segunda-feira, 29 de junho de 2015

A emoção de ter sido escolhido

  

Neste Ano da Vida Consagrada que estamos vivendo, hoje nos dedicaremos à reflexão do início de toda a vida consagrada: a vocação. E vamos fazê-la, olhando-nos no espelho de nosso pai São Paulo; aproveitando as conclusões oportunas em sua forma, resposta e frutos dessa vocação paulina.

Paulo fala repetidas vezes desse acontecimento memorável de sua vida: ter sido escolhido por Deus; e se recorda da graça de sua vocação especial. Na Carta aos Romanos, e de uma forma parecida em outras epístolas, Paulo se apresenta como "apóstolo reservado para anunciar o Evangelho de Deus".
(Rm 1,1)

Paulo pensa na vocação quando diz: "E por último de todos apareceu também a mim, como a um abortivo. Porque eu sou o menor dos apóstolos, e não sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. mas pela graça de Deus, sou o que sou". (I Cor 15, 8-10)

Com igual emoção na Carta aos Gálatas ( Gal 1, 13ss) fala daquela hora inesquecível: "Certamente ouvistes falar de como outrora eu vivia no judaísmo; com que excesso perseguia a Igreja de Deus e a assolava... Mas quando aprouve àquele que me reservou desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça, para revelar seu Filho em minha pessoa, a fim de que eu o tornasse conhecido entre os gentios, imediatamente sem consultar a ninguém, sem ir a Jerusalém para ver os que eram apóstolos antes de mim, parti para a Arábia: de lá regressei a Damasco". E na Carta aos Efésios resplandece a hora de Damasco quando se diz: "A mim, o mais insignificante dentre todos os santos, me coube a graça de anunciar entre os pagãos a inexplorável riqueza de Cristo". ( Ef 3,8) E se poderiam agregar muitas outras citações das epístolas para saber com que emoção Paulo se recorda daquela hora.


Não faz muito tempo, em uma de suas audiências gerais que o Papa Francisco celebra na Praça de São Pedro, com sua natural espontaneidade lançou esta pergunta a quantos o escutavam: "Quantos de vós se recordam do dia do vosso batismo?...Pois tratem de sabê-lo, porque neste dia fostes feitos filhos de Deus"!

Celebramos o dia de nosso nascimento na vida natural (dia do nosso aniversário). Mas é importante celebramos o dia do nosso nascimento como filhos de Deus. Para os consagrados deveria ser um encontro excepcional e indelével, o dia em que nos sentimos chamados à nos consagrar totalmente a Deus. Nesse dia começou nossa história de amor!

Não esqueçamos que o segredo de toda vocação - chamado - está na capacidade e alegria de distinguir, escutar, e seguir a voz de Deus que fala no silêncio exterior, sobre todo o interior. E isto é válido para toda a vida posterior dos consagrados. Aprender a escutar essa voz e segui-la com generosidade, sem ter medo do que Ele possa pedir-nos ou insinuar-nos, porque sabemos que tendo a Deus em nós, nada é impossível, e tudo poderemos! " Sem mim nada podeis fazer" ( Jo 15,5), diz o Senhor. E São Paulo nos alenta: " Tudo posso naquele que me fortalece". ( Fl 4,13)

José Lozano - membro do Instituto Santa Família da Espanha

quarta-feira, 24 de junho de 2015

João Batista, o precursor da verdade



São João Batista, cuja Natividade celebramos hoje, foi um homem notável. Ainda no ventre de sua mãe, Santa Isabel, recebeu a visita de Nossa Senhora que fora ao encontro de sua prima para prestar-lhe ajuda, por conta da sua gravidez que aconteceu na velhice.

Acontece que Maria também estava grávida, e trazia no seu seio o Menino Jesus, o Redentor. Ao se encontrarem as duas, Maria e Isabel, João Batista pulou de alegria no ventre de Isabel, prenunciando a digníssima pessoa que ali se encontrava no ventre de Maria. Esta exaltação, na verdade, era a graça santificante derramada sobre João Batista, ou seja, naquele momento ele já estava isento da culpa original, nasceu santo porque tinha uma missão profética capital para ser realizada.

Ignorando essa missão e desfrutando a graça recebida, ele bem que poderia viver tranquilo numa vida comum sem grandes arroubos. Que privilégio imenso ele havia recebido de Cristo...

Acontece, que na vida sobrenatural as coisas não são assim. Quanto maior a dignidade concedida na ordem da graça, maior o serviço que deve ser prestado. Quando um homem comum é ordenado sacerdote recebe graças muito superiores a um homem comum. Suas mãos são ungidas e ele tem o poder de ministrar sacramentos: batizar, ministrar o perdão de Deus àqueles que o procuram no confessionário, unir em matrimônio homens e mulheres, confirmar o Batismo através do Crisma, ungir os enfermos e os que se encontram em perigo de morte, proclamar o Evangelho de Cristo, abençoar as pessoas ... É tudo muito sério, é altamente comprometedor, pois se ele o fizer de modo indigno, seu destino eterno está em risco.

