segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A modernidade líquida e a vida humana transformada em objeto de consumo





Os trechos do artigo abaixo, de autoria de Eliton F. Felczak (seminarista da Diocese de Joinville-SC), são um relato preciso do que vivemos em nossa sociedade em constante transformação. Não temos tempo nem de assimilar uma mudança e outra já se instala, sem permitir ao menos que possamos avaliar seus acertos e erros. Os valores que foram transmitidos de gerações à gerações, e que possibilitaram ao homem viver eticamente, em família e em sociedade, parecem ter evaporado... É a modernidade líquida que transforma a vida humana em objeto de consumo.
Será que esta falta de referências não estará gerando tanta violência e adesão às barbáries que vemos acontecer em nossos dias?

O filósofo polonês Zygmunt Bauman é um dos pensadores, em seu ambiente de atuação, que alimentam reflexões sobre a realidade consumista na qual o ser humano está inserido. O ser humano, ancorado no discurso consumista, vive a sua vida sem se questionar sobre o que realmente acontece à sua volta. Num ambiente incerto como atual, o consumo aparece como resposta à satisfação das ansiedades dos indivíduos.

O conceito de sociedade líquida caracteriza-se pela incapacidade de manter a forma. Nossas instituições, quadros e referência, estilos de vida, crenças e convicções mudam antes que tenham tempo de se solidificar em costumes e hábitos e verdades "autoevidentes". 

A liberdade adquirida surgiu com o derretimento dos sólidos, tirando o indivíduo da terra firme e levando-o ao oceano das incertezas. O pensamento não é mais denso e ordenado, mas leve e desordenado, para poder abarcar tudo o que a vida pode oferecer.

As comunidades existentes na modernidade sólida eram éticas. Bauman também as chamava de compreensivas e duradouras, ou seja, genuínas. Elas se baseavam em normas e objetivos, nos quais os destinos eram partilhados visando à sua permanência. Na modernidade, líquida ocorre o inverso: Bauman designa suas comunidades como estéticas. Elas se reúnem em torno do entretenimento, de celebridades e de ídolos. Essas comunidades estéticas, comunidades cabide, dificilmente oferecem laços duradouros a seus membros.

O ser humano líquido é um dos reflexos do novo jeito de pensar, no qual "virtualmente todos os aspectos da vida humana são afetados quando se vive a cada momento sem que a perspectiva de longo prazo tenha mais sentido" (Pallares_Burke, 2004, p. 322). A certeza está na constante mudança, devendo cada indivíduo buscar por si próprio uma maneira de melhor sobrevivência.

A liberdade do indivíduo ante os mecanismos da mídia de massa refere-se à escolha entre o leque de possobilidades oferecido. O indivíduo é livre, desde que seja maleável perante as investidas dos modismos criados e desmontados pelos meios de comunicação de massa.

A forma de planejar e organizar a vida na modernidade líquida é antagônica à da modernidade sólida. As relações devem ser estabelecidas a curto prazo, aproveitando as chances que a vida oferece, abandonando as anteriores como quem troza de roupa. Planejamentos para a vida toda parecem ridículos, pois sacrificam os desejos momentâneos em vista de algo posterior no futuro.

A vida interior de cada um é exposta na mídia, já não sabendo os adolescentes diferenciar o que pertence ao público e ao privado. Na busca de serem atraentes e famosos, dificilmente os jovens pensam em construir uma carreira sólida nos campos da arte, da ciência, da filosofia, da tecnologia, entre outros. Querem tornar-se celebridades e ser desejados como objetos de consumo, mesmo que por breve momento.

Na vida "agorista" dos indivíduos da modernidade líquida, o motivo da pressa é, em parte, o impulso de adquirir e juntar. Mas o motivo que torna a pressa de fato imperativa é a necessidade de descartar e substituir.

Bauman não é otimista nem pessimista na sua descrição do homem como mercadoria, mas relata a situação atual e como ela veio a tornar-se manifesta. O autor acredita que outro mundo - alternativo e, quem sabe, melhor -m seja possível e que os seres humanos sejam capazes de tornar real esta possibilidade. Mas também - infelizmente - que talvez os indivíduos prefiram ignorar os acontecimentos e continuar a viver na "menoridade".

Artigo retirado da Revista Vida Pastoral nº 56 - Publicação bimestral da Editora Paulus 

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