segunda-feira, 24 de junho de 2013

Mais que colaborador, corresponsável





Em agosto de 2012, o Papa Bento XVI, enviando mensagem à VI Assembléia Ordinária do Fórum Internacional da Ação Católica , colocou em evidência o Ano da Fé e a Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos para a Nova Evangelização.

Nesta mensagem ele afirmou: “A corresponsabilidade exige uma mudança de mentalidade no que diz respeito, especialmente, ao papel dos leigos na Igreja”, que não devem ser considerados apenas ‘colaboradores’ mas corresponsáveis do ser e do agir da Igreja ”, escreve.

Para que isto aconteça, o Papa afirmou ser necessária “a oração, o estudo, a participação ativa na vida eclesial, com um olhar atento e positivo em relação ao mundo, na continua busca dos sinais dos tempos”.

Os Institutos de Vida Secular Consagrada da Família Paulina são uma resposta concreta a esta colocação de Bento XVI. No olhar visionário de Pe. Alberione, ele previa a necessidade de leigos consagrados que pudessem atuar em todos os segmentos da sociedade, de forma a serem testemunhas corajosas do Evangelho, levando luz e esperança aos séculos vindouros tão conturbados.

Ingressar no Instituto Santa Família é optar pela decisão de sermos santos como casal, que consagrados a Deus devemos espelhar este modelo de vida orante, sacramental, de estudo constante, formação doutrinal contínua e de testemunho diário e alegre de que Jesus Mestre é Caminho, Verdade e Vida. 

Cada etapa que vai sendo vivida e construída na busca da disciplina e da perseverança , nos torna mais conscientes de que as palavras do Papa Emérito Bento XVI são fundamentais, no sentido de despertar para esta corresponsabilidade que precisa ser vivida na Igreja, em casa, no trabalho, e em sociedade.

Somos chamados a um constante aperfeiçoamento, tanto no que tange ao carisma Paulino, quanto ao caráter missionário desta vocação de vida secular consagrada leiga, que abre para nós perspectivas iluminadas, inusitadas e agraciadas pelo Espírito Santo, que nos conduzem à compreensão de que tudo passa, só Deus permanece, e é capaz de responder aos anseios mais profundos de nossas almas.

Na escuridão em que vivem tantos e tantas, somos chamados a “guiar ao encontro com Cristo, anunciando a sua mensagem de salvação com linguagem e modos compreensíveis ao nosso tempo, caracterizado por processos sociais e culturais em rápida transformação, é o grande desafio da nova evangelização”, segundo Bento XVI.

Com as mídias sempre mais rápidas, e com um espectro de ação cada vez maior, cabe-nos ouvir o apelo de Cristo : “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura”. (Mc 16,15)

Malu

sábado, 22 de junho de 2013

Nota da CNBB: “Ouvir o clamor que vem das ruas"




Os bispos manifestam "solidariedade e apoio às manifestações, desde que pacíficas, que têm levado às ruas gente de todas as idades, sobretudo os jovens". A presidência da CNBB apresentou a Nota em entrevista coletiva e o documento foi aprovado na reunião do Conselho Permanente concluída na manhã desta sexta-feira, 21 de junho.

Leia a Nota:

Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunidos em Brasília de 19 a 21 de junho, declaramos nossa solidariedade e apoio às manifestações, desde que pacíficas, que têm levado às ruas gente de todas as idades, sobretudo os jovens. Trata-se de um fenômeno que envolve o povo brasileiro e o desperta para uma nova consciência. Requerem atenção e discernimento a fim de que se identifiquem seus valores e limites, sempre em vista à construção da sociedade justa e fraterna que almejamos.

Nascidas de maneira livre e espontânea a partir das redes sociais, as mobilizações questionam a todos nós e atestam que não é possível mais viver num país com tanta desigualdade. Sustentam-se na justa e necessária reivindicação de políticas públicas para todos. Gritam contra a corrupção, a impunidade e a falta de transparência na gestão pública. Denunciam a violência contra a juventude. São, ao mesmo tempo, testemunho de que a solução dos problemas por que passa o povo brasileiro só será possível com participação de todos. Fazem, assim, renascer a esperança quando gritam: “O Gigante acordou!”

