Entrevista


A caminho do Calvário, longe dos "bonachões" e "profetas da desgraça"
Os dramas da atualidade através da lente da misericórdia: é nesses termos que pode ser resumido o espírito das meditações da via-crúcis desta Sexta-Feira Santa no Coliseu.
Entrevistado por Zenit, o cardeal arcebispo de Perugia, Gualtiero Bassetti, falou dos textos da via-crúcis que ele mesmo elaborou.
ZENIT: Eminência, as suas meditações para a via-crúcis são fortemente ligadas ao Ano da Misericórdia: em que medida o evento jubilar o inspirou nesta tarefa?
O Jubileu emoldura toda a via-crúcis. Não por acaso, as minhas meditações se intitulam “Deus é misericórdia” – que é uma citação de um livro homônimo do pe. Divo Barsotti – e focam na miséria e no sofrimento dos homens e mulheres de hoje. Pessoas que, em grande parte, vivem como se Deus não existisse, mas, no fundo, têm uma grande sede de Deus e uma profunda necessidade de beber da fonte do Senhor. O problema dramático de hoje é que não sabem mais encontrar e reconhecer a fonte desta água nova. Daí a necessidade imensa da Misericórdia, que é o canal da graça de Deus para os homens.
ZENIT: Nas suas meditações, o senhor fala sobre a família como “célula inalienável da vida comum” e sobre o sofrimento das “famílias desestruturadas”. Qual é a situação de saúde da família da sociedade atual?
A família é a esperança e a dor da sociedade de hoje. É a esperança que representa o alicerce de todo o edifício social; porque é o lugar natural em que um homem e uma mulher se amam dando tudo de si e se abrindo para a vida; e porque é a chamada Igreja doméstica, o local primário de transmissão da fé e de anúncio do Evangelho. Ao mesmo tempo, a família é uma dor porque é trespassada por feridas profundas que desfiguram a sua imagem e a sua existência.
ZENIT: Que feridas são essas?
Destaco três, aquelas que, como pastor de almas, eu vejo mais vezes: em primeiro lugar, as dificuldades que a geração mais jovem tem para pensar em si mesma como família, para ser uma família, entendida como uma relação “para sempre”. Esta dificuldade é causada por uma cultura generalizada do “descartável”, que mercantiliza tudo e que confunde o romantismo e a sensualidade com o amor verdadeiro e gratuito. Em segundo lugar, as famílias marcadas pela insegurança no emprego ou, inversamente, pressionadas por um ritmo de trabalho absurdo; famílias que vivem nas grandes cidades, sozinhas, sem os avós, com mulheres que, muitíssimas vezes, se veem diante de um dilema ignóbil: a maternidade ou o trabalho. E, finalmente, as famílias desfeitas que, também muitas vezes, acabam em um vórtice interminável de dor e sofrimento que faz sentir as suas consequências no tempo, durante muitos anos, e para muitas pessoas próximas do núcleo familiar que foi rompido: pais, filhos, netos, avós, parentes.
ZENIT: Outra questão que o senhor aborda com atenção é a dos migrantes e refugiados. O que fazer para ajudar estas pessoas em cujo rosto, como o senhor escreveu, pode-se vislumbrar “o rosto de Cristo”?
Em primeiro lugar, sabendo o que está acontecendo. E não me parece que isto aconteça sempre na opinião pública ocidental. Mesmo assim, as notícias e imagens que chegam até nós são terríveis. É uma situação dramática e única, que não vai parar. Estamos diante de um fato histórico. Em segundo lugar, é imperioso gerir a emergência humanitária. E isso tem que ser feito com todos os meios à nossa disposição. Precisamos da ajuda de todos, voluntários, associações não governamentais; por exemplo, a Cruz Vermelha, a Caritas Internacional, a Ordem de Malta. Esses homens, mulheres e crianças precisam da ajuda de todas as pessoas de boa vontade para sobreviver. E, finalmente, são necessárias políticas internacionais de longo alcance e visão. É necessária a Política com maiúscula, que sabe assumir responsabilidades e, ao mesmo tempo, olhar para a dignidade humana. É triste e dramático se limitar a dizer que é preciso construir muros e fechar fronteiras.
ZENIT: Os cristãos perseguidos tão são um tema recorrente. Na XII estação, o senhor escreveu que os novos mártires são os “apóstolos do mundo contemporâneo”. Esta pode ser uma das chaves de leitura das suas meditações?
Não é a única interpretação, mas é definitivamente uma das passagens mais importantes. Sem dúvida, a ligação entre anúncio e martírio é uma característica muito forte dos séculos XX e XXI. Eu citei só alguns nomes, como Maximiliano Kolbe e Edith Stein, mas a lista poderia ter sido bem longa. É uma lista constituída por centenas de milhares de pessoas, a maioria desconhecidas, que testemunharam com a própria vida a adesão a Cristo. Hoje existem alguns lugares no mundo em que se pode morrer pelo simples fato de ser cristão. Fazer um funeral significa não só um gesto de piedade, mas até de grande heroísmo, porque envolve o risco de perder a vida. Este é o maior anúncio do Evangelho que pode ser feito hoje.
ZENIT: Muitos dizem que o tempo que vivemos é, no seu conjunto, um dos mais difíceis para a humanidade e, de modo particular, para a Igreja: divisões, escândalos, secularização, perseguições. Uma condição quase pré-apocalíptica, quase uma via-crúcis para toda a Igreja. Qual é a sua opinião a este respeito?
Eu acho, muito simplesmente, que devemos manter o olhar voltado para o crucifixo, “com fé reta e esperança certa”, como dizia São Francisco, e não nos deixar enganar, como escrevi nas meditações, pelos “profetas da desgraça que sempre anunciam o pior”, como disse São João XXIII ao abrir o Concílio Vaticano II, ou, no outro extremo, “por hábeis sedutores que anestesiam o nosso coração para nos separar do amor de Cristo”. Em suma, se você me permitir um resumo jornalístico, eu recomendaria ficar em guarda tanto contra os pessimistas quanto contra os bonachões demais. Não precisamos de pregadores que anunciam uma fé baseada no medo, nem de dispensadores de meias verdades. Precisamos seguir Jesus no Calvário e esperar a sua ressurreição.

Por Luca Marcolivio




Auditores colombianos no Sínodo: dedicar mais tempo para "fazer família" 
 
Por Sergio Mora
Roma, 20 de Outubro de 2015 (ZENIT.org)
Maria Angelica Perea, dentista, e seu marido, o biólogo Luis Rojas estão participando como auditores no Sínodo sobre a família que está se desenvolvendo no Vaticano, até 25 de outubro. Pais de dois jovens de 18 e 20 anos, e com 23 anos de casados. Membros do Movimento dos Focolares – que no mundo tem cerca de dois milhões de membros e simpatizantes – explicam a ZENIT sua espiritualidade e a importância de que as famílias se apoiem mutuamente para fortalecer-se.
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ZENIT: Onde vocês se conheceram?
- Maria Angelica: Nós nos conhecemos no movimento de jovens dos Focolares. Naquele momento nos alimentávamos desta espiritualidade e continuamos neste caminho. Desde que nos conhecemos sentíamos a necessidade de estar fortalecidos como família, porque não é só pela capacidade humana que se superam as dificuldades, mas é necessário a graça de Deus, aquela que temos que pedir a cada dia. Graça que se traduz na vida diária, nos momentos cotidianos, quando acompanho o meu marido para ver a corrida de fórmula um ou quando ele me ajuda a lavar os pratos.
Também fomos muito apoiados pela comunidade e sentimos a experiência de uma família, a de um jovem que dá o seu tempo livre, ou um casal de noivos que vive a castidade no seu relacionamento.

ZENIT: Por que vieram a Roma?
- Luis: Pertencemos ao Movimento dos Focolares e estamos aqui em Roma para dar uma contribuição como famílias neste Sínodo como auditores.

ZENIT: O que é que a família precisa hoje, quais são os seus principais desafios?
--Maria Angélica: A família, essa obra criadora do amor de Deus, pensada também para que possa viver no seu interior este amor recíproco profundo como o Senhor nos ensinou, para que depois possa leva-lo a tantos, e para que a humanidade possa ser uma família.
Então a família é chamada a poder viver esta medida do amor. Obviamente em todo o caminho familiar, desde crianças, depois jovens, namorados, em preparação, casados e em tantos momentos da vida há ocasiões para colocar em prática esse amor que deus nos ensinou. Esse é o desafio, aprender a amar.

ZENIT: Ou seja, que existe um percurso até chegar a ser famílias?
- Luis: O casamento é uma instituição ou sacramento muito ameaçado pela cultura secular do nosso tempo. Como resultado, muitas das pessoas que se casam se esquecem do sentido profundo que tem este sacramento dentro da Igreja católica e também dentro da sociedade. Primeiro deveria ter uma preparação não só para o matrimônio, mas dentro da fé cristã, que tenha continuidade, por exemplo, preparando-se adequadamente para o crisma.
No nosso país, quando vão se casar perguntam ao casal se receberam o crisma, e caso digam que não, são obrigados a fazê-lo para cumprir com um requisito e não para aprofundar o cristianismo.

ZENIT: Então, pode-se dizer que o que falta é a continuidade?
- Luis: Pode ser que a Igreja tenha ficado nos últimos 20 anos muito tranquila. Não só no pré-matrimonial, mas em todo processo.

ZENIT: E na Colômbia, qual é o desafio que percebem?
- Neste momento a família está ameaçada por uma realidade social, trabalhista e econômica difícil. É fácil que a família se preocupe muito por isso e não dedique o tempo devido para estar juntos, falar, compartilhar, sair para tomar um sorvete. É o problema do individualismo na relação com os esposos e com os filhos. Mas, se não se construiu a relação de esposos, é fraca a relação de amor que se transmite aos filhos. É necessário conseguir o tempo para ‘fazer família’.

