terça-feira, 11 de novembro de 2025

Somos hipócritas? Existem hipócritas em nosso ambiente?

L'hypocrisie, personne ne l'apprécie et pourtant ! – Pépites

Hipócrita: expressão que qualifica a conduta pessoal manifestada entre homens e mulheres de todas as épocas, como consequência do pecado original. Surge nas relações humanas e persiste até nos círculos familiares mais íntimos. Desenvolve-se de modo contrário ao que se pensa ou se prega, com o intuito de enganar ou aparentar ser o que não se é. Ecoam aos nossos ouvidos, com veemência, as palavras enérgicas de Nosso Senhor Jesus Cristo ao increpar os fariseus: “hipócritas”, “raça de víboras”, “sepulcros caiados”. Por essa razão, qualifica-se analogamente a pessoa hipócrita de fariseu.

Todavia, a descrição dos seus traços característicos foi o próprio Jesus quem a fez, denunciando-os num longo oráculo que expõe à luz do dia a insinceridade dos chefes do povo e do próprio povo: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, quando disse: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mt 15, 8). Perante as variadas acusações, os fariseus — movidos por uma ânsia doentia de vaidade e soberba, desejosos de atrair sobre si as atenções e ostentar superioridade — calavam-se, reservando a vingança para momento mais oportuno. 

Entre as invectivas mais fortes que Nosso Senhor proferiu contra eles, destaca-se a comparação com os sepulcros caiados: “por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão” (Mt 23, 27). Terrível comparação, entre outras, que se iniciam com a repreensão: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas”. Interiormente praticavam o que era contrário à Lei, mas exteriormente exibiam-se como seus exímios observantes; revestiam-se da Lei para encobrir o seu incumprimento. Por isso, Nosso Senhor afirmava: “Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem” (Mt 23, 3).

Perguntemo-nos agora: existe, atualmente, um fermento farisaico — hipócrita? Haverá pessoas, inclusive entre os católicos, que manifestam propósitos em certos aspectos cotidianos, mas, por outro lado, vivem um relativismo moral em matérias mais graves? Passados mais de dois mil anos, esse fermento ainda se faz presente e perdurará até o fim do mundo. Oculta-se com extremo cuidado, pois, se não fosse dissimulado, deixaria de sê-lo. Corrompe como o fermento à massa, engana e ensina a enganar.

Dessa “lepra” — pois não merece outro qualificativo — não se pode afirmar que todo mundo aja assim, mas é certo que grande número de pessoas pode exibir fisionomias “mascaradas” (hypo, em grego, significa máscara): alegres, sorridentes, aparentando normalidade, mas, por dentro, cheios de podridão. 

Encontramos hipócritas em toda parte; por vezes, nós mesmos, em diversas circunstâncias, agimos hipocritamente para nos adaptar ao ambiente ou para não ferir os sentimentos alheios.

É duro dizê-lo, mas a hipocrisia — mentira e vazio unidos — poderia ser considerada a soma de todos os pecados. Ao contrário, a santidade, além de ser a verdade, contém todas as virtudes: “ser santos e irrepreensíveis”, nas palavras de São Paulo (cf. 1Ts 5, 23). Por isso, Jesus descreve suas características, exorta a não imitá-las, convidando a fazer o contrário dessa conduta sinistra.

Por Pe. Fernando Gioia, EP

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

"O otimismo pode decepcionar, mas a esperança promete e cumpre", assegura o Papa Leão IV

Durante a Audiência Geral desta quarta-feira, 15 de outubro, o Papa Leão XIV refletiu sobre a diferença entre otimismo e esperança. O Santo Padre fez um convite aos 60 mil fiéis reunidos na Praça São Pedro, para que redescubram na Ressurreição a fonte viva que sacia a sede mais profunda do coração humano.

Livro publicado pela Editora Vaticana reune escritos e meditacoes do Papa Leao XIV 5

Não fomos criados para a falta, mas para a plenitude

Tratando sobre o paradoxo da vida humana, o Pontífice destacou que “nossas vidas são marcadas por inúmeros acontecimentos, repletos de nuances e experiências diversas. Às vezes nos sentimos alegres, outras vezes tristes… Vivemos vidas ocupadas, alcançamos objetivos elevados e prestigiados, mas continuamos suspensos, inseguros, à espera de sucessos e reconhecimentos que demoram a chegar, ou nunca chegam. Gostaríamos de ser felizes, mas é muito difícil alcançar isso de forma constante e sem sombras… Sentimos, no fundo, que sempre nos falta algo”.

Diante desse contexto, Leão XIV recordou que “não fomos criados para a falta, mas para a plenitude, para viver a vida e a vida em abundância”. Segundo o Papa, esse desejo profundo do nosso coração só pode ser plenamente satisfeito em Cristo, “não em cargos, nem no poder, nem nas posses, mas na certeza de que há Alguém que garante esse impulso constitutivo da nossa humanidade; na certeza de que essa expectativa não será desiludida nem frustrada. Essa certeza coincide com a esperança. Isso não significa pensar com otimismo: o otimismo muitas vezes nos decepciona, quando vemos nossas expectativas ruírem, enquanto a esperança promete e cumpre”.

Nosso Senhor Jesus Cristo é a fonte viva que nunca seca

O Santo Padre declarou ainda que “o Ressuscitado é a fonte viva que nunca seca nem sofre alterações. Ela permanece sempre pura e pronta para quem tem sede”. Em seguida fez a refletiu sobre as características de uma fonte de água: “Ela sacia e refresca as criaturas, irriga a terra e as plantas e torna fértil e vivo o que, de outra forma, permaneceria árido. Refresca o viajante cansado, oferecendo-lhe a alegria de um oásis de frescor. Sem água, não podemos viver”.

Logo depois, usou dessa analogia para falar sobre Nosso Senhor Jesus Cristo Ressuscitado. “Ele é a fonte que sacia nossa sede ardente, a sede infinita de plenitude que o Espírito Santo infunde em nossos corações. A Ressurreição de Cristo, de fato, não é um simples acontecimento na história humana, mas o acontecimento que a transformou desde o seu interior”.

A esperança que brota da Ressurreição de Cristo

O Pontífice ressaltou ainda que “Jesus Ressuscitado não lança uma resposta ‘do alto’, mas torna-se nosso companheiro nessa viagem, muitas vezes cansativa, dolorosa e misteriosa. Só Ele pode encher de água nossa garrafa vazia quando a sede se torna insuportável. Sem o seu amor, a viagem da vida tornar-se-ia uma peregrinação sem destino. O Ressuscitado garante nossa chegada, conduz-nos para casa, onde somos esperados, amados e salvos”.

Por fim, Leão XIV exortou aos fiéis para que deixem-se transformar pela esperança pascal, pois caminhar com Jesus ao nosso lado “significa experimentar ser sustentados apesar de tudo, saciados e fortalecidos nas provações e nas dificuldades que, como pedras pesadas, ameaçam bloquear ou descarrilar nossa história”. Concluindo, o Pontífice manifestou seu desejo de que “da Ressurreição de Cristo brote a esperança que nos faz saborear, apesar das fadigas da vida, uma profunda e alegre serenidade, aquela paz que só Ele poderá nos dar no fim, sem fim”. (EPC)

Gaudium Press 

terça-feira, 30 de setembro de 2025

O Céu e o inferno começam nesta terra

São Miguel Arcanjo na Bíblia: Conheça o Poderoso Mensageiro de Deus

Por revelação de Nosso Senhor e solene definição da Igreja, conhecemos a existência de um destino eterno após nossa morte: Céu ou inferno, conforme tenha sido nossa vida. Disso ninguém escapa, como nos mostra o Evangelho deste domingo, no qual um homem rico é condenado a um lugar de tormentos e o pobre Lázaro é levado pelos Anjos para junto de Abraão (cf. Lc 16, 22-23).

Entretanto, de uma coisa podemos facilmente nos esquecer: de alguma forma o Céu e o inferno começam nesta terra! Como assim? Haveria muitos modos de considerar tal afirmação. Contudo, hoje parece oportuno salientar um aspecto importante, inspirando-nos na segunda leitura, na qual São Paulo admoesta Timóteo: “Combate o bom combate da fé” (I Tim 6, 12). Sim, estamos em guerra! E nesta constante luta não pelejamos sozinhos: os Anjos e os demônios intervêm continuamente em nossas vidas.

Os Anjos querem já neste mundo ser nossas companhias, adiantando o momento em que os encontraremos para sempre junto da Santíssima Virgem. E os demônios desejam nos tentar, nos perder e nos afastar de Deus, fazendo-nos participar da infelicidade eterna deles, agora e por todos os séculos. Trata-se de uma verdadeira batalha sobrenatural, grandiosa e séria, da qual pode depender a nossa eternidade. Donde a advertência do profeta Amós proclamada na primeira leitura: “Ai dos que vivem despreocupadamente” (6, 1)!

A grande pergunta que surge, então, consiste em saber como começar a viver o Céu nesta terra. E a resposta é simples: fazer o que atrai os Anjos e evitar o que traz a presença dos demônios.

Por exemplo, se uma pessoa – sobretudo um pai ou uma mãe de família – assiste um vídeo imoral na internet, sem dúvida chamará demônios para si e para os seus próximos. Por outro lado, alguém que reze o Terço, assista à Missa, faça adoração ao Santíssimo Sacramento ou se confesse, permanecerá cercado de Anjos, onde estiver.

