quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Como adminstrar o tempo que nos é dado



O ritmo da vida é fonte de vitalidade para todos. Somos humanos e necessitamos diversificar as atividades, alternando trabalho e descanso, tempo para estar com os outros e tempo para refletir e aprofundar pessoalmente os valores que norteiam nossas escolhas. No entanto, é cada vez mais comum encontrar pessoas agitadas, por não saberem administrar bem o tempo que lhes é dado. Podemos também ficar de tal forma absorvidos pelas eventuais expectativas geradas pela maciça comunicação que nos envolve, a ponto de perdermos a visão do conjunto e do sentido profundo da vida.
 
Para muitos, o tempo agora é de férias. Outros tantos continuam o trabalho diário que não foi interrompido. Para todos, é tempo de viver o momento presente, aprendendo com as eventuais demoras de Deus, que muitas vezes nos deixam agitados. A Palavra de Deus dá indicações precisas: “Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de destruir e tempo de construir; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de lamentar e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las; tempo de abraçar e tempo de se afastar dos abraços; tempo de procurar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de jogar fora; tempo de rasgar e tempo de costurar; tempo de calar e tempo de falar; tempo do amor e tempo do ódio; tempo da guerra e tempo da paz” (Ecl 3, 1-8). Infelizmente, em tantas partes do mundo e em nossas cidades, parece prolongar-se o tempo da violência e da guerra, depredações, conflitos alimentados, agressões aos mais pobres. Entretanto, a prudência e a atenção para viver bem cada momento presente, dedicando-o a amar a Deus e ao próximo, oferecem os elementos necessários ao discernimento do que fazer diante da vida.

Os acontecimentos trazem em seu bojo a desafiadora presença do bem e do mal, exigindo justamente o discernimento em vista de opções corretas. Seria simplista e injusto olhar ao redor, identificando a presença da maldade e do pecado em quem pensa ou age diferente de nós. A linha divisória não passa perto de mim, mas dentro do meu coração, que é capaz do melhor e do pior. Nossa pressa em arrancar o mal não corresponde ao modo de agir de Deus, com sua incrível paciência diante das falhas das pessoas. É até fácil desejar que Deus mande um fogo do Céu para assustar os ímpios e malvados, ou, quem sabe, utilizar palavras da Bíblia para ameaçar os que não aderem ao nosso modo de ver as coisas. Até a promessa da volta do Senhor, por vezes é utilizada para ameaçar, enquanto a proposta da salvação, à qual todos são destinados, passa pela magnífica e desafiadora realidade da liberdade humana. Ninguém seja constrangido a aderir a Deus por medo do tempo que se completa, mas acolha de coração aberto o que Ele oferece, justamente porque é o melhor que possa existir.
  
Atitude madura pode ser o reconhecimento de nossos defeitos, aliado ao trabalho diário de conversão. Um bom exame de consciência proporciona a mudança progressiva, feita de propósitos simples, adequados à capacidade de cada pessoa. O diálogo com pessoas respeitosas e seguras contribui para uma visão mais crítica a respeito do próprio comportamento, com a coragem para dar nome àquilo que é certo ou errado, sem agressividade e violência. Depois, levar nossos pecados ao tribunal da penitência, cuja sentença é sempre o perdão, antecipa o juízo de Deus, pois o Senhor sempre aproveita a oportunidade para proclamar sua misericórdia. Afinal de contas, Deus só sabe amar e perdoar!
  
E diante da avassaladora presença do mal em nossa sociedade? Denunciá-lo com segurança, ter a coragem de dizer onde se encontra a corrupção e a mentira. Mais exigente ainda do que a coragem é a conquista do pecador, a forma prudente e sábia com a qual se enfrentam os problemas. Não faltam as denúncias e protestos em nosso mundo, mas a seriedade dos que acusam e a dignidade dos que podem mudar algo. Certamente os atos de cidadania e serviço podem contribuir para que o ambiente social melhore, edificando pouco a pouco uma vida diferente, chamada paz, tarefa que o Papa Francisco considera “artesanal”, pois é construída com a fidelidade do cotidiano!

Dom Alberto Taveira Côrrea, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará

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