terça-feira, 30 de setembro de 2025

O Céu e o inferno começam nesta terra

São Miguel Arcanjo na Bíblia: Conheça o Poderoso Mensageiro de Deus

Por revelação de Nosso Senhor e solene definição da Igreja, conhecemos a existência de um destino eterno após nossa morte: Céu ou inferno, conforme tenha sido nossa vida. Disso ninguém escapa, como nos mostra o Evangelho deste domingo, no qual um homem rico é condenado a um lugar de tormentos e o pobre Lázaro é levado pelos Anjos para junto de Abraão (cf. Lc 16, 22-23).

Entretanto, de uma coisa podemos facilmente nos esquecer: de alguma forma o Céu e o inferno começam nesta terra! Como assim? Haveria muitos modos de considerar tal afirmação. Contudo, hoje parece oportuno salientar um aspecto importante, inspirando-nos na segunda leitura, na qual São Paulo admoesta Timóteo: “Combate o bom combate da fé” (I Tim 6, 12). Sim, estamos em guerra! E nesta constante luta não pelejamos sozinhos: os Anjos e os demônios intervêm continuamente em nossas vidas.

Os Anjos querem já neste mundo ser nossas companhias, adiantando o momento em que os encontraremos para sempre junto da Santíssima Virgem. E os demônios desejam nos tentar, nos perder e nos afastar de Deus, fazendo-nos participar da infelicidade eterna deles, agora e por todos os séculos. Trata-se de uma verdadeira batalha sobrenatural, grandiosa e séria, da qual pode depender a nossa eternidade. Donde a advertência do profeta Amós proclamada na primeira leitura: “Ai dos que vivem despreocupadamente” (6, 1)!

A grande pergunta que surge, então, consiste em saber como começar a viver o Céu nesta terra. E a resposta é simples: fazer o que atrai os Anjos e evitar o que traz a presença dos demônios.

Por exemplo, se uma pessoa – sobretudo um pai ou uma mãe de família – assiste um vídeo imoral na internet, sem dúvida chamará demônios para si e para os seus próximos. Por outro lado, alguém que reze o Terço, assista à Missa, faça adoração ao Santíssimo Sacramento ou se confesse, permanecerá cercado de Anjos, onde estiver.

Os demônios são atraídos por revoltas, vulgaridade, tristeza, agitação, desordem, impureza, orgulho, mentira e qualquer desonestidade. Os Anjos se aproximam de quem busca a ordem, o respeito, a limpeza, a alegria verdadeira, a confiança em Deus, a pureza, a humildade, a veracidade, a oração e, em particular, a devoção a Nossa Senhora. Há mais: existem músicas, lugares, pessoas, objetos, palavras, ambientes, trajes e muitas outras coisas que nos ligam aos Anjos ou aos demônios. Uma pergunta facilita o discernimento nessa matéria: a música que escuto ou a roupa que visto seriam dignas de figurar no Céu?

O mundo de hoje está, infelizmente, perdendo os reflexos celestes e tendendo ao caos infernal. Nós devemos ser diferentes! Em nossas famílias, em nossas casas, em toda a nossa vida cabe só procurar o que seja um reflexo do Céu, com o auxílio de Maria Santíssima. Assim, quando chegar a hora de nossa morte seremos, como Lázaro, levados pelos Anjos para contemplar a Deus por toda a eternidade. E então compreenderemos como valeu a pena ter travado o bom combate da fé!

Por Pe. Rodrigo Fugiyama Nunes, EP

 

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Por que ler a Bíblia

 

Em que visamos quando ouvimos uma palestra, assistimos a uma peça de teatro, lemos um livro ou, enfim, tomamos contato com qualquer espécie de texto? Na primeira parte do escrito Este é o livro dos mandamentos de Deus, uma de suas primeiras aulas, São Tomás explicita aquilo que todos buscamos num bom orador ou numa boa leitura: ensino para a ignorância, deleite para o tédio e comoção, ou estímulo, para a obtusidade.

Esses três benefícios encontram-se de forma eminente nas Sagradas Escrituras. Explica o Doutor Angélico que a Sacra Pagina – como os medievais denominavam a Bíblia – ensina firmemente pela verdade eterna de suas palavras, deleita por sua utilidade e convence com eficácia pela força de sua autoridade.

Em nosso século, quando o turbilhão de doutrinas vazias causa a estranha sensação de que tudo é caos, mentira e ilusão, onde encontrar o ensinamento seguro, que sacia o desejo natural do homem pela verdade, senão naquela “Lei que subsiste eternamente” (Br 4, 1)?

Explica o Aquinate que o caráter eterno da doutrina das Escrituras provém da autoridade divina que a proferiu: “Se o Senhor dos exércitos decidiu, quem poderá revogar?” (Is 14, 27). Com efeito, “o Senhor não é homem para que minta, nem criatura humana para que se arrependa” (Nm 23, 19). Ele mesmo afirmou de Si: “Eu sou o Senhor e não mudo” (Ml 3, 6).

A Palavra de Deus também comove a vontade pela sua necessidade. Quando menciona a comoção, São Tomás não se refere a um mero estremecimento interior e sentimental, mas a um incentivo a agir virtuosamente: “co–mover”. De fato, o homem será julgado segundo suas ações nesta vida. Como agir com retidão e santidade senão orientados pela luz divina e impelidos pela caridade? Assim, a verdade contida nas Escrituras, alimentando a fé e o amor, impulsiona às boas obras, sem as quais ninguém se salvará.

A Bíblia, portanto, tem uma autoridade pela qual convence quem entra em contato com ela. Essa autoridade mostra-se eficaz por três motivos: primeiro, pela sua origem, que é Deus; segundo, pela necessidade de se crer, pois assim nos ordena Cristo; terceiro, pela uniformidade de seu ensinamento.

Além de instruir seguramente a inteligência e robustecer a vontade, a Sacra Pagina também deleita e atrai por sua utilidade: “Sou Eu, o Senhor teu Deus, que te ensina coisas úteis” (Is 48, 17). Útil é qualquer bem que nos auxilia a alcançar outro maior. Nesse sentido, a proficuidade das Sagradas Escrituras se revela máxima e universal, pois nos encaminha para o melhor de todos os bens: “Aqueles que a guardam alcançarão a vida” (Br 4, 1).

Que vida é esta? Segundo o Aquinate, ela se divide em três: a vida da graça, pela qual participamos – já nesta terra! – da própria vida divina; a da justiça, que consiste nas boas obras – impossíveis de serem praticadas sem o auxílio celeste; e a da glória, na qual veremos a Deus como Ele é.

Em suma, as Escrituras, ao lado da Sagrada Tradição, constituem o “mapa” que Deus concedeu aos homens para encontrar o caminho que antecipa e conduz à pátria celeste: “Aquele que procura meditar com atenção a Lei perfeita da liberdade e nela persevera – não como ouvinte que facilmente se esquece, mas como cumpridor fiel do preceito –, este será feliz no seu proceder” (Tg 1, 25).

Gaudium Press

quarta-feira, 3 de setembro de 2025