Os demônios são atraídos por revoltas, vulgaridade, tristeza, agitação, desordem, impureza, orgulho, mentira e qualquer desonestidade. Os Anjos se aproximam de quem busca a ordem, o respeito, a limpeza, a alegria verdadeira, a confiança em Deus, a pureza, a humildade, a veracidade, a oração e, em particular, a devoção a Nossa Senhora. Há mais: existem músicas, lugares, pessoas, objetos, palavras, ambientes, trajes e muitas outras coisas que nos ligam aos Anjos ou aos demônios. Uma pergunta facilita o discernimento nessa matéria: a música que escuto ou a roupa que visto seriam dignas de figurar no Céu?

O mundo de hoje está, infelizmente, perdendo os reflexos celestes e tendendo ao caos infernal. Nós devemos ser diferentes! Em nossas famílias, em nossas casas, em toda a nossa vida cabe só procurar o que seja um reflexo do Céu, com o auxílio de Maria Santíssima. Assim, quando chegar a hora de nossa morte seremos, como Lázaro, levados pelos Anjos para contemplar a Deus por toda a eternidade. E então compreenderemos como valeu a pena ter travado o bom combate da fé!

Por Pe. Rodrigo Fugiyama Nunes, EP

 

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Por que ler a Bíblia

 

Em que visamos quando ouvimos uma palestra, assistimos a uma peça de teatro, lemos um livro ou, enfim, tomamos contato com qualquer espécie de texto? Na primeira parte do escrito Este é o livro dos mandamentos de Deus, uma de suas primeiras aulas, São Tomás explicita aquilo que todos buscamos num bom orador ou numa boa leitura: ensino para a ignorância, deleite para o tédio e comoção, ou estímulo, para a obtusidade.

Esses três benefícios encontram-se de forma eminente nas Sagradas Escrituras. Explica o Doutor Angélico que a Sacra Pagina – como os medievais denominavam a Bíblia – ensina firmemente pela verdade eterna de suas palavras, deleita por sua utilidade e convence com eficácia pela força de sua autoridade.

Em nosso século, quando o turbilhão de doutrinas vazias causa a estranha sensação de que tudo é caos, mentira e ilusão, onde encontrar o ensinamento seguro, que sacia o desejo natural do homem pela verdade, senão naquela “Lei que subsiste eternamente” (Br 4, 1)?

Explica o Aquinate que o caráter eterno da doutrina das Escrituras provém da autoridade divina que a proferiu: “Se o Senhor dos exércitos decidiu, quem poderá revogar?” (Is 14, 27). Com efeito, “o Senhor não é homem para que minta, nem criatura humana para que se arrependa” (Nm 23, 19). Ele mesmo afirmou de Si: “Eu sou o Senhor e não mudo” (Ml 3, 6).

A Palavra de Deus também comove a vontade pela sua necessidade. Quando menciona a comoção, São Tomás não se refere a um mero estremecimento interior e sentimental, mas a um incentivo a agir virtuosamente: “co–mover”. De fato, o homem será julgado segundo suas ações nesta vida. Como agir com retidão e santidade senão orientados pela luz divina e impelidos pela caridade? Assim, a verdade contida nas Escrituras, alimentando a fé e o amor, impulsiona às boas obras, sem as quais ninguém se salvará.

A Bíblia, portanto, tem uma autoridade pela qual convence quem entra em contato com ela. Essa autoridade mostra-se eficaz por três motivos: primeiro, pela sua origem, que é Deus; segundo, pela necessidade de se crer, pois assim nos ordena Cristo; terceiro, pela uniformidade de seu ensinamento.

Além de instruir seguramente a inteligência e robustecer a vontade, a Sacra Pagina também deleita e atrai por sua utilidade: “Sou Eu, o Senhor teu Deus, que te ensina coisas úteis” (Is 48, 17). Útil é qualquer bem que nos auxilia a alcançar outro maior. Nesse sentido, a proficuidade das Sagradas Escrituras se revela máxima e universal, pois nos encaminha para o melhor de todos os bens: “Aqueles que a guardam alcançarão a vida” (Br 4, 1).

Que vida é esta? Segundo o Aquinate, ela se divide em três: a vida da graça, pela qual participamos – já nesta terra! – da própria vida divina; a da justiça, que consiste nas boas obras – impossíveis de serem praticadas sem o auxílio celeste; e a da glória, na qual veremos a Deus como Ele é.

Em suma, as Escrituras, ao lado da Sagrada Tradição, constituem o “mapa” que Deus concedeu aos homens para encontrar o caminho que antecipa e conduz à pátria celeste: “Aquele que procura meditar com atenção a Lei perfeita da liberdade e nela persevera – não como ouvinte que facilmente se esquece, mas como cumpridor fiel do preceito –, este será feliz no seu proceder” (Tg 1, 25).

Gaudium Press

quarta-feira, 3 de setembro de 2025