sexta-feira, 5 de abril de 2013

Apostolado do sorriso



A vida em comunidade - podemos incluir também a vida matrimonial - é um desafio. Em primeiro lugar, porque por mais que nos esforcemos em manter o ambiente positivo há sempre agentes externos e imprevisíveis, que podem por tudo a perder. Depois, porque existem as tensões habituais que procedem das diferenças na personalidade entre as pessoas, e necessitam apenas de uma pequena faísca para se tornarem um grande desastre.


Junte-se a isso o peso da rotina que gera estresse e até doenças. Podemos afirmar, portanto, que o dia a dia do homem e da mulher modernos dá espaço de sobra para o mau humor.

Hoje precisamos redescobrir a beleza da vida diária. O insuportável do viver de cada dia vem da carência de alegria nas coisas que fazemos, experimentamos ou vivemos. Que tal o remédio do bom humor, da gentileza e da compreensão? Quantos problemas se solucionariam se evitássemos os maus modos e exercitássemos o apostolado do sorriso! Faça a experiência de sorrir para as pessoas desconhecidas, ou praticar gentilezas no trânsito: você vai se surpreender com a reação dos outros, e com certeza isso fomentará a alegria gratuita que é fruto do bem. 


O humor tem sido objeto de estudo desde a filosofia antiga, passando pela teologia, até a psicologia moderna. Não faltam exemplos de santos, como Felipe Neri e João Bosco, que fizeram do regozijo e do júbilo os veículos da sua pastoral e do seu contato com os outros. Aqui estamos tratando do bom humor não como atitude jocosa, mas como “coisa séria”, como pretensão de sentido, de delicadeza e de humanidade. 

O bom humor é a capacidade de carregar serena e valentemente as cargas da vida. É saber achar em cada instante o lado amável da cotidianidade. Isso é muito importante para a maturidade pessoal e para a vida de fé. A este respeito, Xavier Zubiri, filósofo espanhol, dizia que a pessoa tem que “esculpir a sua própria estátua”. Isto pode se realizar de diversas formas: sendo-se muito estrito em tudo e vivendo-se de mau humor, de angústia, de sofrimento; outra maneira é empenhar-se no voluntarismo que endurece o coração e o caráter; mas há uma terceira via, que é a integração e a superação das dificuldades da vida, e é nisto que se baseia o segredo do bom temperamento. Sem ele, a pessoa fica propensa às enfermidades da alma, que, com tanta frequência, atacam a nossa sociedade. 

O bom humor nos faz ver a realidade do dia-a-dia com um sereno distanciamento. É a atitude de colocar as coisas no seu lugar, de relativizar o que achávamos absoluto, de nos livrarmos dos falsos ídolos, de rir das nossas próprias conquistas e de nós mesmos. Para isso, é preciso ter muita simplicidade e humildade de espírito. Só é alegre – e não simplesmente contente - quem reconhece a sua finitude, se abre para os outros e não fica encerrado na autossuficiência. 

O humor é também a capacidade de compreender o ponto de vista do outro e, ao mesmo tempo, de ter criatividade diante dos choques inevitáveis: é saber sair de situações difíceis. Isto impede o ressentimento e o isolamento, através de atitudes como medir as palavras, controlar os silêncios, possuir elementos positivos no próprio interior e comandar as rédeas de si mesmo. 

Destaco, para terminar, que o bom caráter implica a afirmação da liberdade pessoal, a negação de determinismos cegos e a admissão de um sentido profundo da vida. No caso cristão, tudo isto surge da fé em um Deus que é Amor, que nos deu a salvação eterna em seu Filho e que nos sustenta com a ajuda do Espírito Santo. Deus não é uma alternativa que exclui o bom humor! Como diz Bento XVI, “Deus não estorva a nossa vida cotidiana” (A infância de Jesus, p. 109). 

Reflexão sobre texto de Dom Juan del Río Martín, Arcebispo castrense da Espanha. 


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