Numa sociedade em que as pessoas têm o seu direito negado sobre a condução da própria vida, a presença do povo nas ruas testemunha que é na prática de valores como a solidariedade e o serviço gratuito ao outro que encontramos o sentido do existir. A indiferença e o conformismo levam as pessoas, especialmente os jovens, a desistirem da vida e se constituem em obstáculo à transformação das estruturas que ferem de morte a dignidade humana. As manifestações destes dias mostram que os brasileiros não estão dormindo em “berço esplêndido”.

O direito democrático a manifestações como estas deve ser sempre garantido pelo Estado. De todos espera-se o respeito à paz e à ordem. Nada justifica a violência, a destruição do patrimônio público e privado, o desrespeito e a agressão a pessoas e instituições, o cerceamento à liberdade de ir e vir, de pensar e agir diferente, que devem ser repudiados com veemência. Quando isso ocorre, negam-se os valores inerentes às manifestações, instalando-se uma incoerência corrosiva que leva ao descrédito.

Sejam estas manifestações fortalecimento da participação popular nos destinos de nosso país e prenúncio de novos tempos para todos. Que o clamor do povo seja ouvido!

Sobre todos invocamos a proteção de Nossa Senhora Aparecida e a bênção de Deus, que é justo e santo.

Brasília, 21 de junho de 2013

Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida 
Presidente da CNBB

Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís 
Vice-presidente da CNBB

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília 
Secretário Geral da CNBB




segunda-feira, 17 de junho de 2013

A oração, no pensamento de Pe. Alberione



Trechos de Pe. Alberione, em Balsamo (Milão), 12 de agosto de 1958, por ocasião do 1° curso de exercício do nascente Instituto de Vida Secular Consagrada, Nossa Senhora da Anunciação.


O que é a oração todos sabem. Existe a oração vocal e existe a oração mental. A oração vocal: por exemplo, o terço, a via-sacra, o canto dos ofícios, as orações da manhã e da noite etc. Chamam-se vocais, porque são feitas com a voz, não porque sejam feitas somente com a boca, mas porque, além da mente e do coração, há também a palavra externa. Por isso, falando, por exemplo, do terço, há a meditação do mistério e no mistério procura-se tirar um fruto, um propósito.

Além da oração vocal, temos a oração mental. É aquela que se faz especialmente no íntimo, com a mente, com o coração e também com os propósitos. Quem faz o exame de consciência, faz oração mental. Quem exprime ao Senhor e tem no seu coração desejos santos, faz oração mental, interna.

É preciso, pois, distinguir: há a oração feita de fórmulas, há o espírito de oração e há a vida de oração. Tem-se oração de fórmulas, quando se recitam, por exemplo, as orações da manhã e da noite, quando se reza o terço, quando se dizem as orações de preparação e ação de graças para a comunhão. Todas estas são fórmulas de oração que lemos ou dizemos acompanhando-as com sentimento interno. Mas, além destas fórmulas de oração, há também o espírito de oração que se tem quando interiormente se fala com Deus: sente-se a união com Deus, exprimem-se sentimentos próprios. Existem almas que em vez de fórmulas de preparação e agradecimento para a comunhão, fazem orações espontâneas que saem da alma e do coração. Então há o espírito de oração. O espírito de oração é sentimento interior de humildade e de confiança em Deus. Sente-se a necessidade e recorre-se ao Senhor. Sentimos que de nós mesmos nada podemos, com Deus podemos tudo. Sentimos que somos filhos pequeninos, mas Deus é o Pai bom e grande.

Nossa vida vale enquanto nos merece o céu, e é grande dom de Deus do qual devemos prestar contas. E quando esse dom não fosse utilizado para Deus, o que seria? Poucos são os anos de vida, mas as consequências são eternas. Quantos, enquanto estamos falando, sofrem as penas do inferno e compreendem que teriam podido, na sua vida, ganhar a felicidade eterna. Por isso vivem no desespero eterno nos seus sofrimentos, que não terminarão jamais. E quantas almas, pelo contrário, enquanto estamos falando, nos olham do céu, nos animam e nos esperam: “os justos se juntarão ao meu redor, por causa do bem que me fizeste (Sl 142,8). Animam-nos: andai em nosso caminho, não vos desvieis para a direita nem para a esquerda. O caminho é também difícil, mas pé na estrada, ao céu.

