sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Discípulos e profetas: cristãos de uma só peça



Revendo um texto que foi objeto de retiro do Instituto Santa Família, deparei-me com algumas questões de fundamental significado para nós, batizados, que somos mensageiros da Palavra.
Somos aqueles que se nutrem da Sabedoria incriada. Ela é a vida e o princípio de tudo o que existe: “Desde a eternidade foi estabelecida, desde o princípio, antes da origem da terra. Quando os abismos não existiam, eu fui gerada, quando não existiam os mananciais das águas...” (Pr 8,22-24).

A Sabedoria é a vida de tudo o que existe, seu princípio é o desejo autêntico de instrução, e a finalidade da instrução é o amor (Sb 6,17). Não é a Palavra a instrução que gera o amor, que fomenta a sede de paz, de encontro, de justiça, de caridade, de santidade?  Sabedoria e Palavra, tudo gira e se integra de maneira irresistível...

Neste sentido surge a missão da profecia e do discipulado. Temos que nos colocar como agentes desta Palavra, como semeadores da dignidade humana que constantemente é ameaçada pelos poderes da morte e do mal. No ato de profetizar, anunciamos o poder e a bondade de Deus que é o Senhor da vida, e que a mantém a cada instante em seu contínuo ato criador.

Já o termo discípulo, do hebraico limmud, significa “acostumado”, “instruído”, “treinado”. O discípulo põe-se a escutar a Palavra a cada manhã, na certeza de que ela é sempre nova, da mesma forma que a sua realidade também o é.

O profeta e o discípulo são um só, na medida em que é necessária a escuta para que possamos profetizar. Ambas as situações requerem um despertar da preguiça, e são um apelo à prontidão ao “eis me aqui, envia-me”!

Neste envio, a mensagem, a Palavra, não fica estéril nos ouvidos dos que a escutam, ao contrário leva consolo aos cansados, aos desanimados, aos esquecidos, nutrindo a esperança e chamando à vida: “A Palavra que sai de minha boca não voltará a mim vazia” (Is 55,11). Assim também Jesus que sai do Pai, só volta para Ele após ter cumprido sua missão.

Não somos cristãos nas nuvens. Somos discípulos desafiados a uma realidade em constante mudança, numa sociedade sem parâmetros estáveis, que agride os valores evangélicos. Por isso necessitamos da graça para que este anúncio - que não se aprende, mas que se recebe - supere a nossa debilidade na missão de profetas.

Antes de mais nada, anuncia-se o Evangelho com a vida, com o exemplo e testemunho pessoal de adesão à vontade de Deus. E que esta pregação não seja ruidosa, porque é no silêncio que se gesta o sentido da vida, e é dele que as palavras podem causar efeitos saudáveis.

Que nesta Quaresma possamos, no silêncio contemplativo, aprofundar e exercitar nossa missão de discípulos enviados de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida.

Malú, refletindo sobre texto de Ir. Ângela Cabrera, op.

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