quinta-feira, 7 de junho de 2012

"Não se achou ninguém que voltasse para agradecer a Deus a não ser este estrangeiro?" (Lc 17,18)



Cito este episódio por um motivo curioso. Penso que é a única ocasião em que podemos ver o Senhor falar do dever de gratidão. Se repassarmos as Epístolas de São Paulo, observaremos que menciona esse dever de uma maneira quase excessiva: recorda-nos trinta ou quarenta vezes que temos sempre de estar agradecendo a Deus. Em contrapartida, o Pai Nosso não contém nenhuma frase que expresse agradecimento. A que se deve essa estranha diferença? Penso que se pode dizer que Jesus Cristo, por ser Deus, não queria estar sempre pedindo às criaturas que lhe agradecessem os favores que lhe deviam.

Observei que, ao contrário do Senhor, São Paulo se refere constantemente a esse dever, mas não esqueçamos que a palavra que usa é o vocábulo eucharistia. Aos Filipenses escreve: Em todas as circunstâncias, fazei os vossos pedidos a Deus por meio da oração e de súplicas, acompanhadas de ação de graças (Fil 4,6).

Mas não é assim; uma vez mais, não somos competentes nem sequer para dar graças a Deus da forma que se deve. Que pouco sabemos realmente do  que Ele faz por nós! Quantas vezes estivemos a um passo da morte e nem o percebemos! Quantas vezes fomos preservados da tentação que podia ter-nos vencido e nem nos demos conta que a tínhamos tão perto...

Muitos de voces conhecerão, ao menos por terem visto reproduções, a pintura de Michelangelo que representa a criação de Adão, na Capela Sistina de Roma. Estarão lembrados daquela figura reclinada que estende para o Criador uma mão o mais longe que o braço lhe permite, como que reconhecendo sua total dependência, a sua confiança de criatura nEle. Essa atitude, que é uma atitude eucarística, deve estar na raiz de toda nossa devoção a Deus Todo Poderoso. Deve palpitar no nosso pensamento a todas as horas. E sempre que nos sintamos particularmente conscientes de algum favor que comove nossa vida, devemos intensificar essa atitude eucarística, converter-nos em chamas vivas de agradecimento. 

"É justo e ncessário dar-vos graças sempre e em todo o lugar..." 

(texto extraído de "Reflexões sobre a Eucaristia", Ronald Knox. Ed. Quadrante)

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