Princípio inspirador da Família Paulina:
JESUS MESTRE CAMINHO, VERDADE E VIDA
A estrutura espiritual do paulino baseia-se no trinômio: Jesus Caminho, Verdade e Vida. Configurando esse trinômio à Trindade, percebemos que Cristo Mestre revela-se Verdade ao mostrar-nos o Pai; como Caminho, mostra-se a si mesmo; e o amor que resulta da perfeita comunhão entre o Pai e o Filho gera Vida, que é o Espírito Santo.
Nas três dimensões citadas pelo Pe. Alberione: mente, vontade e coração, temos as três dimensões de nosso ser que, desestruturadas pelo pecado, são reconstruídas pela Redenção conquistada pelo Filho de Deus.
Na Verdade, Cristo Mestre ilumina nossa mente para que sejamos como o Pai.
Pelo Caminho, Ele conduz nossa vontade para que se configure com a Sua.
Como Vida, Ele mantém o nosso coração inflamado de amor, a fim de que o Espírito Santo atue livremente em nós.
A essência do “ser paulino” resume-se em conformar a vida com Jesus Mestre. Nesse seguimento surge a vocação ao discipulado, ou seja, quem O segue é seu discípulo. Esse discipulado requer uma postura que abarca três atitudes:
Escuta
A escuta é um silêncio orante da criatura para com o seu Criador. Nela, o coração se volta totalmente para a Palavra do Pai que é objeto de adoração e de reflexão, mas também que leva à transformação.
Seguimento
O convite oferecido por Jesus a todos se caracteriza pela radicalidade no seguimento de sua doutrina, que exige uma configuração de vida com Seu modo de pensar, agir e amar.
Identificação
Ao abraçarmos o convite oferecido por Cristo no seguimento de sua doutrina, nos tornamos “uma só coisa”, segundo a vontade de Deus Pai. Tal caminho passa necessariamente pelas etapas do Mistério Pascal de Cristo, implicando em morte ao pecado para um ressurgimento numa vida nova.
Na relação Mestre-discípulo, seguir Jesus Caminho é acompanhar os passos do Mestre no Seu ritmo, no Seu movimento, sem jamais precedê-lo ou correr, é seguir sua orientação. Ele é o Rei da paz, Aquele que monta o jumento, esse animal manso, para adentrar Jerusalém.
Aprender com Jesus Verdade é colocar-se em estado de escuta, reflexão, numa postura de quem nada sabe, e tudo precisa arguir a seu Mestre.
Diante de Jesus Vida, o discípulo coloca-se como imitador da totalidade do Mestre, seus sentimentos, pensamentos, atitudes, tornando-se um outro Cristo.
Por fim, o discípulo/paulino é aquele que busca, com perseverança, viver as virtudes do serviço, humildade e pobreza que caracterizaram Jesus.
Maria é a Apóstola:
DEU JESUS AO MUNDO
Na percepção do Pe. Alberione, Maria sintetiza a perfeição do propósito apostólico resumido nos atos de gerar, e formar Cristo na humanidade.
Ela é a forma que gerou o Homem Perfeito, Aquele em quem Deus pôs suas complacências. Por isso opera para que nós tenhamos essa forma, tanto o contorno como o conteúdo de Seu Filho.
Modelo perfeito e fundamental por natureza dos chamados a irradiarem Jesus, Maria é considerada, portanto, a Rainha dos Apóstolos. Ela, por excelência, é Aquela que nutre, alimenta, consola e forma os apóstolos, à semelhança do Cenáculo, para que sejam enviados sob a ação do Espírito Santo para trabalharem pela implantação do Reino.
Em nossos dias Maria suscita apóstolos e apostolados, fomenta vida interior, e, por meio Dela, acontecerá a cristianização do mundo.
Segundo Pe. Alberione, há dois estilos de vida que se devem conciliar para poder viver e imitar Nossa Senhora no seu trajeto perfeito e santíssimo rumo à execução da vontade do Pai:
- Sermos íntimos de Jesus, ou seja, relacionar-nos com o Divino Mestre pela oração e contemplação;
- Darmos Jesus ao próximo pelo apostolado, pela caridade incansável, e pelo exemplo de vida convertida.
Pe. Alberione entendeu que Maria foi o centro de onde emanou o Verbo Encarnado, mas, ao mesmo tempo, ela O conservava feito Palavra viva e sempre atuante porque sempre refletida. No desejo de fazer-se instrumento hábil e eficaz nas mãos do Grande Artífice, compreendeu e vislumbrou em Maria a grande intercessora e modelo dos consagrados à serviço de Seu Filho.
As raízes da espiritualidade Paulina:
SÃO PAULO APÓSTOLO
Pe. Alberione, fundador da Pia Sociedade de São Paulo, apresenta São Paulo como protetor e pai da Família Paulina. Ele afirma que São Paulo é nosso modelo e forma. São Paulo imitava Cristo, o qual é verdadeiramente o exemplo absoluto de toda a perfeição. Do culto a São Paulo, progride-se para a presença, passando pela devoção. Na presença, há um relacionamento entre o devoto e o santo de devoção.
A presença de São Paulo na Igreja sempre foi atuante. Suas cartas, doutrina e apostolado são fonte constante de estudo, de pregação, de atualidade, de testemunho missionário, e de imitação por aqueles que perseguem a santidade.
A devoção Paulina caracteriza-se em tomar São Paulo como modelo que conduz ao modelo absoluto: Jesus Cristo. Nessa busca por viver Cristo encontramos São Paulo como um pai carinhoso para com seus filhos e seguidores. Ele intercede por nós, ele nos acompanha em nossos desafios de apostolado, de missão, de santidade. Por isso, é necessário criar um relacionamento com São Paulo, colocá-lo como caminhante ao nosso lado, partilhando sua experiência, seus merecimentos, seu amor por Cristo e o zelo pelas almas. E quando isso acontece, passamos a imitá-lo e conseqüentemente a invocá-lo.
Para conhecê-lo é necessário sorver todo conteúdo de seu legado, que são suas cartas. Esse é o material base de estudo do paulino.
É necessário imitá-lo também na luta constante pela conversão, na vivência dos conselhos evangélicos, na caridade e no estilo de vida.
A oração é também compromisso capital do paulino. O bom paulino assume os compromissos de oração da Família, invoca a proteção e mediação do fundador São Paulo, empenha-se em sua formação, ocupa-se de um apostolado cada vez mais eficaz, enfim, ama assumindo as feições e o estilo de São Paulo.
O método da totalidade
Uma passagem da história carismática é significativa para intuir o tipo
de “revelação” recebida pelo Primeiro Mestre:
“No estudo das várias espiritualidades: beneditina, franciscana,
inaciana, carmelita, salesiana, dominicana, agostiniana, apareceu-lhe sempre
mais claro que cada uma tem seus aspectos particulares, mas no cerne está
sempre Jesus Cristo, Divino Mestre, do qual cada uma considera um aspecto; uma
considera mais a verdade, outra considera mais a caridade, outra considera mais
a vida; outra ainda considera dois aspectos... Mas, se depois se passa ao
estudo de São Paulo, encontra-se o Discípulo que conhece o Mestre Divino na sua
plenitude; ele o vive inteiramente... apresenta-nos o Cristo total, como já
tinha sido definido, Caminho, Verdade e Vida... Nesta visão está Jesus Cristo
integral; por esta devoção, a pessoa é inteiramente tomada, conquistada por
Jesus Cristo... Para esta devoção convergem todas as devoções à Pessoa de Jesus
Cristo, Homem-Deus” (AD 159-160).
O conceito é reforçado em uma pregação às Filhas de São Paulo: “O nosso
método não é ‘nosso’, não é método reservado, mas é o método, aquele que
Nosso Senhor ensinou com a sua própria vida. Nós devemos conduzir a pessoa
total para Deus. Não podemos torná-la cristã apenas na oração ou nas obras. É
necessário que a pessoa viva de Jesus Cristo com todo o seu ser e em todo o seu
ser, uma vez que Cristo é o único caminho para se chegar ao Pai. Devemos tornar
cristã a pessoa toda! Jesus é apresentado como Caminho, Verdade e Vida.
Honrá-lo, pois, como o nosso modelo, como a estrada obrigatória, para
chegar a Deus... O método paulino é o único método...” (Pr DM 81; cf. Pr DM
39).
Compreendemos, agora, o sentido de uma afirmação (não é um
método, mas o método) que poderia parecer presunçosa: aquele que nos
propõe é o método do Evangelho, o método divino; em uma palavra: o método
bíblico. Uma espiritualidade, portanto, que se fundamenta essencialmente no
Evangelho e não se dispersa em tantas devoções piedosas.
O Fundador prefere a palavra “todo”, ao invés de qualquer partitivo; ama
as visões globais, sem se esquecer, porém, de escandir as etapas de um caminho
particularizado, que encontra sua origem e seu fim no Cristo total: “a
recapitulação de todas as coisas em Cristo Jesus” (Ef 1,10).
É o método vivido por São Paulo, o qual se revestiu de Cristo
Jesus; e convida-nos a todos a fazer o mesmo: “Revesti-vos de Cristo Jesus” (Gl
3,27), no sentido de assumir o modo de pensar, de querer e de amar de Cristo
(veja-se a ficha 12, “Espírito paulino, no capítulo São Paulo Apóstolo).
Nenhuma pretensão, e sim um retorno decisivo à espiritualidade
evangélica, como era o estilo de São Paulo. Aliás, o próprio Fundador, que
absorveu abundantemente a Palavra de Deus, que era apaixonado pela Palavra
de Deus, quis que todos nós fôssemos fiéis mensageiros dessa Palavra de Vida. O
nosso método nos constitui essencialmente “missionários da Palavra”, porque de
Cristo-Palavra e de Cristo-Eucaristia (a quem dedicamos a mesma adoração) tudo
provém, tudo vive e a ele tudo converge.
“É da vontade de Deus que cultivemos a piedade segundo o método
‘Caminho-Verdade-Vida’” (MV 8)
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6)
Jesus se apresenta como mediador dos homens diante do Pai. Ele é o único Caminho, a Verdade suprema, e a Vida eterna. Ele é a segurança sempre presente para os seus discípulos, mesmo ante a angústia e a tristeza causadas pela iminente separação reservada pela sua Paixão.
Cristo convida os discípulos a um ato de fé na sua ida para o Pai, onde vai preparar-lhes um lugar.
Jesus menciona por diversas vezes, de uma maneira pedagógica, que Ele é o Caminho, não o caminho material, mas o espiritual, ou seja, como o único capaz de nos colocar em contato com o Pai.
a) Sua divindade se revela pela auto-afirmação: “Eu sou”. Aqui Ele repete o mesmo nome com que Deus se revelou a Moisés (Ex 3, 10-14).b) Nos substantivos, Caminho, Verdade e Vida, Jesus indica suas três funções específicas: Mediador, Revelador e Salvador.
c) Jesus é o Caminho. Nesta afirmação, Jesus revoga polemicamente a crença que a Torá seria o único caminho para o Pai. d) Jesus é a Verdade. Aqui, Jesus revela-se como a Verdade personificada e perfeita. O que antes para os judeus era a expressão da verdade – a Torá – agora se volta para a pessoa do Verbo de Deus feito carne, justamente para revelar o rosto e o amor do Pai.e) Jesus é a Vida. Para os judeus, a vida está na lei mosaica. Já o quarto evangelista coloca Jesus como a vida plena e perfeita. Assim sendo, em Jesus está o novo Moisés, Aquele que promulga a verdadeira lei da vida.
Jesus Caminho
Nesta releitura do termo “caminho”, entendemos que todo profeta, escolhido, convertido, vai empreender um caminho à luz do Caminho que é Cristo. Somos todos itinerantes no percurso para a vida eterna e se pretendemos ter segurança com relação ao nosso destino último, temos que caminhar como discípulos e missionários de Jesus Cristo (documento de Aparecida).
c) Jesus é o Caminho. Nesta afirmação, Jesus revoga polemicamente a crença que a Torá seria o único caminho para o Pai. d) Jesus é a Verdade. Aqui, Jesus revela-se como a Verdade personificada e perfeita. O que antes para os judeus era a expressão da verdade – a Torá – agora se volta para a pessoa do Verbo de Deus feito carne, justamente para revelar o rosto e o amor do Pai.e) Jesus é a Vida. Para os judeus, a vida está na lei mosaica. Já o quarto evangelista coloca Jesus como a vida plena e perfeita. Assim sendo, em Jesus está o novo Moisés, Aquele que promulga a verdadeira lei da vida.
Jesus Caminho
Nesta releitura do termo “caminho”, entendemos que todo profeta, escolhido, convertido, vai empreender um caminho à luz do Caminho que é Cristo. Somos todos itinerantes no percurso para a vida eterna e se pretendemos ter segurança com relação ao nosso destino último, temos que caminhar como discípulos e missionários de Jesus Cristo (documento de Aparecida).
Jesus Verdade
Há duas interpretações primordiais para a afirmação Jesus Verdade. A primeira está relacionada ao conhecimento, estudo, contemplação. Buscar a Deus com nossa totalidade. Num segundo momento, acolher, aceitar esse Deus que é Rocha, que é Fidelidade, que é Amor, e responder com a fé, o abandono a Deus e aos seus projetos para nossa vida.
Jesus Vida
Todos nós, quer queiramos ou não, dependemos totalmente de Deus, e estamos a todo instante comunicando-nos com Ele. Essa dependência acontece porque somos criaturas e toda nossa existência, em todos os sentidos, está nas mãos de Deus. Vivemos em constante comunhão quer com Ele, quer com sua criação.
Jesus nos oferece, no entanto, uma plenitude oriunda da sua Ressurreição, que é a eterna vitória da vida sobre a morte. Somos mais que vencedores em Jesus Cristo, porque por Ele, por Seus merecimentos e poder, tudo pode ser renovado: nossa história, nossas relações interpessoais, nosso mundo. Nada se perde para o que crê, tudo tem um propósito, tudo faz parte de uma trama perfeita e divina.
A palavra de ordem para que tenhamos vida é relação, troca, intercâmbio: CARIDADE.
Na direção oposta se apresentam o isolamento, o individualismo, a usurpação, enfim, tudo o que divide e nos afasta do próximo.
Nossa caminhada na Família Paulina precisa ser relação que agrega, que acrescenta. Só assim, poderemos, na nossa vida, reinventar a vida de Cristo.
Princípio inspirador: Jesus Mestre e Pastor
“Um só é o vosso
Mestre” (Mt 23,8)
1. Durante o ano de 1955, o Fundador foi visitar as casas paulinas em
cerca de vinte nações; durante esse período, pôde conversar com muitas
personalidades eclesiásticas sobre aquilo que conservava, de forma particular,
no coração: “Procurava dirigir a conversa sobre o meu argumento preferido:
Jesus Mestre Divino” (CISP 1216). Obteve respostas que, já então, revelavam a
grande atualidade desta devoção : “Para mim, esta é a devoção atual”. “Uma
festa para Jesus Mestre nos proporcionará a oportunidade de aproximação entre o
corpo docente de todas as escolas” (Ib.).
Exatamente hoje, quando o homem por causa de uma surda autossuficiência
(“doente de cientismo e tecnicismo”), rejeita o conhecimento dos mestres de
qualquer gênero, temos necessidade de mestres autênticos, sobretudo do “único
mestre, o Cristo” (cf. Mt 23,8; Jo 3,2; 13,13). O homem, no entanto, tem
necessidade também de mestres que, como Cristo, precedem mediante o exemplo
(cf. Mt 7,29; 22,16; Mc 12,13-14; Lc 20,21; Jo 13,15; At 1,1); de mestres que deem
“testemunho” daquilo que vivem: “O homem moderno ouve prazerosamente os
testemunhos mais do que aos mestres, e, se ouve os mestres, é porque estes dão
testemunho” (EN 41).
Exatamente hoje, quando o homem moderno coloca sua confiança com
segurança exagerada naqueles “persuasores ocultos” que são os instrumentos da
comunicação social, temos necessidade do magistério de Cristo, tornado vivo
pelo testemunho de seus novos discípulos. Estes, por vocação, consagração e
missão, utilizam-se desses instrumentos, não para apresentar ideologias, mas a
Verdade que é Cristo, o Caminho e a Vida.
Essa presença “magisterial” torna-se então ainda mais urgente e atual:
“a devoção ao Mestre retoma e completa todas as devoções. De fato, ela
apresenta Jesus Verdade em quem acreditar, Jesus Caminho a quem seguir, Jesus
Vida de quem participar” (Pr. DM, 39).
