segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Um pequeno ensaio de avaliação

 
 
 
 
Fernando Altemeyer Júnior
 
O papa Francisco bateu na porta de nosso coração e entrou de mansinho. Sereno e sempre de janelas abertas, se fez peregrino. E o povo carioca o amou de paixão! E Francisco lhes retribuiu com o sorriso que nasce no coração do Cristo Redentor. Quais os frutos a colher? A esperança em oito facetas evangélicas, nascida no amor de Deus, e transmitida de forma visceral por este querido argentino. O futuro exigirá reabilitar a política, a fé e a esperança! Daí o pedido e o imperativo categórico do papa aos jovens na missa final em Copacabana: “Queridos jovens, regressando às suas casas, não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho”.
As felicidades de Francisco são as mesmas bem-aventuranças de Jesus e promovem a cultura do encontro e do diálogo.
A primeira felicidade vital do papa: “Felizes os pobres de espírito: deles é o Reino dos céus (Mt 5,3)”. Os pobres da comunidade de Varginha foram os interlocutores do encontro de Francisco com o povo brasileiro. Entrou em uma casa, abraçou e foi beijado, orou com os evangélicos, tocou e foi tocado. Ganhou a bandeira da pastoral de juventude e o anel de tucum. Faltou elogiar as CEBs e a Teologia da América Latina. O povo ficou encantado com o jeito de Jorge Mario Bergoglio, pois viu nele um compadre fiel de lutas e utopias. Não era mais estrangeiro, mas o amigo do peito, companheiro. Ele se fez um “papa cireneu”, que ajuda na peleja do viver a enfrentar as cruzes da injustiça.
A segunda felicidade do sucessor de Pedro: “Felizes os mansos: receberão a terra em herança (Mt 5,4)”. Os mansos são aqueles que o são não tanto por temperamento, mas pela dura necessidade da sua condição social e política. O afago, o abraço de muitas crianças pelas ruas cariocas, chegou ao clímax naquele menino de doze anos, que aos prantos o abraça repleto de felicidade cordial. Os mansos se exercitam na mansidão e se reconhecem. Mansos repletos da candura das crianças. E este pode ser o caminho de uma nova política: “ouvir o povo, dialogar com todos, respeitar as diferenças”, com serenidade e mansidão, dando prioridade às crianças, aos anciãos e aos jovens.
A terceira felicidade de Jorge Mario Bergoglio: “Felizes os que choram: eles serão consolados (Mt 5,5)”. Aquele que sofre e é injustiçado, que perde a esperança. Ao ouvir o papa na Via-crúcis na praia de Copacabana, parecia-nos ouvir a ária “Una furtiva lacrima”, último ato da ópera O elixir do amor, de Gaetano Donizetti, quando canta: “Uma lágrima furtiva irrompe de seus olhos. Jovens festivos parecem invejá-la. O que mais devo eu buscar. Me ama: eu o vejo! Um só instante e o palpitar de seu coração posso sentir. Seus suspiros se confundem com os meus. Ó Céus, posso morrer! Mais eu não peço!”
O papa disse haver uma conexão misteriosa entre a cruz de Jesus e a cruz dos jovens. Jesus em sua cruz carrega todos os nossos medos mais profundos e o nosso choro mais doído!
A quarta felicidade de Francisco: “Felizes os que têm fome e sede de justiça: eles serão saciados (Mt 5,6)”. Ter fome de justiça é a atitude de quem é um eleito de Deus. Ter fome de justiça é parte fundamental da fé bíblica. O papa não veio para adormecer com discursos melosos e suaves. Veio incomodar as elites e os grupos que oprimem o povo. Veio propor que os jovens caminhem alegres e rebeldes na estrada da justiça. Que façam barulho e mexam com as estruturas obsoletas da sociedade e das Igrejas. Afinal, o sentido ético é um desafio sem precedentes, diz Francisco. O papa foi valente e quer cristãos valentes e sem arrogância. Lutadores e profetas, com memória história, pé no chão e projetos de transformação. Organizados, pois “Quando enfrentamos juntos os desafios, então somos fortes, descobrimos recursos que não sabíamos que tínhamos”.
A quinta felicidade do bispo de Roma: “Felizes os misericordiosos: eles alcançarão misericórdia (Mt 5,7)”. Esta é a felicidade central da vida e do programa de bispo de Francisco, pois ele sabe que quem possui compaixão assume o outro como irmão de verdade. A misericórdia é filha de Deus. E o amor misericordioso não é raquítico nem efêmero. É amor abundante, generoso, forte, feliz, pleno e transbordante. Deus dá Deus. Como diz a bela melodia de padre Zezinho: “Por um pedaço de pão e um pouquinho de vinho, Deus se tornou refeição e se fez o caminho”. Francisco pediu, exigiu, conclamou bispos e padres a saírem das sacristias, a irem para as periferias, para serem impregnados do cheiro das ovelhas e do povo de Deus.