Quando vivemos neste sentimento de sobrenaturalidade, pode-se dizer que vivemos em continua oração. E isto nos põe no terceiro grau de oração. O Senhor diz no Evangelho: “Oportet orare semper et non deficere”: é preciso orar sempre, sem jamais esmorecer (cf. Lc 18,1). Pode-se interpretar este texto para dizer que é necessário orar sempre sem jamais cansar-se? Sim. Isto quer dizer que hoje é preciso orar quanto devamos, amanhã orar quanto devamos, no ano que vem, ainda orar quanto devamos.

Passamos as vinte e quatro horas do dia e enquanto elas se sucedem, o sol faz o seu giro, para falarmos popularmente. O sol nas vinte e quatro horas vê sobre a terra elevar-se continuamente o cálice e a hóstia para o céu. São quatrocentos mil sacerdotes que celebram missa durante o dia e há três, quatro consagrações cada segundo. Isto quer dizer que existem uma missa contínua e continuada, que o sacrifício da cruz está sempre vivo. O sol que hoje à esta hora ilumina certas terras, depois passa com a sua luz a outras terras e a outras terras ainda, mas continuamente é a hóstia, é o cálice que se elevam para o céu em adoração, agradecimento, satisfação e súplica a Deus. Um calvário sempre vivo, sempre verdadeiro, sempre atual, que se prolonga nos séculos, que glorifica o Senhor e faz chover graça e bênção sobre a humanidade mais afastada de Deus. Quem durante o dia tem intenção de viver unido a todas estas missas, ora dizendo: “Ofereço-vos todas a minhas intenções, ações e sofrimentos em união com todos os sacerdotes que celebram a santa missa”; quem age desta maneira, está em contínua adoração. Por outra parte, diz São Paulo: “Tudo o que fizerdes de palavra ou ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus” (Cl 3,17). Tudo, também o descanso, também o tempo da recreação, tudo seja em nome do Senhor Jesus, para maior glória de Deus. Mas tudo unido a este sacrifício continuado sobre a terra. É isto que mantém firme a mão da justiça de Deus para não ferir a humanidade tão maculada de pecados.

Quem não vai à oração, vai à ruína. Muitos vão à ruína porque não oram. Mas também, os que oram tem provações, sofrimentos, às vezes tem padecimentos, são contrariados, combatidos. É verdade, mas durante as provações, progridem, transformam seus sofrimentos em méritos, e as suas provações servem para firmá-los na virtude: “com a tentação ele vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar (1Cor 10,13).
Falamos da obediência, da castidade, da pobreza, mas não quis descer a particularidades. Pode ser que haja momentos de desorientação, mas quem ora, entenderá bem a virtude da pobreza, da castidade, da obediência, assim como entenderá bem o voto de pobreza, de castidade, de obediência, os quais conferem aumento grande de graça e de mérito para a eternidade. Oremos muito! Dir-se-á, talvez, que não há tempo, mas então é necessário converter todo o tempo em oração. Há almas que são como que uma oração ambulante, que caminha. Fazem as coisas em casa, fora de casa, no estabelecimento comercial, no local de trabalho, ou na igreja. Mas qualquer coisa que façam, fazem-na por Deus, unidas em espírito às missas que se celebram em todo o mundo, oferecendo sempre com Jesus-Hóstia, a si mesmas. Então não devemos mais nos lamentarmos não haver tempo para orar. São as vinte e quatro horas do dia. Mesmo dormindo, porque à noite se põe a intenção de que todas as respirações sejam transformadas em atos de amor de Deus, e todas as batidas do coração que se sucederem durante o sono sejam atos de amor de Deus. Então tudo acontece em cumprimento da vontade de Deus. À noite, pede-se ao Senhor que prepare as graças para o amanhã e que mande, enquanto descansamos, muitas almas para o céu, para o seu descanso eterno. Há almas que decidiram dar ao céu pelo menos uma alma no dia, e libertar ao menos uma alma do purgatório. Assim, realiza-se apostolado e sé obtêm resultados.

