"Isto vos digo,
irmãos: o tempo é breve. A partir de agora, aqueles que têm esposas vivam como
se não as tivessem; aqueles que choram, como
se não chorassem; aqueles que se alegram, como
se não se alegrassem; aqueles que compram, como
se não possuíssem; aqueles que usam os bens do mundo, como
se não os usassem plenamente. Porque a figura deste mundo
passa". (1 Cor 7,29-31)
"Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galiléia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: ‘O tempo foi cumprido e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho’. Passando à beira do Mar da Galileia, viu Simão e André, irmão de Simão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. Jesus lhes disse: ‘Vinde e segui-me. Eu vos farei pescadores de homens’. E eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram. Um pouco adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que também estavam no barco a consertar as redes. E logo chamou-os. Também eles deixaram seu pai, Zebedeu, no barco com os ajudantes e foram atrás dele". (Mc 1,14-20)
"Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galiléia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: ‘O tempo foi cumprido e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho’. Passando à beira do Mar da Galileia, viu Simão e André, irmão de Simão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. Jesus lhes disse: ‘Vinde e segui-me. Eu vos farei pescadores de homens’. E eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram. Um pouco adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que também estavam no barco a consertar as redes. E logo chamou-os. Também eles deixaram seu pai, Zebedeu, no barco com os ajudantes e foram atrás dele". (Mc 1,14-20)
A resposta imediata dos primeiros discípulos chamados pelo Senhor mostra
claramente o significado da exortação de Paulo a viver "como se" o
que acontece ao nosso redor fosse, em si mesmo, completamente insignificante:
"Isto vos digo, irmãos: o tempo é breve. E a figura deste mundo
passa". (1 Cor 7,29-31).
É claro que Simão, André, Tiago e João nunca teriam deixado o trabalho e a
família se não fosse Jesus quem os chamasse.
Isso quer dizer que o desapego emocional do próprio mundo não pode ser
compreendido sem um encontro com aquele por meio de quem "todas as coisas
foram feitas", e sem o qual "nada foi feito de tudo o que
existe". (1 Jo , 3)
Quando um homem parte de casa para um lugar distante, de férias, ou para
participar de uma convenção, ele se hospeda durante algum tempo num hotel. Ali
ele come, dorme, usa o necessário para o dia-a-dia, conhece novas pessoas, e,
no caso da convenção, participa ativamente nos trabalhos. Tudo isso é real e
importante para ele, mas é temporário, de breve duração. Ele está ciente de que
terá que retornar à sua cidade, à sua casa e ao seu trabalho, porque aquelas
coisas é que são o seu mundo real.
Este "outro" mundo do hotel é alheio a ele. Ele usa todas as
coisas dali "como se não as usasse plenamente" (1 Cor 7,31), porque
elas não são suas e ele as terá que abandonar. Essa convenção, ou as férias,
são apenas um parêntese na sua vida e em breve serão apenas passado.
A santa carmelita Teresa de Ávila comparava a existência terrena com o curto
espaço de uma noite passada numa hospedaria ruim. Teresa certamente não
desprezava este mundo, mas o conhecimento que lhe tinha sido concedido da
sublimidade do Outro a fazia desejar a morte, como um parto necessário para
começar a viver em plenitude a felicidade inefável do Reino dos Céus.
Por isso ela não considerava a morte como uma destruição da vida, mas como a
sua meta cobiçada, como implicitamente anuncia o Evangelho: "O tempo está
cumprido e o reino de Deus está próximo". (Mc 1.14)
Tal como para Teresa, também para os primeiros discípulos tudo isso tem
apenas um nome: Jesus Cristo. "Segui-me, e eu vos farei
pescadores de homens. E eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram"(Mc 4.17). O reino de Deus é seguir Jesus.
E é apenas pelo nome de Jesus que São Paulo nos exorta a viver o cenário
passageiro deste mundo com um feliz e responsável desprendimento, animados e
sustentados pelo pensamento da “definitividade” beata do Outro: "A partir
de agora, aqueles que têm esposas vivam como se não as
tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se
alegram, como se não se alegrassem..." (1 Cor 7,29-31).
O apóstolo dá um testemunho significativo na carta aos Filipenses: "Eu
certamente não alcancei a meta, não cheguei à perfeição, mas estou correndo
para conquistá-la, porque fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, eu não
considero ainda que cheguei à conquista. Tudo o que sei é isto: esquecendo o
que está por trás de mim e voltado em direção ao que está na minha frente, eu
corro para a meta, para o prêmio que Deus me chama a receber no céu, em Cristo
Jesus" (Fil. 3,12-14).
Estas palavras vêm de um homem que está cheio da alegria de viver. Como os
primeiros discípulos e todos os santos, Paulo foi capturado por Cristo não para
abandonar a imagem deste mundo, mas para ser fermento misturado com ele.
Também para nós, na medida em que conseguimos viver "santos e
irrepreensíveis diante dele no amor" (Ef 1.4), a comunhão em
Cristo pode se tornar uma energia incontrolável para espalharmos a alegria do
Evangelho pelo mundo inteiro.
O "ainda não" do Paraíso se torna um "já" na figura
deste mundo, porque, de algum modo e sempre, "o viver é Cristo" (Fil.
1,21-23).
Isso nos ajuda a entender aquele "como se", que
foi repetido cinco vezes e que nos soa completamente impossível do ponto de
vista psicológico.
O que significa, para o marido, viver como se não tivesse
mulher, e vice-versa? O que quer dizer, para aqueles que trabalham, viver como
se não trabalhassem; para quem estuda, como se não
estudasse; para aqueles que têm, como se não tivessem; para
aqueles que vivem na imagem deste mundo, como se não vivessem? Significa viver e fazer todas essas coisas sem absolutizá-las como fins em
si mesmas, mas usá-las como meios para fazer a vontade de Deus, realizando o
Bem e anunciando com a própria vida o Evangelho do seu amor.
A alegria de viver está na Verdade e no Amor. E a Verdade e Amor é
Cristo. Converter-se e crer no evangelho é exatamente isso.
Por Pe. Angelo del Favero para Zenit.
Cardiologista, o Pe. Angelo co-fundou em 1978 um dos primeiros
Centros de Apoio à Vida perto da Catedral de Trento. Tornou-se carmelita em
1987 e sacerdote em 1991. Foi conselheiro espiritual no santuário de Tombetta,
perto de Verona. Atualmente se dedica à espiritualidade da vida no convento
carmelita de Bolzano, na paróquia de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário