O ritmo da vida é fonte de vitalidade
para todos. Somos humanos e necessitamos diversificar as atividades, alternando
trabalho e descanso, tempo para estar com os outros e tempo para refletir e
aprofundar pessoalmente os valores que norteiam nossas escolhas. No entanto, é
cada vez mais comum encontrar pessoas agitadas, por não saberem administrar bem
o tempo que lhes é dado. Podemos também ficar de tal forma absorvidos pelas
eventuais expectativas geradas pela maciça comunicação que nos envolve, a ponto
de perdermos a visão do conjunto e do sentido profundo da vida.
Para
muitos, o tempo agora é de férias. Outros
tantos continuam o trabalho diário que não foi interrompido. Para todos, é
tempo de viver o momento presente, aprendendo com as eventuais demoras de Deus,
que muitas vezes nos deixam agitados. A Palavra de Deus dá indicações precisas:
“Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu:
tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que
se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de destruir e tempo de
construir; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de lamentar e tempo de dançar;
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las; tempo de abraçar e tempo de se
afastar dos abraços; tempo de procurar e tempo de perder; tempo de guardar e
tempo de jogar fora; tempo de rasgar e tempo de costurar; tempo de calar e
tempo de falar; tempo do amor e tempo do ódio; tempo da guerra e tempo da paz”
(Ecl 3, 1-8). Infelizmente, em tantas partes do mundo e em nossas cidades,
parece prolongar-se o tempo da violência e da guerra, depredações, conflitos
alimentados, agressões aos mais pobres. Entretanto, a prudência e a atenção
para viver bem cada momento presente, dedicando-o a amar a Deus e ao próximo,
oferecem os elementos necessários ao discernimento do que fazer diante da vida.
Os
acontecimentos trazem em seu bojo a desafiadora presença do bem e do mal,
exigindo justamente o discernimento em vista de opções corretas. Seria
simplista e injusto olhar ao redor, identificando a presença da maldade e do
pecado em quem pensa ou age diferente de nós. A linha divisória não passa perto
de mim, mas dentro do meu coração, que é capaz do melhor e do pior. Nossa
pressa em arrancar o mal não corresponde ao modo de agir de Deus, com sua
incrível paciência diante das falhas das pessoas. É até fácil desejar que Deus
mande um fogo do Céu para assustar os ímpios e malvados, ou, quem sabe,
utilizar palavras da Bíblia para ameaçar os que não aderem ao nosso modo de ver
as coisas. Até a promessa da volta do Senhor, por vezes é utilizada para
ameaçar, enquanto a proposta da salvação, à qual todos são destinados, passa
pela magnífica e desafiadora realidade da liberdade humana. Ninguém seja
constrangido a aderir a Deus por medo do tempo que se completa, mas acolha de
coração aberto o que Ele oferece, justamente porque é o melhor que possa
existir.
Atitude
madura pode ser o reconhecimento de nossos defeitos, aliado ao trabalho diário
de conversão. Um bom exame de consciência proporciona a mudança progressiva,
feita de propósitos simples, adequados à capacidade de cada pessoa. O diálogo
com pessoas respeitosas e seguras contribui para uma visão mais crítica a
respeito do próprio comportamento, com a coragem para dar nome àquilo que é
certo ou errado, sem agressividade e violência. Depois, levar nossos pecados ao
tribunal da penitência, cuja sentença é sempre o perdão, antecipa o juízo de
Deus, pois o Senhor sempre aproveita a oportunidade para proclamar sua
misericórdia. Afinal de contas, Deus só sabe amar e perdoar!
E diante
da avassaladora presença do mal em nossa sociedade? Denunciá-lo com segurança,
ter a coragem de dizer onde se encontra a corrupção e a mentira. Mais exigente
ainda do que a coragem é a conquista do pecador, a forma prudente e sábia com a
qual se enfrentam os problemas. Não faltam as denúncias e protestos em nosso
mundo, mas a seriedade dos que acusam e a dignidade dos que podem mudar algo.
Certamente os atos de cidadania e serviço podem contribuir para que o ambiente
social melhore, edificando pouco a pouco uma vida diferente, chamada paz,
tarefa que o Papa Francisco considera “artesanal”, pois é construída com a
fidelidade do cotidiano!
Dom Alberto Taveira Côrrea, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
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