sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Construir sobre a rocha




Catequese para a família  
Eva Carreras del Rincón por Zenit

Faz pouco mais de um ano que o meu pai faleceu e, durante a missa do funeral, enquanto nos despedíamos dele, eu senti ao mesmo tempo uma dor imensa e uma intensa alegria. Depois, conversando com as amigas que me acompanhavam, eu me lembro de ter dito que o meu maior agradecimento ao meu pai era pela fé e pela confiança na providência divina que ele tinha me transmitido. Era aquela, para mim, a herança mais preciosa. É ela que me mantém de pé sobre rocha.

E esta é a herança que eu também quero deixar para os meus filhos, familiares e amigos.

O primeiro passo é ser conscientes da sua importância. Podemos deixar muitas coisas para os nossos filhos: estudos, bons colégios, viagens, esporte, computadores, idiomas, cursos... Tudo isso é muito bom e necessário. Mas se nos esquecemos de ensinar a eles o imenso amor de Deus, ou o escondemos no fundo do nosso coração, ou nos limitamos a uma série de costumes e tradições vamos deixá-los indefesos diante da vida, e das tormentas que os esperam. Estaremos construindo sobre areia.

Por onde começar? Tornando-nos como crianças. Não precisamos ficar lembrando as nossas tentativas frustradas nem os bons momentos em que tudo parecia um mar de rosas, antes que os nossos filhos entrassem na adolescência, por exemplo. Temos é que olhar para frente, segurando firme na mão de Deus.

Seria bom meditarmos e conversar com Deus para saber o que Ele quer para cada um de nós e para as nossas famílias. Nada melhor do que os exercícios espirituais para isso. E é bom fazê-los todos os anos, porque nós e as nossas famílias vamos mudando: o que é bom hoje, talvez não seja o melhor amanhã.

Comecemos por nós mesmos: renovemos o nosso amor a Deus e a nossa fé, porque ninguém dá o que não tem. Depois podemos passar para a parte prática e de organização. Quais são os tempos de oração que existem na minha casa? Cada família é única e tem que encontrar o seu próprio caminho. Mas há orações que pedem a participação da família: o santo terço, as orações da manhã e da noite, a bênção da mesa, a Santa Missa dos domingos e das festas de guarda… E cada um pode acrescentar o que quiser, para começar a sua própria tradição familiar.

Enquanto escrevo, folheio o que o papa disse na homilia deste domingo e encontro estas palavras: “As crianças são o elo de uma corrente. Vocês, pais, têm um filho ou uma filha para batizar, mas, dentro de alguns anos, serão eles que vão ter que batizar um filho ou um sobrinho. Essa é a corrente da fé! O que significa isso? Eu só queria dizer isto: são vocês que comunicam a fé, vocês são os transmissores; vocês têm o dever de comunicar a fé a essas crianças. É a herança mais bela que eles podem receber: a fé. Só isso. Levem para casa este único pensamento. Temos que ser transmissores da fé. Pensem nisso e em como transmitir a fé às crianças”.

E não é preciso dizer mais nada.


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A felicidade do perdão



O Sacramento da Reconciliação, tesouro que a Igreja Católica oferece aos seus membros, é muitas vezes incompreendido, e até mal interpretado. Trata-se de uma atitude de humildade frente às fraquezas que todos temos com relação à caridade fraterna, e aos mandamentos da Lei de Deus.

Depois do pecado original, os homens ficaram sujeitos aos maus desejos, ou seja, tudo aquilo que eu pratico e que de alguma forma me desfigura, ou desfigura o irmão face à nossa imagem e semelhança com Deus. O padrão de perfeição é Cristo, Filho de Deus, que caminhando entre nós mostrou-nos como devemos agir para sermos perfeitos, como Deus o é.