A sexta felicidade do papa argentino: “Felizes os corações puros: eles verão a Deus (Mt 5, 8)”. A limpeza e pureza de coração é o coração sincero. Francisco falou para a presidente da Republica, aos indígenas, ao prefeito do Rio, para a elite e para os milhões nas ruas. Aos 500 mil jovens da Jornada e aos 1500 clérigos e religiosas na Catedral. Não foi jogo de marketing, nem teologia da prosperidade. Não propôs proselitismo e muito menos confronto com os irmãos evangélicos. Apresentou o Evangelho de Cristo, como testemunho pessoal e qualitativo de um cristão e pastor engajado pela fé e na fé. Francisco quis estar na verdade mais do que afirmar-se dono ou possuidor exclusivo dos tesouros da revelação.
A sétima felicidade do filho de imigrantes: “Felizes os que agem em prol da paz: eles serão chamados filhos de Deus (Mt 5,9)”. O papa Francisco não proclamou a paz covarde ou uma ausência de conflitos. Não rezou por uma paz de cemitério ou pela covarde e resignada religião de subserviência ou de preces fundamentalistas. Propôs uma paz inquieta, rebelde, criativa, sonhadora. Paz onde a pessoa humana é o método, a chave e a meta. A dignidade humana como critério divino: a glória de Deus é que o pobre tenha vida! Gritou a cada momento nesta semana no Brasil, contra a corrupção das elites e das instituições e clamou por uma justa distribuição das riquezas no mundo. E disse ao clero brasileiro: tenham a coragem de ir contra a corrente que transforma pessoas em objetos descartáveis. A idolatria é fruto da injustiça social e um maldito sinal que nega vida ao povo negro, aos moradores das periferias e aos camponeses, mulheres, idosos e às crianças.
A oitava felicidade do devoto de Maria: “Felizes os perseguidos por causa da justiça: deles é o Reino dos Céus (Mt 5,10)”. Na sua primeira visita internacional nos lembrou do vigor profético de dom Helder Câmara e do amor preferencial de Luciano Mendes de Almeida. Hoje o papa Francisco fortalece a fé de quem ficou ao lado dos empobrecidos, ao lado do Cristo crucificado pelo regime ditatorial. Falou da teimosia evangélica. Celebrou a vida dos que deram a vida: vidas pela vida. Faltou recordar a entrega de tantos mártires de nossa Igreja latino-americana como dom Oscar Arnulfo Romero y Gadamez, Frei Tito Alencar Lima, padre Henrique Pereira Neto, irmã Dorothy Stang, Santo Dias da Silva e o jovem torturado Alexandre Vannucchi Leme, entre centenas que entregaram a vida pelos pobres. Será preciso viver obedientes no amor e na fidelidade sem olvidar as testemunhas. Amor verdadeiro é memória celebrada do sangue derramado, como Cristo na cruz.
Santa Teresinha de Lisieux escrevia para sua irmã Léonie: “A única felicidade na terra é aplicar-se em achar deliciosa a parte que Jesus nos dá (12.08.1897)”. O papa Francisco abriu o nosso imenso apetite para degustar os deliciosos quitutes de Deus. Ao tocar nossa carne, nossa pele, nossa vida, nossa praia ele mexeu com o nosso coração. Ao andar pelas ruas no meio de inverno glacial esquentou a nossa esperança. Nunca mais o Brasil será o mesmo. Os cristãos puderam degustar um gostoso aperitivo da fé. Façamos agora a nossa feijoada. Os ingredientes, já temos. Basta botar fogo na panela e água no feijão, para que ninguém fique excluído! Ninguém mais fora da vida pública! Ninguém fora da mesa da cidadania. Cada qual tornando a fé livre e libertadora, com jeitinho franciscano e sotaque carioca. Ouvimos um convite quente: seguir a Jesus. De forma convicta e apaixonada! O coração da mensagem do papa: sair do centro para a margem, rompendo casulos, para alçar voo de peregrino destemido, envolto no mistério de Deus. Como cantava o poema musical de Ednardo: “Pavão misterioso/ Pássaro formoso/ Tudo é mistério/ Nesse teu voar/ Ai se eu corresse assim/ Tantos céus assim/ Muita história/ Eu tinha pra contar...”.
Vai com Deus papa Francisco, te cuida! Volta logo, pois sentiremos muitas saudades de Tu, “mermão Chico”! Tu és sangue-bom! Por enquanto, até Cracóvia, em 2016.
 
