Revendo um texto
que foi objeto de retiro do Instituto Santa Família, deparei-me com algumas
questões de fundamental significado para nós, batizados, que somos mensageiros
da Palavra.
Somos aqueles que
se nutrem da Sabedoria incriada. Ela é a vida e o princípio de tudo o que existe:
“Desde a eternidade foi estabelecida,
desde o princípio, antes da origem da terra. Quando os abismos não existiam, eu
fui gerada, quando não existiam os mananciais das águas...” (Pr 8,22-24).
A Sabedoria é a
vida de tudo o que existe, seu princípio é o desejo autêntico de instrução, e a
finalidade da instrução é o amor (Sb 6,17). Não é a Palavra a instrução que
gera o amor, que fomenta a sede de paz, de encontro, de justiça, de caridade, de
santidade? Sabedoria e Palavra, tudo
gira e se integra de maneira irresistível...
Neste sentido surge
a missão da profecia e do discipulado. Temos que nos colocar como agentes desta
Palavra, como semeadores da dignidade humana que constantemente é ameaçada
pelos poderes da morte e do mal. No ato de profetizar, anunciamos o poder e a
bondade de Deus que é o Senhor da vida, e que a mantém a cada instante em seu contínuo ato criador.
Já o termo discípulo,
do hebraico limmud, significa “acostumado”,
“instruído”, “treinado”. O discípulo põe-se a escutar a Palavra a cada manhã, na
certeza de que ela é sempre nova, da mesma forma que a sua realidade também o é.
O profeta e o discípulo
são um só, na medida em que é necessária a escuta para que possamos profetizar.
Ambas as situações requerem um despertar da preguiça, e são um apelo à prontidão
ao “eis
me aqui, envia-me”!
Neste envio, a
mensagem, a Palavra, não fica estéril nos ouvidos dos que a escutam, ao contrário
leva consolo aos cansados, aos desanimados, aos esquecidos, nutrindo a
esperança e chamando à vida: “A Palavra que sai de minha boca não voltará a mim
vazia” (Is 55,11). Assim também Jesus que sai do Pai, só volta para Ele após
ter cumprido sua missão.
Não somos cristãos
nas nuvens. Somos discípulos desafiados a uma realidade em constante mudança,
numa sociedade sem parâmetros estáveis, que agride os valores evangélicos. Por
isso necessitamos da graça para que este anúncio - que não se aprende, mas que
se recebe - supere a nossa debilidade na missão de profetas.
Antes de mais nada,
anuncia-se o Evangelho com a vida, com o exemplo e testemunho pessoal de adesão
à vontade de Deus. E que esta pregação não seja ruidosa, porque é no silêncio
que se gesta o sentido da vida, e é dele que as palavras podem causar efeitos
saudáveis.
Que nesta Quaresma
possamos, no silêncio contemplativo, aprofundar e exercitar nossa missão de
discípulos enviados de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida.
Malú, refletindo
sobre texto de Ir. Ângela Cabrera, op.
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