O
ano de 2014 trouxe à região sudeste do Brasil a experiência da seca. Se não
chover o suficiente no próximo verão estamos na iminência de enfrentar uma
situação calamitosa. Todos acompanham com preocupação os níveis das represas
que abastecem a capital paulistana, e alguns municípios circunvizinhos que já
estão sem água.
Tenho
pensado em nossos irmãos da região nordeste que sofrem há décadas com esta carência
hídrica. Eles, com recursos bem mais escassos que nós, lutam para sobreviver e
para levarem adiante suas famílias.
Contudo,
há um ensinamento divino em todas as situações pelas quais passamos. Neste,
específicamente, a consciência do enorme bem que é a água, e o quanto
dependemos dela.
O
Papa Bento XVI, em sua mensagem por ocasião do Dia Mundial da Paz de 2010, alertava:
“Pode-se porventura ficar indiferente
perante as problemáticas que derivam de fenômenos como as alterações climáticas,
a desertificação, o deterioramento e a perda de produtividade de vastas áreas agrícolas,
a poluição dos rios e dos lençóis de água, a perda da biodiversidade, o aumento
de calamidades naturais, o desflorestamento das áreas equatoriais e tropicais? Como
descurar o fenômeno crescente dos chamados «prófugos ambientais», ou seja, pessoas
que, por causa da degradação do ambiente onde vivem, se vêem obrigadas a abandoná-lo
– deixando lá muitas vezes também os seus bens – tendo de enfrentar os perigos e
as incógnitas de uma deslocação forçada? Com não reagir perante os conflitos, já
em ato ou potenciais, relacionados com o acesso aos recursos naturais? Trata-se
de um conjunto de questões que têm um impacto profundo no exercício dos direitos
humanos, como, por exemplo, o direito à vida, à alimentação, à saúde, ao desenvolvimento”.
A
verdade é que esta consciência de preservação dos bens naturais não é um discurso
dos tempos pós modernos, mas um preceito divino:
“A harmonia descrita na Sagrada Escritura
entre o Criador, a humanidade e a criação foi quebrada pelo pecado de Adão e Eva,
do homem e da mulher, que pretenderam ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-se
como suas criaturas. Em consequência, ficou deturpada também a tarefa de «dominar»
a terra, de a «cultivar e guardar» e gerou-se um conflito entre eles e o resto da
criação (cf. Gn 3,17-19). O ser
humano deixou-se dominar pelo egoísmo, perdendo o sentido do mandato de Deus, e,
no relacionamento com a criação, comportou-se como explorador pretendendo exercer
um domínio absoluto sobre ela. Mas o verdadeiro significado do mandamento primordial
de Deus, bem evidenciado no livro do Gênesis, não consistia numa simples concessão
de autoridade, mas antes num apelo à responsabilidade”.
Bento
XVI apelava para a solidariedade entre as gerações, que cientes dos danos
causados à natureza não deveriam transferir a conta para as gerações seguintes:
“Herdeiros das gerações passadas
e beneficiários do trabalho dos nossos contemporâneos, temos obrigações para com
todos, e não podemos desinteressar-nos dos que virão depois de nós aumentar o círculo
da família humana. A solidariedade universal é para nós não só um fato e um benefício,
mas também um dever”.
Ele afirma ainda:
“Se quiseres
cultivar a paz, preserva a criação. A busca da paz por parte de
todos os homens de boa vontade será, sem dúvida alguma, facilitada pelo reconhecimento
comum da relação indivisível que existe entre Deus, os seres humanos e a criação
inteira”.
A
nossa situação atípica de estiagem precisa ser enfrentada com responsabilidade
e solidariedade. O esforço em economizar água é também uma atitude cristã de
boa gestão dos bens que Deus nos concedeu. É também uma boa oportunidade de agir com compaixão com aqueles cuja existência é marcada pela dificuldade em ter o básico para viver.
Malu
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