ZENIT: O que você pode me dizer sobre a família e os refugiados?
- Luis: O problema dos refugiados é uma realidade social, porque essas famílias chegam às periferias das cidades, sem trabalho, em condições muito ruins, são famílias numerosas que não conseguem sair adiante. Soma-se o problema das drogas, do álcool. Mas, se vamos às outras regiões do país, é diferente, lá existe a realidade da família e a fé que as pessoas tentam viver na sua comunidade. São duas realidades diferentes.

ZENIT: A experiência mais específica dos Focolares...
- Luis: Como movimento estamos inseridos nos Focolares há vários anos com as famílias, e de vários países vizinhos, no Perú, Equador, Venezuela, Cuba, onde se leva esta espiritualidade para apoiar as famílias. Buscamos a unidade nas famílias, partindo do amor recíproco, do evangelho, das paróquias.
Especificamente, em nossa cidade nós acompanhamos grupos de famílias em vários lugares da cidade, que se reúnem com certa periodicidade – por exemplo, uma vez por mês – e trabalham temas específicos que têm a ver com a comunicação, com a sexualidade, a forma de lidar com os filhos. E existem outras oficinas mais específicas como a economia da família, a relação entre os esposos. Também saímos para outras cidades do país.

ZENIT: Significa também sair para as periferias?
- Maria Angelica: Nós sentimos fortemente que a família tem que estar fortalecida e nos fortalecemos porque nos ajudamos mutuamente. O acompanhamento entre as famílias é muito importante, sabemos que às vezes alguma está passando um momento de dificuldade, de discussão também. E entre as famílias gostamos uns dos outros e escutamos e passamos uma tarde juntos, celebramos um aniversário. Isso nos ajuda a sair também para estas periferias, para bairros distantes, onde esperam essa vida que é fruto da experiência que vivemos.
É importante a formação acompanhada, para tomar uma decisão ou cortar com algo que não favorece a família, ou continuar adiante com os sacramentos, com esta espiritualidade que nos fortalece.

ZENIT: Qual é o período mais difícil para um casal?
- Luis: Somos mediadores familiares, fizemos uma especialização na Itália, e nos reunimos nos domingos pela tarde, com casais em dificuldade. Sempre a família precisa de apoio, embora nos cinco, seis e sete primeiros anos a família precisa mais.



Matrimônio entre pessoas do mesmo sexo? Como assim?



Pe. Celso Nogueira, em entrevista a ZENIT, responde a diversas questões sobre o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e a posição da Igreja

Por Thácio Siqueira
Brasil, 07 de Maio de 2015 (ZENIT.org)
Aliás, a questão do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo compete à Igreja? Ou, por outro lado, só lhe corresponderia se viessem pedir-lhe o reconhecimento religioso e sacramental?

Quem responde a essa questão é o Pe. Celso Nogueira, natural de Porto Alegre, RS, formado em Comunicação Social e Filosofia e também mestre em Teologia.
Então, “quer dizer que a Igreja deve calar em assuntos não especificamente ligados ao culto religioso? Como justiça social? Como aborto? Como guerra? Lamentável essa visão redutiva sobre o ser humano e a missão da Igreja”, afirmou o Pe. Celso Nogueira nessa entrevista a ZENIT.
Publicamos a seguir a entrevista na íntegra:
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ZENIT: Sobre o tema ‘matrimônio’ de pessoas do mesmo sexo, é verdade que a Igreja fica querendo “dar pitaco” em tudo? Não seria melhor ela falar e “doutrinar” só para os seus fiéis e deixar o Estado legislar para a sociedade como um todo?
Pe. Celso: A Igreja não impõe nada, nem aos seus próprios fiéis, nem muito menos à sociedade. Não tem corpo de polícia para fazer isso, nem quer ter. Ela só exige o direito de se expressar, numa sociedade livre, sobre qualquer tema que quiser.
Em segundo lugar, a natureza humana é um dado objetivo, não muda de acordo com os tempos, lugares, crenças ou descrenças. O matrimônio não é uma realidade religiosa, ele tem uma profundidade antropológica que transcende qualquer credo.
A Igreja não precisa se "imiscuir" nos assuntos da vida civil, porque faz parte dela. E é dever, não só da Igreja, mas de qualquer outra instituição ou pessoa, ficar ao lado da verdade do ser humano e da justiça contra as arbitrariedades do poder político.
Gostaria de volver ao contrário a pergunta: por que o Estado quer legislar sobre um fato absolutamente privado como é o do relacionamento homoafetivo, um fato que não traz nenhuma consequência para a vida social como é a geração de filhos? Para contratos e testamentos entre pessoas privadas não existem desde sempre os instrumentos jurídicos apropriados? A troco de quê os casais gays têm que ter os mesmos incentivos fiscais que os cônjuges, se não dão a mesma contrapartida que é a geração e educação de uma prole?
E mais: qual o interesse do Estado em se apropriar do conceito de matrimônio e de família? Quem atribui um conceito pode retirá-lo a seu bel-prazer. Não se encontra aí exposta a velha raiz totalitária do Estado Moderno? Aquela que fazia o Fürher (com o perdão do argumento hitleriano) exclamar "eu é que decido quem é judeu e quem não é"?

ZENIT: Por que é tão difícil conversar sobre esses temas com pessoas que pensam diferente? É muito comum que quem se posicione de forma contrária seja visto como promotor de "discursos de ódio". Por quê? O que fazer?
Pe. Celso: Diante da gritaria geral, da falta de diálogo respeitoso e preparado, naquilo que chamo a fascistização geral dos discursos, a estratégia cômoda é a omissão, lavar as mãos como Pilatos, dizer "este tema não me diz respeito".
No entanto, por trás de todos esses temas há pessoas concretas, necessitadas de compreensão, não de mãos lavadas. Posturas não assumidas deixam um rastro muitas vezes tornado invisível, mas tão real e dramático, ou mais, do que opções equivocadas.

ZENIT: A questão não é o obscurecimento da verdade? Como dialogar, então? Fale-nos mais sobre essa “fascistização” geral dos discursos:
Pe. Celso: Você tocou um aspecto de fundo que é o obscurecimento da noção de verdade. Quando se perde a perspectiva de uma verdade comum que possa ser buscada e compartilhada através do diálogo, a sua única finalidade passa a ser identificar o inimigo a ser esmagado pela força. Isso é o que chamo de "fascistização do discurso".
A "razão moderna", ao operar uma redução no horizonte do conhecimento, abriu a porta para que a última palavra seja dada não pela razão, mas pela força. Apesar disso, continuo teimando na minha crença na capacidade do ser humano de dialogar e compartilhar conhecimento. Esse é o meu ato de resistência.

ZENIT: Hoje se fala muito de legalizar uniões do mesmo sexo, equiparando-as a matrimônio, a casamento. O que é realmente o matrimônio?
Pe. Celso: O matrimônio parte de uma realidade que é a forma como nascem e crescem os animais do gênero e espécie "homo sapiens". Eles são fruto de uma gestação curta, porque do contrário não passariam pelo canal de uma bacia construída para a posição ereta. Essa gestação curta faz com que o filhote humano nasça com um nível de autonomia muitíssimo inferior ao dos demais filhotes de mamíferos ao nascerem (de fato só alcançará o mesmo nível depois de um ano após o nascimento), exigindo, portanto, cuidados intensivos que não podem ser gerenciados pela fêmea sem a ajuda de outros indivíduos. O filhote só chegará ao estágio físico adulto depois de 18 longos anos.
Uma outra peculiaridade é que, ao contrário dos demais animais que nascem com a forma e o fundo do instinto, e com uma ligação estreita entre ambas, o bicho-homem nasce com o fundo, mas a forma lhe é dada pela cultura; essa é a razão das diferenças que encontramos na maneira de executar funções básicas como o comer, o comunicar-se, etc.
É em torno desse ser desprotegido, indeterminado e absolutamente necessitado da convivência da sua espécie para sua sobrevivência e humanização, que se forma e encontra seu sentido a família.
O ser humano, usando a razão, é capaz de perceber o vínculo do novo ser com os que lhe deram origem, e portanto, também a responsabilização que se deriva disso, ou seja, o direito de receber dos próprios genitores a necessária ajuda para a sobrevivência, crescimento e humanização. Para garantir essa responsabilização, os futuros genitores assumem um compromisso diante da comunidade. Garantirão a fidelidade de um ao outro, para que sempre seja identificável a origem e portanto a responsabilização de ambos sobre os filhos que virão. Garantirão também a estabilidade, para que esse vínculo não se desfaça de forma arbitrária, causando sérios danos e prejuízos a todos os envolvidos e também, em última instância à comunidade. Esse vínculo específico e bem delimitado é o que se chama "matrimônio".
Então, quando falamos do matrimônio, estamos falando de uma estrutura que dá origem a todo o universo do "humano" e que por sua vez se deriva da estrutura específica do ser humano. Toda e qualquer outra forma de vínculo e relacionamento entre seres humanos não é "matrimônio"; não se trata de mera questão semântica, porque há uma realidade objetivamente distinta por detrás da palavra.

ZENIT: Então, o que são as uniões homossexuais aprovadas pelas leis de um país?
Pe. Celso: A equiparação jurídica, por parte do Estado, das uniões civis ao matrimônio, extrapola completamente as competências do Estado, uma vez que tratar da mesma forma duas realidades diferentes é declarar que são iguais. Fazendo isso, o Estado opera uma redefinição arbitrária e abusiva do matrimônio, instituição que lhe é anterior e superior.

