A alegria está sempre
presente no decorrer do ano litúrgico, porque tudo nele está relacionado
de um modo ou de outro com a solenidade pascal, mas é nestes dias que
esse júbilo se manifesta especialmente. Pela Morte e Ressurreição de
Cristo, fomos resgatados do pecado, do poder do demônio e da morte
eterna.
A Páscoa lembra-nos o nosso nascimento sobrenatural através do
Batismo, por meio do qual fomos constituídos filhos de Deus, e que é
figura e penhor da nossa própria ressurreição. Deus nos deu a vida por Cristo e nos ressuscitou com Ele (Ef 2,6), diz-nos São Paulo. Cristo, que é o primogênito dos homens, converteu-se em exemplo e princípio da nossa glorificação futura.
A nossa Mãe a Igreja
introduz-nos nestes dias na alegria pascal através dos textos da
liturgia – leituras, salmos, antífonas... – e neles pede sobretudo que
essa alegria seja antecipação e penhor da nossa felicidade eterna no
Céu. Suprimem-se neste tempo os jejuns e outras mortificações corporais,
como sinal externo dessa alegria da alma e do corpo. “Os cinquenta dias
do tempo pascal – diz Santo Agostinho – excluem os jejuns porque se
trata de uma antecipação do banquete que nos espera lá em cima”, segundo Santo Agostinho. Mas de nada serviria o convite litúrgico à alegria se não se produzisse
na nossa vida um verdadeiro encontro com o Senhor. Os evangelistas
fazem constar em cada uma das aparições que os Apóstolos se alegraram vendo o Senhor. A sua alegria brotou de terem visto o Senhor, de saberem que Ele vivia, de terem estado com Ele.
A alegria verdadeira não
depende do bem-estar material, da ausência de dificuldades, do estado de
saúde... A alegria profunda tem a sua origem em Cristo, no encontro com
Ele, no amor de que Deus nos rodeia e na nossa correspondência a esse
amor. Cumpre-se – também agora – aquela promessa do Senhor: E o vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a vossa alegria (Jo 16,22). Ninguém nem nada: nem a dor, nem a calúnia, nem o desespero..., nem as
fraquezas próprias, se retornamos prontamente ao Senhor. Esta é a única
condição da verdadeira alegria: não nos separarmos de Deus, não deixar
que as coisas nos separem dEle; sabermo-nos em todos os momentos filhos
seus.
A liturgia do tempo pascal repete-nos em mil textos diferentes essas mesmas palavras: Alegrai-vos, não percais nunca a paz e a alegria; servi o Senhor com alegria (Sl 99),
pois não existe outra forma de servi-lo. “Estás passando uns dias de
alvoroço, com a alma inundada de sol e de cor. E, coisa estranha, os
motivos da tua felicidade são os mesmos que em outras ocasiões te
desanimavam! – É o que acontece sempre: tudo depende do ponto de mira. –
“Laetetur cor quaerentium Dominum!” – Quando se procura o Senhor, o coração transborda sempre de alegria”(Josemaria Escrivá, Sulco n. 72).
Na Última Ceia, o Senhor
não tinha ocultado aos Apóstolos as contradições que os esperavam; mas
prometera-lhes que a sua tristeza se converteria em alegria: Assim
também vós, sem dúvida, agora estais tristes, mas hei de ver-vos outra
vez, e o vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a vossa alegria (Jo 16,22).
Estas palavras, que naquela ocasião lhes podiam ter parecido
incompreensíveis, cumpriam-se agora ao pé da letra. E, pouco tempo
depois, os que até então estavam acovardados sairiam do Sinédrio alegres
por terem padecido alguma coisa pelo Senhor (At 5,40).
A origem da alegria profunda do cristão está no amor a Deus, que é
nosso Pai, e no amor aos outros, com o consequente esquecimento próprio.
Esta é a condição normal dos que seguem a Cristo. O pessimismo e a
tristeza devem ser sempre algo absolutamente estranho ao cristão, algo
que, se viesse a acontecer, necessitaria de um remédio urgente.
Se alguma vez tivermos a
desgraça de afastar-nos de Deus, lembremo-nos do filho pródigo e, com a
ajuda do Senhor, voltemos novamente para Ele com o coração arrependido.
Nesse dia, haverá uma grande festa no Céu e na nossa alma. É o que
acontece todos os dias quando fraquejamos em pequenas escaramuças e nos
levantamos com muitos atos de contrição; a alma está então habitualmente
cheia de paz e serenidade.
Ir. Kelly Patrícia
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