As razões pelas quais Padre Alberione escolheu o termo “Mestre” parecem
ser estas:
a. O termo Mestre faz sentir o sabor do Evangelho. O Evangelho usa
trinta e oito vezes a palavra Mestre! Percebe-se imediatamente e é de uso fácil
e de entendimento popular. Sim, devemos justamente dizer que este termo nos
coloca no clima, ou seja, liga-nos, com espontaneidade, à fonte evangélica e à
figura de Cristo. Portanto, essa forte relação com o Evangelho parece o
primeiro motivo da escolha.
b. Existe também, em seguida, o motivo apostólico. A missão dos
Apóstolos está ligada ao Mestre. O termo “mathetéusate” do Evangelho de Mateus
coloca a missão apostólica diretamente em termos de magistério: “Ide, trazei
todas as nações para minha escola (fazendo-as minhas discípulas)” (Mt 28,19).
Com o apostolado paulino, encontramo-nos
exatamente nesta perspectiva: o magistério cristão com meios modernos. A
nossa dependência e relação operacional com a figura do Cristo Mestre é
inteiramente espontânea. A própria instrução Communio et Progressio
(1971), que trata do uso pastoral dos meios de comunicação social, inspira-se
no termo de Mateus 28,19: “Cristo mandou os apóstolos e seus sucessores
‘ensinar a todos os povos’ (Mt 28,19); ser “luz do mundo” (Mt 5,14); proclamar
o Evangelho, sem limites de tempo e de lugar. Como o próprio Cristo em sua vida
terrena demonstrou-nos ser ele o perfeito “comunicador”, e como os apóstolos
usaram as técnicas de comunicação que tinham à disposição; assim, também hoje,
a ação pastoral requer que se saiba utilizar as possibilidades e os
instrumentos mais recentes” (n. 126).
O enquadramento do apostolado e da espiritualidade paulina sobre Cristo
Mestre parece, portanto, totalmente apropriada e rica de estímulos (cf. G.
Roatta, “Pontos de referência...”, III, Caminho, Verdade e Vida, pp.
83-86).
2. Dom Bruno Forte, fazendo uma leitura teológica do princípio
inspirador Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, de Padre Alberione e
de sua espiritualidade, observa:
a. Cristo Mestre – aquele que se apresenta a nós como Único, na
sua singularidade. Então: Por que Cristo, e somente ele, é o centro da
vida, da história, que dá sentido às obras e aos dias das pessoas? Por que
somente Cristo é a porta para se chegar ao Pai? Esta interrogação se impõe, na
época moderna, no momento em que se redescobre a dignidade do homem. De fato, a
grande mudança da época moderna é a redescoberta da subjetividade, ou seja, do
sujeito humano como sujeito da história. Eis, então, a expressão: a singularidade,
isto é, a unicidade e irrepetibilidade do que aconteceu em Jesus
Cristo, como decisivo para tudo e para todos.
É no contexto dessa problemática moderna da singularidade de Cristo que
se coloca também o anseio de Padre Alberione. O seu profundo anseio é mostrar
que o Cristo é verdadeiramente o centro da história, o Único Mestre: “No centro
está Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida” (Padre Alberione).
Padre Alberione retoma pois em diálogo consciente ou inconsciente com
seu tempo, mediante esta categoria “Jesus Mestre”, o fato de que somente Ele, o
Cristo, é a palavra de Deus para nós, que somente para a sua escola é que
devemos ir, que não existem outros mestres históricos, mas que o Mestre é Ele.
É Ele que se aproxima, é Ele que te chama, é a Ele que tu deves seguir. Mais
ainda, a insistência sobre Jesus Mestre é a resposta sob certos aspectos
subversiva, que a lei cristã dá a todos os que querem propor outros mestres na
história, outros senhores fora do Único Mestre, do Único Senhor, que é Jesus
Cristo.
b. Caminho, Verdade e Vida – Jesus se torna nosso contemporâneo.
Ou seja, Cristo se insere na dinâmica da história, exatamente sob o aspecto
do qual o homem de hoje mais tem necessidade. Bruno Forte afirma que “o
problema da contemporaneidade de Cristo é o problema de superar aquilo que
Lessing, iluminista alemão, chamava de abismo horrível que nos separa de
Cristo”. Então, como fazer para que Alguém que viveu há tantos séculos de
distância seja hoje o Mestre, o Caminho, a Verdade e a Vida? Como fazer para
que Cristo esteja vivo em mim? É também a interrogação de Padre Alberione! O
anseio de sua vida pode ser compendiado na expressão paulina de Gl 2,20 citada
pelo Padre Alberione pelo menos cento e cinquenta vezes: “Já não sou eu que
vivo, mas é Cristo que vive em mim”. Como atualizar hoje esta expressão
paulina? Como realizar este encontro e fazer que o homem de hoje possa ter
experiência de Cristo?
Para Padre Alberione, atualizar e realizar esta
mensagem na história presente e fazer com que Cristo se torne hoje, presente em
nossa experiência, isto é, o Caminho, a Verdade e a Vida, significa imbuir-se
totalmente de Jesus Mestre, e que ele seja Caminho, nossa vontade, Verdade,
nossa mente, e Vida, nosso sentimento. (Cf. Donec formetur e Ut
perfectus sit homo Dei).
Eis, portanto, o anseio de Padre Alberione: agir de tal forma que o
homem de hoje possa fazer experiência do Cristo; agir de modo que o “abismo”
dos séculos possa ser superado de tal maneira que Aquele que foi Vivente, que
apareceu Vivente aos homens de nossas origens, seja ainda para nós o Senhor
Vivente da nossa vida. Em outras palavras, Padre Alberione é uma pessoa que
sentiu o quanto é verdadeiro este drama de hoje: a dificuldade de fazer
experiência de Cristo Vivente. Alberione intui como urgência fundamental a
descoberta de Cristo Caminho, Verdade e Vida.