ZENIT: Mas, dizem alguns, que o homossexualismo foi verificado em todas as culturas, e em todas as épocas (foi verificado até em animais) e afirmam que qualquer discriminação feita a um portador da inclinação homossexual, portanto, seria igual à discriminação feita ao portador de qualquer outra tendência biologicamente determinada (como a calvície, por exemplo).
Pe. Celso: Nunca foi provada a condição biológica da inclinação homossexual. A alegada homossexualidade dos animais é mito, baseado em comportamentos aparentes que têm outras explicações já evidenciadas pela ciência. Mesmo que alguém, depois dos milhões gastos em vão na iniciativa, evidenciasse alguma origem biológica, não passaria de uma anomalia como várias que existem, pois a natureza não faz coisas inúteis e estamos falando aqui do âmbito da reprodução e seu instinto correlato.
O fato de que a homossexualidade seja tão antiga quanto a humanidade - mas em nenhuma cultura foi jamais equiparada ao matrimônio - só confirma o meu argumento. As várias deturpações do matrimônio que apontou não tocam a raiz da instituição matrimonial, que existe independentemente de qualquer religião ou ideologia, pois é um vínculo antropológico insubstituível. Portanto, não compete à Igreja nem definir nem redefinir isso, e ela não o faz. A iniciativa dessa redefinição vem do Estado, e ainda por cima de maneira arbitrária e antidemocrática.

ZENIT: Mas, então, por que não conceder aos casais homossexuais a educação de uma prole, permitindo-lhes a adoção, já que tantos casais heterossexuais abandonam os seus filhos à sorte?
Pe. Celso: No caso de crianças que não possam ter atendidas no seu direito a ser criadas por seu pai e sua mãe, deve-se buscar o ambiente mais próximo disso, ou seja, um casal formado por uma mulher e um homem. A psicologia já demonstrou em abundância o dano que advém a um ser humano quando essa necessidade não é atendida da forma adequada. E esse talvez seja o aspecto mais aterrador de todos esses atentados contra o matrimônio: o uso das crianças como cobaias em experimentos sociológicos, ideológicos e de engenharia social.
 E discuto muito a afirmação de que as crianças saem ilesas de divórcios e outras experimentações no campo da família.
A situação da adoção é complexa; para um certo perfil de criança há muito mais casais querendo adotar que as crianças disponíveis. Mas essa é uma discussão que não vem ao caso. Estamos falando aqui do que é conforme aos direitos e à dignidade do ser humano. Um escravo bem tratado vive melhor que um empregado mal-pago. Isso não faz da escravidão uma situação mais conforme à dignidade humana do que o trabalho assalariado. Uma criança que o Estado entrega a um casal homo afetivo pode até viver melhor do que com um casal de homem e mulher; mas o fato é que o Estado a desrespeitou, lhe negou o direito de ter um pai e uma mãe.

ZENIT: Mas, a sociedade já não aceitou o divórcio, como também não está aceitando o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo?
Pe. Celso: Os argumentos baseados nos costumes dos povos não definem grande coisa. O fato de uma sociedade se tornar tolerante com algo não diz nada da moralidade intrínseca das ações. Por exemplo, a escravidão. Governos fascistas de direita e esquerda foram eleitos pela maioria. Já foram tolerados e aprovados a luta de gladiadores, os sacrifícios humanos, um montão de barbaridades.
Quando o pensamento ecológico chegou no mundo, grande parte do dano à natureza já tinha sido feito. Temo que vai acontecer o mesmo quando a "ecologia humana" começar a ser discutida e levada a sério.

ZENIT: E, como Igreja, qual é a melhor forma de dialogar com a sociedade sobre esse tema?
Pe. Celso: A questão é que não se pode usar num debate com a sociedade civil, num país laico, argumentos de fé; é preciso expressar razões acessíveis a quem não crê também. Do contrário poderiam nos dizer, como já fazem, "voltem para a sacristia e guardem a fé para vocês". Como se a Igreja estivesse querendo que o Estado obrigue a todos a ir à missa aos domingos...
E repito, a família baseada no matrimônio entre homem e mulher não é uma mera convenção, ela deriva da própria natureza humana como já expliquei acima. Esses termos "matrimônio tradicional", "família convencional", já operam uma adjetivação que tem como pressuposto a inclusão de realidades que nada têm a ver com matrimônio e família, que são essencialmente distintas.



A crise das famílias vem da distorção do matrimônio
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Cardeal Sarah: a crise das famílias vem da distorção do matrimônio
O presidente do "Cor Unum" comenta o Sínodo recém concluído e destaca que o tema do acesso aos sacramentos para os divorciados recasados é o último dos problemas da família
Por Deborah Castellano Lubov
ROMA, 23 de Outubro de 2014 (Zenit.org) - "A crise da família vem dos efeitos de uma concepção relativista da vida que tem afetado negativamente o conceito do matrimônio e do casal homem e mulher”. “A cultura atual fala de família, referindo-se a todas as suas formas, como se as diferentes situações pudessem se tornar modelos”. Estas são apenas algumas das passagens mais fortes da entrevista que o cardeal Robert Sarah, presidente do Pontifício Conselho 'Cor Unum', condeceu a ZENIT, durante a qual ele falou do Sínodo e contou como a África sofra negativamente pelas "ideologias nocivas importadas do mundo rico, do paganismo, e da poligamia".
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ZENIT: Qual é o maior desafio para a família hoje?
Cardeal Sarah: É necessário esclarecer, porque o debate sobre a admissão dos católicos divorciados e recasados ​​à Eucaristia tem captado a atenção dos meios de comunicação, ofuscando os desafios reais que afetam as famílias de hoje. A crise da família vem do conceito relativista que mudou o conceito de matrimônio e de vida conjugal. O conceito cristão do matrimônio e da família afirma que é a união entre um homem e uma mulher que, juntos, se comprometem com o crescimento da família no mundo. É uma definição que nem todos concordam. A cultura atual fala de família sem especificar nenhum significado específico. A sociedade fala de família em todas as suas formas – biológicas, com pais adotivos, homossexuais – como se todas essas situações pudessem se tornar modelos, quando, na realidade, são simplesmente uma expressão trágica de problemas individuais. Em termos de realidade, devemos também considerar as causas sociais e econômicas que contribuem para o enfraquecimento da família. E então, como vimos no Sínodo, os problemas que afligem as famílias na África são diferentes dos de outros países
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ZENIT: Pode explicar-nos melhor quais situações está enfrentando o seu continente?
Cardeal Sarah: A cultura tradicional africana está centrada na família. O conceito de família é assim tão difundido e profundamente enraizado que pode ser considerado uma característica peculiar da tradição africana. Na cultura do meu continente, a vida e os valores da família são sustentados e promovidos com entusiasmo, e os papéis de homens e mulheres são fundamentais: um não pode existir sem o outro. Ambos são necessários para a tarefa de criar e educar os próprios filhos. No entanto, a família africana foi atacada por ideologias ocidentais que buscam confundir e poluir a relação entre homens e mulheres. A ideologia do "gênero" nega o plano de Deus para a família humana. O Criador, de fato, criou dois sujeitos a humanidade: o homem e a mulher, o macho e a fêmea. A ideologia de gênero expressa o desejo de grupos ideológicos que querem livrar-se daquilo que é uma questão de fato, uma determinação antropológica, teológica e ontológica que está inscrita na natureza. Este "modelo de gênero" incentiva a mulher a interpretar a sua relação com o homem de forma conflitante. Exalta-se a liberdade de escolha sobre a orientação sexual com a intenção de promover a cultura da homossexualidade também na África. Existem organizações ocidentais que procuram impor a ideologia homossexual na cultura Africana. A aceitação dessas ideologias prejudiciais é condição para receber ajudas humanitárias e financeiras para a África. Além desses desafios, as famílias africanas devem lutar contra a influência das culturas pagãs, como por exemplo a poligamia, e os efeitos nocivos da pobreza sobre a vida familiar.

ZENIT: Como é que esses temas foram discutidos no Sínodo?
Cardeal Sarah: Durante o Sínodo, houve recomendações para afirmar e promover o ponto de vista da Igreja Católica sobre o matrimônio e a família. Trata-se de uma visão que a Igreja herdou através de milênios de fé e de tradição. Precisamos ouvir novamente o que Jesus disse: "Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os criou homem e mulher e que disse: ‘Por isso o homem deixará o pai e a mãe, e se unirá com a sua mulher, e os dois serão uma só carne?’ Assim, eles já não são dois, mas uma só carne; Portanto o que Deus uniu, que o homem não separe”. Nós temos que, com força e firmeza, defender os ensinamentos presentes na Sagrada Escritura e manifestados pelo Magistério da Igreja. Embora seja necessário que a Igreja enfrente estes desafios com uma abordagem pastoral.

ZENIT: Você acha que no próximo Sínodo veremos avanços concretos e positivos a este respeito?
Cardeal Sarah: Sim, a principal tarefa do Sínodo Extraordinário foi a de elaborar uma análise sobre a situação da família de hoje e os desafios que a Igreja deve enfrentar ao longo do seu ministério pastoral. Em vista disso, tenho a satisfação de ver que o Sínodo da família em 2015 será dedicado ao tema da vocação e da missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo. Vamos ouvir os ensinamentos de Deus e os ensinamentos da Igreja.

