Aceitar-se
é ir adiante com passo tranquilo sobre o próprio caminho, respirando profundamente
a unidade de seu ser. E caminhar sem pousar sobre a terra a sua parte mais
pesada.
É
acolher a sua história e suas circunstâncias mais obscuras, a água de seu rio e
os meandros percorridos, seu corpo e as feridas que você esconde no íntimo. Aceitar-se
é a coragem de se saber humano desde o princípio do próprio caminho.
É
o testemunho mais humano de sua humanidade, a parte mais integral de sua
grandeza. Aceitar-se lhe dirá como o ser grande contém sempre, em algum lugar,
uma fraqueza. Dessa forma, o herói possui “um calcanhar de Aquiles”, a parte
que, ao caminhar fica mais para trás, aquela que o torna vulnerável.
Aceitar-se
é escancarar o próprio olhar, imóvel por alguns instantes, ao abrir a janela de
manhã. É acolher aquilo que o espera, e que não é fruto de seu desejo: a azul
ou o cinza do céu, a neblina, o vento, a chuva ou, apenas, um modesto raio de
sol...
Aceitar-se é sentir-se mais forte que aquilo que vem ao seu encontro. É acolhê-lo, dessa forma, como se fora um companheiro de viagem. Se maldizer alguma coisa é mantê-la distante, para afastar-se sozinho, aceitar é ter a força de ficar, para partir depois acompanhado...
É
levar o que existe dentro de você e que você não ama ou não consegue explicar,
na sua diferença. Algo que você não pode, no fundo, desculpar ou perdoar.
Alçá-lo da terra para recolhê-lo dentro de você mesmo: será a única maneira de
poder doar-se ao outro inteiramente.
Como
uma montanha segue com o olhar a passagem das nuvens, sem se mover um palmo
para evitá-las, da mesma maneira aceitar-se nada exclui de você, para no final
sentir-se em harmonia com você mesmo...
Aceitar-se
é acolher a fragilidade de seu ser e as contradições que habitam nele, como a
qualquer criatura humana. Mas acolher amorosamente, como se colhesse as últimas
flores que restam de seu jardim, escurecidas pelas noites úmidas de outono...
Renato Zilio