Deus nos criou para ficarmos embaraçados
quando as pessoas falam abertamente sobre sexo. Mas não pela razão que você
está pensando.
Percebi algo realmente alarmante esta manhã. Passei mais da metade da minha
vida dando palestras sobre castidade.
Isso me pareceu um marco, e me fez refletir. Qual é a coisa, o aspecto da
mensagem da castidade que mais quero transmitir ao mundo de hoje? É a mesma de
quando comecei, há 20 anos atrás?
Mas eu percebi que há um assunto mais profundo aqui, que a sociedade de fato
não se dá conta. Mesmo “bons católicos” que vivem e acreditam na castidade
parecem não entender.
É o conceito da “sacralidade” da sexualidade humana.
Antes da revolução sexual, simplesmente não se discutia sexo. Era um assunto
tabu na sociedade. Isso muitas vezes era levado a extremos. Os pais não falavam
sobre sexo com seus filhos. Tinha até uma discussão sobre se era apropriado
usar a palavra “grávida” na TV.
E então vieram os hippies.
Essa geração não gostava de regras, particularmente as que não compreendiam. E
já que ninguém estava certo de porque o sexo não era discutido na sociedade,
decidiu-se descartar essa “regra”.
Desde então, o mundo ocidental parece ter passado a acreditar que é saudável
“colocar tudo pra fora” e “pôr todas as cartas na mesa”. Parece que temos que
falar sobre sexo. E muito. Nossas escolas desenvolveram programas longos e
caros, feitos para que nossas crianças se sintam “confortáveis” com a própria
sexualidade. E os pais que não se sentem, eles próprios confortáveis, que se
virem para acompanhar.
Mas, depois desse tempo todo, ainda não estamos tão confortáveis, estamos?
Aqui está o ponto: os hippies interpretaram o silêncio de seus pais em matérias
sexuais como uma indicação de que havia algo de “errado” com o sexo, de que ele
era “sujo”. Mas essa não era, de modo algum, a verdadeira razão.
A verdade é exatamente o oposto.
Nós não evitamos falar de sexo porque ele é sujo. Nós evitamos discutir sexo
porque ele é sagrado.
Nossa cultura não consegue apreender isso, porque nós não temos o senso do
sagrado. Ser sagrado significa ser “colocado “à parte”, em lugar de honra.
Tome a Eucaristia como exemplo. Como Católicos, acreditamos que a Eucaristia é
o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Cristo. Isso é muito importante. Então, o
que o Padre faz com a Eucaristia? Trata sem cuidado? Deixa por aí? Procura onde
esqueceu?
Não. A Hóstia Consagrada reside em um lugar de honra – uma caixa dourada que
chamamos Tabernáculo ou Sacrário. Uma luz acesa nos lembra que Cristo está
presente, para que possamos honrá-lo e reverenciá-lo.
O sexo é sagrado, também. Ele é muito, muito importante. É um ato íntimo de
amor, de doação de si mesmo, entre marido e mulher. É o ato através do qual
Deus se utiliza para trazer uma nova vida ao mundo. Deus quer que mantenhamos o
sexo em um lugar especial em nossos corações e em nossas vidas. Ele não quer
que falemos sobre sexo como se estivéssemos falando sobre o almoço.
Quando eu falo para adolescentes, eu passo uns bons 30 minutos falando sobre
amor antes que o assunto sexo seja sequer mencionado. E então, eu faço questão
de ressaltar que não vamos discutir os detalhes de como o sexo funciona. O
olhar coletivo de alívio sempre fica evidente na sala.
Deus nos criou para ficarmos embaraçados quando os detalhes íntimos do sexo são
discutidos em nossa presença. Isso é bom. É um lembrete da sacralidade do sexo.
Um senso natural de modéstia é protetor – protege aquilo que é sagrado.
Muitas e muitas pessoas não “entendem” isso. Uma professora católica me contou
uma vez que estava ensinando educação sexual a alunos da 4ª série, e estava
tendo dificuldades em superar seu embaraço. Falei para ela prestar atenção,
ouvir essa “vergonha”. Se uma senhora casada há tanto tempo estava se sentindo
embaraçada, imagine como devia estar se sentindo uma sala cheia de garotos e
garotas de 10 anos de idade.
Não sou uma grande fã de educação sexual. Não encontro nenhuma razão boa o
suficiente para violar o senso de modéstia de uma criança de 10 anos discutindo
informações tão íntimas em um lugar público. Também acho que palestrantes e
promotores da castidade e abstinência – para audiências de todas as idades, mas
especialmente para crianças e adolescentes – precisam exercitar a prudência.
Olhem para o exemplo de João Paulo II. Ele falou e escreveu mais sobre o
assunto da sexualidade humana do que todos os outros papas anteriores juntos. E
ainda assim, nem de longe ele foi explícito. Ele nunca falou de detalhes da
intimidade sexual. Ele manteve aquele senso de estupor, maravilhado com a
sacralidade do sexo.
Depois de falar aos adolescentes aliviados de minha platéia que não iríamos
discutir sobre detalhes do sexo, falei para eles que, se tivessem questões,
deviam se dirigir a seus pais. O sexo é um assunto sagrado. A família é um espaço
sagrado. O dever de ensinar às crianças os detalhes íntimos do dom humano da
sexualidade é um dever sagrado, e esse dever é dos pais.
Nesse contexto, os pais fazem mais do que em ensinar as crianças sobre sexo,
eles infundem valores. E eles reforçam o senso de sacralidade da sexualidade
humana.
Talvez a próxima geração possa entender isso direito, se os pais dessa geração
puderem se lembrar disso.
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