“O
grande circo midiático” que gira continuamente ao redor dos homens
com imagens e sons sedutores para afastá-los de si mesmo e da realidade
não deve motivar o cristão
a “fechar-se em uma torre inacessível”, mas a assumir o desafio de
mostrar a presença ativa de Deus também no mundo de hoje, afirmou o
sacerdote jesuíta Benjamín González Buelta.
“Nosso desafio não é fugir da realidade, mas aproximarmos dela com
todos os nossos sentidos bem abertos para olhar e contemplar, para
dissolver as escórias das aparências sedutoras, e ver, sentir e provar a
realidade, percebendo no mais profundo dela a presença ativa de Deus
que nos ama com uma criatividade infinita, para que nos encontremos com
ele e trabalhemos juntos por seu reino”, assinalou.
“Diante do vazio interior e da perda da dimensão transcendente da vida, que nos fazem sentir órfãos, surgiram dois grandes projetos para encantar de novo o mundo:
1) o consumismo e 2) a diversão”, advertiu.
“O consumismo é uma formidável invenção que chega a cada parte do
mundo onde há alguém com um pouco de dinheiro no bolso”, e com seus
símbolos – como os centros comerciais –, parece a terra prometida e a
libertação de nossas necessidades, assinalou.
“O segundo grande projeto é a diversão, o passatempo, a distração” 24
horas por dia com espetáculos e “os novos deuses da cultura atual”,
como as celebridades que ocupam um espaço surpreendente nos meios de
comunicação.
“Nossa cultura nos induz a viver sempre com pressa,
a adiar a satisfação de nossas necessidades profundas (…), conta
somente o que os sentidos percebem e, por isso, cultivam-se as
aparências, antepõe-se o parecer ao ser”, expressou.
“É necessário não só afirmar vagamente que Deus ama este mundo, mas
também assinalar onde e como Ele atua, reelaborando a trama da vida
momento por momento. A sociedade precisa de pessoas que, com sua
sensibilidade mística, possam se encontrar com Deus nas realidades mais
secularizadas e mais arruinadas pela deterioração pessoal, pela
injustiça e por todo tipo de exclusão”, assinalou.
O sacerdote recordou os primeiros jesuítas, que encontravam Deus “nas
ruas ruidosas da cidade”; e que, em seus exercícios espirituais, Santo
Inácio de Loyola propõe a contemplação para alcançar o amor e “convida a
observar toda a realidade, para ver Deus que trabalhar nela por nós”.
“E este é o dom que nos é oferecido: ver o reino de Deus hoje em meio a nós”, acrescentou.
Entretanto, esclareceu que “não se trata apenas de saber que o reine
de Deus se manifesta de modo concreto, às vezes em um modo muito
simples”, mas que “é necessário percebê-lo e, então, a alegria do dom de
Deus entra em nosso coração”.
“Para fascinar verdadeiramente o mundo, é preciso não só acolher o
belo, o que está ordenado, o que brilha, mas também assumir a
fragilidade humana, o realismo dos infernos pessoais e sociais, nos
quais milhões de pessoas estão se dissolvendo como água no mundo
líquido”, expressou.
O sacerdote advertiu que há “muitas celebrações” que fazem com que o
homem se extravie, com as drogas ou até mesmo os espetáculos musicais;
entretanto, “a verdadeira celebração, como faz a Eucaristia,
toma a vida humana em sua cotidianidade de prazeres e erros e a conduz
da aspereza da cruz à transfiguração da vida na ressurreição”.
Por isso, afirmou que, ante a cultura da sedução, “necessitamos
libertar nossos sentidos do modo imposto de perceber a realidade e dos
conteúdos que temos até agora percebido e interiorizado”. “Podemos estar
cegos sem nos darmos conta” e não ver a realidade “como Deus a
contempla”, advertiu o sacerdote.
O Pe. González afirmou que “este modo de perceber a realidade pode
despertar em nós extraordinários dinamismos de vida, em vez de nos
deixar imóveis e tristes pela desilusão”.
“Santo Inácio, nos exercícios espirituais, nos propõe contemplar como Jesus se aproximava da realidade com os cinco sentidos. Jesus
revelou, na realidade desarticulada de seu tempo, que o reino de Deus
estava em meio ao povo. Este processo que descrevemos nos permite nascer
de novo para ver o reino de Deus”, assegurou.
Trechos de texto veiculado pela ACI digital
Nenhum comentário:
Postar um comentário