segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Se quiseres a paz, preserva a criação




 O ano de 2014 trouxe à região sudeste do Brasil a experiência da seca. Se não chover o suficiente no próximo verão estamos na iminência de enfrentar uma situação calamitosa. Todos acompanham com preocupação os níveis das represas que abastecem a capital paulistana, e alguns municípios circunvizinhos que já estão sem água.

Tenho pensado em nossos irmãos da região nordeste que sofrem há décadas com esta carência hídrica. Eles, com recursos bem mais escassos que nós, lutam para sobreviver e para levarem adiante suas famílias.

Contudo, há um ensinamento divino em todas as situações pelas quais passamos. Neste, específicamente, a consciência do enorme bem que é a água, e o quanto dependemos dela.

O Papa Bento XVI, em sua mensagem por ocasião do Dia Mundial da Paz de 2010, alertava:
“Pode-se porventura ficar indiferente perante as problemáticas que derivam de fenômenos como as alterações climáticas, a desertificação, o deterioramento e a perda de produtividade de vastas áreas agrícolas, a poluição dos rios e dos lençóis de água, a perda da biodiversidade, o aumento de calamidades naturais, o desflorestamento das áreas equatoriais e tropicais? Como descurar o fenômeno crescente dos chamados «prófugos ambientais», ou seja, pessoas que, por causa da degradação do ambiente onde vivem, se vêem obrigadas a abandoná-lo – deixando lá muitas vezes também os seus bens – tendo de enfrentar os perigos e as incógnitas de uma deslocação forçada? Com não reagir perante os conflitos, já em ato ou potenciais, relacionados com o acesso aos recursos naturais? Trata-se de um conjunto de questões que têm um impacto profundo no exercício dos direitos humanos, como, por exemplo, o direito à vida, à alimentação, à saúde, ao desenvolvimento”.

A verdade é que esta consciência de preservação dos bens naturais não é um discurso dos tempos pós modernos, mas um preceito divino:
“A harmonia descrita na Sagrada Escritura entre o Criador, a humanidade e a criação foi quebrada pelo pecado de Adão e Eva, do homem e da mulher, que pretenderam ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-se como suas criaturas. Em consequência, ficou deturpada também a tarefa de «dominar» a terra, de a «cultivar e guardar» e gerou-se um conflito entre eles e o resto da criação (cf. Gn 3,17-19). O ser humano deixou-se dominar pelo egoísmo, perdendo o sentido do mandato de Deus, e, no relacionamento com a criação, comportou-se como explorador pretendendo exercer um domínio absoluto sobre ela. Mas o verdadeiro significado do mandamento primordial de Deus, bem evidenciado no livro do Gênesis, não consistia numa simples concessão de autoridade, mas antes num apelo à responsabilidade”.
 
Bento XVI apelava para a solidariedade entre as gerações, que cientes dos danos causados à natureza não deveriam transferir a conta para as gerações seguintes:
“Herdeiros das gerações passadas e beneficiários do trabalho dos nossos contemporâneos, temos obrigações para com todos, e não podemos desinteressar-nos dos que virão depois de nós aumentar o círculo da família humana. A solidariedade universal é para nós não só um fato e um benefício, mas também um dever”.

Ele afirma ainda:
Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação. A busca da paz por parte de todos os homens de boa vontade será, sem dúvida alguma, facilitada pelo reconhecimento comum da relação indivisível que existe entre Deus, os seres humanos e a criação inteira”.

A nossa situação atípica de estiagem precisa ser enfrentada com responsabilidade e solidariedade. O esforço em economizar água é também uma atitude cristã de boa gestão dos bens que Deus nos concedeu. É também uma boa oportunidade de agir com compaixão com aqueles cuja existência é marcada pela dificuldade em ter o básico para viver.
Malu

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