segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Demônios, como nos livramos deles...

Jesus passou boa parte de seu ministério publico expulsando demônios. parece que naquela época havia uma praga deles, que não poupavam a ninguém: crianças e anciãos, homens e mulheres, judeus e pagãos, todos estavam de alguma maneira expostos à incursão demoníaca.

Como vamos interpretar esta atividade de Jesus, nós que não acreditamos muito na existência de demônios e menos ainda em sua atuação, nós que transferimos tudo para o campo psicológico?

Antes de darmos nossa interpretação, seria bom assistirmos a uma reunião dos P.P.A. Não sabem o que é o P.P.A.? Ora, gostamos muito de acrósticos, de abreviações como Telemar, Ibama, Ovni, onde cada letra representa uma palavra. Então, quero acrescentar mais uma abreviação - P.P.A., isto é, Parcialmente Possessos Anônimos.

Nesta reunião (viajamos no tapete mágico e já nos encontramos dentro sa sala) a gente encontra três velhos amigos: Fulano, Beltrano e Sicrano. "Opa, vocês por aqui? Será que não são membros do P.P.A.? - "Somos sim, e hoje vamos falar sobre nossa luta. Aliás, vocês também são sócios"? "Não, estamos apenas observando", dizemos ficando um pouco vermelhos. "Então, tá bom. Vão ouvir algo interessante", dizem.

É Fulano quem começa: "Olha pessoal, ainda estou tendo dificuldades com meu nervosismo. Trabalho duro o dia inteiro, trabalho bom, mas trabalho pesado, e passo o dia pensando em minha família, e como vale à pena sacrificar-me pela esposa e pelos filhos.  Fico animado com o pensamento. Só que, quando volto para casa e a minha mulher reclama do dinheiro e os filhos brigam entre si e não mostram o devido respeito, este sonho de dar tudo pela família evapora e parece que estou lutando por uma turma de ingratos. Surgem, contra a minha vontade, palavras grosseiras e, às vezes, até quebro alguma coisa, tipo desabafo; outras vezes chego a bater em alguém. Depois disso, a única voz que se ouve toda a noite é a voz da televisão...e também a da minha consciência pesada".

Beltrano continua: "Comigo as coisas estão melhorando um pouco. Vocês se lembram que meu problema é com as revistas, quero dizer, com as fotos. Passei anos gastando tempo, gastando minha vida afinal, com estas imagens de mulheres. Não tinha namorada, nem amigos, quase nem tinha colegas. Por que estas pessoas realmente existem, e eu preferia viver em minha imaginação, onde podia experimentar satisfação sem qualquer compromisso. Hoje, sinto uma verdadeira sede de conhecer outras pessoas, para ter uma relação que vai além do 'tudo bem?', e começo agora a acreditar que é possível, que o homem não foi feito - ou condenado - a ficar só. E isto me dá força para largar as revistas cada vez mais".

A aparência de Sicrano chama um pouco a nossa atenção. Parece que ele está vestido de monge. A gente se informa e, de fato, é monge, liberado por seu abade para assistir a esta reunião. Irmão Sicrano toma o microfone e diz: "Tenho que confessar que ainda não estou livre do meu minissadismo. Não sei por quê, mas cada vez que algo dá errado com um outro membro de minha comunidade, me sinto realizado. É como se o sol estivesse saindo das nuvens. Amo meus irmãos, pelo menos acho que os amo, mas mesmo assim, qualquer tragédia pela qual passam, por menor que seja, dá um brilho ao meu dia. Nunca faria nada contra eles pessoalmente, mas quando o golpe vem, lá estou eu torcendo; mais um! Curioso, não é?"

Nós os ouvintes, de boa índole e coração terno, nos apressamos a consolá-los: "Fulano, Beltrano, Irmão Sicrano! Todo mundo faz estas coisas. Não é culpa sua. É absolutamente normal. E se vocês se sentem tristes, falem com um psicólogo ou, se prefrerirem, vão para a praia".

Surpreendetemente, os três fazem pé firme e não cedem: "Amigos, a gente passou muitos anos enrolando-nos com frases como estas - 'não é culpa sua; todo mundo faz'! Muitos anos. Mas sempre soubemos que não passavam de desculpas e mentiras. Temos estes nossos problemas. Não são grandes, mas são graves e atrapalham a nossa vida. Agora proclamamos a verdade - somos parcialmente possessos. Graças a Deus, levamos uma vida basicamente responsável e humana, mas há aspectos de nossos comportamentos e pensamentos  onde o maligno entrou, fez seu ninho e até hoje não saiu. Não vamos negar isso nunca mais".

"Mas vocês fazem alguma coisa além de reunir-se e chorar sobre seus sofrimentos"?

"Fazemos, sim. Aceitamos e pomos em prática a orientação de Jesus, que estes demônios não podem ser expulsos a não ser por oração e jejum. Oração, porque ela abre a nossa alma à graça e poder de Jesus; jejum, porque abre nosso corpo à mesma influência salvífica. Ademais, aproveitamos ao máximo possível as visitas dos discípulos de Jesus que têm o poder de expulsar os demônios, embora, nem sempre, imediatamente".

"Então, vocês querem dizer que os discípulos de Jesus ainda andam por estas paragens terrenas, expulsando demônios"?

"Andam sim. E quando eles vêm, se hospedam num pequeno cubículo, uma pequena sala que chamam de confessionário. É lá que fazem este trabalho de cura. Quem sabe se não tem um destes confessionários perto de vocês?"

Na verdade, quem sabe ? Pode ser que alguém hoje, lendo estas linhas, tenha descoberto que é um P.P.A.! Até agora, talvez, fosse anônimo até para si mesmo. Agora já sabem. E sabem a quem recorrer - a Jesus que expulsava demônios, e que comunica este poder a seus discípulos.

Dom Bernardo Bonowitz, OCSO - Monje Cisterciense

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