Agora, se olhais o mundo, se olhais a sociedade, os movimentos operários, as famílias, faz-se de tudo, fazem-se muitos sacrifícios muitos trabalhos, tomam-se tantos caminhos, empregam-se tantos meios e muitas vezes se deixa de lado a oração. “Temos muito a fazer!” Mas a primeira coisa a fazer é orar. E se o dia começa sem Deus, que acontecerá no decurso deste dia? Certos motivos que se aduzem a que servem para a alma? Vivemos somente para a terra, ou vivemos para a eternidade?

(Pe. Alberione, Meditações por consagradas seculares, pp 51-58, Edizioni Paoline, 1976)

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Apóstolo Paulo, um grande comunicador


 

 
No último sábado, 08 de junho, os membros dos Institutos de Vida Secular Consagrada da cidade de São Paulo, participaram do retiro pregado pelo Superior Provincial da Família Paulina, Pe. Valdir José de Castro, ssp, na Cidade Paulina.
O tema do retiro foi: "Apóstolo Paulo: Um estilo de vida a serviço da evangelização."
O texto na íntegra, está na seção Formação.





Tivemos a oportunidade de refletir sobre a espiritualidade cristã como um processo de cristificação, ou seja, devemos deixar-nos conduzir pelo estilo de vida de Jesus. Não foi isto o que fez Paulo? Ele não se tornou um missionário após o episódio de Damasco?

O Papa Francisco tem insistido muito neste aspecto, de que a Igreja não olhe muito para dentro, mas que saia em missão, e anuncie Cristo onde Ele ainda não é conhecido, nem amado. A Igreja não é o sol, mas lua que se deixa iluminar pelo sol que é Cristo. Neste contexto, cabe ainda acrescentar, que este anúncio deve acontecer essencialmente com atos concretos que materializem o agir de Cristo.

Paulo acreditava em Deus, e no caminho de Damasco se conscientiza que esse Deus se manifesta na pessoa de Cristo, e de Cristo crucificado  Ele passa a seguir Jesus na radicalidade - que é seu estilo - e transmitindo a experiência vivida à partir deste encontro com Cristo. 

A comunicação só acontece quando há abertura entre quem comunica, e o objeto da comunicação. É necessária uma partilha, uma troca. Isto aconteceu de fato entre Cristo e Paulo.

Mas afinal, o que fazia de Paulo um grande comunicador?

- Ele tinha o conteúdo de uma experiência de Deus;
- Fazia de tudo para construir comunhão com aqueles a quem falava de Cristo;
- Comunicava-se com Deus pela oração;
- Trabalhava em grupo, com colaboradores;
- Insistia em suas cartas para que todos se dessem bem, que vivessem em paz e em  comunhão;
- Paulo enviava cartas quando não podia estar presente, ou seja, ele investia nas relações interpessoais;
- Ele respondia, através das cartas, também aos problemas cristãos que as comunidades tinham, de forma a aconselhar a comunidade a retomar a harmonia.

Paulo foi um homem profundamente transformado por Cristo, e que assumiu sua conversão dando-se de forma absoluta por causa do Evangelho.

Hoje, estamos muito envolvidos com a informação que acontece através dos vários instrumentos de mídia que a tecnologia desenvolve. Isto não significa, contudo, que estamos nos comunicando mais. Comunicar-se é muito mais que informar-se. Na comunicação existe, além de um emissor e um receptor, comunhão, troca, escuta, partilha.

Compreendamos então, seguindo o roteiro das Cartas de São Paulo, que a qualidade da comunicação repercute na qualidade das relações. Sigamos seu exemplo na busca desta comunhão em todos os nossos ambientes de convívio: igreja, família, trabalho, na vizinhança e assim por diante.

Ainda no sábado, tivemos após o retiro, a Primeira Profissão dos conselhos evangélicos de Paulo Henrique Andrade Araújo no Instituto São Gabriel Arcanjo (para rapazes). Veja algumas imagens na seção Álbum de Família.
 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Junho, mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus





No calendário litúrgico das festas católicas, logo após a celebração do Corpus Christi, surge a Solenidade do Coração de Jesus, que neste ano acontece dia 7 de junho, coincidentemente na primeira sexta feira do mês.