(do site Adital)

domingo, 28 de julho de 2013

Obrigado Papa Francisco!






Acompanhe na página Homilias do Papa na JMJ 2013, todas as suas palavras nas grandes celebrações e nas visitas pastorais.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Não tenha medo de Cristo! Ele não tira nada, Ele dá tudo!



Estamos vivendo, como Igreja Católica, a riqueza do Ano da Fé e da Jornada Mundial da Juventude aqui no Brasil, pela primeira vez.
 
O Ano da Fé, proclamado pelo Papa Emérito Bento XVI, celebrando os 50 anos do Concílio Vaticano II, e os 20 anos do Catecismo da Igreja Católica (que é  a explicitação clara e objetiva do conteúdo do Depósito da Fé), pretende suscitar a redescoberta da fé como a raiz, "como a primeira condição para salvar-se, para nos tornar bons, santos como exige o Senhor." ( Pe. Alberione em 1959 por ocasião de exercícios espirituais das Anunciatinas em Turim)
 
Pe. Alberione ressalta ainda que não basta ter fé, precisamos pedir sempre ao Senhor que esta fé cresça e que a confessemos com franqueza, aconselhando, instruíndo os nossos irmãos, dando testemunho de vida, nutrindo-nos com a Palavra, os sacramentos, com as leituras espirituais que nos elevam e são sustento no combate cotidiano.
 
Já às vésperas da JMJ, um clima de esperança e de entusiasmo vai tomando conta de todos nós. A juventude é o futuro, e uma juventude sem Deus aponta para um futuro sombrio.
 
É próprio do jovem a busca pela verdade.  "Mas o que é a verdade" - perguntou Pôncio Pilatos? Essa resposta só é possível para aqueles que tiveram a experiência dos discípulos de Emaús( Lc 13,5) ao encontrarem Jesus em seu caminho, e se deixarem envolver pela verdade que lhes ardeu o coração, e os tornou aptos a dar testemunho da Ressurreição de Cristo.

Hoje nossa juventude está imersa numa inversão de valores que perturba e empobrece, que elimina os valores fundamentais dos ser humano, e impede que se reflita sobre o sentido último de sua existência. Como fomos criados para Deus, e enquanto não o encontrarmos não experimentaremos a paz, há uma viva inquietação na sociedade em geral, que busca freneticamente compensar este vazio inutilmente.

A JMJ é uma oportunidade, não só para os jovens, mas para todos nós que estamos rezando e torcendo para que surjam muitas vocações e conversões, para que o Brasil volte a se afirmar como o maior país católico do mundo, para que o entusiamo juvenil também abrase nossos corações e sejamos contaminados pela fé.

Dom Orani Tempesta, Arcebispo Metropolitano do Ruio de Janeiro, cidade sede da JMJ, afirmou que a juventude nã deve ter medo de Cristo, pois Ele não tira nada, Ele dá tudo.