ZENIT: Qual é a abordagem do Papa Francisco sobre estas questões?
Cardeal Sarah: O Santo Padre está bem ciente do sofrimento das famílias. Sente a dor e o transtorno que muitas famílias estão enfrentando. A sua intenção é que a Igreja dedique dois anos para rezar e refletir sobre a família na perspectiva da nova evangelização. O Papa vê a Igreja como uma mãe que verdadeira e seriamente se preocupa pela família. O Santo Padre tem acompanhado de perto o Sínodo. Acredito que neste período de nova evangelização para a Igreja, as circunstâncias difíceis de muitas famílias e as dificuldades que enfrentam estão muito perto de seu coração. É por isso que ele convocou o


  
Desafios da comunicação no matrimônio






Entrevista com Prof. Pedro J. de Rezende
Por Thacio Siqueira


ZENIT: Por que um Seminário tratando exclusivamente do tema da Comunicação no Matrimônio se há tantas outras facetas importantes?

Prof. Pedro: Nossa experiência ao ministrar cursos para casais (tanto sobre matrimônio quanto sobre educação de filhos) mostra que os mais frequentes desacordos vêm de diferenças perfeitamente conciliáveis. A superação dessas diferenças passa por um aprofundamento do conhecimento próprio e do cônjuge, mas envolve também decisões conscientes de se buscar um diálogo profícuo. Para isso, é preciso que haja um real interesse em conhecer a percepção que o outro tem da realidade, quais os valores que fundamentam as suas opiniões e de que modo a formação pessoal impacta expectativas e disposições. À luz desses comentários, percebe-se que todas as facetas importantes do matrimônio acabam passando por questões de comunicação. Por isso, espera-se que um Seminário com essa ênfase traga benefícios numa multitude de aspectos para cada casal.


ZENIT: É possível que um casal nunca discuta e tenha sempre um diálogo pacífico ou isso é utópico?

Prof. Pedro: Quando um homem e uma mulher se casam, sabem que são duas pessoas diferentes. E é bom que seja assim pois, por se complementarem, podem melhor realizar um dos importantes aspectos do casamento: a ajuda mútua. O crescimento de cada cônjuge, como pessoa, passa necessariamente, dentro do matrimônio, pela percepção das qualidades e defeitos de um e do outro. Se os cônjuges são tão parecidos que acabam por desenvolver as mesmas virtudes e os mesmos vícios é muito mais difícil que possam se ajudar a crescer. Por isso, se há algum casal que nunca discute, é preciso olhar com cuidado o que está ocorrendo. Causas disso podem estar na omissão de um, na indiferença de ambos ou em vidas paralelas, num matrimônio de conveniência. Em todos esses casos, o resultado é desastroso. Por isso, é importante que haja diferenças, opiniões divergentes e até discussões, conduzidas num ambiente de compreensão e respeito, pois é com elas que se cresce.

 

ZENIT: A comunicação está restrita ao diálogo ou há outros aspectos que são importantes de serem conhecidos?
Prof. Pedro: O diálogo é apenas um aspecto da comunicação. Um dos mais importantes, mas não o único. Um casal que anda de mãos dadas, que vai a um cinema (onde não se conversa) ou que gosta de praticar mergulho ecológico não precisa conversar para estar se comunicando. Da mesma forma, chegar em casa com uma flor para a esposa, ou preparar uma pipoca para o marido na hora que a final do campeonato está na TV são formas de comunicação. Por exemplo, demonstrações de apreço, a qualidade do tempo passado juntos, presentes simples fora de ocasião, pequenos atos de serviço e o carinho do toque físico reforçam o significado de cada "eu te amo" dito.
 

ZENIT: Nas fases de namoro, noivado, início de casamento e vida matrimonial madura, a comunicação é da mesma natureza?
 

Prof. Pedro: Por se tratar de um processo contínuo de conhecimento mútuo, crescimento pessoal e construção de uma vida comum, cada fase tem seus desafios e suas alegrias. A comunicação se desenvolve de acordo com as necessidades do estágio em que se encontra. No namoro, a fase das descobertas é de surpresas (boas e não tão boas), de buscar onde há similaridade e complementaridade que podem enriquecer a relação. No noivado, reside uma importante fase de planos e projetos de vida na qual acertos de objetivos e metas (pessoais, profissionais e de família) são definidos. Essas duas fases são, portanto, bem distintas e requerem habilidades diferentes de comunicação. Igualmente, no início do casamento e na vida matrimonial madura os desafios não são os mesmos. Vou dar apenas um exemplo: no início da vida de casados, com definições de carreiras profissionais, filhos pequenos, situação financeira instável, interferência de parentes ainda não resolvidas, uma coisa com a qual ninguém se preocupa é com a rotina: pois há de tudo menos rotina. Já num matrimônio de 30 ou mais anos, com os filhos já independentes, um casal que se vê novamente "enfim sós" pode enfrentar o grande perigo do matrimônio maduro: a rotina. Afinal, pouco resta para conhecerem um do outro, os grandes planos já foram realizados ou descartados e a vida adquiriu estabilidade. Mas, se esse casal não se preparou para essa fase da vida a dois, poderá encontrar desafios que nunca antes experimentaram. A comunicação é de uma distinta natureza a cada estágio da vida conjugal.

ZENIT: E desse Seminário podem participar tanto casais, noivos, namorados, ou o foco é para algum desses grupos em particular? Há espaço também para solteiros (que não estão nem namorando)?

Prof. Pedro: O Seminário é sobre comunicação. Portanto, é útil para todos. Mas, como trata de questões de comunicação especificamente no matrimônio, o aproveitamento é diferente para cada um desses grupos. Quem já é casado, vivencia em seu dia a dia situações que o ajudarão a identificar-se com os temas que serão discutidos; noivos podem se ver alertados para futuros desafios que não antecipavam e aproveitar seu noivado para se preparar para eles; enquanto solteiros em geral podem aprender sobre as fases do amor, necessidades emocionais, características distintas de homens e mulheres, assim como diferenças caracterológicas. Em poucas palavras: este não é um seminário somente para casados, nem um curso de noivos. É, antes de mais nada, uma oportunidade para todos que desejam construir uma vida matrimonial (presente ou futura) na qual a comunicação seja um processo de realização de felicidade, com todos os desafios e alegrias nela presentes.

 

ZENIT: No site de divulgação do Seminário (alegriasedesafios.net) percebe-se que já foram organizados outros eventos e "Alegrias" e "Desafios" sempre está no título. Por que?
 

Prof. Pedro: Nossa visão é de que matrimônios e o processo de educação de filhos geralmente passam por desafios que, se tratados a seu tempo com bom ânimo, boa vontade e disposição, não se transformam em problemas mais difíceis de serem resolvidos, mas em alegrias. Esta é apenas uma forma positiva de se olhar para os percalços que a vida interpõe em nosso caminho. A comunicação no matrimônio é, talvez, onde isso é mais fácil de se perceber.

Para maiores informações: http://www.alegriasedesafios.net/
“Família sem futuro é sociedade sem futuro”


Entrevista com o presidente do Instituto de Política Familiar
MADRI, quinta-feira, 15 de setembro de 2011 (ZENIT.org)– A Espanha registrou, em 2010, três rupturas em cada quatro casamentos. O Instituto de Política Familiar alertou recentemente que, se continuar a tendência a aumentar o número de rupturas familiares e diminuir o número de casamentos, em breve haverá tantas rupturas quanto casamentos.
Seu presidente na Espanha, Eduardo Hertfelder, adverte, na seguinte entrevista concedida a ZENIT, que o país avança rumo a uma “sociedade egoísta e individualizada”. “Famílias fortes e estáveis geram uma sociedade forte e estável; família sem futuro é sociedade sem futuro”, afirma.

ZENIT: Dentro de alguns anos, realmente poderia haver, na Espanha, tantas rupturas como casamentos?
Eduardo Hertfelder: A tendência é que cada vez haja menos casamentos. Passamos de 220 mil a 170 mil nos últimos 20 anos. Desde 2000, perdemos 45 mil casamentos. Por outro lado, está aumentando a ruptura familiar como os divórcios.
Portanto, neste momento, já estamos falando de 170 mil casamentos e 125 mil rupturas.
Se estas duas tendências não diminuírem – ou seja, se diminuírem os casamentos e aumentarem as rupturas –, as duas linhas vão convergir. De fato, nas Canárias já houve mais rupturas que casamentos em 2010.

ZENIT: Que consequências tem o aumento da taxa de ruptura por casamento?
Eduardo Hertfelder: Consequências nefastas para os cônjuges: a ruptura produz um drama, causa problemas psicológicos, entre outros fatores.
É um drama para os filhos, que passam a viver em famílias desestruturadas. Os estudos nacionais e internacionais indicam que os maiores prejudicados são os filhos.
A partir desse momento, os filhos começam a ver que a fidelidade, a entrega, o sacrifício não têm validez, porque as pessoas que mais amam – seus pais – não o viveram, e não consideram que estes serão valores para transmitir amanhã a outra pessoa.
Se não viveram nem a fidelidade, nem a entrega... não o farão amanhã, quando tiverem um projeto de vida.
Depois, isso traz consequências negativas para a sociedade, porque vamos vivendo em uma sociedade mais desestruturada, mais individualista, na qual, não tenho relações, porque as famílias estão destruídas, acabo me preocupando mais comigo mesmo, uma sociedade mais egoísta.
Caminhamos rumo a uma sociedade com problemas para os pais, os filhos e a sociedade, uma sociedade egoísta e individualizada.