Ao contemplarmos o Coração de Jesus, estamos, na verdade, focando sobre toda a sua afetividade, pois o coração simboliza o "eu" emocional e afetivo, a essência do sentir humano. Jesus, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, tem coração, e coração plasmado num ventre humano, no corpo castíssimo da Virgem Maria.

Lá desde o momento de sua concepção, operada por obra do Espírito Santo, passou a pulsar como que já ardendo de amor por nós, seus irmãos, ansiando por cumprir a vontade de seu Pai. O Coração de Jesus possui majestade infinita, pois é templo santo de Deus, tabernáculo do Altíssimo, Ele e o Pai são inseparáveis. Nele habita uma caridade que arde como a sarça que Moisés contemplou no Monte Horeb, um fogo de amor que jamais se extingue. Ele é pleno de bondade, e contém todas as virtudes em perfeição. 

O Coração de Jesus é o centro de todos os corações. Fomos plasmados pelas mãos de Deus, somos fruto de sua ternura e sabedoria. Como pode uma criatura passar a vida sem ter contato com seu Criador? Como é possível que ignoremos que o Coração de Cristo é o nosso referencial, nossa identidade mais profunda de seres feitos à sua imagem e semelhança?

Celebrar o Sagrado Coração de Jesus é celebrar o amor do Mestre por nós, é assumir o compromisso de relacionarmo-nos com Ele, uma vez que toda devoção para ser autêntica, deve estar centrada na própria pessoa, e na obra de Cristo. Não há como escolher apenas um aspecto, mas de encontrar e abraçar o mistério de sua totalidade que está centrada no seu Coração.


Eis, pois, algumas conclusões tiradas no simpósio de teologia, realizado em Lisboa nos dias 17 e 18 de maio de 1984 (que teria sido subscrita integralmente por Pe. Alberione, porque retratou a catequese concreta de toda a sua vida): 

. É cada vez maior a convicção de que é preciso passar de uma espiritualidade centrada sobre coisas (devoções à cruz, ao sangue, às chagas, ao santo sudário, ao Coração) para uma espiritualidade centrada sobre a própria pessoa do Salvador; por isso, ao invés de falar em “devoção ao Coração de Jesus”, se aprofundará a “devoção a Jesus do coração traspassado”. Trata-se de um problema de atenção à linguagem, porque nunca direi “vi o vulto de João”, mas “vi João”.

. O simbolismo do “coração” torna-se profunda chave de leitura, mas decisivamente bíblica; pelo que se passará de uma pastoral caracterizada pela emotividade e pelo sentimentalismo para uma espiritualidade do amor amável e forte, gratuito e criador, fruto do Espírito Santo, fundamento do nosso empenho a serviço do Reino de Deus e da fraternidade humana.

. O “Salvador do Coração traspassado” torna-se sinal do mistério pascal: ao mesmo tempo sinal de morte (a ferida, o sangue do sacrifício) e sinal de vida (a água como símbolo do dom do Espírito). É uma visão não mais “dolorida”, um tanto adocicada e negativa, mas ligada à fé no Cristo Ressuscitado e Senhor. Do Coração traspassado brota a fonte da vida, como do coração do grão de trigo que morre surge a nova planta.

. O “Salvador do Coração traspassado” não é apenas o ícone do amor de Deus, mas nos apresenta o estilo e a modalidade com que nós mesmos nos tornamos capazes de amar a Deus no Cristo e de nos amar uns aos outros com a graça do Espírito Santo. Uma visão bíblica do “coração” de Jesus encontra, em Cristo Vida, uma resposta de santidade para a santificação do coração.

Que saibamos tirar de nossos corações toda a dureza e indiferença, e manifestemos durante todo este mês nosso amor por Aquele que se deu inteiro por cada um de nós.

Louvado seja o Divino Coração que nos trouxe a salvação. A Ele a honra e a glória pelos séculos dos séculos! Amém.