Sabendo da nossa condição de pecadores, Cristo, oferecendo-se em nosso lugar como aquele que paga por todos os nossos pecados, morre numa cruz abandonado até por aqueles que o seguiram de perto, os apóstolos. Nessa morte de um Deus feito Homem acontece a supressão da culpa que nos é devida. Assim, o homem, fazendo uso do Sacramento da Reconciliação, pode voltar à amizade e à graça de Deus.

Há muita resistência por parte de alguns católicos que não aceitam confessar-se com um sacerdote, por enxergarem neles também pecadores que não teriam o direito de conceder o perdão a ninguém. Contudo, na Confissão, o sacerdote é apenas em instrumento de Cristo para nos conceder a absolvição. Quem perdoa de fato é Cristo. Quem tem o poder para isto é Ele!

O Sacramento da Reconciliação é um veículo da cura de mágoas, ressentimentos, de feridas que os relacionamentos provocam em nós. A Confissão também, por ser um Sacramento, ou seja, sinal da presença de Deus, tem o poder inclusive de nos restituir a saúde física.

No Salmo 32, "A felicidade do perdão", o salmista afirma que à partir da decisão de buscar o perdão, a alegria e a esperança de se saber acolhido por Deus é fonte de júbilo e de grande paz.

O papa Francisco, na Catequese desta semana faz algumas considerações sobre o Sacramento da Penitência, ou Reconciliação:

"Este sacramento brota diretamente do mistério pascal. Jesus ressuscitado apareceu para os apóstolos e disse a eles: ‘Recebam o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados’. Assim, o perdão dos pecados não é fruto do nosso esforço pessoal, mas um presente, um dom do Espírito Santo, que nos purifica através da misericórdia e da graça do Pai.
A confissão, que se realiza de forma pessoal e privada, não deve nos levar a esquecer o seu caráter eclesial. É na comunidade cristã que o Espírito Santo se faz presente, renova os corações no amor de Deus e une todos os irmãos em um só coração, em Jesus Cristo. Por isso, não basta pedir perdão ao Senhor interiormente: é necessário confessar com humildade os próprios pecados perante o sacerdote, que é nosso irmão e representa Deus e a Igreja. Pode ser muito bom para cada um, hoje, pensar no seguinte: ‘há quanto tempo eu não me confesso?’. Cada um responda para si. Pode lhe fazer bem.
O ministério da reconciliação é um genuíno tesouro, que, às vezes, corremos o perigo de esquecer, por preguiça ou por vergonha, mas, principalmente, por termos perdido o senso de pecado, que, no fundo, é a perda do senso de Deus. Quando nos deixamos reconciliar por Jesus, encontramos uma paz verdadeira". (Papa Francisco na Audiência Geral de 19/02/2014).

Estamos a poucos dias do início da Quaresma. Que este seja um tempo de encontro com o Senhor na paz que Ele mesmo nos oferece pela Confissão. Não desperdicemos este tesouro de bençãos que salva nossas almas.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Bélgica aprova a eutanásia infantil