ZENIT: Em sua opinião, a que se deve esta tendência?
Eduardo Hertfelder: Há muitas causas e seria muito simplista reduzi-la a uma só causa.
Em primeiro lugar, está a causa de tipo cultural: transmitiram-se ideias que penetraram, como a de que, diante da crise, a única solução é a ruptura; não existe o dar-se uma segunda oportunidade.
Foi-nos transmitido também que a fidelidade e a indissolubilidade são uma utopia, que o casamento é uma questão de afetividade exclusivamente e, quando acaba, posso mudar, que é um contrato, que em um dado momento posso anular.
De fato, atualmente, na Espanha, é mais fácil anular este contrato matrimonial que o contrato com uma operadora de telefones celulares.
É preciso permanecer 18 meses em fidelidade a uma companhia telefônica, por exemplo, enquanto, com a lei do divórcio expresso, a pessoa pode se divorciar em três meses.
Além das causas de índole cultural, existem as de índole jurídica: na Espanha, não há lei de família, de prevenção e mediação familiar, nem de natalidade, mas sim uma lei que potencia a ruptura.
Não temos legislações de apoio à família, mas regressivas, legislações antifamiliares.
Na Espanha, há problemas estruturais, laborais, há um déficit de conciliação de vida familiar e laboral, em que os horários de trabalho são cada vez mais longos.
Frequentemente, os dois cônjuges trabalham, chegam tarde a casa e não há tempo para comunicar-se com os filhos nem entre eles; há uma falta cada vez maior de comunicação no casal.
Por outro lado, existem questões de índole econômica: a Espanha é o país – dos 27 países da União Europeia – que menos ajuda a família, em todos os sentidos: econômico, estrutural, de leis, de medidas etc.
Em conclusão, causas culturais e de cunho legislativo, econômico e trabalhista estão incidindo em que haja cada vez menos casamentos e mais rupturas.

ZENIT: Que propostas existem para lutar contra esta tendência?
Eduardo Hertfelder: Incidir, em primeiro lugar, na derrogação da lei do divórcio expresso, pelo seu caráter regressivo, e potencializar os centros de orientação familiar seriam as duas grandes medidas.
Uma lei tem de resolver problemas, mas o que fez, em apenas cinco anos, foi duplicar o número de divórcios na Espanha, passando de 50 mil a 100 mil.
É uma lei absolutamente má. Não tem comparação em todo o mundo ocidental, porque introduz três características: a possibilidade do divórcio, de forma unilateral, sem nenhuma causa imediata. Legalizou-se o direito ao repúdio na Espanha.
Com relação aos centros de orientação familiar (COF), eles ajudam as famílias a superar os conflitos. Mas, até agora, com exceção dos centros de iniciativa privada, como os COF diocesanos, houve um descuido no âmbito público, de administração.
Foram ignoradas as recomendações do Conselho da Europa, que leva mais de trinta anos instando a criar tais organismos.

ZENIT: Por que lutar pelo casamento?
Eduardo Hertfelder: Porque é a base da sociedade. Pensemos somente em uma sociedade sem família, sem casamentos: seria uma sociedade de indivíduos solitários, amorfa, na qual não haveria relação entre as pessoas e somente o Estado educaria, legislaria e determinaria o que é bom ou mau, segundo OS seus interesses.
A história demonstra que a família é a célula básica da sociedade, a que transmite vida, a primeira escola. A primeira coisa que uma criança diz é “papai” e “mamãe”; ela não diz “Zapatero” ou “Aznar”.
Na família, ensinam-se os valores, as virtudes, a generosidade, a entrega, a doação e, graças a isso, se aprende a estar na sociedade.
Dizer família é dizer futuro; sem ela, não haveria futuro nem sociedade. Famílias fortes e estáveis geram uma sociedade forte e estável. Família sem futuro é sociedade sem futuro.

A missão da família no Ano da Fé



Entrevista com Jowita Kostrzewska, correspondente do semanário católico Niedziela

Mariusz Frukacz

ROMA, quinta-feira, 30 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – Qual é o papel da família no contexto da nova evangelização e na celebração do Ano da Fé? ZENIT fez esta pergunta a Jowita Kostrzewska, correspondente do Niedziela, semanário católico polonês, e voluntário em atividades de caridade da igreja local.

Mariusz: No mundo contemporâneo, falamos de crise familiar. Ao mesmo tempo, alguns reafirmam a família como crucial para o testemunho no Ano da Fé, que terá início em outubro. Qual é o seu ponto de vista?

Jowita: Hoje em dia, é fácil ver a crescente crise da família. Em muitas famílias, surgem problemas graves como a falta de trabalho e de recursos para uma vida digna. E quando não há ajuda externa, vem a solidão, a falta de esperança, e aí ocorrem tragédias e dramas. Por outro lado, na correria da vida moderna, as pessoas estão tão envolvidas no trabalho que muitas vezes não têm tempo para os filhos. Nas famílias, os laços de afeto tendem a se enfraquecer. O utilitarismo, a dependência cada vez mais obsessiva dos ritmos extremos de trabalho, a redução do tempo dedicado à vida emocional, tudo isso leva à desagregação da família.

O problema é especialmente verdadeiro para as pessoas que vivem o casamento de maneira superficial. Um número crescente de divórcios acontece quando as pessoas não lutam pela unidade e pelo fortalecimento da dimensão sagrada das suas famílias. Não se esforçam para fortalecer os laços e as relações. Essas situações ocorrem frequentemente quando Deus e a fé não estão no lugar certo. Eu acho que o Ano da Fé será uma boa oportunidade e um evento extraordinário para fortalecer as famílias.



Mariusz: Que frutos são esperados no Ano da Fé?


Jowita: Primeiro, eu espero que o Ano da Fé aproxime a família do evangelho de Cristo. As inúmeras crises nas famílias surgem quando não há segurança nas relações entre pais e filhos, mas especialmente quando não há valores evangélicos, como amor, esperança, fé, confiança, lealdade e verdade. Quando falta na família o evangelho de Cristo, os jovens muitas vezes se refugiam na desordem e no relativismo, tornando-se vítimas dos excessos, incluindo as drogas e o álcool. E dão um mau exemplo. As pessoas que não vivem nem imaginam um modelo adequado de família terão dificuldades no futuro para criar um relacionamento verdadeiro e sólido em família. É por isso que é tão importante construir relacionamentos familiares baseados em valores verdadeiros, particularmente os valores do evangelho. O Ano da Fé é um momento ideal para parar e pensar no papel da família no mundo de hoje.



Mariusz: Fala-se hoje em diferentes formas de família. Qual é a sua opinião sobre isto?


Jowita: Eu penso particularmente na família natural, que tem um papel muito importante no mundo moderno e um impacto enorme na boa educação das crianças e dos jovens. As famílias são o lugar onde a pessoa descobre e vê praticados os valores fundamentais que serão necessários para o futuro. A família é o primeiro lugar onde se vê e se ensina a fé, a responsabilidade para com os outros. A família é uma escola de amor.



Mariusz: A secularização afetou muitas famílias. A transmissão da fé de pai para filho não é mais uma prática sólida. Alguns pais crentes acham que não é necessário transmitir a fé para os filhos. Há quem ache que as crianças têm que decidir livremente se elas querem uma religião e qual. Qual é a sua visão sobre este fenômeno?



Jowita: Eu acredito que o Ano da Fé é muito importante para aprofundar na qualidade e na quantidade das relações familiares. Vamos ter a oportunidade de refletir sobre o que é a fé realmente e para transmiti-la.

No Ano da Fé, eu acho que a família tem que procurar mais tempo para ficar junta, para ler a bíblia e rezar, mas também para conversar, rir, compartilhar alegrias e tristezas, reforçar os laços de afeto. É muito importante participar em família na missa do domingo. Se a nossa fé é forte, ela vai nos ajudar a superar as maiores dificuldades.

Para as famílias crentes, o Ano da Fé é uma oportunidade para evangelizar e ajudar as famílias afetadas pela crise, aquelas que mais precisam de ajuda. Temos que dar apoio espiritual e material para essas famílias. Assim, vamos descobrir muitos tesouros espirituais. Eu faço questão de mencionar aqui os documentos do concílio Vaticano II e o pensamento do beato João Paulo II, que sublinham que “a família é sagrada”.



          «É preciso saber enamorar-se outra vez"»


Entrevista ao advogado e escritor Javier Vidal-Quadras
 


Para este advogado, que trabalha com orientação familiar, uma das maiores dificuldades em seu ofício é «convencer os pais — homens — da conveniência de formar-se como pais e como esposos».

Advogado e pai de sete filhos, Javier Vidal-Quadras Trias de Bes conta à agência Zenit o conteúdo de seu livro "Depois de amar, eu te amarei", publicado "EUNSA". 

Depois de amar, eu te amarei». O título de seu livro é sugestivo. Por que optou por esta frase? Vidal-Quadras: Queria transmitir a ideia de que o amor verdadeiro não termina nunca e é capaz de transcender o tempo, elemento que fortalece o autêntico amor, mas pode ferir o amor aparente. E digo aparente, não falso, porque o sentimento que se esconde detrás dessa aparência de amor é quase sempre sincero, ainda que insuficiente.

Normalmente, a pessoa obtém o que oferece: se cultiva um amor com prazo, obtém um amor com prazo; se cultiva um amor para sempre... «Amar depois de amar» não é outra coisa senão voltar uma e outra vez ao nosso amor, porque o amor só morre quando nós decidimos matá-lo.


Qual é sua maior dificuldade em seu trabalho de orientação familiar?
Vidal-Quadras: Uma das maiores dificuldades é convencer os pais, agora me refiro especialmente aos homens, da conveniência de formar-se como pais e como esposos. A formação se confunde com frequência com a informação, e se pensa que escutando quatro conferências, ou lendo alguns bons livros, a pessoa já se formou para sempre.