Que Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, abençoe a todos os que estarão presentes na JMJ fisicamente e espiritualmente, e pelos que, por ainda não terem despertado para o amor de  Deus, não estarão. Que Ela abençoe o Santo Padre, e que sua visita ao transcorra em plena paz e alegria. Amém!

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Expulsando demônios...





Hoje, fazendo memória de São Bento, selecionei um texto que aponta de forma lúdica, ou talvez bem real, para a questão da influência do mal, tão bem enfrentada pela oração dos beneditinos.

Malu


                    Demônios, como nos livramos deles...


Jesus passou boa parte de seu ministério público expulsando demônios. Parece que naquela época havia uma praga deles, que não poupavam a ninguém: crianças e anciãos, homens e mulheres, judeus e pagãos, todos estavam de alguma maneira expostos à incursão demoníaca. Para os evangelistas, a expulsão dos demônios exprime claramente o senhorio de Jesus e a chegada do reino dos céus. Como Ele mesmo diz aos fariseus: “Se é pelo dedo de Deus que eu expulso demônios, então o reino de Deus já chegou a vós” (Lc 11,20). Hoje, ele comunica este poder aos seus discípulos.


Como vamos interpretar esta atividade de Jesus, nós que não acreditamos muito na existência de demônios e muito menos na sua atuação, nós que transferimos tudo para o campo psicológico?

Antes de darmos nossa interpretação, seria bom assistirmos a uma reunião do P.P.A. Não sabem o que é P.P.A.? Ora gostamos muito de acrósticos, de abreviações como Telemar, Ibama, Ovni, onde cada letra representa uma palavra.
Então quero acrescentar mais uma abreviação _ P.P.A., isto é, Parcialmente Possessos Anônimos.

Nesta reunião (viajamos com o tapete mágico e já estamos dentro da sala) a gente encontra três velhos amigos, Fulano, Beltrano e Sicrano. "Opa, vocês por aqui? Será que são membros do P.P.A.?" – “Somos sim e hoje vamos falar de nossa luta. Aliás, vocês também são sócios?”

“Não estamos apenas observando”, dizemos, ficando um pouco vermelhos. “Então, tá bom. Vão ouvir algo interessante”, dizem.

É Fulano quem começa: “Olha pessoal, ainda estou tendo dificuldades com o meu nervosismo. Trabalho duro o dia inteiro, trabalho bom, mas trabalho pesado e passo o dia pensando em minha família, e como vale a pena sacrificar-me por esposa e filhos. Fico animado com o pensamento. Só que, quando volto para casa e a mulher reclama do dinheiro, e os filhos brigam entre si e não me mostram o devido respeito, este sonho de dar tudo pela família se evapora e parece que estou lutando com uma turma de ingratos. Surgem, contra a minha vontade, palavras grosseiras e, às vezes, até quebro alguma coisa, tipo desabafo; outras vezes chego a bater em alguém. Depois disso a única voz que se ouve toda a noite é a voz da televisão... e também a da minha consciência pesada”.

Beltrano continua: “Comigo as coisas estão melhorando um pouco. Vocês  se lembram que o meu problema é com as revistas, quero dizer, com as fotos. Passei anos gastando dinheiro, gastando tempo, gastando minha vida afinal, com essas imagens de mulheres. Não tinha namorada, nem amigos, quase nem tinha colegas. Porque estas pessoas realmente existem, e eu preferia viver em minha imaginação, onde podia sentir satisfação sem qualquer compromisso. Hoje, sinto uma verdadeira sede de conhecer outras pessoas, para ter uma relação que vai além de “tudo bem?”, e começo agora acreditar que é possível, que o homem não foi feito – ou condenado – a ficar só. E isto me dá força para largar as revistas cada vez mais”.