Pediatras protestam. Se transforma no primeiro país do mundo que não estabelece limites de idade. Será preciso o consentimento dos pais e um informe psiquiátrico da maturidade da criança
Por Ivan de Vargas
ROMA, 13 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) - Bélgica tornou-se na tarde de hoje no primeiro país do mundo que acrescenta à sua legislação a eutanásia de menores sem requisito de idade. O Congresso dos Deputados aprovou definitivamente um projeto polêmico, que contou com 86 votos a favor, 44 contra e 12 abstenções. Com a nova lei, os menores com doenças incuráveis poderão aceder a essa prática, sempre que cumpram com uns requisitos rigorosos. O principal é demonstrar a capacidade de discernimento.
A passagem pelo Congresso dos Deputados fez algumas mínimas alterações ao projeto aprovado pelo Senado, que na Bélgica é a câmera com iniciativa legislativa. O sofrimento da criança só poderá ser físico - a eutanásia para adultos contempla também o psíquico – e os médicos deverão comprovar que, em qualquer caso, o paciente morreria em curto prazo .
A Holanda era, até agora, o único país que incluía crianças na prática da eutanásia, com um requisito de idade fixado entre 12 e 18 anos, dependendo do caso. Bélgica deu um passo a mais ao optar por avaliar a maturidade mental da criança em vez de estabelecer uma idade de referência.
O texto final estabelece que será o médico encarregado do caso que avaliará se o menor é capaz de tomar a decisão, mas terá que consultar previamente um psiquiatra infantil. Na atualidade, Bélgica já prevê o direito à eutanásia a partir dos 15 anos para jovens emancipados.
Inúmeros profissionais médicos reagiram violentamente a uma lei que segundo eles não responde a nenhuma demanda da sociedade nem do setor sanitário, mas sim às cabalas eleitorais de uns políticos que nesta mesma primavera concorrem às eleições gerais.
Assim, a iniciativa aprovada hoje pelo Parlamento belga recebeu as críticas do primeiro Congresso Internacional de Cidadãos Paliativos Pediátricos celebrado nesta semana na Índia e que incluiu na sua declaração final uma “chamada urgente ao Governo belga para que reconsidere a sua decisão”.
Os especialistas reunidos no Congresso Internacional defenderam que todos os menores em estado terminal devem ter acesso aos meios adequados para controlar a dor e os sintomas, bem como aos cuidados paliativos de alta qualidade. "Acreditamos que a eutanásia não é parte da terapia paliativa pediátrica e não é uma alternativa", disse o comunicado.
Também uns 40 pediatras belgas publicaram uma carta aberta para advertir que consideram “precipitado” a tramitação desta lei e mostrar que não existe uma demanda social nem médica para dar este passo. Uma carta semelhante, à qual se somaram até 160 pediatras, como informa a mídia local, foi dirigida ontem aos grupos políticos na véspera do voto para pedir-lhes que o atrasem até a próxima legislatura.
Enquanto isso, os líderes das grandes religiões da Bélgica (cristãos, muçulmanos e judeus) têm mostrado repetidamente a sua rejeição à lei. Neste sentido, no 6 de novembro emitiram uma declaração conjunta opondo-se à legalização da eutanásia para menores. "A eutanásia das pessoas mais vulneráveis ​​é desumana e destrói as bases da nossa sociedade", denunciavam. "É uma negação da dignidade destas pessoas e as abandona ao critério, ou seja, à arbitrariedade de quem decide", acrescentaram.
Na nota, divulgada pela agência Cathobel, os chefes religiosos destacavam também que estão “contra o sofrimento físico e moral, em particular das crianças", mas explicavam que "propor que os menores possam eleger a sua própria morte é uma maneira de distorcer sua capacidade de julgar e, portanto, a sua liberdade". "Expressamos nossa profunda preocupação com o risco de banalização crescente de uma realidade tão grave”, concluíam .
Os líderes religiosos da Bélgica afirmavam também em outra mensagem conjunta que “a eutanásia das pessoas mais vulneráveis é desumana e destrói as bases da nossa sociedade"; e acrescentavam que "é uma negação da dignidade dessas pessoas e as abandona à arbitrariedade de quem decide".
O número de eutanásias praticadas na Bélgica atingiu um recorde em 2012, com um total de 1.432 casos, um 25% a mais do que no ano anterior, de acordo com dados da Comissão Federal de Controle e de Avaliação da Eutanásia.
O rei Felipe deverá assinar a lei para que entre em vigor. Até agora, o rei, pai de quatro filhos, não se pronunciou publicamente sobre o assunto .
Na Europa, a eutanásia ativa (com assistência médica) está descriminalizada na Bélgica, Holanda, Luxemburgo e Suíça.
Trad.TS

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A graça da família



Precisamos retomar o anonimato. Falo especificamente da cultura midiática de exposição pessoal a que se submetem  as pessoas hoje em dia, a fim de dar um toque de celebridade à própria rotina de cada dia. 