O desafio consiste em transformar esses conhecimentos em vida vivida; por isso, na orientação familiar é muito importante criar as condições que permitam aos pais pôr em prática e contrastar esses conhecimentos, desenvolvendo seu próprio projeto matrimonial e familiar, que não é como a nenhum outro, ainda que aprenda de todos.

Em seu livro, o enamorar-se aparece como uma fase — inteligente e reflexiva — , na qual tudo está em função de uma palavra, de uma piscada etc., e depois se fala do amor. São estágios separados, ou diferentes lados de uma mesma moeda?
Vidal-Quadras: O enamorar-se é um elemento essencial no amor. É preciso amar apaixonadamente... sempre! Um homem e uma mulher sem paixões não são humanos, mas a paixão adota modos e formas muito variadas em cada pessoa e em cada momento.

Afirma Armando Segura que, no amor, como em tudo, o segredo da desgraça é considerar o ponto de partida como ponto de chegada; e o da felicidade, considerar o ponto de chegada como ponto de partida: chego sempre para partir e, portanto, nunca acabo de chegar. Não conquistei o amor, mas hoje, não importa o dia que for, começo a realizá-lo, a atualizá-lo e a projetá-lo mais uma vez para o futuro.

O homem que se limita a conservar (o conservador por natureza) é um infeliz, pois não tem tarefa. É preciso enamorar-se uma e outra vez. Com frequência, o papel da vontade é o de otimizar os sentimentos, ou seja, dirigi-los ao amor, provocá-los quando se esfriam e invocá-los uma e outra vez, pois na natureza humana (diferentemente da divina ou da angelical), a vontade não é capaz de amar de forma cabal, propriamente humana, sem o auxílio do sentimento, da sensualidade.

Ou seja, a vontade humana precisa dos sentimentos para ser ela mesma. Amar só com a vontade é sobre-humano, não nos corresponde. Pense nos místicos: amam um espírito puro e alcançaram os mais altos níveis de sensibilidade, dando à poesia seus melhores momentos, os mais «sentimentais», no sentido profundo da expressão.

"Ou amamos a pessoa cabalmente, em sua integridade física, espiritual, cronológica, espacial... ou não amamos". Hoje em dia, esta integridade e " sem que seja percebido como um peso?
Vidal-Quadras: É preciso adentrar-se sem medo no plano da intimidade... e queimar as naves. Enquanto contemplemos o amor como uma convivência e nos movamos no âmbito do equilíbrio e da compensação contínuos («eu farei isso e você aquilo», «eu isso porque você aquilo») nunca chegaremos ao amor.

Quem ama não dá ao outro o que lhe corresponde, nem mais do que lhe corresponde, nem sequer mais do que nunca teria podido sonhar, porque não é questão de quantidades, nem de qualidades, mas de entidades. Quem ama dá de si mesmo até o extremo de deixar de "ser" ele só: já não são dois, mas um, porque não se quer já ser (existir) sem o outro: o amor instaura uma única biografia comum.

Só assim, desde a gratidão do amor, pode-se acolher o amado quando este não pode ou não quer dar. Se você quebra a perna direita, acaso a esquerda lhe rejeitará o excesso esforço que teve de fazer durante o tempo em que sua "companheira" estava mal? Ao contrário: continuará esforçando-se para que se responha da melhor forma possível sem ficar fazendo contas, porque sabe que, nesses momentos, tudo depende dela, e se fortalece com essa entrega. Assim é o amor, quando o "nós" transcende o "você" e o "eu": quem ama se doa sempre..., e espera receber, claro está, porque a correspondência é própria do amor, e é mais completo correspondido que o que não o é, mas não o põe como condição.


Fonte Zenit


Entrevista com Dom Odilo Pedro Scherer



Milão, 30/05-03/06/2012 - VII Encontro Mundial das Famílias
para Rafael Alberto
O SÃO PAULO
1. Em Milão, no dia 03 de junho, foi concluído o 7º Encontro Mundial de Famílias, com a Missa celebrada pela papa Bento 16 diante de mais de um milhão de pessoas. Qual é o balanço final desse 7º Encontro?
R. Os Encontros Mundiais de Famílias foram iniciados por João Paulo II em 1994, em Roma, para trazer novamente a família ao centro das reflexões da sociedade e da Igreja. Creio que este objetivo mais uma vez foi largamente alcançado. O Encontro teve um tema de indiscutível atualidade e interesse; contou com uma programação intensa e uma participação expressiva de casais do mundo inteiro, além de estudiosos das temáticas familiares, cardeais e bispos, e finalmente do próprio papa Bento 16.

2. O tema – família, trabalho e festa – surpreendeu por não enfocar uma questão especificamente religiosa ou moral. Que motivos levaram a tratar esse tema?
R. A família é, antes de tudo, uma realidade humana, social e economicamente significativa. É preciso falar novamente da família a partir dessas realidades antropológicas fundamentais e das relações interpessoais. Trabalho e festa são essenciais à vida da família. A questão do trabalho, em muitos lugares, torna difícil a formação e a “sustentabilidade” da família; sem trabalho, ou por excessivo trabalho, a família entra em crise. Quando as relações familiares e do casamento são postas em segundo plano, diante da pressão econômica, algo de errado está acontecendo e se torna necessário parar, para avaliar a situação e redefinir prioridades.

3. E a festa?
R. A reflexão sobre a festa no contexto das questões familiares é muito significativa. De fato, a “festa” expressa gratuidade, alegria, partilha, encontro de pessoas, esperança e vida. A festa tem um significado antropológico fundamental e indica qual é, em última análise, o objetivo da existência da família. Pela negativa, podemos afirmar que a família não se forma para cultivar tristeza, dor, pesadelos e frustrações, mas o contrário de tudo isso. Embora ela também experimente dor, cruz e frustrações, como tudo o que faz parte de mundo, vale afirmar que seu objetivo e significado é a felicidade, a alegria do convívio, a doação da vida por amor, a festa. Este é um aspecto importante, a ser redescoberto hoje pelas famílias, pois isso é fonte de novas energias e esperanças para a família. Não é sem motivo que no Cristianismo a felicidade e a vida bem-aventurada no céu são descritas com as imagens e a linguagem das bodas, da família, do banquete de irmãos, do convívio na casa paterna, da festa...

4. Como falar em “festa” para famílias que enfrentam cada dia a crua realidade da dor, da pobreza, das desavenças?
R. Há certamente muitas famílias que experimentam situações dramáticas e elas precisam ser ajudadas a superá-las mediante ações concretas de solidariedade e ajuda fraterna. No entanto, é preciso também evitar as ilusões que projetam para a família uma felicidade irreal, que se realiza apenas na abundância, na ausência da dor e de problemas. Todas as famílias enfrentam problemas de algum tipo. Mas é importante valorizar as pequenas alegrias, próprias da vida do casal, do convívio familiar, dos momentos marcantes, como o nascimento de um filho, aniversários, refeições em comum, o perdão dado e recebido, os encontro com os amigos e parentes... Coisas assim conseguem iluminar a vida e reacender a esperança também, lá onde parece haver apenas motivo de tristeza. Além do mais, o cristão é animado pela esperança, mesmo “contra toda esperança”, sabendo que Deus não abandona seus filhos. Para as famílias os cristãs e católicas, existe um dia de festa, todo especial, que precisa ser valorizado: é o Domingo, dia do Senhor, de encontros bonitos com Deus e com os próximo. Domingo também é o dia máximo de festa para a família.

5. Qual foi a dinâmica do Encontro?
R. De 30 de maio a 1º de junho houve um grande simpósio teológico e pastoral sobre os vários desdobramentos do tema de Encontro. Em seguida, houve seminários temáticos em várias cidades próximas de Milão e os participantes puderam se inscrever livremente. No dia 1º de junho, houve um grandioso concerto em homenagem ao Papa, no famoso teatro “Alla Scala”, com a execução da 9ª Sinfornia, de Beethoven. No sábado, o Papa encontrou os sacerdotes, religiosos e seminaristas, na Catedral, e os crismandos do ano da arquidiocese de Milão – mais de 40 mil – no estádio San Siro. Foi um espetáculo muito bonito. À noite, houve a tocante festa das famílias, na presença do Papa, com músicas e cantos, testemunhos de famílias e perguntas ao Papa, que respondeu a todas de maneira espontânea. No domingo, 3 de junho, houve a Missa de encerramento com a participação de mais de um milhão de pessoas, entre as quais, numerosos cardeais, bispos e autoridades italianas. No final da Missa, o Papa anunciou o próximo encontro, para 2015, em Filadélfia, nos Estados Unidos.

6. Enfim, qual é a impressão que ficou do 7º Encontro? Há um futuro para a família?
R. O Encontro tratou com realismo as situações pelas quais a família passa hoje; ao mesmo tempo, porém, com esperança. Ficou claro que a família ainda existe e com muita energia e capacidade de contribuir para o futuro da sociedade. Os discursos alarmistas e negativos sobre a família não devem apagar a esperança; há muitos jovens casais querendo levar a sério o casamento e a formação de uma família, embora estejam bem conscientes das dificuldades atuais. Uma pesquisa entre jovens universitários de Florença revelou que a grande maioria deles sonha em ter um casamento estável, com filhos. E a Igreja manifestou, mais uma vez, que promove, incentiva, apoia e defende a família. Nem poderia ser diferente.

7. Alguma sinalização para o mundo político?
R. Sim. Que se considere a família como um sujeito social e econômico básico da sociedade, pois assim acontece, de maneira real. Por isso, que ela seja protegida e promovida com legislações adequadas. Por outro lado, que só pode ser considerada família verdadeira aquela que resulta da união de um homem e de uma mulher; esta não deve ser fragilizada ou desconsiderada em vista de outras formas de união e merece uma atenção social e política que especial, pois cumpre um papel humano e social insubstituível e imprescindível. Infelizmente, a família natural, muitas vezes, é deixada no abandono, como um barco à deriva e a desatenção à família resulta em numerosos problemas humanos e sociais, que poderiam ser evitados, ou melhor solucionados, se houvesse maior atenção política em relação à família natural. Uma sociedade que descuida da família descuida de suas próprias bases.

Card. Odilo P. Scherer
Arcebispo de S.Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, de 05.06.2012


QUEM INVENTOU O MATRIMÔNIO?




Entrevista com o sacerdote e canonista Juan Ignácio Bañares

Quem inventou o matrimônio? Pode a lei «intrometer-se» em algo tão pessoal como o matrimônio? São algumas das perguntas às quais responde nesta entrevista a Zenit Juan Ignácio Bañares Parera (Barcelona, 1952), sacerdote e doutor em Direito Canônico pela Universidade de Navarra e licenciado em Filosofia e Letras pela Universidade de Barcelona.
Acaba de escrever o livro «A dimensão conjugal da pessoa: da antropologia ao direito», da casa editorial Rialp e da Biblioteca do Instituto de Ciências para a Família da Universidade de Navarra, do qual forma parte como diretor.

— Que é a dimensão conjugal da pessoa?

— Bañares: A pessoa humana existe modalizada como pessoa feminina ou pessoa masculina. Ambas são igualmente pessoas, mas o são de uma maneira diferente. Apesar da expressão popular que existe de «encontrar a minha cara metade», mulher e homem não são «cara metade»: porque uma cara metade é só uma metade de algo; porque uma cara metade é idêntica à outra metade, e porque uma metade não interage com a outra metade: contribui mais do mesmo. 
Ao contrário, esta diferenciação entre pessoa feminina e masculina, que está assentada na estrutura mesma do ser pessoal, abarca toda a pessoa (no físico, no psíquico, no espiritual) e supõe um potencial de enriquecimento para cada um, que constitui a complementaridade. Daí surge logo a possibilidade de comunicar-se, de amar-se e de fazer de si um dom ao outro especificamente «enquanto homem ou mulher», ou seja, no conjugável. 
Poderíamos chamar esponsalidade o caráter ou dimensão genérica de ser mulher ou homem, como dimensão que envolve toda a estrutura pessoal do ser humano, e dimensão conjugal a possibilidade que oferece esta complementaridade para constituir-se mulher e homem em uma união na natureza: o consórcio conjugal. Aí se unem a verdade da natureza, a força soberana da liberdade e a grandeza dos fins.

— Segundo o livro, a pessoa estaria levada naturalmente ao matrimônio. Mas há outras opções de vida, como a sua, o sacerdócio. Poderia explicar?
— Bañares: Diria não que «a pessoa está levada naturalmente ao matrimônio», mas que está estruturada naturalmente para poder contrair matrimônio: os pressupostos antropológicos estão em todas as pessoas humanas. Contudo, ainda que o matrimônio seja «possível» para todos, corresponde a cada um a decisão de exercer esse direito fundamental do cidadão e do fiel.
Por sua vez, a decisão de permanecer solteiro pode ter muitos motivos, alguns deles muito dignos e de grande nobreza. Mas entendo que, não só o sacerdócio, mas todo 

celibato apostólico, nem é uma forma de solteiro — por muito digna que esta pode ser— nem é uma iniciativa do sujeito: é sempre dom de Deus e respostas do homem.

— Quem inventou o matrimônio?

— Bañares: O amor de Deus desenhou o matrimônio, a realidade da natureza o oferece, a liberdade do homem e da mulher o constitui e a sociedade o ‘recebe e reconhece’ como uma relação de justiça prévia. 

— Pode-se a lei “intrometer-se” — são suas palavras —em algo tão pessoal como o matrimônio?

— Bañares: Na realidade, não é que a lei se “intrometa”, é que o matrimônio encerra em si algumas relações de justiça. A conjugalidade se estabelece na ordem do ser — um «é» esposo, como «é» pai, mãe ou filho — mas ao fazer de si mesmo um dom em toda a dimensão masculina ou feminina, está-se comprometendo o futuro: quer dizer, faz-se entrega não só do instante, mas de toda a abertura da biografia pessoal.Isso, obviamente, é consequência do amor, que quer dar-se de todo e sem retrocesso: mas é uma relação de justiça. Depois de «ser» esposos, as condutas conjugais e familiares são «devidas»: posto que se deu o ser  — nessa dimensão — em ordem a alguns fins, permanece igualmente entregue o ‘obrar’, que é a vocação própria do ser humano livre em sua dimensão histórica, em sua temporalidade. 

O papel da sociedade através do direito consiste em regular o exercício do direito fundamental da pessoa em reconhecer — da forma adequada — a soberania dos contraentes, e em proteger a verdade da instituição mesma.



CAMINHO DE SANTIDADE PARA CASAIS



Maria Lúcia e Eduardo Burin por ocasião da Profissão dos Primeiros Votos no Instituto Santa Família (11/12/2010)

Como vocês se conheceram? Falem um pouco de sua história...
Nós nos conhecemos através dos vicentinos. Ambos pertencemos à Sociedade São Vicente de Paulo, cujo objetivo é a assistência e promoção dos Pobres.
Começamos a namorar em 1981, e nos casamos há 29 anos atrás.
Temos três filhos, e hoje participamos do Instituto Santa Família, como casal consagrado num Instituto de Vida Secular Consagrada.
Como conheceram o ISF?
Através de uma irmã carmelita amiga nossa. Esta história mostra a mão de Deus sobre os acontecimentos que parecem ser mera coincidência.
Irmã Joana da Cruz, do Carmelo de Cotia, por incrível que pareça, cantou no nosso casamento.
Ela pertencia ao coral do Colégio Rio Branco, onde eu, Malu, estudei. Contratamos para o nosso casamento o coral do Colégio, e só viemos a saber desta coincidência muitos anos depois, ao visitar o Carmelo de Cotia e encontrá-la ali. Estreitando a nossa amizade, ela me apresentou o ISF como um caminho seguro para que, como casal, crescêssemos na fé, partilhando a espiritualidade da Família Paulina.

O que mudou na vida a dois com o ingresso no ISF?
Praticamente tudo. O que deveria ser apenas uma opção de fé, tornou-se um estilo de vida que iluminou todo o nosso contexto de casados. A união na oração gerou uma harmonia que envolveu todos os âmbitos do relacionamento. As diferenças diminuíram, em função de um olhar conjunto para o mesmo horizonte. Já não faz sentido perder tempo com questões que envolvem pontos de vista pessoais. O tempo é precioso e uma dádiva de Deus, para que sejamos um no amor, e na fé.


O que ele representa em suas vidas?
Foi como uma brisa primaveril, cheia de promessas de um reflorescimento matrimonial. Aprendemos a valorizar o que não passa, e sentirmos como é fundamental caminhar juntos com os olhos postos numa mesma meta.
Hoje, depois de uma caminhada de 5 anos, sentimos que fizemos um excelente "negócio", ao nos deixarmos conduzir por Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida. Ele tem todas as respostas, e com Ele tudo é possível.


Como tem sido sua caminhada?
Aprendemos que é necessário crescer no conhecimento da doutrina de nossa religião. Só assim podemos fortificar a fé, dar passos mais balizados no caminho da santidade. É necessário adotar um estilo de vida que comporte e priorize o eterno. Temos que trabalhar, estamos em família, atuamos em grupos de oração, mas em tudo isso, o pano de fundo é a fé, o desejo de aprofundar o conhecimento na nossa Igreja, que é um manancial de graças, de paz e de luz.


O que vocês diriam a casais que buscam a santidade?
Busquem caminhar juntos. Encontrem uma espiritualidade que seja capaz de dar sentido à sua busca.
Dediquem-se a Palavra, à oração, à Eucaristia. Amem a Igreja, o Santo Padre. Tenham um programa de vida orientado por sacerdotes que pertençam a uma família religiosa, o que dá um embasamento maior numa espiritualidade consolidada.  Resumindo: venham participar do Instituto Santa Família!!!



O DRAMA DO DIVÓRCIO





Quando o divórcio acontece, para além da ruptura do casal, há profundas consequências na vida dos filhos desse relacionamento que termina. 
Com um olhar sob o aspecto psicológico desta situação, seguem alguns conselhos para que se amenize o impacto desta perda.

Separação e divórcio: a criança no centro do conflito conjugal
Entrevista com a psicóloga Valeria Giamundo sobre as consequências deste fenômeno na infância.


ROMA, terça-feira, 28 de fevereiro de 2012(ZENIT.org) – A separação e o divórcio crescem cada vez mais na Itália. São numerosas as causas deste fenômeno e ainda maiores as conseqüências no âmbito familiar, particularmente para filhos.
ZENIT falou com a psicóloga Valeria Giamundo, psicoterapeuta e docente junto a Escola de Psicoterapia cognitivo comportamental, que realiza atividades de pesquisa com o fim de desenvolver tratamentos inovadores sobre a idade evolutiva.

Dra Giamundo, quais são as razões deste crescimento?
Dra Giamundo: As separações e divórcios são consequências de profundas transformações sociais e culturais, a partir da emancipação feminina, até a chegada da mentalidade individualista da sociedade atual, que promove o interesse pelo bem estar individual e a realização pessoal, em vez daquele familiar e da sociedade como um todo.
A instabilidade do trabalho e da economia, e consequentemente o stress e o sentimento de precariedade, parecem diminuir a passagem para a vida adulta e com isso as decisões de formar família, subordinada à busca por estabilidade de renda, da procura por moradia e por ai. A consequência é uma realidade familiar caracterizada por núcleos cada vez menores, com equilíbrio instável e conflitos relacionais.
As estatísticas evidenciam que, junto ao aumento das separações e dos divórcios, se registrada também uma diminuição da taxa de matrimônios, que poderia confirmar uma efetiva propensão a ruptura da ligação.