A intuição de Padre Alberione é,
verdadeiramente, dom do Espírito Santo a serviço da Igreja e de toda a
humanidade! (cf. B. Forte, Jesus Cristo Caminho, Verdade e Vida...).
B. “Eu sou o Bom Pastor”
(Jo 10,1-21)
A espiritualidade paulina, sobretudo em seu aspecto pastoral, inspira-se
também em Jo 10,1-21, que tem por tema o Bom Pastor. Uma terminologia pastoral
aparece na Bíblia em muitos textos: Gn 48,15 e 49,24 (cf. Ex 15,13); nos Profetas:
Is 14,30; 40,11; 49,9-10; Jr 13,17; 23,1-6; 31,10; 50,6; Ez 34,6-3; 36,37-38;
37,24; Os 4,16, 13,5-6; Am 3,12; Mq 2,12-13; 7,14; Sf 2,7; 3,13; Zc 9,16;
10,3b; 13,7; nos Salmos: Sl 23; 28,9; 48,15; 68,11; 74,1; 77,20-21; 78,
52-53; 79,13; 80,2; 95,7; 100, 3; 119,176.
Os verbos que especificam a ação pastoral de Deus podem dividir-se em
oito grupos fundamentais:
1. apascentar – conduzir – guiar;
2. prover: água – alimento – pastos;
3. procurar – fazer voltar – agrupar;
4. guardar – colocar em recintos seguros;
5. visitar – assumir o cuidado;
6. julgar – fazer justiça – impedir a presença de
outros pastores no pasto;
7. trazer para fora – fazer sair – libertar – salvar;
8. fazer-se conhecer – fazer aliança – confortar.
De todas essas atividades aparece a imagem do pastor que conduz o seu
rebanho; que provê o alimento ou a pastagem; que liberta; que se alia com o seu
rebanho.
No Novo Testamento o termo pastor aparece em Mt 9,36, 25,32;
26,31; Mc 6,34; 14,27; Jo 10,2.11.12; 14,14; Ef 4,11; Hb 13,20; 1Pd 2,25; cf.
1Pd 5,4.
O termo correlativo rebanho, ovelhas, em Mt 26,31; Jo 10,16; Lc
12,32; At. 20,28-29; 1Pd 5,2-3; Mt 9,36; 10,6; 15,24; cf. 18,12; 25,32-33;
26,31; Mc 6,34 e 14,27; cf. Lc 15,4.6; Jo 10.1-27; 21,16-17.
A ação de apascentar em Jo 21,15.17; Mt 2,6; Jo 21,16; At 20,28;
1Pd 5,2; Ap 2,27; 7,17; 12,5; 19,15; Jo 10,16.
A aparente desordem dessas citações indica que os termos gregos são mais
numerosos do que os portugueses.
Um breve desenvolvimento temático pode prever os seguintes quatro pontos
que sugerem outras tantas dimensões espirituais:
a. O pastor que conduz faz pensar no tema do caminho, um caminho
traçado por ele mesmo com os seus passos, caminhando adiante; o rebanho
é chamado a percorrer esse caminho atrás dele. Estamos a caminho, em situação
de êxodo e de seguimento, na condição de nos deixar conduzir por Deus, como um
rebanho pelo seu pastor.
b. O tema do pastor que provê nos abre para uma atitude de
confiança e humilde espera, experimentando assim o êxodo frente às preocupações,
angústia e medo, diante dos problemas existenciais do comer, do vestir, da
casa...
c. O tema do pastor que salva: sentimo-nos pecadores/pecadoras,
envolvidos, cuidados e reconduzidos (conversão) ao rebanho. Confiança e
conversão: a nós se concede a possibilidade real do retorno, porque o amor do
pastor perdoa e reabilita.
d. O tema do pastor que se alia: impulsiona-nos para a intimidade
e comunhão de vida dentro da Família Paulina; é o Senhor quem nos liga mediante
um pacto. Como conclusão destes pontos, delineia-se para nós o itinerário
espiritual da atitude de ouvir, de servir, de doar a vida; tal é, de fato, o
itinerário do Bom Pastor.
Os nossos relacionamentos com o Mestre Divino: Mestre - Discípulo
A. As atitudes do
discípulo
O relacionamento do consagrado para com o Mestre
Divino pode ser resumido em três atitudes, todas contidas claramente na Sagrada
Escritura, citadas pelo Fundador de forma tão insistente que não fazia pausas,
extamente porque expressam a vontade do Pai sobre cada um de nós (cf. “Lede
as Sagradas Escrituras”).
1. Escuta – A escuta de que fala a Escritura
não indica simplesmente um ato do órgão auditivo, mas um ato do espírito.
Significa aquele “ob-audire”, que é a audição de quem adora, tendo em
vista uma ação uniformada com a vontade do Pai; significa pois silêncio,
adoração, atenção para com o Cristo que nos fala e se faz nosso Mestre.
Os Salmos apresentam o exemplo da serva que pende dos
lábios de sua patroa, para obedecer-lhe em tudo. Esta “tensão” espiritual não
indica passividade, mas abertura para Deus.
Em diversas oportunidades, na Escritura, Deus dirige
este convite ao seu povo: “Ouve, Israel!” (Dt. 4,1). O homem bem disposto dirá
com Samuel: “Fala, Senhor, que teu servo te ouve” (1Sm 3,10).
