e da insegurança. Não é justo guardarmos as talhas para nós e deixarmos que a água pura e cristalina jorre somente entre os átrios de nossas Igrejas.

Creio numa evangelização feita com arte, como uma grande sinfonia, onde no todo há harmonia e cada instrumento é importante e singular.

Evangelizar é preciso porque é na Palavra de Cristo que encontraremos as ferramentas necessárias para despertar consciências adormecidas e relaxadas, que semeiam valores contrários à família, à fidelidade ao respeito e ao amor.

Pe. Reginaldo Manzotti é coordenador da Associação Evangelizar é Preciso, e pároco e reitor do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe em Curitiba (PR).

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Outubro e seus santos

 Estamos em outubro, Mês das Missões, e também Mês do Rosário.

Mês das missões porque neste mês celebramos Santa Teresinha (1 de outubro), monja carmelita, enclausurada, que tanto rezou e se ofereceu pelas missões. Notemos que ela jamais saiu do Carmelo, e no entanto sua oração abraçou o mundo.

Também este é o Mês do Rosário, porque celebramos dia 13 a última aparição de Nossa Senhora em Fátima, no ano de 1917, onde a Mãe de Deus falou aos três pastorinhos transmitindo a eles um convite e uma escola de salvação.O cerne das aparições é:
- a conversão permanente;
- a oração e nomeadamente o rosário,
- o sentido da responsabilidade coletiva e a prática da reparação.

Na segunda metade de outubro de 1717, por conta da visita de Dom Pedro de Almeida, governante da Capitania de São Paulo e de Minas de Ouro, o povo de Guaratinguetá decidiu fazer uma festa em homenagem à presença de Dom Pedro e, apesar de não ser temporada de pesca, os pescadores lançaram seus barcos no Rio Paraíba com a intenção de oferecerem peixes ao conde. Os pescadores Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso rezaram para a Virgem Maria e pediram a ajuda de Deus. Após várias tentativas infrutíferas, desceram o curso do rio até chegarem ao Porto Itaguaçu. Eles já estavam a desistir da pescaria quando João Alves jogou sua rede novamente, em vez de peixes, apanhou o corpo de uma imagem da Virgem Maria, sem a cabeça. Ao lançar a rede novamente, apanhou a cabeça da imagem, que foi envolvida em um lenço. Após terem recuperado as duas partes da imagem, a figura da Virgem Aparecida teria ficado tão pesada que eles não conseguiam mais movê-la. A partir daquele momento, os três pescadores apanharam tantos peixes que se viram forçados a retornar ao porto, uma vez que o volume da pesca ameaçava afundar as embarcações. Esta foi a primeira intercessão atribuída à santa.
 
Dia 22, celebramos São João Paulo II, nosso inesquecível Karol Wojtyla, que foi papa por quase 27 anos. João Paulo II foi aclamado como um dos líderes mais influentes do século XX. Teve um papel fundamental para o fim do comunismo na Polônia, e talvez em toda a Europa, bem como significante na melhora das relações da Igreja Católica com o judaísmo, Islã, Igreja Ortodoxa, religiões orientais e a Comunhão Anglicana. Foi um dos líderes que mais viajaram na história, tendo visitado 129 países durante o seu pontificado.

É um mês cheio de santos que nos inspiram e mostram que a santidade é possível para todos, não porque sejamos bons, mas porque Deus é bom e nos dá as graças necessárias para que sejamos santos. Que cada um de nós se comprometa, de verdade, com o ideal da santidade, pois todos são convidados a isso.

ISF