segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Aceitar-se


Aceitar-se é ir adiante com passo tranqüilo sobre o próprio caminho, respirando profundamente a unidade de seu ser. E caminhar sem pousar sobre a terra a sua parte mais pesada.

É acolher a sua história e suas circunstâncias mais obscuras, a água de seu rio e os meandros percorridos, seu corpo e as feridas que você esconde no íntimo. Aceitar-se é a coragem de se saber humano desde o princípio do próprio caminho.

É o testemunho mais humano de sua humanidade, a parte mais integral de sua grandeza. Aceitar-se lhe dirá como o ser grande contém sempre, em algum lugar, uma fraqueza. Dessa forma, o herói possui “um calcanhar de Aquiles”, a parte que, ao caminhar fica mais para trás, aquela que o torna vulnerável.

Aceitar-se é escancarar o próprio olhar, imóvel por alguns instantes, ao abrir a janela de manhã. É acolher aquilo que o espera, e que não é fruto de seu desejo: a azul ou o cinza do céu, a neblina, o vento, a chuva ou, apenas, um modesto raio de sol...

É levar o que existe dentro de você e que você não ama ou não consegue explicar, na sua diferença. Algo que você não pode, no fundo, desculpar ou perdoar. Alçá-lo da terra para recolhê-lo dentro de você mesmo: será a única maneira de poder doar-se ao outro inteiramente.

Como uma montanha segue com o olhar a passagem das nuvens, sem se mover um palmo para evitá-las, da mesma maneira aceitar-se nada exclui de você, para no final sentir-se em harmonia com você mesmo...

Aceitar-se é acolher a fragilidade de seu ser e as contradições que habitam nele, como a qualquer criatura humana. Mas acolher amorosamente, como se colhesse as últimas flores que restam de seu jardim, escurecidas pelas noites úmidas de outono...

Renato Zilio

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