quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Encontrar antes que deixar



"Lendo o terceiro capítulo da Carta de São Paulo aos Filipenses, vem-me à mente uma imagem: um homem caminha na noite em um bosque fechado à pequena luz de uma vela, pondo atenção a que não se apague. Caminhando, chega o amanhecer, surge o sol, a pequena luz da vela diminui, até que não lhe serve mais e a joga fora. A pequena luz vacilante era a sua própria justiça.
Um dia, na vida de Paulo, saiu o sol da justiça, Cristo Senhor, e desde aquele momento não quis outra luz a não ser a Sua". (Pe. Raniero Cantalamessa na 1ª pregação ao Papa por conta do Advento de 2008)

"Na verdade julgo como perda todas as coisas, em comparação com este bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo e estar com Ele". ( Fl 3, 8-9)

Paulo afirma que Cristo supera em importância tudo o mais, que não Ele. Fica claro então, que o cristianismo é a religião que provém da graça de Deus, do imenso amor Daquele que toma todas as iniciativas no caminho do encontro com o homem, e com sua salvação.

No Antigo Testamento, converter-se significava voltar à Aliança violada pela penitência, e pela mudança no proceder moral. Agora, na Nova Aliança, Cristo propõe um "ir além disto", dar um salto adiante, entrar na Nova Aliança através do acolhimento do Reino pela fé. Converter-se é, em primeiro lugar, crer. E como temos dificuldade em crer... Outro dia ouvi a seguinte frase: "Fé é assim: primeiro você pisa, depois Deus põe o chão". (autor desconhecido)

Essa religião que brota como um dom, sem depender de nossos méritos, apoiando-se só no amor de Deus, é igual às crianças que se apoiam no amor de seus pais.

Para que possamos nos converter precisamos encontrar Cristo, fazer uma experiência pessoal desse amor infinito que nos busca por toda a vida. Ao nos deixarmos encontrar, passaremos a caminhar com Ele, que é o único capaz de extirpar nossas escuridões pessoais.

A conversão cristã consiste antes de tudo em aceitar Cristo, em voltar-se a Ele mediante a fé. Por isso é preciso primeiro um "encontrar" o autor do Reino, para depois deixarmos aquilo que não condiz com Ele.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Oração por este mundo

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Deus que é Pai e Mãe falar-te-á


Pensei escrever-te uma carta sobre a Palavra de Deus, porque estou convencido que na nossa sociedade complexa esteja acontecendo algo semelhante a quanto vem descrito no livro do Profeta Amós: “Virão dias – diz o Senhor Deus – em que mandarei a fome sobre a terra, não fome de pão, nem sede de água, mas de escutar a Palavra do Senhor” (8,11). Reconheço esta fome na necessidade de amor que está em cada um de nós, homens e mulheres deste tempo pós moderno, cada vez mais prisioneiros das nossas solidões.

Só um amor infinito pode acalmar a espera que arde dentro de nós: só Deus, que é Amor, pode dizer-nos que não estamos sós neste mundo e que nossa casa está na cidade celeste, onde não haverá mais dor nem morte. “Daquela cidade – escreve Agostinho – o Pai nos enviou cartas, fez-nos chegar as Escrituras, para que em nós se acenda o desejo de regressar a casa” (Comentário aos Salmos 64, 2-3).

Se perceberes que a Bíblia é esta “carta de Deus”, que fala mesmo ao teu coração, então te aproximarás a ela com a trepidação e o desejo com o qual o mente lê as palavras da pessoa amada. Então Deus, que é Pai e Mãe no amor, falar-te-á mesmo a ti, e a escuta fiel, inteligente, humilde e suplicada de quanto Ele te diz saciará aos poucos tua necessidade de luz, tua sede de amor. Aprender a escutar a voz que fala na Sagrada Escritura é aprender a amar: a Palavra de Deus é a boa nova contra a solidão! Por isso, a escuta das Escrituras é escuta que liberta e salva.

Dom Bruno Forte – Arcebispo de Rieti-Vasto

Neste trecho da Carta Pastoral para o ano de 2006/2007, Dom Bruno dá esta pincelada de esperança no olhar que devemos ter sobre a Palavra de Deus. Ela representa uma fonte que sacia nossa fome de amor, nossa sede de encontrarmos nela, as respostas para os anseios mais profundos de nosso coração. Deus não fala só através das belezas da natureza e da Criação, mas fala essencialmente na Palavra.

Temos que olhar para as Escrituras com a certeza que elas foram escritas para mim e para você. Tomar posse desta certeza faz toda a diferença. Quantas vezes precisamos de luz, de orientação, de um sentido para continuarmos nossa vida...

A Palavra de Deus, tão próxima de nós, contém aquilo que Deus quer nos dizer hoje e amanhã, gerando um verdadeiro relacionamento, onde na busca de respostas encontramos o próprio Deus.

Essa intimidade que vai se cristalizando como experiência de um encontro que acontece todos os dias é capaz de transformar nossas vidas. Assim, vamos tomando consciência de que quem está no comando de tudo é Deus, e a iniciativa do encontro é sempre Dele. Não percamos esta oportunidade de hoje falarmos com Deus.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A Alegria no dia a dia



Depois do barulho, da festa e dos encontros natalinos, voltamos à vida normal, com seus horários, obrigações e afazeres. Para o homem e a mulher que vivem submersos no niilismo da cultura atual, a volta à rotina provoca horror, estresse e muitas hipocondrias. Esse fenômeno revela a enfermidade do nosso tempo: a solidão da pessoa e a cegueira existencial que impede a apreciação da beleza da vida diária.