Estamos tão saturados de informação que acabamos por perder a capacidade de reflexão sobre o que se vê, ou se vive hoje, porque não há tempo hábil de processar tanto conteúdo. Justamente por este excesso, sem querer, passamos a aceitar que certas escolhas podem ser adotadas por todos sem maiores consequências...

Apresento abaixo uma reflexão de Dom Alberto Taveira - Arcebispo de Belém do Pará - sobre o matrimônio cristão. Ele sublinha a importância de se vivê-lo na simplicidade de sua rotina, e na importância de assumi-lo com seriedade, fidelidade, e compromisso com a missão que ele encerra.

"Com certa frequência aparecem estatísticas sobre a fidelidade e a infidelidade entre os casais. Parece uma propaganda das aventuras infelizmente existentes, que podem suscitar justamente uma banalização de uma das graças do matrimônio cristão. 

Desejo homenagear os casais que não submetem sua própria intimidade a perguntas que os expõem na praça pública. Sintam-se reconhecidos todos os casais fiéis, e são muito mais do que se divulga! Saibam que a Igreja faz festa com eles por conservarem, no verdadeiro tabernáculo que é sua vida conjugal, o tesouro da fidelidade, prometido com plena liberdade quando seu amor se tornou Sacramento. Não fica esquecido pelo Senhor o dom de suas vidas!

Por falar em exposição, sim, os casais cristãos têm algo a mostrar! Trata-se dos filhos, testemunhas da fecundidade do amor verdadeiro. Já se disse que o amor conjugal não é olhar um para outro a vida inteira, mas olharem os dois numa mesma direção! Olhar para o alto, participar da graça criadora de Deus, gerar filhos para a Igreja e para o mundo! É dignidade a ser sonhada e construída pelo homem e a mulher que se unem no Sacramento do Matrimônio. É graça a ser pedida pelos que se preparam ao Casamento. 

Tudo isso encontra seu sentido na fé, fundamento de realidades humanas assumidas nesta terra, como pessoas que veem o invisível. Há muita gente pronta para descrever os problemas das famílias. A nós, na Igreja, cabe a tarefa de proclamar um verdadeiro evangelho da família, reconhecida como boa nova para o nosso tempo.

Daí nasce o convite aos jovens vocacionados ao matrimônio, para que empreendam um caminho de discernimento e preparação correspondentes à grandeza do sacramento que desejam abraçar. Entrem na escola do amor verdadeiro, treinem a capacidade de escuta e acolhimento, exercitem a saída de si mesmos para dar espaço à outra pessoa. Peçam a Deus a graça de descobrirem a quem deverão entregar totalmente suas vidas. Sejam anunciadores de novas famílias, renovadas no Espírito Santo.

Aos casais cristãos, chegue o convite da Igreja a edificarem cada dia seus lares sobre o fundamento da fé, de modo a transmitirem valores consistentes aos filhos e os testemunharem à sociedade. Deus lhes confiou muito! A Evangelização de seus filhos começou quando estes foram gerados no amor, deixando neles uma marca indelével. Continuou quando vocês lhes ensinaram os rudimentos da fé cristã. Benditas foram as orações que lhes foram ensinadas! Deem graças ao Senhor porque vocês os apresentaram à Igreja para os Sacramentos, quando os encaminharam à Catequese. Aliás, vocês foram os primeiros catequistas! Deus lhes pague e confirme sua vocação na transmissão e educação da Fé Cristã na Família, como quer celebrar a Semana Nacional da Família. Deus seja louvado pelos valores cristãos que existem em nossas famílias, santuários da fé e da vida!
Com as famílias e pelas famílias, rezamos confiantes: “Deus eterno e todo-poderoso, a quem ousamos chamar de Pai, dai-nos cada vez mais um coração de filhos, para alcançarmos um dia a herança que prometestes. Amém!"