Muitas pessoas que, vivendo uma separação ou um divórcio, procuram a ajuda de um psicólogo?
Dra Giamundo: Com o aumento do fenômeno com certeza é maior a necessidade de referir-se a um profissional como nós, pois, na verdade, não é possível estar preparado para enfrentar um evento tão estressante. A difusão do fenômeno tende a uma normalidade às vezes excessiva do evento, com o risco de subestimar os resultados do processo de separação.

E quais são as consequências?
Dra Giamundo: Estudos demonstram que a separação conjugal está em segundo lugar entre os eventos estressantes na vida do indivíduo, logo após a morte de um parente próximo. No âmbito clinico, as separações são comparadas ao luto pelas suas características psicológicas e emocionais.A divisão familiar gera inevitáveis recaídas no bem estar psico-físico de todos os membros da família, e incide significativamente na qualidade dos relacionamentos entre pais e filhos, gerando a necessidade, para todos os membros, de recorrer a um apoio psicoterápico.

Quais são as marcas mais frequentes para uma criança?
Dra Giamundo: Podem ser de diversas naturezas e dimensões: raiva, frustração, ansiedade, depressão, regressão, problemas comportamentais, distúrbios do sono entre outros.
É importante observar as reações da criança também no contexto extra-familiar; os professores, por exemplo, são uma grande fonte de informação em relação aos pequenos. Muitas vezes, são eles que sinalizam um distúrbio, evidenciando, por exemplo, um problema na atenção ou na aprendizagem.
Na criança os sinais do sofrimento não emergem sempre de maneira muito evidente; os pais descrevem crianças que aparentemente protestam, crianças que se fecham em si mesmos, mas também crianças que reagem positivamente e que parecem facilmente adaptados ao evento.
Nestes casos não deve ser negligenciado que poderia tratar-se de formas de pseudo- adaptação, como acontece com crianças que negam a separação dos pais ou inibem a expressão para não intensificar o conflito conjugal.

Quais são os efeitos das separações a longo prazo? As crianças, no decorrer do crescimento, podem ressentir o erro dos pais?
Dra Giamundo: A separação, se não for bem elaborada, pode ter efeitos ao longo do tempo na capacidade de construir e manter ligações afetivas mas, atenção, não é verdade que os filhos de pais separados correm maior risco do que filhos de pais unidos.
O clima familiar e a qualidade das relações é um elemento essencial. O maior dano é, na verdade, devido à perpetuação das condições em que a criança sente-se o objeto de disputa, nesses casos, a criança vai reagir enfatizando os laços com um dos pais, geralmente com quem tem a custódia ou a guarda.
A ligação com apenas um dos pais é quase necessária para a criança que teme posteriores abandonos, mas isso gera experiências carregadas de senso de culpa, conflitos interiores (além de relacionais) que terão inevitavelmente consequências sobre o futuro psico-afetivo.


Porque os pais não conseguem ajudar os filhos neste momento de história familiar?
Dra Giamundo:
Os pais também vivem a separação como um evento traumático, muitas vezes a opção pela separação não é partilhada. Nestes casos a raiva, o medo, a sensação de falimento impedem um confronto sereno e voltado a individualizar as melhores soluções para o equilíbrio familiar.
O conflito é sem dúvidas o sintoma mais frequente e se reflete em comportamentos destrutivos não apenas em relação ao companheiro, mas também em relação aos filhos e a si mesmo. São desencadeadas verdadeiras guerras nos tribunais, onde o direito dos filhos de viver serenamente uma relação equilibrada com as duas figuras de referência é confiada à competência de um juiz ou perito.
Estas guerras podem causar a intensificação do desconforto da criança, com consequências agudas e crônicas que impedem o desenvolvimento de uma personalidade saudável e equilibrada. Os adultos de referência para a criança se tornam, ao improviso, frágeis e carentes de ajuda; em alguns casos os filhos assumem o papel de “protetores”, permanecendo atolados em relacionamentos disfuncionais, onde acabam, geralmente, protegendo o genitor considerado mais fraco.

Como deveria ser o comportamento dos pais para minimizar o sofrimento dos filhos?
Dra Giamundo: Nestes casos os pais devem ser ajudados ou apoiados, através da mediação familiar no processo de mudança, que implica uma notável reorganização do funcionamento familiar. A tarefa de um pai é manter íntegra a função parental, limitar o conflito e renovar as redes de relacionamento significativas, para que possam melhor apoiar o crescimento da criança.

Existem regras de comportamento que podem orientar os pais na gestão dos filhos durante a separação?Dra. Giamundo: De acordo com especialistas, para proteger a criança, os pais devem observar três princípios fundamentais:

1) assegurar as condições de continuidade das situações mais pragmáticas, como os ritmos do sono e das refeições, os compromissos extracurriculares, etc ..;

2) garantir a previsibilidade, ou dar à criança a capacidade de prever determinados eventos, para aprender a antecipar o que vai fazer;

3) garantir a confiabilidade, dando pontos de referência afetiva para os filhos, para que se sintam realmente amados e apoiados em suas necessidades de crescimento pessoal.

A família alargada é uma questão muito debatida nos últimos anos. Muitos filmes tratam do assunto e, muitas vezes, mostram que superado os problemas, há sempre um Happy End . Na realidade, como as crianças percebem essa mudança?
Dra Giamundo: A transição da família unida para a família separada é muitas vezes acompanhada pela formação de novos núcleos familiares, e isto requer um maior esforço de adaptação para a criança.
A capacidade de aceitar e integrar em uma nova configuração familiar depende da sensibilidade dos pais e da integração gradual no novo núcleo: eles não devem impor um tempo e uma maneira que não leve em conta as características individuais dos filhos.
Se a criança não aceitou a separação dos pais, pode sentir o novo parceiro como um intruso e sua experiência de abandono pode ser acompanhada por sentimentos de traição ou de exclusão.
O conhecimento e a presença do novo parceiro deve ser gradual e discreta, com um cuidado especial para evitar a "armadilha" da competição e da provocação. Se o pai/mãe que "sofreu" a separação não aceitar a idéia do novo companheiro, a criança ficará presa no conflito de lealdade, e a possibilidade de construir um bom relacionamento será impedida.

Um Happy End, portanto, parece muito difícil ....
Dra Giamundo: Pelo contrário, os resultados dependem das atitudes dos pais e de seus respectivos companheiros. O final feliz é possível, mas se deve trabalhar. Não apenas com a intervenção profissional, mas refiro-me à vontade do pai em questionar-se, em participar ativamente e com maior consciência do complexo processo de separação.

Qual é a função dos psicólogos nestes casos?
Dra Giamundo: O profissional deve primeiramente explorar a possibilidade de uma reconciliação, mas se não houver condições que favoreçam a reunificação, sua função será a de facilitar a elaboração do evento; estimular no adulto a consciência das muitas implicações que este evento possa ter sobre a família, tanto em um nível emocional – como no psíquico concreto - organizativo.

E no que diz respeito ao tratamento da criança ?
Dra Giamundo:
No caso da criança, a intervenção deve centrar-se na compreensão, na aceitação, no processamento da separação dos pais.É importante ajudá-la a reconhecer as emoções geradas, incluindo sentimentos de raiva e frustração, ambivalência afetiva ou senso de culpa, porque as crianças muitas vezes se sentem responsáveis ​​pelo evento. Nesse sentido, nos últimos anos eu tenho aplicado a terapia de grupo, que provou ser particularmente eficaz para crianças.

Como funciona essa terapia?
Dra Giamundo:
As crianças enfrentam os problemas relacionados à separação em grupos homogêneos por idade, de 4 ou 5 participantes. Eles compartilham o sofrimento, se confrontam e se apoiam mutuamente. A criança olha para o problema com mais coragem, aproveitando as experiências dos outros. O papel do terapeuta é estimular o confronto recíproco, ajudando a expressar o próprio estado de animo e a encontrar novas soluções para facilitar a adaptação. Para ter sucesso, porém, o tratamento das crianças deve ser acompanhado por intervenções de apoio à figura dos pais.

Quem procura a senhora: os pais por espontânea vontade ou os pais a pedido dos filhos?
Dra Giamundo: Normalmente os pais procuraram aconselhamento para si ou para seus filhos. Na melhor das hipóteses - estou me referindo a esses pais que são particularmente sensíveis e atentos - a consulta é procurada em um estágio anterior ao da separação, para ser guiado e orientado no processo: para entender, por exemplo, como comunicar aos filhos, como propor a mudança, reorganizar o ritmo de vida e assim por diante.
Mas quando o acompanhamento profissional é requisitado numa fase posterior, as motivações que estão por trás são relacionados as dificuldades para administrar o desconforto da criança, isto é, os pais notaram que são incapazes por si só de aliviar o sofrimento de seu filho .

Quais são os mais comuns?
Dra Giamundo: Um caso que muitas vezes se ouve é o de crianças, com idade a partir de 10 anos, que pedem aos pais para lhes fornecer ajuda profissional externa.
Estes, são casos em que se registra maior sofrimento, porque as crianças perceberam que o desconforto não é mais solucionável com a ajuda dos pais; mas também são os casos que têm um prognóstico mais positivo, já que a consciência do desconforto é combinado ao desejo de superá-lo, e a motivação para a mudança facilitará a recuperação de uma condição de serenidade e equilíbrio.

Por Britta Dörre