No Evangelho, por diversas vezes,
Jesus convida as pessoas a ouvirem as suas palavras, lamentando-se dos fariseus
que não as aceitam. O acolhimento da Palavra de Deus é a primeira condição para
que alguém possa estar entre seus discípulos e alcançar a santidade.
2. Seguimento – Jesus convida os apóstolos a
segui-lo, deixando tudo por ele e pelo Evangelho. O convite vale para todos os
que creem em Cristo. “Quem me segue não caminha nas trevas” (Jo 8,12). “Quem
deseja seguir-me, tome a sua cruz e siga-me cada dia” (Lc 9,23). “Quem não renuncia
a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33).
Todas essas expressões indicam a atitude radical de
seguir Jesus. O “seguir Jesus” não deve ser entendido em sentido geográfico,
mas é a disponibilidade para assumir o seu modo de pensar, querer e amar;
trata-se da assimilação de sua doutrina, de nutrir-se de todas as suas
Palavras, sem desperdiçar nenhuma (cf. 1Sm 3,19).
E quando o nosso “homem velho”, ou seja, as nossas más
tendências querem nos afastar de Cristo, devemos “deixar tudo” para seguir
Jesus. Devemos confiar em Cristo, no seu magistério, porque ele é a Verdade e
deseja apenas o bem e a promoção da pessoa.
3. Identificação. – Não é presunção; antes,
expressa a vontade explícita do Pai: assim como “o Pai e o Filho são uma só
coisa”, assim sejamos também nós com Cristo (cf. Jo 17). Trata-se, portanto, de
uma exigência da vida cristã.
De fato, nós estamos inseridos em Cristo como o ramo
na videira (Jo 15), como os membros no corpo (1Cor 12,12ss). Eis por que São
Paulo diz aos seus fiéis: “Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus”
(Fl 2,5). Paulo não tem medo de apresentar sua experiência de identificação na
conversão realizada nele por Cristo: “Para mim, o viver é Cristo” (Fl 1,21).
“Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
A vida de Cristo em nós exige que vivamos o “mistério
pascal”, ou seja, que saibamos aderir ao sofrimento e à morte de Cristo, para
podermos viver e ressurgir com Ele: “Pelo batismo, nós fomos sepultados com
Cristo, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos para a glória
do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 6,4).
A união com Cristo é o termo do seguimento, sendo
necessário torná-lo efetivo dia após dia, no amor a Cristo; dessa forma
evidenciamos a santidade de que fomos revestidos no batismo e na consagração.
Pontos de Reflexão
É oportuno um aprofundamento bíblico
dessas três atitudes que marcam o nosso relacionamento com o Mestre Divino; a
série de citações bíblicas ajuda-nos neste sentido:
– escuta: Ex 15,26; Dt 6,4; 1Rs
10,8; Pv 20,12; 21,28; Jr 8,6; 10,1; 11,3; Mt 17,5ss e par.; Mc 12,29; Lc 8,21;
10,16.39; 16,29; Jo 5,24; 8,47; 10,3; 18,37.
– seguimento: Dt 13,4; 1Rs 11,6;
18,21; Is 35,8; Mt 4,20 e par.; 8,19.22 e par.; 9,9 e par.; 16,24 e par.;
19,21.27 e par.; Jo 8,12; 10,4-5; 12,26; 13,36; 21,19.22; Ap 14,4.
– identificação: Mc 9,37; Lc 9,48; 10,16;
Jo 12,44-45; 15,20; At 9,5; 22,8; 26,15; Gl 2,20ss; 4,14.19; Fl 1,21; Cl 1,24;
3,1-3.
B. Mestre-discípulo:
aspecto bíblico-exegético
No quadro das “atitudes” de que se falou no parágrafo
anterior, a nossa relação fundamental, espiritual e carismática, é a relação
específica entre Jesus que é o nosso Mestre/Pastor e nós que somos os seus
discípulos (cf. ficha 5 “Princípio inspirador: Jesus Mestre e Pastor”, parte
B). Aqui, aprofundaremos sobretudo a relação Mestre-discípulo.
Diante de Jesus que se apresenta como Caminho,
a atitude do discípulo é especificada pelo verbo grego akoluthéo: acompanhar,
caminhar com, seguir. São ações que indicam uma resposta ativa: estar em
movimento, a caminho, em crescimento com, estar no passo de. Jesus caminha
adiante e nós atrás dele: nunca precedê-lo; nem correr: Jesus é um mestre de
paz, que entra na cidade da paz, Jerusalém, sobre um burrico. Não é o cavalo
que combate, nem aquele que corre: manter-se no passo de Jesus que cavalga este
manso animal. Jesus é a orientação, a direção, a meta diante do discípulo.
Jesus que se apresenta como Verdade, é descrito
nos Evangelhos como alguém que ensina pelas estradas, nas sinagogas, no alto
das colinas, ao longo do mar. Neste caso, a atividade dos discípulos é expressa
pelo verbo mantháno, que significa associar-se a um mestre, a um rabino,
para aprender todos os seus ensinamentos sobre a lei. Trata-se, pois, de estar
ligado com profunda escuta e reflexão sobre as palavras que o Mestre pronuncia,
e que, para o discípulo, são todas muito preciosas, são a sua sabedoria, a luz
que ele difundirá. São a Verdade.
