terça-feira, 13 de setembro de 2016

O governo de si mesmo


A sexualidade é um dom divino, exerce uma função sagrada pela qual o amor humano, no casamento, recebe uma expressão única de união que o associa à criatividade de Deus. A pornografia implica uma degradação essencial desta realidade sagrada, pois tende a despertar o sexo em função do próprio sexo e não do amor e da procriação. E isso é degradar o seu sentido e o seu papel, reduzindo-o ao nível de um instinto animal cujo único objetivo é procurar uma satisfação sensual imediata.

Num plano mais amplo do que estamos considerando agora, não há dúvida de que uma pessoa que não controla os seus apetites ou instintos não pode relacionar-se com os outros de um modo verdadeiramente humano, porque os seus impulsos descontrolados a impedirão de respeitá-los. Usará ou abusará dos outros como objetos, e não os respeitará como pessoas. O capitalista, dominado pela avareza, explorará os seus empregados, ainda que arranje mil razões para justificar a sua conduta. O terrorista, dominado pelo nacionalismo exaltado, pelo ódio cego ou pelo desejo de vingança, sequestrará, torturará ou matará vítimas inocentes. O fabricante de pornografia ou, mais especialmente, o seu cliente - a pessoa dominada ou obcecada pelo sexo - , explorará igualmente os outros, se puder; porque as outras pessoas só lhe interessarão na medida em que possam satisfazer o seu apetite obsessivo. Nos outros não verá pessoas, mas apenas objetos, objetos a serem desejados e usados, dos quais possa abusar e depois desfazer-se. O respeito pelos outros tornar-se-á uma expressão sem sentido para a sua mente confusa, e uma meta inacessível para a sua vontade enfraquecida e para a sua natureza cada vez mais egoísta.

Há a necessidade da autocensura. A indicação moral prática aqui é saber que obras podem deformá-lo ou degradá-lo, e a sinceridade e a força de vontade para evitá-las. A autocensura é simplesmente uma expressão do autocontrole, e o autocontrole é essencial à liberdade social individual. Afinal de contas, se uma pessoa não exerce o autocontrole, com toda a certeza estará sendo controlada por outros. Este controle ou manipulação da maioria pela minoria, especialmente por meio do sexo, cobre campos e interesses muito mais vastos do que se poderia imaginar à primeira vista. 

Mas para não perder a liberdade, ou a alma, é essencial compreender que podemos perdê-las, e saber reconhecer e evitar aquelas coisas que podem privar-nos delas. 

Por que haverá tantas pessoas hoje em dia que não exercem o autocontrole? Será que pensam que o perigo não existe? Será que pensam que não têm nada a perder? Nunca perscrutaram o céu, nem acreditam no veneno que têm ingerido há anos?  Era nelas que o autor inspirado pensava quando escreveu:

"Conheço as tuas obras: tens nome de vivo, mas estás morto [...] Lembra-te de como recebeste e ouviste a doutrina. Observa-a e arrepende-te. Se não vigiares, virei a ti como um ladrão, e não saberás em que momento te surpreenderei" (Apo 3,1-3)

Cormac Burke

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