Voltemos a João. Esse homem, cheio do Espírito Santo, tornou-se um eremita. Deixou sua casa e partiu para o deserto vivendo isolado do convívio humano, numa condição de pobreza e penitência severas. E para quê? Para estar desapegado do mundo e assumir sua missão de Precursor do Salvador, aquele que deveria preparar os caminhos de Jesus anunciando a imperiosa necessidade de conversão e penitência para a chegada do reino de Deus.

Sabemos que por sua coragem e total destemor ante autoridades e poderes instituídos acabou por ser degolado, porque não poupava ninguém de suas palavras verazes e cheias de autoridade, visto que ele mesmo as colocava em prática.

Como estamos necessitados de ícones como ele, de pessoas centradas e eloquentes que arrastem multidões, pela sua coragem e santos propósitos. Ao invés de modelos fracassados já na raiz de sua mensagem, teríamos homens e mulheres transbordantes de propostas eficazes de paz, de comprometimento com uma vida interior frutuosa e cativante. João Batista é aquela voz que clama no deserto: mudem de vida, procurem a Deus, sejam sóbrios, sejam santos! 

Esse deserto não é o geográfico, mas o deserto dos corações totalmente vazios de conteúdo ético e moral, vazios de Deus e de sua Palavra, por isso também tão vazios de amor e felicidade.

Que nós possamos assumir a mesma missão de João, cada um do seu jeito, com seus dons, mas todos empenhados em fazer despertar no mundo a necessidade de acordar para aquilo que nos aguarda inexoravelmente: a vida eterna. 

ISF

quinta-feira, 18 de junho de 2015

O primeiro mandamento da lei de Deus





Os mandamentos da lei de Deus começam dizendo: “Amar a Deus sobre todas as coisas”. De fato, o primeiro mandamento se refere do amor a Deus. E Jesus resumiu dessa forma: amarás o senhor teu Deus, de todo o coração, de toda a tua alma, de todo o entendimento (Mateus 22,27). São palavras que seguem do Antigo Testamento. Escutem Israel, o senhor nosso Deus: o senhor nosso Deus é único (Dt 6,4).

O primeiro mandamento, “Amar a Deus sobre todas as coisas” condena o politeísmo. (Do grego: Poli, muitos; Théos: deus). E condena toda a forma de idolatria, ou seja, adorar outros deuses.
 
Mas o que é idolatria? É tudo aquilo que no nosso coração ocupa o lugar de Deus. Portanto, o primeiro mandamento é contra colocar no lugar de Deus outros deuses. Adorar a Deus, orar a ele, oferecer-lhe o culto que lhe é devido e cumprir as promessas faz parte do primeiro mandamento.

Mas quais são as faltas graves contra o primeiro mandamento? Superstição é um dos exemplos. “Não vou passar em baixo de uma escada que me dá agouro”. “Vou usar fita vermelha que tenho sorte”. Mas até onde isso ofende Deus? A reposta é: ou acreditamos que ele é Deus, nosso único Senhor ou não.

Atualmente, estamos vivendo a pior fase do ateísmo, principalmente nas famílias. Fico perplexo em ver avós, pais e filhos que estão se tornando ateus. E não estamos tratando de uma negação direta a Deus, porque toda a negação é uma afirmação. Falo da indiferença. E a indiferença religiosa é a pior forma de ateísmo.
 
Por exemplo, a indiferença de ir na igreja, no rezar, na devoção, a indiferença sobre o que é a Eucaristia. Fico angustiado, pois quantos adolescentes jovens não têm a Primeira Comunhão e a Crisma. Os filhos não vão mais para a Catequese. E essa indiferença é uma forma de ateísmo. Uma falta grave contra o primeiro mandamento.

Magia, espiritismo, idolatria, simonia (comércio de funções sagradas – querer comprar a graça de Deus) também são faltas graves contra o primeiro mandamento. A blasfêmia contra Deus e os santos também.

Tentar a Deus; recorrer a Satanás e aos demônios para descobrir o futuro; consulta de horóscopo; necromancia; invocação de mortos e mesa branca/mesa preta; missas negras; cartomantes; interpretação da sorte; buscar refúgio, recurso à mediunidade. Tudo isso esconde uma vontade de poder sobre o tempo, sobre a história e sobre a providência de Deus.
 
Encontramos o que a Bíblia chama de ocultismo, nos seguintes textos: Levítico 19, 31; Deuteronômio 3, 19; e Primeiro Coríntios 10, 12-13.

A feitiçaria também é algo que fere o “Amar a Deus sobre todas as coisas”. São pessoas que pretendem domesticar os poderes ocultos. A superstição também é o desvio do sentimento religioso. É acreditar, por exemplo, na sorte. “Eu vou à missa, mas dentro de casa eu tenho que ter uma ferradura, ou um trevo de quatro folhas. Sou católico, mas eu acredito em figa, em objetos, amuletos”.