A Jesus, que se apresenta como Vida, a resposta
do discípulo pode ser aquela indicada por Paulo (cf. 1Cor 4,15), que se declara
pai, tendo gerado os Coríntios, por meio do Evangelho, para a fé e a salvação: mímetai,
ou seja, imitar, absorver a totalidade do Mestre com todas as suas atitudes
vitais, funções, sentimentos, pensamentos, atividades, tornando-se dele uma
imagem gloriosa. O discípulo é quem se tornará semelhante ao Mestre, que se
configurará de tal forma com ele, que será ele mesmo vivo hoje, e que em cada
momento se sentirá um só com ele: “já não sou eu que vivo, mas é ele que vive
em mim” (Gl 2,20). A Vida que é Jesus só pode ser apreendida moldando-se em
Jesus totalmente, como fazem os atores em relação a suas personagens.
Resumindo, o discípulo/a (e, portanto, cada
pau-lino/a) se qualificará como aquele que segue Jesus Caminho (seguimento se
diz da própria vida religiosa): aquele que aprende com assiduidade (isto é, com
estudo) Jesus Verdade e as suas palavras: aquele que imita pessoalmente Jesus
Vida com atitude vital.
O discípulo se torna, assim, uma “réplica” viva do
Mestre: uma atualização da sua Palavra, um caminho de vida, e vida que ele
mesmo se torna para os outros. Traz em si os traços distintivos do Mestre:
serviço (Mt 23,7-12), humildade (Mt 18,1-15); pobreza (Mt 19,23ss), fidelidade
(Lc 12,8-12), perseguições (Mt 10,16-25).
Logo que esta carta chegar, solicito aos sacerdotes, aos professos, às professas que recebam este cordialíssimo convite da parte de Jesus Mestre, e na medida do possível, que comecem a realizá-lo, de imediato. Modo: substancialmente deve honrar a Jesus Mestre Caminho, Verdade e Vida, unindo-nos a ele com toda a mente, a vontade e o coração. Será ótimo se neste dia se realizar o retiro mensal; diversamente, instrução evangélica, Missa solene, hora de adoração dedicada ao exame do mês e aos propósitos... O Divino Mestre estará entre seus filhos e discípulos, com iluminação, conforto e efusão de graças. Em Cristo Caminho, Verdade e Vida”.
O texto da carta conteria algumas afirmações presunçosas, se não estivéssemos convencidos de que as palavras do Fundador sempre foram comedidas e de que em sua vida, em diversas ocasiões, existiram sinais claros da vontade divina. Para ser uma vontade divina tão evidente (“disso temos sinal físico, sensível aos olhos, aos ouvidos, ao tato”), deve tê-lo visto, ouvido e tocado aquele que se apresentou para comunicar a vontade divina.
Posto isso – que talvez jamais poderemos verificar – permanece o fato de um “cordialíssimo convite” a viver, como Família Paulina, o primeiro domingo dedicado ao Divino Mestre.
No “São Paulo”, outubro de 1956, o Fundador sugeria as disposições com que celebrar o primeiro domingo de cada mês; são as atitudes sugeridas e resumidas na breve oração “Creio, meu Deus” (Orações, 70):a. em adoração ao Verbo Divino feito homem: “Verbum caro factum est”;
b. em reparação dos pecados contra Ele: com ou pela imprensa, cinema, rádio, televisão. “Prius pro suis delictis, deinde pro populo”;
c. em ação de graças pela vocação de cooperar na sua pregação e na pregação da Igreja com os meios mais rápidos e eficazes;
d. em súplica e consagração do estudo e do apostolado de redação, técnica, propaganda (cf. CISP 568.
Se formos fiéis a esse compromisso, é explícita a promessa do Divino Mestre, de permanecer presente em nosso meio, com: a. luz (AD 9, 15, 23, 47, 136, 200);
b. conforto (AD 16, 24, 43-44, 64, 95, 151-158, 202);
c. efusão de graças (AD 4-6, 27, 32, 82, 182, 200).
Apostolado: dar Cristo Mestre, Caminho, Verdade e Vida
“É útil recordar aquilo que tantas vezes foi tema de
meditação e que serve para nos introduzir nesta devoção, que não pode
restringir-se à piedade, antes, deve partir da piedade e estender-se a toda
a vida apostólica, porque o fruto do nosso apostolado é proporcional a
isto: apresentar Jesus Cristo Caminho, Verdade e Vida” (Pr DM 80).
Aqui está o ponto de chegada da espiritualidade
paulina: ela é chamada a manter e marcar profundamente, por si mesma, o
apostolado, que juntamente com a santidade das pessoas é o objetivo da Família
Paulina. A espiritualidade deve necessariamente tornar-se anúncio.
Este empenho apostólico sempre guiou Padre Alberione
neste duplo binário de reflexões:
1. Dar Cristo como ele verdadeiramente é. –
Leão XIII tinha tratado o problema com realismo: Cristo não é conhecido e não é
sempre dado “como verdadeiramente é”. Assim, o homem não é atingido e não
possui bases suficientes para ser “cristão”. O cristianismo raramente é
autêntico; as pessoas não sentem Cristo, porque os cristãos não o conhecem e
não o recebem na plenitude da sua força redentora.
Padre Alberione observou atentamente ao seu redor. Sem
lastimar demais os males presentes (“As lágrimas estéreis sobre os males
presentes não glorificam a Deus, nem proporcionam o bem aos homens”), e sim
mantendo-os continuamente diante de si, esforçou-se para fazer alguma coisa: o
apostolado “caminho-verdade-vida” pareceu-lhe a resposta positiva e
indispensável contra esses males: “Nós devemos dar o Cristo todo, sob todos os
seus aspectos”, “como verdadeiramente ele é”.
2. São necessários apóstolos e apostolados. –
Para que isso aconteça, é preciso que estejamos profundamente convencidos de
que realizamos o apostolado sendo apóstolos; ou seja, conseguimos dar Cristo
como ele é, se estamos propensos a vivê-lo intensamente no cotidiano. Somos
apóstolos o tempo todo, não somente quando fazemos apostolado. Por isso:
a. Cada um dos consagrados é sujeito do apostolado.