A aparência de Sicrano chama um pouco a nossa atenção. Parece que está vestido de monge. A gente se informa e, de fato, é monge, liberado por seu abade para assistir a esta reunião. Irmão Sicrano toma o microfone e diz: “Tenho que confessar que ainda não estou livre do meu minisadismo. Não sei por quê, mas cada vez que algo dá errado com um outro membro de minha comunidade, me sinto realizado. É como se o sol, estivesse saindo das nuvens. Amo meus irmãos, pelo menos acho que os amo, mas mesmo assim, qualquer tragédia pela qual passam, por menor que seja, dá brilho ao meu dia. Nunca faria nada pessoalmente contra eles, mas quando o golpe vem , lá estou eu torcendo: Mais um! Curioso, não é?”

Nós os ouvintes, de boa índole e coração terno, nos apressamos a consolá-los: Fulano, Beltrano, Irmão Sicrano! Todo mundo faz estas coisas. Não é culpa sua. É absolutamente normal. E se vocês se sentem tristes, falem com o psicólogo ou, se preferirem, vão à praia.”

Surpreendentemente, os três fazem pé firme  e não cedem: “Amigos, a gente passou muitos anos nos enrolando com frases como estas – “não é culpa sua; todo mundo faz! Muitos anos. Mas, na verdade, sempre soubemos que não passavam de desculpas e mentiras. Temos estes nossos problemas. Não são grandes, mas são graves e atrapalham a nossa vida. O nervoso nunca é uma pessoa feliz, nem o viciado em pornografia, nem o ser humano que se realiza com a miséria dos demais. Estávamos lentamente destruindo nossas vidas. Agora proclamamos a verdade – somos parcialmente possessos. Somos loucos, mas não malucos. Graças a Deus, levamos uma vida basicamente responsável e humana, mas há aspectos de nossos comportamentos onde o maligno entrou, fez seu ninho a até hoje não saiu. Não vamos negar isso nunca mais.”

“Mas vocês fazem alguma coisa além de se reunir e chorar seus sofrimentos?”

“Fazemos sim. Aceitamos e pomos em prática a orientação de Jesus, que estes demônios não podem ser expulsos a não ser por oração e jejum. Oração porque ela abre a nossa alma à graça e ao poder de Jesus; jejum, porque abre nosso corpo à mesma influência salvífica. Além do mais, aproveitamos o máximo possível as visitas dos discípulos de Jesus que têm o poder de expulsar os demônios, embora, nem sempre imediatamente.”

“Então, vocês querem dizer que os discípulos de Jesus ainda andam por estas passagens terrenas expulsando demônios?”

“Andam sim. E quando vêm, hospedam-se num pequeno cubículo, uma pequena sala que chamam de confessionário. É lá que fazem este trabalho de cura. Quem sabe se não tem um destes confessionários perto de vocês?”.

Na verdade, quem sabe? Pode ser que alguém hoje lendo estas linhas, tenha descoberto que é um P.P.A.! Até agora talvez, fosse anônimo até para si mesmo. Agora já sabem. E sabem a quem recorrer – a Jesus que expulsava demônios, e que comunica este poder a seus discípulos.

Dom Bernardo Bonowitz, ocso
 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Pastoreio e anúncio, nas mãos de Pedro e Paulo.


 
O dia 29 de junho é marcado por uma solenidade muito especial na vida da Igreja, que recorda os dois pilares da fé cristã que, com afinco e dignidade, trabalharam para que nossa fé crescesse e se consolidasse. A Solenidade de São Pedro e de São Paulo por razões pastorais, no Brasil, é transferida para o domingo seguinte, no caso dia 30. Estes apóstolos foram homens de pregação e de testemunho eloquentes, que ensinaram para toda a Igreja um ardor sempre crescente pelas coisas de Deus. A fé de Pedro e o ardor missionário de Paulo são motivos de bendição a Deus, que opera maravilhas na vida de seus santos em favor de todo o gênero humano. Ambos, por causa do Evangelho, ofereceram livremente suas vidas e foram martirizadosem Roma. Pedro por crucifixão e Paulo por decapitação.