O descanso nos é pedido pelo Criador (cf. Gn 2, 1-3). A festa é expressão, privilegiada, da necessidade que o ser humano tem da alegria para uma existência bem vivida. Ao mesmo tempo, ela tem que ser um estímulo para encararmos com energia renovada cada nova semana e cada período pós-férias.

O insuportável do viver de cada dia vem da carência de alegria nas coisas que fazemos, experimentamos ou vivemos. Isto acontece, entre outros motivos, por causa da falta de realismo na nossa visão de vida pessoal, social e profissional, ou, simplesmente, porque nos sobra irritação, coisa que deteriora o clima familiar e geral.

Vamos começar este inquietante 2014 com o firme propósito de redescobrir a beleza e a alegria da nossa rotina? Eu proponho o remédio do bom humor, da gentileza e da compreensão. Quantos problemas se solucionariam se evitássemos os maus modos e exercitássemos o apostolado do sorriso!

O humor tem sido objeto de estudo desde a filosofia antiga, passando pela teologia, até a psicologia moderna. Não faltam exemplos de santos, como Felipe Neri e João Bosco, que fizeram do regozijo e do júbilo os veículos da sua pastoral e do seu contato com os outros.

Podemos falar do humor de muitos pontos de vista. Para alguns, ele é um dispositivo de liberação de tensões. Para outros, a reação espontânea diante de uma situação cômica. Há quem o experimente como consequência da incongruência entre diversas ideias ou situações desiguais. Mas todas essas teorias fazem do humor algo que vem de fora, como um componente psicológico que define certo comportamento. As brincadeiras e as piadas fazem parte de jogadas entre o cômico e o irônico. É evidente que nem tudo o que é humorístico termina em risadas; há risos que não nascem do humor, mas de um mecanismo de defesa.

Eu quero me referir ao humor não como atitude jocosa, mas como “coisa séria”, como pretensão de sentido, de delicadeza e de humanidade. O bom humor é a capacidade de carregar serena e valentemente as cargas da vida. É saber achar em cada instante o lado amável da cotidianidade. Isso é muito importante para a maturidade pessoal e para a vida de fé. A este respeito, Xavier Zubiri dizia que a pessoa tem que “esculpir a sua própria estátua”. Isto pode se realizar de diversas formas: sendo-se muito estrito em tudo e vivendo-se de mau humor, de angústia, de sofrimento; outra maneira é empenhar-se no voluntarismo que endurece o coração e o caráter; mas há uma terceira via, que é a integração e a superação das dificuldades da vida, e é nisto que se baseia o segredo do bom temperamento. Sem ele, a pessoa fica propensa às enfermidades da alma, que, com tanta frequência, atacam a nossa sociedade.

O bom humor nos faz ver a realidade do dia-a-dia com um sereno distanciamento. É a atitude de colocar as coisas no seu lugar, de relativizar o que achávamos absoluto, de nos livrarmos dos falsos ídolos, de rir das nossas próprias conquistas e de nós mesmos. Para isso, é preciso ter muita simplicidade e humildade de espírito. Só é alegre –e não simplesmente contente- quem reconhece a sua finitude, se abre para os outros e não fica encerrado na autossuficiência.

O humor é também a capacidade de compreender o ponto de vista do outro e, ao mesmo tempo, de ter criatividade diante dos choques inevitáveis: é saber sair de situações difíceis. Isto impede o ressentimento e o isolamento, através de atitudes como medir as palavras, controlar os silêncios, possuir elementos positivos no próprio interior e comandar as rédeas de si mesmo.

Destaco, para terminar, que o bom caráter implica a afirmação da liberdade pessoal, a negação de determinismos cegos e a admissão de um sentido profundo da vida. No caso cristão, tudo isto surge da fé em um Deus que é Amor, que nos deu a salvação eterna em seu Filho e que nos sustenta com a ajuda do Espírito Santo. Deus não é uma alternativa que exclui o bom humor! Como diz Bento XVI, “Deus não estorva a nossa vida cotidiana” (A infância de Jesus, p. 109).

Dom Juan del Río Martín, Arcebispo Castrense da Espanha

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

A Mãe de Deus




Saudamos 2014 com a Solenidade da Mãe de Deus, Maria.
A Igreja inicia o ano civil voltando seu olhar para aquela que desde o seu "sim", no momento da Anunciação, tornou-se a co-redentora do gênero humano.
 
Maria ocupa um lugar privilegiado na Igreja, pois após a Trindade é o ser mais enriquecido de virtudes e méritos, por sua participação no projeto de salvação de Deus realizado na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo.
 
Nossa Senhora é aquela que constantemente se coloca como a servidora das Bodas de Canã buscando atentamente interceder por nós naquilo que nos falta. Ela é a mulher atenta que intercede pelos filhos sempre minimizando as dores, e diminuíndo as distâncias que nos separam de Deus.
 
A Mãe de Deus é também pressurosa, não se faz esperar, mas parte imediatamente a caminho do outro, como fez com sua prima Isabel, a fim de colocar-se à disposição dos que a Ela se confiam.
 
Mãe é mãe, ou seja, não há como fugir das prerrogativas deste estado. Ser mãe é amar, é acolher, é servir, é antecipar-se às necessidades do filho, é colocar-se como um porto seguro para dar descanso, alívio e segurança. É providenciar o carinho, o conselho, o remédio amargo que cura, é saber dar aquele beijo com gosto de lar.
 
Maria é a mãe dos que a reconhecem como tal e também daqueles que ainda nem têm consciência de que tem mãe. Ela os ama até mais, porque estão mais fracos e precisam de sua mão e intercessão poderosas.
 
Hoje, no Dia Mundial da Paz, peçamos à Rainha da Paz que nos ensine a sermos portadores da paz, e construtores de uma sociedade comprometida com a dignidade e a vida plena para todos.