
Hipócrita: expressão que qualifica a conduta pessoal manifestada entre homens e mulheres de todas as épocas, como consequência do pecado original. Surge nas relações humanas e persiste até nos círculos familiares mais íntimos. Desenvolve-se de modo contrário ao que se pensa ou se prega, com o intuito de enganar ou aparentar ser o que não se é. Ecoam aos nossos ouvidos, com veemência, as palavras enérgicas de Nosso Senhor Jesus Cristo ao increpar os fariseus: “hipócritas”, “raça de víboras”, “sepulcros caiados”. Por essa razão, qualifica-se analogamente a pessoa hipócrita de fariseu.
Todavia, a descrição dos seus traços característicos foi o próprio Jesus quem a fez, denunciando-os num longo oráculo que expõe à luz do dia a insinceridade dos chefes do povo e do próprio povo: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, quando disse: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mt 15, 8). Perante as variadas acusações, os fariseus — movidos por uma ânsia doentia de vaidade e soberba, desejosos de atrair sobre si as atenções e ostentar superioridade — calavam-se, reservando a vingança para momento mais oportuno.
Entre as invectivas mais fortes que Nosso Senhor proferiu contra eles, destaca-se a comparação com os sepulcros caiados: “por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão” (Mt 23, 27). Terrível comparação, entre outras, que se iniciam com a repreensão: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas”. Interiormente praticavam o que era contrário à Lei, mas exteriormente exibiam-se como seus exímios observantes; revestiam-se da Lei para encobrir o seu incumprimento. Por isso, Nosso Senhor afirmava: “Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem” (Mt 23, 3).
Perguntemo-nos agora: existe, atualmente, um fermento farisaico — hipócrita? Haverá pessoas, inclusive entre os católicos, que manifestam propósitos em certos aspectos cotidianos, mas, por outro lado, vivem um relativismo moral em matérias mais graves? Passados mais de dois mil anos, esse fermento ainda se faz presente e perdurará até o fim do mundo. Oculta-se com extremo cuidado, pois, se não fosse dissimulado, deixaria de sê-lo. Corrompe como o fermento à massa, engana e ensina a enganar.
Dessa “lepra” — pois não merece outro qualificativo — não se pode afirmar que todo mundo aja assim, mas é certo que grande número de pessoas pode exibir fisionomias “mascaradas” (hypo, em grego, significa máscara): alegres, sorridentes, aparentando normalidade, mas, por dentro, cheios de podridão.
Encontramos hipócritas em toda parte; por vezes, nós mesmos, em diversas circunstâncias, agimos hipocritamente para nos adaptar ao ambiente ou para não ferir os sentimentos alheios.
É duro dizê-lo, mas a hipocrisia — mentira e vazio unidos — poderia ser considerada a soma de todos os pecados. Ao contrário, a santidade, além de ser a verdade, contém todas as virtudes: “ser santos e irrepreensíveis”, nas palavras de São Paulo (cf. 1Ts 5, 23). Por isso, Jesus descreve suas características, exorta a não imitá-las, convidando a fazer o contrário dessa conduta sinistra.
Por Pe. Fernando Gioia, EP
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