Pedro recebeu a missão especial de conduzir o rebanho de Cristo, a Igreja. Paulo anuncia a Boa-Nova e proclama às nações a Palavra, manifestando-lhes o Evangelho da Salvação. O anúncio e o pastoreio, em comunhão com os mais profundos ensinamentos de Jesus, fazem da Igreja um sustentáculo vivo de edificação de vidas comprometidas com o Reino de Deus aqui na Terra. A Igreja, como guardiã do "depósito da fé", vê em Pedro e em Paulo anunciadores ímpares e fundamentais para o crescimento da Palavra de Deus no mundo inteiro. Por esse motivo celebramos, neste dia, o Dia do Papa. O Papa é o sucessor do Apóstolo Pedro e tem a missão de conduzir a Igreja na Verdade, que é Cristo, firmada e alicerçada sempre mais na Palavra de Deus e no Testemunho dos apóstolos.

Portanto, é um dia especial de oração pelo Santo Padre, o Papa Francisco, pedindo que Deus o conserve e o ilumine com todas as luzes para bem servir à Igreja e ser sinal para o mundo. Os sofrimentos vividos com serenidade e paz pelo Papa Francisco são sinais da fortaleza do Espírito Santo em sua vida. A Igreja recolhe hoje em todas as missas o “óbolo de São Pedro”, como presente ao Santo Padre, que ele utiliza para as obras caritativas pelo mundo.

Pedro e Paulo são considerados "colunas mestras" da Igreja primitiva. Eles são responsáveis, sem dúvida, pelo desenvolvimento da Igreja tal qual aconteceu. Suas personalidades diferentes, mas colocadas a serviço da evangelização, celebradas no mesmo dia, são expressão da natureza da Igreja – comunhão na diversidade. Diversidade de carismas e ministérios e um único Senhor e Mestre: Jesus Cristo. Com tudo e com todos, como diria São Paulo, tornar Cristo sempre mais conhecido e amado, seguido e testemunhado.

Olhando para este contexto de comunhão na diversidade, é notável o testemunho de assistência do Espírito Santo à sua Igreja. Em cada época e situação ele suscita na Igreja um Pontífice, chamado a dar ênfase numa determinada questão de época enfrentada pela Igreja. Cada qual dá seu testemunho e sua colaboração segundo as inspirações do próprio Deus para nós.

Esta solenidade nos ajuda a rezar por toda a Igreja e perceber a presença contínua do Senhor junto dela, ajudando-a a enfrentar as adversidades e as ondas gigantes que se lançaram no passado, e ainda hoje, sobre a barca de Pedro, conduzida agora por Francisco. A Igreja está edificada sobre a pedra angular, que é Cristo, e por isso mesmo nunca estará só.

Os apóstolos Pedro e Paulo são modelos de discípulos de Jesus, missionários do Mestre, seguidores do Cristo. A pregação de Pedro, constante e convincente, mostra que Jesus constituiu a sua comunidade a partir de pessoas fracas e simples, pequeninas, revelando que Deus se utiliza dos fracos para confundir os fortes, e assim vai se realizando a história da salvação. 

Olhando para o exemplo de Pedro e Paulo, rezemos por toda ação missionária da Igreja em nossos tempos, com seus muitos e complexos desafios para a evangelização. Que assim como Pedro e Paulo encontraram caminhos e posturas coerentes para superarem as situações próprias de seu tempo, Francisco também os encontre e possa, assim, continuar conduzindo a Igreja de Cristo pelos mares da Contemporaneidade. Que a Igreja leve Cristo a todos e em todas as situações.

Rezemos juntos pelo Santo Padre o Papa: "Ó Deus, que na vossa providência quisestes edificar a vossa Igreja sobre São Pedro, chefe dos apóstolos, fazei que o nosso Papa Francisco, que constituístes sucessor do apóstolo Pedro, seja para o vosso povo o princípio e o fundamento visível da unidade da fé e da comunhão na caridade. Concedei ao que faz às vezes do Cristo na Terra confirmar na fé seus irmãos para que toda a Igreja se mantenha em comunhão com ele no vínculo da unidade, do amor e da paz até que, em vós, pastor das almas, cheguemos todos à verdade e à vida eterna". Amém!

Que São Pedro e São Paulo continuem assistindo, com a sua graça e exemplo, ao Papa e ao Colégio Universal dos Bispos para testemunhar Cristo Bom Pastor, que guia a Igreja pelo mundo!

† Orani João Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