Texto de Primeiro Coríntios 10, 19-22: Que quero dizer com isto? Que a carne sacrificada aos ídolos seja alguma coisa? Ou que os ídolos mesmo sejam alguma coisa? Não! Mas aquilo que os ímpios imolam, eles imolam aos demônios e não a Deus. Ora, não quero que entreis em comunhão com os demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios. Não podeis participar da mesa do senhor e da mesa dos demônios. Ou queremos provocar o ciúmes do Senhor? Queremos ser mais forte do que ele?

Este texto e os outros que seguem, ele fala de como superar a idolatria, a prática pagã.

A ação de tentar Deus consiste em pôr à prova, em palavras ou atos a bondade e a onipotência. O grave pecado contra o primeiro mandamento é colocar Deus em segundo lugar. Como muitos fazem: primeiro lugar dinheiro, depois Deus. Quem ama a Deus cumpre seus mandamentos e suas vontades.

Padre Reginaldo Manzotti 

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Para a saúde de nossas almas


Esta festa do Corpus Christi nasceu no século XIII. Jesus quis entregar-se a nós como alimento para o caminho, fazendo que nós comungássemos com a sua própria Pessoa, com o seu Corpo e o seu Sangue, sob a forma do pão e vinho

Em primeiro lugar, um pouco de história desta esplêndida Solenidade do Corpus Christi. No ano 1208, uma jovem de 17 anos, Juan de Retine, religiosa hospitaleira em Mont Cornillon (Lieja, Bélgica) teve uma visão de uma lua resplandecente e cheia, mas com uma mancha. Esta visão durou dois anos. Por fim a decifrou: no esplêndido calendário litúrgico faltava uma festa da Eucaristia. Foi a origem do Corpus Christi, cuja primeira procissão se pôs em marcha pelas ruas de Lieja no ano de 1245 e pelas ruas de todo o mundo a partir de 1264. A partir da festa do Corpus, a fé e o entusiasmo pela Eucaristia levou os habitantes de Bolzano (Itália) do século XIII a crer nas hóstias profanadas que começaram a sangrar. E os habitantes de Daroca (Zaragoza) do século XIII a crer no milagre dos corporais que, para defendê-las contra a profanação da soldadesca muçulmana, entre as suas dobraduras guardaram seis hóstias, que deixaram seis pegadas redondas. Só desde a fé é possível crer nestas coisas.
   
Em segundo lugar, a Eucaristia tem duas dimensões: primeiro, a sua celebração, a missa, ao redor do altar; e depois, a sua prolongação, com a reserva do Pão eucarísticos no Sacrário e a conseguinte veneração e adoração que lhe dedica a comunidade cristã. A finalidade principal da Eucaristia é a sua celebração- a missa-, isto é, para os fieis comungarem o Corpo e o Sangue de Cristo. Porém, desde que, já nos primeiros séculos, a comunidade cristã começou a guardar o Pão eucarístico para os enfermos e para os moribundos, foi nascendo cada vez mais “conatural” que se rodeasse o lugar da reserva (o Sacrário) de sinais de fé e adoração ao Senhor. A Eucaristia na celebração é para ser comida para a saúde das nossas almas e assimilar Cristo, Pão de vida. A Eucaristia na prolongação é para ser adorada, festejada e cantada. Na celebração da Eucaristia entramos em comunhão com Cristo na hora de comungá-lo. Na prolongação da Eucaristia caímos de joelhos para agradecer, adorar, contemplar e abrir o coração diante de quem está ali sacramentalmente presente e sabemos que nos olha e nos ama. 
  
Finalmente, este culto por Cristo Eucaristia prolongado deve nos levar a cuidá-lo sempre. Daqui a dignidade dos Sacrários: sempre colocados num lugar nobre e destacado, convenientemente adornados, fixados permanentemente sobre um altar, pilar, ou também metidos na parede ou incorporados a um retábulo. O Sacrário deve estar construído de matéria sólida (podem ser metais preciosos como ouro, prata, metal prateado, madeira, cerâmica e similares) e não transparente, fechado com chave, num ambiente que seja fácil à oração pessoal fora do momento da celebração, e portanto melhor numa capela separada (capela sacramental). Daqui que junto ao Sacrário brilhe constantemente uma lâmpada, com a qual se indica e honra a presencia real e silenciosa de Cristo. Daqui, a genuflexão quando passamos diante dele. Daqui, os momentos pessoais de oração ou “visita” diante do Senhor na Eucaristia. Daqui, a organização da “bênção com o Santíssimo” com uma “exposição” mais ou menos prolongada e solene para a adoração comunitária. São momentos que deveríamos desejar, ter saudades e buscar, tanto pessoalmente como em comunidade; momentos de oração mais pausada, meditativa e serena diante do Sacrário. 

Comentário sobre a liturgia do Pe. Antonio Rivero, L.C., Doutor em Teologia Espiritual, professor e diretor espiritual no seminário diocesano Maria Mater Ecclesiae de São Paulo (Brasil)