Cada membro da Família religiosa está diretamente empenhado em viver
integralmente Jesus Cristo: “Inteiramente! fazendo-nos caminho, verdade e vida!
Uma vez que isso não é um método, ou uma filosofia, ou uma moral, mas é o
método... o apostolado, o segredo...” (CISP 19). Cada um dos consagrados deve
revestir-se da plenitude de Cristo. A convergência desse empenho criará
consequentemente “a personalidade do Instituto”, na expressão do Fundador:
“Formar a personalidade do Instituto, ou seja, formar a personalidade em Jesus
Mestre, segundo o exemplo de São Paulo: focar, isto é, endereçar todas as
atitudes, qualidades, atividades, forças, na única personalidade que é própria
do Instituto...” (Pr DM 77-78).
b. Nossas obras externas são fruto do nosso
apostolado, com instrumentalização adequada para alcançar esta finalidade.
Permanece, porém, como verdadeiro – aliás este é o problema essencial – que,
através dos instrumentos técnicos, o apostolado paulino deve difundir uma ação vital
e complexa que se torne “caminho – verdade – vida” para as pessoas.
Como realizá-la? O apóstolo e as equipes de apóstolos
paulinos vivem aqui o verdadeiro problema de sua vocação. Os modos e os graus
serão muito diversos, as circunstâncias levarão a agir por tentativas, por
graduação, por alternativas, por formas sempre novas e diversas; mas, em
substância, é evidente que o princípio da apresentação do Cristo integral deve
tornar-se a alma de qualquer iniciativa apostólica.
Pontos para reflexão
– A vida
do consagrado, para ser apostólica, deve tender à cristificação (CISP 19, 558,
862; RdA 124).
– É
constante e urgente o convite do Fundador para que se crie, nas comunidades, um
clima que torne evidente não só a “suprema personalidade” de cada paulino (CISP
783), mas também a misteriosa “personalidade do Instituto”, para não correr o
risco de empobrecer o apostolado da Congregação. Cf. Pr DM 25-27; CISP 462,
1042; UPS I, 376; e, com outras passagens que possam conhecer, procure delinear
os elementos da personalidade do Instituto.
– Toda
atividade apostólica deve dar o Cristo integral, isto é, “ser completa nas três
partes: caminho, verdade, vida”. Procure pensar como imbuir desse princípio as
múltiplas atividades do apostolado paulino (cf. CISP 841-842, 976; Pr A 166,
430).
Em carta de 28 de outubro de 1936, enviada a todas as casas então existentes, Padre Alberione escreveu:
“Propomos dedicar o primeiro domingo do mês ao Divino Mestre; esta prática provém da vontade divina; disso temos sinal físico, sensível aos olhos, aos ouvidos, ao tato.
Primeiro Domingo do Mês: Consagrado a Jesus Mestre
Em carta de 28 de outubro de 1936, enviada a todas as casas então existentes, Padre Alberione escreveu:
“Propomos dedicar o primeiro domingo do mês ao Divino Mestre; esta prática provém da vontade divina; disso temos sinal físico, sensível aos olhos, aos ouvidos, ao tato.
Logo que esta carta chegar, solicito aos sacerdotes, aos professos, às professas que recebam este cordialíssimo convite da parte de Jesus Mestre, e na medida do possível, que comecem a realizá-lo, de imediato. Modo: substancialmente deve honrar a Jesus Mestre Caminho, Verdade e Vida, unindo-nos a ele com toda a mente, a vontade e o coração. Será ótimo se neste dia se realizar o retiro mensal; diversamente, instrução evangélica, Missa solene, hora de adoração dedicada ao exame do mês e aos propósitos... O Divino Mestre estará entre seus filhos e discípulos, com iluminação, conforto e efusão de graças. Em Cristo Caminho, Verdade e Vida”.
O texto da carta conteria algumas afirmações presunçosas, se não estivéssemos convencidos de que as palavras do Fundador sempre foram comedidas e de que em sua vida, em diversas ocasiões, existiram sinais claros da vontade divina. Para ser uma vontade divina tão evidente (“disso temos sinal físico, sensível aos olhos, aos ouvidos, ao tato”), deve tê-lo visto, ouvido e tocado aquele que se apresentou para comunicar a vontade divina.
Posto isso – que talvez jamais poderemos verificar – permanece o fato de um “cordialíssimo convite” a viver, como Família Paulina, o primeiro domingo dedicado ao Divino Mestre.
No “São Paulo”, outubro de 1956, o Fundador sugeria as disposições com que celebrar o primeiro domingo de cada mês; são as atitudes sugeridas e resumidas na breve oração “Creio, meu Deus” (Orações, 70):a. em adoração ao Verbo Divino feito homem: “Verbum caro factum est”;
b. em reparação dos pecados contra Ele: com ou pela imprensa, cinema, rádio, televisão. “Prius pro suis delictis, deinde pro populo”;
c. em ação de graças pela vocação de cooperar na sua pregação e na pregação da Igreja com os meios mais rápidos e eficazes;
d. em súplica e consagração do estudo e do apostolado de redação, técnica, propaganda (cf. CISP 568.
Se formos fiéis a esse compromisso, é explícita a promessa do Divino Mestre, de permanecer presente em nosso meio, com: a. luz (AD 9, 15, 23, 47, 136, 200);
b. conforto (AD 16, 24, 43-44, 64, 95, 151-158, 202);
c. efusão de graças (AD 4-6, 27, 32, 82, 182, 200).